Abelha Mandaçaia
Tão solitária e negra como eu
Abelha Mandaçaia...
... sem produção de mel?
Desabitada a procura de flor
Para bebericar do seu encanto...
Lápis de olhos...
... a esconder águas salgadas
Como não consolidar
Este isolamento, que me consome?
Esta falta de mãos grudadas
... pele que não afaga
Estou rifando essa soledade!
Trançar, eu quero, mãos pretas...
É querência de mar, e não de oásis
Perenidade entrelaçadas...
Em estações lunares e solares...
Meu viver tornou-se deserto
Os dias quentes e as noites congelantes
Um corpo sem afeto...
Repleto de roedoras,
Serpentes
E lagartas...
Peles bem alvas...
Alvejando-me por serem preferidas...
Será mesmo que eles resolvem
Esses traumas de pretos meninos?
Em outras facetas, sou eu, serpente
Cascavel do deserto, como queira...
Movimentando-me em silêncio
Para que as inimigas não me vejam...
Sentimentos fósseis...
...expostos pelas erosões
A vida inteira sem beber águas...
Longos jejuns sem morrer...
Força bruta que me dilacera
Estes secos dias, sem chuvas...
Só poeiras machucando minhas retinas.
(Águas da Cabaça, p. 27).