Negrada

 

          Wesley Correia

 

Este cheiro de preto,
inebriante nas academias
              nas letras,
              nas ciências,
É a profecia do gueto
que se cumpre.

Esta vasta gente preta,
habitante nos segredos
de tantas histórias,
não faz revolução,
é a própria revolução.

Angola, São Tomé e Príncipe,
Moçambique, Bahia, Jamaica –
todo esse sangue sou eu,
renascido em força.

Esta voz de preto
é quem fala ao mundo inteiro
e canta em som longínquo
a memória estilhaçada que não cessa.

Esta mão preta
que inscreve,
inventa oruns,
e a tudo subverte
não diz a profecia,
faz de mim a profecia.

   (In:
Laboratório de incertezas, p. 107-8)

 

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