I. DE ANASTÁCIA: A SANTA
Henrique Marques Samyn
Afirma a tradição que era rainha
ou que era uma princesa escravizada
(aquela que este povo em ladainhas
evoca): a negra santa imaginada
que as brancas em beleza superava
assim como as sinhás, pela nobreza;
a que nenhum castigo ou chibatada
jamais assujeitou; a que estas rezas
um dia atenderá – ao menos isso
é o que esta gente espera, a cada dia
(pois dizem que a fé de um povo oprimido
todo poder supera). Se heresia
a igreja o considera, o povo canta:
“Será sempre Anastácia a nossa santa.”
(Anastácia e a máscara: sete variações. In: Revista Piauí 197, 2023, p. 70)