Dois nós na noite
(monólogo em um ato)

 

Cuti

 

Personagem

JUDITH

Mulher negra. Idade entre 30 e 40 anos. Cabelos crespos.

 

Cenário

Residência de classe média. Um sofá, poltronas etc.

O televisor deve estar, a princípio, longe do sofá.

 

PRIMEIRO QUADRO

 

Judith, de pé, olha o corpo de um homem negro estendido sobre o sofá. Senta-se em uma poltrona.

 

JUDITH: Por que, meu amor? Por quê? Que revolta eu te causo, assim tão violenta? De repente, me pego pensando ser a razão de tudo, de tudo o que te magoa. Até o fato mesmo de ser...

 

Levanta-se, como diante de uma ideia ousada que não tem muita segurança para expressar. Caminha sob um foco.

 

É... Bem... Sabe, eu sempre senti isso em você, mas... Como é que eu ia dizer, sem me sentir diminuída, sem que você me chamasse de complexada, de atrasada de... De tudo!? Mas... Você se lembra das fotos? Você guarda fotografia de todas elas! Todas?... bem, não sei, talvez... E eu devo conviver com isso. Ora, fotos, o que são fotos? Vivem na gaveta com teus papéis, na gaveta de teus documentos... São documentos também. Talvez decretos, projetos de lei, leis, medidas-provisórias ou mesmo... É, quem sabe, a sua própria constituição. Você as mantém desde quando namorávamos. Você, tão trabalhador, tão honesto e, ao mesmo tempo, sedutoramente despojado, colorido, à vontade, cabelo black is beautiful, uma conversa louca, um mundo verbal, fantásticos universos saindo da sua boca como pássaros brilhantes espargindo luz por todos os lados, deixando-me multicor nos meus afetos, na minha redenção, tirando-me do cativeiro que a educação tinha me colocado junto à solidão. Você, você, você maravilhoso, príncipe dos meus sonhos... Meu hippie, meu iuppie, meu homem fervoroso de tantos fogos inusitados, tesão sempre nova, a primeira cama onde se abriu a minha rosa-choque, minha romã desfolhada em flor... Lembra do apelido?... Ah, sempre eu me sentia fruto, folha, flor nos teus braços. Nossa nudez única, sem abismo, sem sobressalto, denso rio de prazer noturno...

 

Volta-se, procurando o interlocutor. O sofá e o homem se perderam na escuridão. Orgulhosa.

 

Viu como eu sou poeta? Viu como sei pintar minhas emoções, com liberdade entre os lábios, com este vento interior que move a capacidade de falar, de refletir, de analisar, de ver o mundo? Eu posso me expressar livremente.

 

A luz sobre Judith vai se extinguindo ao mesmo tempo em que ressurge sobre o sofá, onde se vê um enorme peixe fisgado, na mesma posição anterior do homem. A linha se perde no alto. Do escuro.

 

Eu posso. Sim, eu posso!

 

O rosto de Judith reaparece em um espelho suspenso. Profunda decepção.

 

Sim, eu posso... (Soletra) Des – de – que – vo – cê – es – te – ja – dor – mim – do... (Vai pintando os lábios com um batom vermelho e brilhante) E por que isso?

 

Inicia-se o som de carretel de vara de pesca, bastante acelerado, mas o peixe vai sendo içado lentamente, marcando, assim, um contraste de ação com o movimento. A imagem de Judith desaparece do espelho e a personagem ressurge. Agressividade crescente.

 

Sabe por que, meu amor? Quando você dorme, quando você chega com sua bebedeira encharcada, sua lama alcoólica de tanto desespero sem razão aparente, e cai balbuciando palavras de tons polidos, entremeadas de “meu amor, eu te amo” e me designa por uma lista imensa de flores brasileiras, como se procurasse uma que me definisse... Depois desse turbilhão de pouco fôlego, meteoro de palavras no seu céu confuso, aí, no momento em que percebo você incapaz de me ouvir e ver, então tenho a certeza inquestionável de estar só, inteiramente só com todos os seus documentos. Sim, os documentos que você guarda na gaveta, aqueles rostos acariciados por suas mãos... Penso: teriam sentido um prazer real num beijo real, lábios com lábios, língua com língua, saliva com saliva? Quando o conheci, você bebia pouco. Talvez antes nem bebesse essa mistura explosiva que o eleva às alturas e, ao mesmo tempo, joga-o neste estado. Tenho a certeza de que este sono é apenas a incapacidade progressiva de me ver. O arrependimento tardio. Eu sou bonita, não sou? Mas, e as fotos, e elas todas, os documentos mais importantes da sua vida? Onde vai, meu amor? Que céu é esse que você procura com tanta bebedeira inexplicável, esse tropeçar em angústias?...

 

Pausa. O som do carretel de vara de pesca diminui de intensidade. O peixe está alto. Ganha brilho. Balança, sem movimento ascendente. Dirigindo-se ao público como se o interlocutor lá estivesse.

 

Eu sei. Eu tenho certeza. Você foge de mim, foge sim, nem adianta mentir. A ternura agora já não pode mais me seduzir. Chega! Quem o quiser encontrar... Não, não precisa caminhar nos seus sonhos, não necessita percorrer a sua biografia, passar pelos seus sucessos profissionais e decepções, ou lembrar a infância difícil, nem necessita percorrer as reuniões do Movimento Negro, onde nos conhecemos. Não é nessas paragens que podemos encontrá-lo. Não é nelas que se situa o céu no qual você mergulha, mergulha, mergulha... (Em desespero) Mergulha completamente bêbado! (Pausa) Não... Quem quiser topar com você é só abrir a sua gaveta, é só abrir seus guardados...

 

O peixe mergulha no alto e desaparece em meio a forte luminosidade, um espargir de luz.

 

SEGUNDO QUADRO

 

Judith ressurge cercada de sete manequins brancos e femininos. Cada manequim traz uma peruca diferente. Estão vestidos para vitrina, em posições diversas, porém harmônicas no seu conjunto. Ainda Judith dirige-se ao público, como se nele estivesse o seu destinatário singular.

 

É só olhar para o rosto de cada uma delas, é só fixar o olhar 3 X 4 de cada uma delas para perceber onde se encontra o final da viagem que você inicia no vício e passa por essa reiterada tentativa de suicídio. Aqui, eu sei, é o descanso da sua enorme mentira que eu sou, querido. (Dirige-se a um dos manequins) Não é mesmo, Kátia? Qual o descanso que você proporcionava a ele, hein? (Retira a cabeça do manequim e passa a dialogar com ela) Ah, certamente é este céu que ele procura em mim e não encontra. O azul, onde se esconde os anjos, a pureza, o dia que todos regozija... É isso, Kátia? Só pode ser. Você tem os dentes podres, um nariz tucano... Ah, ah, ah... O teu bafo de sardinha estragada... Ah, ah, ah... Ele me contou... Você abriria a boca e ele... (Para o público) Não é, meu amor? (Voltando-se para a cabeça do manequim) E ele quase desmaiava. Teve uma certa vez que até sentiu ânsia de vômito e saiu com uma desculpa de que havia comido sardinha deteriorada. A sardinha era você, minha santa, era você!...

 

Judith atira a cabeça do manequim. Para si.

 

Só podia ser esse azul. Ou, quem sabe...

 

Vai em direção à cabeça que fora lançada e dela retira a peruca como quem escalpela, colocando-a sobre a sua própria cabeça. Para si.

 

Talvez... Pode ser que eu fique bem assim, mesmo sem o azul... (dirige-se a outro manequim) Você não acha, Cristiani? Afinal, no meio dos olhos sempre haverá um negro sem fim, o milagre preto da visão. O que está em volta é só enfeite, seja castanho, verde, claro, escuro e até azul. É através do preto que o mundo se forma no espírito, é através do preto...

 

Apanha o manequim e coloca-o em posição mais visível, distanciado dos outros.

 

Através do preto que se bebe a imagem do mundo. É o preto que nos amamenta de forma novas... É o preto que nos amamenta.

 

Vai retirando a cabeça e os braços do manequim. Por fim, separa o tronco da parte inferior e abraça-o. Para o torso do manequim.

 

Não é mesmo o preto que nos amamenta? Diga, Cristiani!

 

Pausa. Põe-se a fitar longamente as mamas do manequim e começa a suga-las sensualmente. Enlevada, para o público.

 

Está bem, querido, está bem... Assim... Eu sei que você queria era isso mesmo. Não era? Tetas leitosas, sem contraste com o leite, não é mesmo? Não foi isso, querido, não foi?...

 

Abandonando abruptamente a sensualidade. Para o busto.

 

Ele chegou a pronunciar o teu nome, entendeu? Eu me chamo Judith! Não tenho seios volumosos como os teus... (Desafiadora) Mas, por outro lado, queridinha, ah, ah, ah... Eu tenho bumbum, sabia? Sabe o que ele me falou de ti? Ah, não sabe? Ele me disse que quando passava as mãos pelo teu traseiro, ele se confundia. Só faltavam os pelos para parecer o teu dianteiro. Em você não se aproveitava nada além dos seios. Feia! Feia! Horrorosa, achatada, vaca leiteira!...

 

Atira o torso do manequim. Passa em revista os cinco outros manequins.

 

Preciso furar os olhos de todas vocês. Vocês olham, mas se negam a ser vistas. O olhar de vocês está sempre algum degrau acima. Minha sensação é a de quem gravita em volta, satélite dessa tal beleza, essa sedução, essa coisa que me violenta e me impulsiona a ser o que não sou. Essa necessidade de ser igual, igual, igual...

 

Para, como se tivesse esquecido de dizer algo para alguém que se distancia. Apelativa.

 

Cristiani, espere... Esqueci... Você pode me emprestar? Bem, pode ser que seja útil para mim. Ahn? Ah, sim. Um dia eu te devolvo.

 

Apanha a peruca do chão e coloca-a sobre a que está usando. Arruma-as.

 

Obrigada, querida. Ah, sim, ele vai gostar. Tenho certeza. Adeus. Lembranças em casa. (Voltando-se para o público) Fiquei bem, querido?

 

TERCEIRO QUADRO

 

No palco surge apenas a luz de um televisor fora de sintonia. Comerciais em off, vai sendo revelado o sofá sobre o que está situado o televisor, no mesmo lugar em que antes estivera o homem e depois o peixe.

 

COMERCIAL 1: (Voz sedutora) Shampoo Nuage deixa seus cabelos macios, sedosos, irresistíveis... Com Nuage ele se sentirá muito mais próximo do céu e lhe entregará todas as estrelas de carinho... Nuage, o seu shampoo... E o dele.

COMERCIAL 2: (Voz agressiva) não deixe seu cabelo assim: duro, quebradiço, sem cor e sem brilho! Use o alisante perfeito para qualquer tipo de cabelo. Alisabosa, o único feito com babosa selecionada. Vá correndo à primeira farmácia e... (Aliciante) Deixa o vento ventar...

COMERCIAL 3: (Voz serena) Em matéria de cabelo, eu descobri. Prático, tanto na embalagem quanto no uso. Nada de ficar ensaboando, lavando. Não. Você passa após o banho e... Quando ele chegar, você perceberá o efeito nesses olhos que serão só seus. Hummm... Faça o teste. Amaciante Look for Me, a lembrança dos cabelos mais íntimos...

 

A televisão é desligada.

 

QUARTO QUADRO

 

Judith sustenta a metade de um manequim (da cintura para baixo). As pernas deste estão sobre os ombros da personagem, que mantém o rosto voltado para o colo do manequim. Os quatro outros se encontram agora totalmente cobertos, cada qual com um pano roxo, tipo saco até os pés. Esses manequins movem-se muito lentamente.

 

JUDITH: Marina, você é minha maior inimiga. Era aqui que ele mais feliz se morria. O que você possuía no meio dessas pernas que o seduzia tanto? Me contaram que você era prostituta de luxo... Não importa o luxo. Era prostituta! Ele, assim mesmo, vinha fundear a vida entre seus loiros pelos, esse “trigal macio”, como dizia um poeta. (Pausa) Você deve ser muito funda, de forma que ele não te alcance nunca, por mais que penetre a sua carne. Assim, ele deve vir sempre tentar de novo, tentar te machucar... Deve ser isso. Porque ele me confessou que a única coisa que queria com todas vocês era atingir um objetivo muito definido: fazê-la gemer! O quê? Prazer? Não, não era prazer. Era de dor. Ele me disse. (Pausa) Me disse? Ora... Ora... Era como se tivesse dito. Não é preciso o uso da palavra para demonstrar o impulso que nos projeta adiante... Exatamente como ele devia se projeta em você: “A mulher mais funda que eu conheci”. É, ele me falou isso, sim. Falou? (Para a plateia) Você me falou isso, meu bem? Ou quase isso? Talvez nem tanto, ou não com essas palavras... (Para o colo do manequim) Ora! Não devo me preocupar com uma puta. Loira, mas puta.

 

Atira a parte do manequim. Para. Apanha-a. Analisa-lhe as reentrâncias. Mira a “vagina” do manequim, chamando.

 

Meu bem, volte! Saia daí, por favor. Esse lugar não tem saída. O suicídio é o final deste túnel. Os gemidos são todos falsos... Meu amor, volte! É de você que eu preciso.

 

Lança de novo a parte do manequim. Apanha, em seguida, uma peruca loira.

 

Se você quiser eu me enfeito mais, dou um trato no visual... olha, veja se eu fico bem assim?

 

Neste momento os manequins cobertos já estão distanciados uns dos outros. Judith coloca a terceira peruca sobre as duas que já estão sobre a cabeça. Sedutora.

 

Você gosta? Então, meu bem... Saia daí, saia... Essa gaveta o sufoca. Essas fotos mantêm você aprisionado. Eu o quero livre no meio do meu abraço. Não é ciúmes, não. Acredite. Saia, meu amor, saia...

 

QUINTO QUADRO

 

Luz sobre o sofá, onde o corpo do homem reaparece, na mesma posição do início. Um balão de gás, em forma de coração, mantém-se a um metro de altura do corpo, flutuando, a ele ligado por uma “corrente”, na direção do peito. A corrente deve flutuar também. Judith surge com um véu de grinaldas sobre as perucas. Tem nas mãos um buquê de flores. Judith, contrita, para o público.

 

Heloísa, Marina, Julieta, Cristiani, Eugênia, Kátia, Marília... Sim, padre! Sim, padre! Marília, Kátia, Eugênia, Cristiani, Julieta, Marina, Heloísa... Sim, padre! Sim, padre! Julieta, Marina, Heloísa, Cristiani, Eugênia, Kátia, Marília... Sim, padre! Aceito como meu legítimo esposo este homem negro, meu príncipe encantado, até que a sorte nos separe ou nos apare as arestas, ou nos ampare na ternura e no sexo e nos livre destes fantasmas. Sim, padre! Sim, padre!

 

Balançando a cabeça, Judith vai tirando da cintura uma faca, e continua o movimento afirmativo, ora ao vazio, ora à faca. Atrás da personagem, como os quatro cantos de um ringue, surgem os manequins cobertos. Uma corrente branca, grossa, liga-os. Bate o sinal para início da luta. Judith entra no ringue com a faca. Vai lutar contra os manequins cobertos. Um por vez.

 

Deles eu sempre tive repulsa. Não tive e não quero ter a pimenta no sexo para temperar a voracidade deles. Todos chegaram cheirando a podridão do passado, querendo mais uma preta, mais um hímen para sua coleção. Ou então, ah, uma mulata na passarela da sedução. Não. Não.

 

Judith levanta a faca, sustentando-a na direção do manequim. Com a outra mão, toca-o com cuidado.

 

Ele é meu. Meu. Resto de vocês, mas é meu.

 

Rasga o pano que cobre o manequim. Revela-se a cabeça careca de um manequim feminino e preto. Judith, assustada, recua. Recua até tocar com as costas outro manequim. Volta-se e trava com ele outra luta de palavras e gestos.

 

Trégua? Não. De onde me vem este querer um homem negro por pior que seja meu precipício? Mas vocês, a brancura de vocês... (À parte) Não é, meu bem?

 

O balão-coração desliga-se do corpo e sobe com a “corrente”. Um foco de luz persegue-o. O corpo jaz na máxima penumbra.

 

Essa brancura com mau hálito, dentes podres, putana, ladra, inhaca nos sovacos, imoral, tudo o que quiser... Seduzindo a sede, seduzindo... Cedo, muito cedo, ele ainda menino (tenho certeza!), o olho aceso nessa beleza...

 

Judith rasga o pano de outro manequim, que se revela igual ao anterior, novamente apavorando a personagem, fazendo-a recuar.

 

De nada adianta se esconder de mim. Eu aceito sim, seu padre! Eu aceito, sim. Não adianta fugir. (Para outro manequim ainda coberto) Sei que você se encobre. Eu sou eu, não você. Seu rosto não é o meu rosto. De todos aqueles estupros na senzala, o que posso sentir é nojo, imenso nojo da miséria violando nosso útero, a humilhação castrando nosso desejo de viver. Nojo, imenso nojo. E esta sensação amarga nas entranhas da alma: ver meu homem querendo amor na desforra para provar a sua virilidade, essa maneira estúpida de conquistar o prazer de viver... (Pausa tensa) Mostra a tua cara, beleza do chicote, do tronco e dos inúmeros suplícios e vícios!...

 

Judith rasga o pano roxo do terceiro manequim. É também um manequim preto. Ato contínuo, ela se volta para o último, cravando-lhe a faca no peito. Soa o sinal do término de assalto da luta. Judith arranca as perucas e sai do ringue.

 

SEXTO QUADRO

 

Judith em off. Gravação de telefonema.

 

Sim, mamãe. De novo... só que reclamava de dores. Sempre reclama. Disse que foi atropelado. Mancava repetiu as mesmas coisas de sempre, que me amava, falou o nome das flores, perguntou pelas crianças e adormeceu gemendo. Está com a roupa um pouco suja... Sim, também falou aquelas bobagens, pronunciou aqueles nomes... Sim, parecia estar mais embriagado do que nunca. Mamãe, o que faço? Estou sem coragem pra nada. Ele está frio, gelado, não está gemendo mais... Eu não sei, não sei, não sei...

 

Luz sobre o sofá, onde se encontra apenas uma gaiola branca com um pássaro preto dentro. De pé, um manequim preto, nu, de grinaldas (é um manequim feminino), com uma faca espetada nas costas, sustenta um buquê de flores, direcionando-o para a gaiola. Ouvem-se vários cantos de pássaros num crescendo.

 

Fim desta peça.

 

(In: Dois nós na noite e outras peças de teatro negro-brasileiro, 2.ed., 2009, p. 7-22)

 

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