ASCESE

                                Adriano Moura

Meu choro é ladainha de carpideira.

Lágrimas pagas de sal

afluem do Amazonas deserto

de meus olhos,

deságuam poluídas

no cardume em desespero das ruas.

Arrancam a martelo

as pedras de minhas páginas,

raspam a ferro

o ouro de minhas notícias.

Ajoelho-me

e imploro

a esmola dos rumores.

Jazo sem postes o sepulcro das esquinas,

escuto o réquiem indiferente dos pássaros.

Torno-me um nome na rotina das missas.

Não choro,

não trepo,

não como,

não fedo,

nem cheiro.

Levo comigo a ternura branca dos ossos,

as narrativas tão tecidas dos cabelos.

Sou mais que um rasgo roto no rio da história:

verso livre

sem rima

nem métrica

mas mesmo assim:

POEMA

       (In: Todo verso merece um dedo de prosa).

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