Osun Janaína
Descobri que, para mim,
ser mulher basta.
Para puxar véus,
Levantar saias
Pintar as unhas de vermelho feroz –
mesmo que seja só para depois dizer: para.

 
Ou ver a dança des-contínua do seu corpo
sobre o meu (o meu oposto)
Pelo espelho que se emancipa
das paredes deste quarto
e desta tarde delicada.

 
Mas sempre ser mulher basta:
Posto que é inteiro e vão,
onda que bate na pedra e se despedaça
apenas para voltar inteira
– afogada –
num mar de (in)diferenças
onde cada gota solitária e única
forma um discurso descomposto,
cambiante,
plural:
Mesmo quando me atiro sobre esta pedra,
que me rechaça.

(Água negra, p. 31)

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