Terminologia

1. O que é Terminologia?

O termo “terminologia” pode ter duas acepções distintas. A primeira refere-se ao conjunto vocabular próprio de uma ciência, técnica, arte ou atividade profissional (TERMISUL1; O Pavel2), como por exemplo a terminologia da Informática, da Biotecnologia, do Direito, da Música, etc. A segunda acepção designa não só o conjunto de práticas e métodos utilizados na compilação, descrição, gestão e apresentação dos termos de uma determinada linguagem de especialidade (=terminologia enquanto atividade) (SAGER,1993), como também o conjunto de postulados teóricos necessários para dar suporte à análise de fenômenos lingüísticos concernentes à comunicação especializada, incluídos aí os termos, evidentemente (=terminologia enquanto teoria).

Para efeito de clareza, emprega-se normalmente terminologia, com inicial minúscula, para designar vocabulário, repertório vocabular ou comunicação especializada; para terminologia enquanto atividade e teoria, emprega-se Terminologia, mas com a inicial maiúscula.

O principal objetivo da Terminologia é “dar conta do funcionamento das unidades lexicais especializadas em situações comunicativas profissionais, acadêmicas ou científicas” (LORENTE, 2004), de modo que essa comunicação “ se realize de forma compreensível e sem ambigüidades em ambientes mono e/ou multilíngües.” (TERMISUL)

2. Importância da Terminologia

A ciência e a tecnologia não se restringem mais a grandes laboratórios ou centros avançados, elas estão presentes no cotidiano dos indivíduos, a ponto de as pessoas não se darem conta disso. O conceito digital3, por exemplo, com os seus desdobramentos etimológicos, está no computador, no telefone celular, no teclado do forno de microondas, na máquina fotográfica, etc. Neste sentido, a ciência e a tecnologia formam e determinam uma parte essencial da vida cotidiana.

Com essa interferência direta, a língua deve estar apta para nomear novos referentes, a ponto de ser eficaz em todos os âmbitos de interação comunicativa. Sendo assim, as linguagens especializadas, com o suporte prático e teórico da Terminologia, são peças-chave para legitimar a função real de uma língua como veículo de comunicação também em situações especializadas.

É fato que, num uso informal de linguagem, não há a preocupação com a precisão terminológica; entretanto, em se tratando de uso especializado, essa precisão é fundamental. Os avanços científicos e tecnológicos precisam ter nomes, e nomes apropriados. Os termos constituintes de um domínio especializado refletem a estruturação conceitual desse domínio, e não só isso: eles são a base da comunicação especializada, porque com a terminologia, além da ordenação do pensamento, os especialistas transferem o conhecimento sobre uma disciplina, em uma ou mais línguas, facilitando, assim, os intercâmbios econômico e tecnológico. Dessa forma, o uso de terminologias sistematizadas ou harmonizadas – através da Terminologia – contribui para tornar mais eficaz a comunicação entre especialistas, comunicação essa que se propõe, acima de tudo, a ser concisa, precisa e adequada (CABRÉ, 1996).

Ressalte-se, porém, que a necessidade de sistematizar ou harmonizar terminologias deve surgir do próprio grupo. A vontade de entender o outro e de fazer-se entender condicionada à necessidade de comunicar-se de maneira unívoca e rigorosa, sobretudo em situações em que a precisão é mais importante que a expressividade (CABRÉ, 1996), faz com que determinado domínio de especialidade, representado por grupos de especialistas, busque soluções para tornar mais eficaz a comunicação. Num cenário ideal, essas soluções deveriam contar com a atividade do terminólogo, mas nem sempre isso ocorre, pelo menos não no Brasil.

É importante lembrar que qualquer iniciativa de sistematizar ou harmonizar um vocabulário não deve ser artificial ou imposta; ao contrário, deve partir dos próprios especialistas.

Note-se que essas iniciativas têm sido constantes, porque não só empresas, mas também países buscam integrar-se em função das exigências do mundo globalizado. Um dos fatores essenciais presentes nas propostas de integração entre países é a cooperação técnica e científica. Ora, como tornar exeqüível essa cooperação sem passar pela Terminologia? Para os tradutores proporem equivalências, é preciso que haja, antes, terminologias adequadamente construídas.

A existência de terminologias sistematizadas atesta que a língua está apta para nomear conceitos técnicos e científicos. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que se promove a disseminação de conhecimentos e de tecnologias através da tradução, fomenta-se a língua nacional. Assim, à necessidade de natureza lingüística soma-se outra de natureza política.

________________________

Referências bibliográficas

CABRÉ, M. Teresa. Importancia de la terminología en la fijación de la lengua. Revista internacional de língua portuguesa. Núm. 15, jul. 96. Lisboa: Editorial Notícias, p.9-24, 1996.

LORENTE, M. A lexicologia como ponto de encontro entre a gramática e a semântica. In: ISQUERDO, A. N. e KRIEGER, M.G. As ciências do léxico, vol. II. Campo Grande: Editora UFMS, 2004.

O Pavel: Curso Interativo de Terminologia. Disponível em: http://www.termium.gc.ca/didacticiel_tutorial/ portugues/lecon3/page3_5_3_p.html. Acesso em: junho/2008.

REY, A. (dir.) Dictionnaire historique de la langue française. 2 vols. Paris: Le Robert, 1992.

SAGER, J. C. Curso práctico sobre el procesamiento de la terminología (trad. castelhana de Laura C. Moya). Madrid: Fundación Germán Sánchez Ruipérez/Pirámide, 1993.

(Autoria: Gladis Maria de Barcellos Almeida e Margarita Correia, 2008.)

________________________ 

1 Grupo de Pesquisa do CNPq sediado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Criado em 1991 no Instituto de Letras. Acesse o site: http://www6.ufrgs.br/termisul/terminologia_terminografia.php
2 http://www.termiumplus.gc.ca/didacticiel_tutorial/portugues/lecon1/page1_2_2_p.html
3 Ainda que grandes dicionários da língua portuguesa (exs.: Aurélio, Houaiss, Michaelis, Porto Editora) apresentem uma única entrada para o adjetivo digital, REY (1992, vol. 1, s.v. digital) defende a existência de dois homônimos na língua francesa: digital proveniente do latim digitalis («da grossura de um dedo», por sua vez derivado de digitus («dedo»); e digital («que opera sobre dados discretos, numéricos e não contínuos»), tomado de empréstimo ao inglês norte-americano, por volta de 1960, e que constitui um termo de numeração.

Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais
Av. Antônio Carlos, 6627 Pampulha - Belo Horizonte/MG - CEP: 31270-901
(31) 3409-5101 dir@letras.ufmg.br

© Copyright 2024 - Setor de Tecnologia da Informação - Faculdade de Letras - UFMG