Onde o espelho?

Para minhas irmãs negras
Este cabelo que lhe vai liso sobre a carapinha,
é o simulacro infeliz do que não és.
(Ao vestir-se com a pele do inimigo
o que de ti silencia e se perde?
Quantos animais conheces
que assim o fazem senão para reagir?)

 
Este cabelo pesa desfeito sobre sua carapinha.
Veste-a como um manto impuro
abafando o preto caracolado
sobre si dobrado:
filosófico.

 
Os fios se endurecem como cavalos açoitados,
e bradam da morbidez desta couraça
que te mascara branca.

 
Este cabelo requeimado e grotesco
sepulta o que em ti há de mais belo.
A dobra também é uma forma
de Ser.

(Corretenzas, p. 113)

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