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Américas,
eu sou negro
da cor dos olhos negros da minha
mulher.
Pereci milhões de vezes,
arrebentado
de tanto trabalhar.
Afinal de contas,
quando você me pagará seus
débitos?
Fizeram de mim gatos e sapatos
fizeram de mim até mesmo
capitão-do-mato.
Me estupraram
me levaram para a senzala
me arrastaram até o pelourinho
me puseram no tronco
me açoitaram de relho cru, de chicote
puseram gargantilha de ferro no meu
pescoço
me fizeram cativo
e acham isso muito normal.
Me assassinam milhões e milhões de vezes.
Me rebelei,
matei o senhor, a sinhá
o sinhozinho, a sinhazinha
o feitor, o capitão-do-mato
e me refugiei nos quilombos.
(América Negra, p. 18-19)
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8
Brasil,
quero as bonecas negras
da minha irmã, da minha filha.
Rufar tambores
tum tum tum tum tum tum-tum
retinir martelos
tem tem tem tem tem tem-tem:
o ferro contra o ferro
na bigorna da oficina de ferreiro do
meu pai
o ferro contra o ferro
na bigorna da oficina de flandreira
da minha tia Aleluia
tem tem tem tem tam-tim-tem.
Quero as canções alegres e tristes
na língua dos meus Orixás.
Quero minha pele escura
o beiço de gamela
a bunda de sovela
a venta de fole
o cabelo pixaim
os dentes de marfim.
Quero o leite da minha mãe:
de quem o sinhozinho branco
sugou os seios.
Ah! foi ele que me roubou.
Ah! foi ele que me roubou.
Quero somente o que é meu
quero tudo, tudo mesmo.
(América Negra, p. 27-28)
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Verbo negrar
Eu negro
Tu negras
Ele ou Ela negra
Nós negramos
Vós negrais
Eles ou Elas negram
(América negra & outros poemas afro-brasileiros, p. 73)
O contra-lei & outros poemas (trechos)
(O contra-lei & outros poemas, p.17)
(O contra-lei & outros poemas, p. 59)
(O contra-lei & outros poemas, p. 23-24).