Samba à bangu

                               Paulo Dutra 

Lá em Bangu tem vários ambulantes,
Uma mão segurando a vida
e uma praça de pardais envenenados.
Lá tem um pedacinho da meia-noite
na antiga-fábrica-agora-shopping.
Tem uma janela com mil portas.
ô ô ô ô ô ô ô ô
oi toma aqui ó: este samba de olhos fechados.

Oi este samba, mas quê samba
do sim, e do não, de vida, de uma purinha
que seca sua sede no valão.

Te amo, te amo, te amo,
Com o tamburete e com a cuíca ressecada
pelo calçadão jururu,
no escuro meio-fio do compasso,
na nossa cama de papelão marchê
e no samba que vislumbra a cambaxirra.
ô ô ô ô ô ô ô ô
oi toma aqui ó: este samba de braço destroncado

Oi este samba, mas quê samba
do sim, e do não, de vida, de uma purinha
que seca sua sede no valão.

Lá em Bangu tem várias vitrines
Onde teus olhos e os ecos voam.
Tem uma morte de pandeiro
pintando os pretinhos de verde-amarelo,
tem mendigos pelos telhados de paetês,
tem podres cortinas de risos de purpurina.
ô ô ô ô ô ô ô ô
oi toma aqui ó, este samba que morre na minha face.

Porque te amo, te amo, oi te amo meu amor.
Nos fios onde a molecada brinca e se acaba de alta tensão,
Sonhando novas sombras de luz
pelos murmúrios da tarde morna,
vendo vira-latas e missangas de fuligem
pelo silêncio ofuscante da tua nuca
ô ô ô ô ô ô ô ô
oi toma aqui ó: este samba do te amo pra sempre.

Oi este samba, mas quê samba
do sim, e do não, de vida, de uma purinha
que seca sua sede no valão.

Lá em Bangu vou dançar com você.
com uma fantasia que tenha pé de cachoeira.
Olha só minhas canelas de absinto!
Vou deixar minha boca nas tuas pernas,
minh’alma em plumas e outdoors,
e no molejo desengonçado dos teus passos
quero, meu amor, meu amor, deixar
tamborim e catacumba, as rimas deste samba.

Lá em Bangu tem vários ambulantes,
Uma mão segurando a vida
e um pardal de praças envenenadas.
Lá tem a meia-noite de um pedaço
da antiga-fábrica-agora-shopping.
Tem uma porta com mil janelas.
ô ô ô ô ô ô ô ô
oi toma aqui ó: estes olhos de sambas fechados.

Oi este samba, mas quê samba
do sim, e do não, de vida, de uma purinha
que seca o valão na sua sede.

Te amo, te amo, te amo,
Com o ressecado e com a cuíca tamburete
pelo calçadão jururu,
no meio-fio escuro do compasso,
na nossa cama de papelão marchê
e no samba que vislumbra a cambaxirra.
ô ô ô ô ô ô ô ô
oi toma aqui ó: este braço de samba destroncado

Lá em Bangu tem várias vitrines
Onde teus voos e os ecos olham.
Tem um pandeiro de morte
pintando o verde-amarelo de pretinhos,
tem paetês pelos telhados de mendigos,
tem purpurinas cortinas de risos podres.
ô ô ô ô ô ô ô ô
oi toma aqui ó, esta face que morre no meu samba.

Porque te amo, te amo, oi te amo meu amor.
Na brincadeira de alta tensão onde os fios moleques se acabam,
Sonhando luzes novas de sombras
pelo morno dos murmúrios da tarde,
vendo fuligem de vira-latas e missangas
pela nuca ofuscante do teu silêncio
ô ô ô ô ô ô ô ô
oi toma aqui ó: este amor do samba pra sempre.

Lá em Bangu vou dançar com você.
com uns pés que tenham fantasia de cachoeira.
Olha só meus absintos de canela!
Vou deixar minha boca nas tuas pernas,
minh’alma em plumas e outdoors,
e no passo desengonçado do teu molejo
quero, meu amor, meu amor, deixar
samba e tamborim, e as catacumbas desta rima

                                      (In: abliterações, p. 23-27).

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