Biriba Berimba
Berimbau estava numa roda de capoeira fazendo o maior som e percebeu o outro berimbau, seu vizinho, desafinando a cada nota. Tanto perdeu a afinação que por ele mesmo retirou-se da roda.
Berimbau continuou o toque, ora por outra olhava o companheiro, desolado num canto. Desejava terminar sua função e ir lhe prestar apoio.
Assim fez, encontrando Vara cabisbaixa, o arame torto, a cabaça, o caxixi sem graça, Berimbau perguntou:
- O que aconteceu com você?
- Eu não sou uma vara de biriba, o meu tempo de validade venceu.
- Oh, eu posso dar um jeito. Faço a sua substituição pela biriba e todos seremos felizes por muitos e muitos anos.
- Mas se eu for substituída, serei outro berimbau.
- Berimbau não é só uma vara e sim, o conjunto, a vara em forma de arco, o arame, o caxixi, a cabaça, a vareta.
- Está bem, você tem razão, vamos nessa!
Vara, desajeitada, seguiu ai lado de Berimbau à procura de biriba.
[...]
Entre as biribas encontradas naquela pesquisa, selecionaram uma de melhor condição, isto é, altura e galhos adequados à envergadura.
- tiraram um galho e chegaram com esta surpresa para Vara: ele seria substituído, arame, caxixi, vareta, cabaças antigas continuaram na sua companhia. Vara abraçou os ex-companheiros.
[...]
Berimbau apresentou o jovem e lhe deu novo nome: Berimbau Vara, o toque de Angola confirmou o batismo do nome e a festa continuou com a exibição dos múltiplos toques.
[...]
Atravessaram o dia inteiro naquela festa e se recolheram quando o infinito apresentava uma faixa avermelhada e ia desaparecendo enquanto as primeiras estrelas iam aparecendo. Neste encontro um som de longe: be rim baú be rim baú be rim baú be rim baú... eram eles se despedindo.
Como um só arame faz um som tão bonito?
(In: Biriba Berimbau. p. 3-15)