Lembrança da dança

E pensar que nossos gestos
Derramamento de braços
Corredeira de olhares
Ondulações corporais enfim
Eram nada mais que manifestação gritada 

E pensar que nem pensávamos no feio das coisas
Porém tínhamos as veias já saltadas
Dilatadas pelos sons universais da euforia

E vagar pelas quebradas espontaneamente históricas
Essas bocas temporais que deglutiram nossos medos
Entre os dedos como líquido viscoso e quente
O tempo foi escapando em doses fluídas e fecundas
Canções encontros rastros descobertos

Atrás de nós alguns amores sólidos
Outros mortos
Outros simplesmente adormecidos
Todos espalhados no caminho afunilado que -
Fincado no tempo -
Nos golpeia a mente qual um espetáculo de dança

(“Lembrança da dança”, p. 36.)