FELIZ COMO LÁZARO

se me adoecerem e arrancarem quatro
dos meus melhores dentes.
se martelarem meus joelhos.
mesmo se alinhavarem a minha boca.
se marcarem minhas costas a ferro.
deitarem fogo nas palmas das minhas mãos.
se fuzilarem meu corpo à queima-roupa.
darem fim às minhas digitais.
se me derrubarem e jogarem terra nos meus cabelos.
mesmo se me conduzirem à vala comum.
se me derem por vencida.
se me disserem —  é o fim da linha:
fico aqui exatamente onde estou.
se me disserem – mataremos todos os seus mortos.
fico aqui exatamente onde estou.
com os mesmos olhos de mosca varejeira,
ousada como minha avó.
se me disserem —  é dia e ele não será seu:
fico aqui exatamente onde estou.
com a mesma fome, herdeira de um deserto
faço questão, passo minha vez.

 

Texto para download.