Crítica


   Brasil

   América Latina

   Literatura Inglesa

   Pós-modernismo

   Pós-colonialismo

   Diversos

 

 

Pós-Colonialismo


Paraíso Perdido em Contracena: império e poder

Luiz Fernando Ferreira Sá.


Desequilíbrio e autonomia levam então à tentação e queda. Após ter provado do fruto proibido, Eva garante que sua mudança foi algo para “add what wants / In female sex [...] / And render me more equal, and perhaps, / A thing not undesirable, sometime / Superior; for inferior who is free?” (9. 821-25). O ponto crucial da queda e do épico é exatamente esse. Como que na pergunta retórica anterior, para essa, como Eva supõe, a resposta é ninguém. Paraíso Perdido prossegue tentando responder negativamente a tal pergunta e asseverando para a história humana vindoura que ninguém que é inferior é livre. Aqui épico e império, e lembrando que o segundo pressupõe uma relação superior vs. inferior, parecem ter sido completa e conclusivamente desconectados, tanto na esfera pública, quanto na esfera privada.

Parece-me que tanto Milton quanto o seu narrador épico precisaram persuadir a memória fictícia, o primeiro de sua própria criação e o segundo da personagem de sua narração, para produzir uma resposta desejável – não uma destituição mas uma resignação, não uma rejeição mas uma conscienciosa renúncia, não uma satisfação mas uma perda. Vale a pena lembrar que meu percurso de leitura do épico se posicionou contra “the unexamined use of the argument that great texts deconstruct themselves, and thus that the canon might be preserved after all–[this] will also not suffice” (Spivak 1988a: 18). A leitura que exercitei no épico levou em consideração que “[t]o choose not to read is to legitimate reading, and to read no more than allegories of unreadability is to ignore the heterogeneity of the ‘material’” (Spivak 1988b: 28-29). Esse ensaio desvelou, através da leitura de algumas passagens do épico, um t(r)opo de linguagem de Paraíso Perdido: poder e império. Resta acrescentar que essa leitura dos t(r)opos de linguagem, sustentada por uma perspectiva pós-colonial, pode prosseguir tendo como princípio que Milton re-co(r)nta uma história de perda e perda de controle: a distinção entre dentro e fora do texto fica escorregadia. O autor parece transformar interioridade e interiorização em texto icônico (corpo de luta ou corpo de conflito) e re-presentar o discurso imperialista com mais ambigüidade, dificuldade de leitura e impossibilidade de uma interpretação.

Referências Bibliográficas

Gregerson, Linda. The Reformation of the Subject: Spenser, Milton, and the English
Protestant Epic. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.

Milton, John. John Milton: Complete Poems and Major Prose. Hughes, Merritt Y. (Ed.).
New York: 1957.

Mueller, Janel. Dominion as Domesticity: Milton’s Imperial God and the Experience of
History. In: Rajan, Balachandra; Sauer, Elizabeth (Eds.) Milton and the Imperial Vision. Pittsburgh: Duquesne University Press, p. 25-47. 1999.

Quint, David. Epic and Empire: Politic and Generic Form from Virgil to Milton. Princeton:
Princeton University Press, 1993.

Spivak, Gayatri Chakravorty. In Other Worlds: Essays in Cultural Politics. New York:
Routledge, 1988a.

-----. Subaltern Studies: Deconstructing Historiography. In: Guha, Ranajit; Spivak, Gayatri
Chakravorty (Eds.) Selected Subaltern Studies. New York: Oxford University Press, 1988b. p. 3-32.


< Voltar  |  1  |  2  |  3  |