Pemba
Pemba, não só do bem como do mal,
Que o preto, nos pegis, faz em segredo,
A sua força, o seu poder é tal
Que dela o preta, muita vez, tem medo.
Pó que se torna, aos olhos, invisível,
Soprado, atrás de alguém, jamais ilude,
Pois o efeito se faz sentir, incrível,
Que em cada cor possui certa virtude.
Nesses casos de amor, embaraçados,
Costuma-se empregar a pemba rosa,
Que, como a azul, os fins então visados
De maneira produz mais que pasmosa.
A pemba cor de cinza, igual à branca,
Do mal preserva e livra da traição,
Como do peito o vil desprezo arranca,
Mudando o mesmo por voraz paixão.
Para intrigas nos lares implantar,
A vermelha prefere o feiticeiro.
A verde serve para conquistar,
Pra ser amado e para ter dinheiro.
Serve a amarela para tanta coisa,
Que pouca gente pode até supor.
Rival da roxa que nos manda à loisa,
Costuma o gozo transformar em dor.
Quer seja para o mal ou para o bem,
Seu mágico poder, porém, consiste
Na intenção com que é posta sobre alguém
E à qual humano ser nunca resiste.
Entre as diversas pembas, todavia,
Para tudo de ruim levar-se a cabo,
Tem a preta, de fato, a primazia,
Pemba, pemba do mal, pemba do diabo!
(Aloísio Resende, p. 62.)