Africanos Afro-brasileiros
Salvador, 20/5/75
Meus irmãos que de longe vieram
em barcos infectos e imundos
tangidos por ventos que a natureza criou
Açoitados como quaisquer animais,
vis, tristes, selvagens e irracionais.
Vocês, meus irmãos pretos velhos
que da África chegaram,
traziam a sina de ser escravos,
viver sob o signo do infortúnio –
– a Escravidão.
Chegados, aclimatados, aculturados. Açoitados.
Agricultores, serventes de casas ricas,
cresceram na tristeza da terra que
longe ficou.
Veio o canto,
surgiu a música.
A dança,
pra sufocar o pranto.
Misturou-se tudo.
Surgiu o carnaval
que é a coisa mais original
implantada em terras distantes
pra sufocar a dor, a angústia
e esquecer o falso amor.
Meus irmãos africanos,
de ontem, de hoje e de amanhã
Aqui estamos pra lhes render louvor,
a um povo antigo
pleno de mitos,
história de luta e sofrimentos.
Merecem, irmãos, os elogios,
os lauréis que a história
à raça negra
e irmãos africanos,
sempre negou.
(Cantos, encantos e desencantos d’alma, p.109 - 111)