NEGRINHA

O olhar perde-se
Infinidade de dúvidas
Ondas em cirandas
Cercando a infância
De sanhas insanas
 
Decepastes as bonecas
Em mares de indiferenças
Mergulhei fundo, contive
Em tuas entranhas, brincos
Brincadeiras indescritíveis
 
Arrastada às cozinhas abastadas
Percorri impassível entre:
Brilhos, bombril, resmungos,
Choros da criança que sou
E não era eu
 
O sol do meu riso
Derrama-se em felicidades ingênuas
Irascível – a ira – derrama-se
Incandescente em teu coração
 
Negrinha! Tiziu! Tição!
Ressoam ventos adormecidos
em desertos de sal
 
tu me atinges
o coração rios em chama
a margem – revolta
 
Torrentes tempestuosas
arremessam ao infinito
tua tentativa ingênua
de romper castelos, fadas
cirandas, infância.
      (Cadernos Negros 19, p. 160-1)