MAIS UMA HISTORIA DE XANGÔ E O QUIABO

Existe uma qualidade de Xangô, chamada Baru, que não pode comer quiabo. Ele era muito brigão. Só vivia em atrito com os outros. Ele é que era o valente. Quem resolvia tudo era ele. Xangô Baru era muito destemido, mas, quando ele comia quiabo, que ele gostava muito, lhe dava muita lombeira. Dormia o tempo todo! E pôr isso perdeu muitas contendas, pois quando ele acordava. Então, resolveu consultar um oluô, que lhe disse: - Se é assim, deixa de comer quiabo. - Eu deixar de comer o que eu mais gosto? – respondeu Xangô Baru.- Então, fique pôr sua conta. Não me incomode mais! Será que a gula vai vencê-lo? – perguntou o oluô. Xangô baru foi para casa e pensou:- Eu não vou me deixar vencer pela boca. Vou voltar lá e perguntar a ele o que faço, pois o quiabo é meu prato predileto.E saiu no caminho da casa do oluô, que já sabia que ele voltaria. Lá chegando, disse:- Aqui estou. Me diz o que eu vou comer no lugar do quiabo.- Aqui neste mocó tem o que você tem que comer. São estas folhas. Você temperando como quiabo, mata sua fome – lhe mostrou o oluô.- Folha?! – perguntou Xangô Baru.- Sim – respondeu o oluô – Tem duas qualidades, uma se chama oyó e a outra, sanã. São tão boas e gostosas quanto o quiabo. Xangô Baru foi para casa e preparou o refogado, e fez um angu de farinha e comeu. Gostou tanto, e se sentiu tão bem e tão fortalecido, e não teve mais aquele sono profundo. Aliás, ele se sentiu bem mais jovem e com mais força. E não ficou com a Lombeira que o quiabo lhe dava. Aí ele disse:- A partir de hoje, eu não como mais quiabo.Daí a sua quizila com o mesmo. É como eu disse no começo: “Todo caso é um caso. ”Esse caso me foi contado pelas minhas mais velhas; assim, agora quem quiser dar quiabo a Baru, que dê!

(Caroço de dendê: a sabedoria dos terreiros , p. 107).

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