Você já colheu uma história?

Certa vez, eu andava de barco pela África, quando escutei algumas pessoas falarem de uma árvore que existe naquele continente. Me aproximei e quis saber mais, e então me disseram:

– É uma árvore de onde se colhem histórias.

Fiquei imaginando uma história dentro de uma fruta rechonchuda, perfumada, saborosa, que dá no pé de... qual era mesmo o nome da árvore?

Acabei descobrindo que um guri que more ao sul de algum país africano pode lhe dar um nome. Mas uma guria que vive ao norte da África pode lhe dar outro, bem diferente. Todos, no entanto, a reconhecem, porque ela vive muito. Mais de cem, de mil, até seis mil anos. Também não há quem não se espante ao cruzar com ela. Gigante na largura, pode ter até 45 metros (eu disse metros!) de cintura. Quanto você mede? Agora imagine trinta metros. Dizem que ela, na altura, pode chegar a atingir esse tamanhão.

Então ela pode ter muitos nomes, muita idade e muitos metros.

Daí tive a idéia de fazer este livro e convidei o Mário Lemos, que mora em Moçambique, e o Georges Gneka, que nasceu na Costa do Marfim, para escreverem o que contam sobre ela nas suas regiões. É a mesma árvore que nasce em muitos lugares. Por isso, dela se colhem várias histórias rechonchudas. Véronique Tadjo, que atualmente vive na África do Sul, ilustrou o que todo mundo escreveu.

Agora só falta uma coisa: quem vai descobrir o nome da árvore?

Mas esta história começa muito antes. No tempo em que a árvore ainda era semente.

(A semente que veio da África. São Paulo: Salamandra, 2005. p. 7)