Amani era um menino muito esperto. Levantava cedo, ordenhava as duas cabras da família e colocava o leite na talha, para juntar e fazer queijo. Também catava os frutos caídos da grande árvore que ficava ao lado da cubata e dava milho às galinhas, que eram muitas e levantam bem cedinho, tão logo o sol dourava as folhas do velho baobá, no centro da aldeia.

O pai de Amani era um soldado do rei e passava fora a maior parte do tempo, protegendo o palácio do rei ou ajudando a resolver problemas em outras partes do reino. Já sua mãe, Abasi, era a curandeira da aldeia, onde havia mais flores e onde a horta era mais sadia.

Porque acordava cedo, Amani almoçava cedo, e depois ia para a Casa dos Anciãos, a escola da aldeia. Lá, aprendia de tudo um pouco: ler os sinais da natureza, as fases da lua, os aromas das ervas, entender os animais de casa e do mato, construir casas, fazer arcos, flechas e escudos, lutar com leões e dominar os segredos da floresta, cheia de mistérios. Quando voltava para casa tinha sempre uma novidade para contar.

(Amani, p. 5).

 

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Um dia Amani acordou com uma gritaria no meio da noite. Estava escuro e sua irmãzinha chorava muito, parecia estar com muito medo. Ele levantou-se para ver o que era e viu um monte de gente desconhecida espalhada pela aldeia. Estavam vestidos e pintados para a guerra, de cara fechada. Tiravam as pessoas de suas casas, outros pegavam as coisas de valor. Amani já ouvira falar deles eram ladrões! Alguns deles entraram em sua casa e levaram sua mãe e sua irmãzinha. Um outro o pegou pelo braço e levou-o para perto da fogueira. Pegaram sua irmãzinha e a entregaram para uma das vovós da aldeia, depois mandaram os outros fazerem uma fila, amarraram todos com uma corda e começaram a caminhar.

(Amani, p. 13).

 

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Em certo momento tiveram que atravessar um rio. Amani já viera ali uma vez, com seu avô, para ver os elefantes se banharem. Às vezes apareciam hipopótamos abrindo suas bocarras e soprando água para cima. Bem no meio do rio, onde a água chegava até seu pescoço e a correnteza era mais forte, Amani pisou num buraco e caiu. Sua mãe quis ajudá-lo, mas os ladrões bateram nela com uma vara e ela teve que seguir em frente, chorando e gritando seu nome. Ele foi descendo rio abaixo, vendo sua mãe e seus parentes cada vez menores até sumirem numa curva do rio. Seu choro se misturava com a água, o rio todo chorava com ele. Nadou então até a margem e voltou correndo para casa.

(Amani, p. 15).

 

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