EGO
                                        Lílian Paula Serra e Deus

Exponham-se todas as hipocrisias
Afaguem-se as vaidades
Contemplem-se os egos
Mas, não fujam das guerras criadas pelo reinado do eu

Hoje, o espelho do Narciso é a self
Mas, não se alcança a paz com o ego nas mãos

A história só faz sentido quando contada no plural
história no singular é poder
É livro sem contracapa
diálogo sem interlocutor
é Ocidente, sem Oriente
é centro sem periferia
é ego, sem alter ego
é texto sem polifonia
é monólogo

Há quem diga que Tiradentes foi herói. Foi?
E Njinga? Foi o quê?

Quem conta as histórias das margens?
Quem ouve o grito dos Malês
a resistência dos corpos
as vozes por vezes roucas
que a história escolhe não perceber?

Como sanar o ato falho de uma História que se centra no ego do ocidente?
Egocêntrica, eurocêntrica, egoísta.

Sejamos a contra voz
O contradiscurso
O avesso
o dorso
a contramão, a margem

E quem contará as nossas histórias?
Quem exaltará os nossos egos?

Será preciso buscar no inconsciente a inconsistência de uma
história que por séculos se quis única?

                                          (In: A palavra em preto e branco, p. 55-57)

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