Oko

Quando o mundo foi criado, ainda não existia nada plantado. Aqui morava um homem que nada fazia. Este homem se chamava Oko, o nome que ele tinha recebido do grande criador. Um dia, Olorum chamou este velho e lhe disse: - Olho, eu criei o mundo, porém, faltam as plantações, e eu não sei com fazê-las, como plantar. Você vai ser incumbido desta tarefa. Oko ficou sentado no chão, pensando: - Que grande incumbência Olorum me deu! O que eu vou fazer? Pensou, pensou, e aí se lembrou de que nas suas andanças pelas estradas tinha encontrado uma palmeira, e que embaixo dessa palmeira sempre tinha uns molequinho.Esse moleque era muito sapeca e muito sagaz, com um corpo bem reluzente. Ele estava sempre com um pedaço de pau mexendo na terra. Oko se lembrou de que um dia ele perguntou a esse rapazinho: - Que estás a fazer? E o rapaz lhe respondeu: - Você não sabe que a terra mexida e plantada dá frutos? - Plantada como? – perguntou Oko. - É... A gente arruma semente, e tudo isso... - Como arruma semente, se ainda não existe arvore, não existe nada? – interrompeu Oko. O molequinho lhe disse: - Olhe que pra Olorum Nada é difícil! Oku ficou admirado com as palavras daqueles molequinho. Quando Olorum lhe deu essa empreitada, ele logo se lembrou de molequinho. Voltou ao mesmo lugar e encontrou o molequinho sentado embaixo da palmeira, cavando terra. O buraco já estava maior, e daquele buraco já estava saindo uma terra mais avermelhada. Oko perguntou ao menino: - Pôr que esta terra está saindo mais vermelha? - É sinal de que algo de diferente existe nas profundezas da terra. Você vê que eu estou cavando e aqui em cima a terra é mais seca; agora, esta outra parte, é mais molhada, e agora já está saindo uma parte mais densa, mais dura – respondeu o menino, mostrando a terra a Oko. - Continue a cavar – falou Oku. Mas enquanto o menino estava cavando, a madeirazinha que ele estava usando quebrou. Ele aí pelejou, esfregou no chão, e fez uma ponta na madeira. O menino estava descobrindo naquele momento uma ferramenta na hora em que ele raspou a madeira no chão. E com ela ele recomeçou a cavar juntos e tiraram uma lasca dessa terra, que era a pedra. Oko disse: - Vamos fazer algo para a gente cavar a terra. Vamos ver se conseguimos qualquer coisa com aquela lasca de pedra. O molequinho continuou a trabalhar e Oko lhe disse: - Eu vou me embora, você veja se sozinho consegue pensar em algo mais útil pra gente trabalhar. E foi embora, foi embora, foi embora. Foi andando e matutando pelo caminho. No outro dia quando Oko voltou, o molequinho estava com o fogo aceso e com vários pedaços daquela pedra de fogo. Quando o moleque fez aquele fogo, ele fez também um canal saindo de dentro do fogo. No que as tais pedras iam de derretendo iam escorrendo e o menino ia formando lâminas. Assim foi criado o ferro. E sabe quem era esse molequinho? Era Ogum, o criador do ferro. Daí em diante, Orixá Oko, o grande rezador e plantador, com suas idéias sobre plantação, colheita e lavoura , e Ogum, com as suas ferramentas para ajudar a cavar a terra, o arado, o machado, a foice e a enxada, continuaram a trabalhar juntos nas plantações que têm grande importância na criação do mundo.

(Caroço de dendê: a sabedoria dos terreiros , p. 115)

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