Balada Negra
Brasil!
Oh! Brasil!
Pouso dos ideais que regeneram.
Sonho eucarístico dos povos livres,
Acalanto de amor e de bondade...
Deixai correr em vossas artérias
O plasma fecundo e generosos
De quantos saibam amar a liberdade
O negro não pode continuar estagnado,
Sem a hematose da cultura
Que alimenta e vivifica os homens.
O negro, nas vossas articulações ascensionais,
Não é para ser tido unicamente
Como graxa lubrificadora;
Não deve ser visto apenas,
Como substrato básico, como húmus,
Que, no coração das terras,
Tece tapete verde
De saudáveis florações...
O negro, antes de tudo, é algo vivo
Nas diástoles humanas,
Como todas as coisas
Que lembram as obras do criador
O negro não é incriado.
Não é objeto escárnio, comiseração, uso doméstico,
Ou uma peça à parte do contexto social.
Deixai, pois, Brasil,
Que sois ainda o ideário apostólico de Futuro,
Que as gerações negras introduziram
Em todas as vossas células o oxigênio restaurador [...]
De sua pureza e ingenuidade,
Para ativar germinações de idéias novas.
O Colosso do Norte poreja sangue
E o ódio transforma-lhe a história
Num pão amargo.
Brasil!
Vivificai-o com o vosso exemplo!
O coração do Continente Negro
Está espumando de pavor e medo,
E a morte fratricida
Instalou-se em seu lugar.
Brasil!
Socorrei-o enquanto é tempo
Os pés da África têm o calcanhar
Apodrecido e seu sofrimento é a grande dor da
Humanidade.
Brasil!
Que esperais mais que aconteça?
Pois bem
Deixai, Oh! Brasil!,
Que a ternura do negro
Acaricie a rigidez de nossas estruturas
de ferro e de cimento;
deixai que esse bálsamo
se ofereça
(Gestas líricas da negritude, 1967, p. 23).
Canção do silêncio
Senhor!
Diminui as distâncias entre os homens
É muito triste o silencio a dois.
As legiões silenciosas se arrastam
Pelos caminhos da incerteza
Meus irmãos de cor,
Com as faces negras como a beleza
Imortal das grandes noites
Estão cercados de silêncio
- e o silêncio é frio que gela a todos nós.
Ó meus irmãos de viagem!
Ó irmãos de angustia!
Queremos semear a paz
Para a colheita de risonho amanhecer...
Queremos ver o mundo
Com olhos de alegres sonhos acontecidos.
Mas como podemos?
Somos todos irmãos de sofrimento.
A solidão da dor, da fome, da desgraça
Envolve-mos a todos
Em andrajos de silêncio...
Para senti-la
Bastará que sejamos irmãos.
(As gestas Líricas da negritude, 1967, p. 27)