2022 ¾ NARRANDAÇÕES

1900
A república é nova
& a velha escravidão
É uma plena alphorria
Para a nenhuma cidadania

Nas ruas das metrópoles
Minha mãe (como hoje)
Sustenta o vagabundo do meu pai
Vendendo cocada e acarajé

Tem mandinga no morro
Revolta no mar
& samba na casa da Tia Ciata

Pelo telefone é anunciado
O nascimento da alma musical
Do Brasil Ao fundo um choro
Carinhosamente Pixinguim (Ô Abre-Alas!)

 

900-10

 

...E era bella a época Bella
porque belle époque
Perdiam-se fortunas no pôquer
Um porre pedia outro porre

Nunca freqüentei saráos
Na casa de um Matarazzo
Convidado nunca estive
Numa opulenta mansão paulistanna

(Quatrocentrões os fundamentos
do meu país dos sonhos
Palmares não é mesmo
Essa república das Alagoas)

Era mesmo bella a época? Bella
Por quê? Belle époque?
Tempos de se redescobrir o paiz
...lá de Paris

 

20-30

 

 Depois há um crash na Bolsa
¾ De Nova Yorque, é claro! ¾
& o sonho brasileiro acabou
Fim do deus café com leite & de tudo

Paulistanas mãos domésticas
Secundam essa negra pra frente
& encasquetada Escreve a História
Com letras combativas de jornal

Ainda não há beletradouvidos / para
O canto ingênuo do Cisne Preto / No país
Tenente de Getúlio arara sabe javanês

 

40-50

 

De concreto as musculaturas
Da frágil democracia
E a prov/ocação de não votar
Em branco ¾ votar Abdias

Um desafino e um sambinha Zona Sul
Estilizado Feito pro Carnege Hall (da fama)
¾ onde artista vai & o povo? Nunca está

Há que se optar entre a Aquarela
Do Brasil em Hollywood
& a versão jazz & jeca do meu samba
Nosso que perdeu quase todo o rebolado como
À certa altura a Carmem Miranda? No país
De Juscelino arquitetura de Niemeyer
& o que fica de todo um Plano Piloto

 

Poesia concreta

 

Negro experimentado em teatro
& malandro mais forçado pelo peso
Da barra fria das circunstâncias não:
Não me enxergo na figura de um Zé Carioca

 

60-70

 

Cantares ao meu povo & World
Toques: Mandela apodrece Brother
Nos porões de South African &
Vou recruta pras conchichinas
Das selvas asiáticas (Vietnapalm)

Convém marchar sobre Washington
Gritar na cara do Tio Sam
Que o American Dream é dourado
feito uma batata quente a barra dos anos

Maio de 68 versus México/70 (?) & não darei
Um só passo com o gde. deus ditadura
Na marcha pela nação Brasília ainda não existe
No mapa da liberdade ¾ somente o ABC

: Alfabetizemos, pois, Hermanos, Sudamérica

 

Sou lindo! Sou único! Sou movimento!
Faço o rumo dos ventos! Sou direção!!!

 

80-90

 

Que entre o Love no samba e caia
A loira na dança Arte popular
Que se preza é terreiro sem nenhum biombo

Se a (nossa) cor errou (num dar de bunda)
D/a grafia da tradicção !paciência!
“O samba de agora nunca como o de antigamente”

Folhas se vão com os ventos Tronco
É embira Carros alegóricos
(de ordinário) passam Alegorias ficam

(Quadris 90 a liberdade é anorexa
Tem as medidas muitíssimo comportadas
Nada por baixo /Vazia por dentro
& tudo em cima /é silicone
Faz malhação em ritmo oloduneróbico
Mas o seu volume não t r a n s b o r d a
Uma latinha de refrigerante dietético) .

 

 

(Versão enviada por Marcos Dias)