Oin

Não se iludam com a doçura do meu nome;
Sou oxé bilaminado
Alcançando a garganta dos que lutam pra manter o status quo.
O contorno do agadá de meu guerreiro. A seta certeira do arqueiro.
Nos dias de ouro renasço redonda. Dourada.
Sou peixe pequeno beliscando a barra da saia correnteza.
Nesses dias... adoço-me.

(Ogum’s toques negros, p. 151)

 

 

Homem Nobre

A tarde cai e com ela não ficamos mais vazios; sou inteira e parte do nobre guerreiro.
Com ele tudo está sempre certo,
mesmo que por vezes eu sinta algo de errado.
Meu guerreiro com sua ilustre lança me lança um olhar certeiro
que me alcança
e com a negreza e gentileza dos seus, afasta qualquer mau pensamento.
A tarde cai e com ela
não caem mais minhas esperanças, não me sinto só
com o apagar crucial das luzes. Espero a noite cheirosa debaixo de um lençol fino
que me aquece por tempo determinado, até o meu nobre voltar.

(Cadernos Negros 31, p. 88).

 

Alaketu

Meu okan foi tomado como por assalto E agora paira alto
Longe da minha vontade. Verdade.

(Cadernos Negros 30 anos, p. 148).

 

Paradoxo

(Para Cristiane Sobral)
Não vou mais lavar os pratos, Agradeço a Sobral
Vou ser agora meu bem, viu meu mal?
Cansei de ser você: de sonhar seus chatos sonhos Cansei de me emperiquitar
Para encontros enfadonhos. Agora serei meu bem,
Vou reaprender a deitar E sonhar sonhos meus
Com as minhas cores prediletas.
Sem pensar em sentar de pernas cruzadas Sem ligar pra depilar
Não quero baile de debutantes, Tampouco ter filhos ou casar.
Agora vou ser meu bem, viu meu mal?
Vou ser pós moderna, pelo tempo que quiser Brilhar como Yaa Asantewaa
Vou voltar a ser mulher. Quando um dia acordar
E lavar os pratos por vontade E me emperiquitar por vaidade Casar porque me apaixonei
E parir porque eu quis,
Serei para todo o sempre meu bem, Viu meu mal

 
(Cadernos Negros 31, p. 90)

 

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