Querida Abigail
acabo de ler sua carta que nos encheu de prazer.
Henriqueta, achando-se aqui, na hora, também a leu. Lemos
ainda a que você escreveu para Alaíde. Estou satisfeito
de ver que a letra está cuidada sobretudo na primeira página.
Também está sem erros. Assim, vai tudo muito bem.
Na sua idade, eu era muito baixo de escrever uma carta bem escrita
como a que me mandou. Com dois anos mais do que os que você
tem agora, eu, indo para o Caraça, ainda escrevia 'dentiflicio'
e outras coisas do mesmo jaez. Mas eu era caboclo do mato e só
não perdia escola porque Maria Chaves me vigiava muito.
Custou-me ficar um pouquinho civilizado. Se escrevo corretamente,
só o consegui depois de muito esforço e muito exercício,
principalmente depois que me fiz professor de português.
- Só lhe peço, outra vez, que capriche na caligrafia.
Aprenda aí com a tia e com as primas, enquanto é
tempo. Ter letra bela é uma vantagem, máxime para
ûa moça. Os homens costum ter letra feia e às
vezes dão desculpas de que são intelectuais, de
que são médicos, etc... mas ainda não vi
nenhum gabar-se de ter letra inestética. Pergunte a tio
Carlucho ou a tio João e Vera se não é verdade
o que digo. Com o adiantamento que já tem, depois que você
fizer a cultura inglesa, a cultura francesa e a cultura latina,
certamente que vai ficar bem preparada, munida de uma sólida
base para iniciar o curso ginasial. - Espero que já tenha
visto, outra vez, o prof. Basílio de Magalhães e
o dr. Ivã Lins. Peço-lhe que me recomende a ambos.
- Também não entendi aquela história sôbre
a rua Tomé de Sousa. D. Sinhá levara Sílvio
e Maria para a rua Fernandes Tourinho. Foi a notícia que
meu cérebro ordenou; mas a máquina de escrever,
creio eu, nem sempre é muito obediente. Ou ela precisa
de mais disciplina ou meu cérebro está carecendo
de fósforo. Compreendeu? - Tudo vai bem aqui, felizmente.
Alaíde está boa de todo, apenas sujeita ainda a
um regime de repouso. Tem ficado no quarto, em cima. Diz ela,
porém, que vai descer com muita disposição
e vontade de trabalhar. - Estamos sem chuva há uns quatro
dias. Mas o calor que faz prenuncia novas águas. Maria,
Sílvio e José Carlos têm ido passar dia e
até dormir na casa da avó. O álbum do cinqüentenário
e o ioiô continuam na moda, para eles. José Carlos
se queixa de que não tem passeado bastante. - Tenho dado
aulas diárias, na Faculdade, movimentada com o curso de
férias dos professores. No começo achei boa a novidade,
mas tenho sentido que isto me preocupa e estraga um pouco as minhas
férias. Dentro de 12 dias tenho de me apresentar no D.
I. - Fiquei satisfeito (ficamos satisfeitos) com as notícias
a respeito dos êxitos do dr. João no congresso de
Poços. Transmita-lhe nossos cumprimentos. Espero que tio
Felício, tia Maria e as primas estejam tendo a paciência
necessária com a hóspede (que é você)
- Mande noticias do tio Carlucho. - Abraços a todos. Para
você um muito especial do
Lourenço.
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