5

 

Américas,

eu sou negro

da cor dos olhos negros da minha

mulher.

 

Pereci milhões de vezes,

arrebentado

de tanto trabalhar.

Afinal de contas,

quando você me pagará seus

débitos?

 

Fizeram de mim gatos e sapatos

fizeram de mim até mesmo

capitão-do-mato.

 

Me estupraram

me levaram para a senzala

me arrastaram até o pelourinho

me puseram no tronco

me açoitaram de relho cru, de chicote

puseram gargantilha de ferro no meu

pescoço

me fizeram cativo

e acham isso muito normal.

Me assassinam milhões e milhões de vezes.

 

Me rebelei,

matei o senhor, a sinhá

o sinhozinho, a sinhazinha

o feitor, o capitão-do-mato

e me refugiei nos quilombos.

 

(América Negra, p. 18-19)

 

 

 

****

 

8

 

Brasil,

quero as bonecas negras

da minha irmã, da minha filha.

Rufar tambores

tum tum tum tum tum tum-tum

retinir martelos

 

tem tem tem tem tem tem-tem:

o ferro contra o ferro

na bigorna da oficina de ferreiro do

meu pai

o ferro contra o ferro

na bigorna da oficina de flandreira

da minha tia Aleluia

tem tem tem tem tam-tim-tem.

 

Quero as canções alegres e tristes

na língua dos meus Orixás.

Quero minha pele escura

o beiço de gamela

a bunda de sovela

a venta de fole

o cabelo pixaim

os dentes de marfim.

 

Quero o leite da minha mãe:

de quem o sinhozinho branco

sugou os seios.

Ah! foi ele que me roubou.

Ah! foi ele que me roubou.

Quero somente o que é meu

quero tudo, tudo mesmo.

 

(América Negra, p. 27-28)

 

****

 

Verbo negrar

 

Eu negro

Tu negras

Ele ou Ela negra

Nós negramos

Vós negrais

Eles ou Elas negram

 

(América negra & outros poemas afro-brasileiros, p. 73)

 

O contra-lei & outros poemas (trechos)

 

(O contra-lei & outros poemas, p.17)

 

 

(O contra-lei & outros poemas, p. 59)

  

 

 

(O contra-lei & outros poemas, p. 23-24).

 

Texto para download