O SILENCIO
E só depois da terceira noite
no recesso das nuvens
ao abrigo de torrentes e borborinhos, principiareis a ouvir o silêncio.
Não o rumor de insetos contra os vidros do ar,
nem o dos talos da planta crescendo.
Nem mesmo a bulha mínima
de rocio a escorrer em pétalas.
Mas leve aragem da mudez que precede
ao balbucio do pensamento.
Obscura nostalgia de acorde
em fios tensos de violino
antes de feri-los o arco.
Um apenas prenúncio de passos
de amorosos passos divinos
caminhando no tempo sobre impalpáveis areias
e musgos tácitos
e brancas pedras votivas.
Um como fugir do sangue
à hora da almejada entrevista.
O abandono do corpo - não à atração telúrica -
à transcendência da natureza.
E o coração da criatura pulsando uníssono
de encontro ao vivo coração do Criador.
|
SILENTIA
Post tertiam tandem noctem
in secessu nubium
procul a turba strepituque
silentium audies.
Non rumorem quo musca secat aerem
vel crescit plantae caulis;
nec sonum ipsum minimum
quo tremit ros in folio;
sed auram brevem mutitatis
nuntiam mentis haesitantis;
aut fuscum illud desiderium
in lyrae tensae filis
nondum pectine tactis;
aut tenue quoddam praenuntium
divi peramantis passuum
in tempore per sabulum subtile
et herbas insonas
et alba marmora votiva;
quoddam sanguinis defectum
ante horam colloquii;
oblatum corpus non telluris viribus
sed naturae transcendenti;
creaturae cor unisonum
Creatoris cordi obvium.
|