PRETINHOS
Henrique Marques Samyn
Vede todos esses pretinhos –
tão parecidos com as crias
que, trazidas pelos tumbeiros,
por acaso sobreviviam.
Vede todos esses pretinhos
espalhados pela cidade:
uns roubando pelas ruas,
outros entregues ao crack.
Uns pretinhos vão à escola,
ainda que não botem fé –
assistem às aulas, fazem provas,
sem saber para que servem.
A quem importam os pretinhos?
Desde sempre, indesejados –
filhos da raça maldita,
deixados na vida ao acaso.
Assim ficam esses pretinhos,
assim levam as suas vidas –
brincando, correndo, zoando,
driblando as balas perdidas.
Vede todos esses pretinhos,
vivendo a existência tão leve –
tirando onda com tanta gente
que lhes deseja a vida breve.
(In: Levante, 2020, p. 85)