De volta à palavra
Wesley Correia
O poeta toma a talhadeira
e vai esculpindo o papel:
retira excessos do vazio,
molda, com mãos operárias,
o primeiro bruto pensamento
até conferir-lhe uma magia
e figurar-lhe possibilidade tátil
e coletiva e estranhamente
humana.
E extrai, do inferno avulso
do papel em branco,
um monumento, uma palavra,
um animal castrado, um vigor,
um valor venal, um cadáver.
E já então, é a palavra
a esculpir o poeta.
(In: Laboratório de incertezas, p. 144)