Gato Escondido...
Agora eu quero mudar
Primeiro mundo, é quem pode
Favela, Orisá, pagode
Eu não quero ouvir falar.
Discursos de negritude
Passaram com a juventude
Quero ser de outro lugar
Decidi ter paletó
Calçar: só cromo alemão
Rasguei Kaftas e torsos
Não pus mais meus pés no chão
Queimei toda teimosia
Pus no lixo meus tambores
Fechei meus versos às cores
Que me lembrassem além-mar
Deixei de comer feijão
Passei a ouvir sinfonia
Pôr o meu francês em dia
Pra despertar fino gosto
Fino prazer na audição...
Mas ao descer do metrô
Conversando ao celular
Com meu andar disfarçado
Ouvi alguém me chamar.
Voltei-me desconfiado
Ao ouvir tanto psiu
Disse um senhor ao meu lado:
- Africano descuidado,
Tua carteira caiu!
(Caxinguelê, p. 86-87)