Cena da madrugada
 
Madrugada. Casais forasteiros
passeiam e em seus braços há
negros bebês retintos. Que choram.
Crianças atônitas ouvem
texto sem mensagem (exportação de negrinhos)
 
Madrugada. Gigantescas baratas
passeiam e, em seus dentes há
alimentos de outros filhos. Que fogem.
Saem do quarto, procuram seus pais.
 
Madrugada. E portanto gordos morcegos
(aladas codornas) sobrevoam por alimento.
Brilham famintos seus olhos e esperam.
E vigiam.
 
Longa madrugada: há negro doberman
à espreita de nossos filhos. Seus e meus filhos.
 
Há muito do que fugir: da rede, do inseto,
do vampiro e do cão. Cabeças explodem
em mil e o sangue,
 
o sangue se espalha pela cama.
Ainda é madrugada
(Seminovos em bom estado, 2003, p. 37).