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Literatura – Prosa e Verso
Livro: Mons Vivus
Vida: 1977

O PASTOR

 

O PASTOR

Sou um simples pastor
de sandália e estamenha,
meu cajado é bem tosco.
Porém dói na minha alma
cada espinho na carne
delicada da ovelha.

Dói-me saber que a doce lã
da minha ovelha se emaranha
nos carrascais espessos.
Dói-me saber que a alvura
pela eucaristia - tão sua -
cobriu-se de cinza e poeira.

Busco-a de recanto em recanto
através de todos os tempos.
Descubro às vezes o seu rastro
numa rósea gota de sangue.
Mas ela foge ao meu encalço
como se me desconhecesse.

Busco-a, no entanto, somente
para revesti-Ia de lírios
- a que minhas cãs imitam;
para a sede mitigar-lhe
na mais límpida fonte
(a que se juntam minhas lágrimas);
para levá-la nos ombros
aonde se encontra a vida;
para morrer - como pastor -
depois de havê-la no redil.

PASTOR

Sum pastor pauper vetulus
tectus sandalio et vellere
nodoso firmus baculo.
Mihi tamen dolet intime
si pungit ovem spinula
in corpus dura tenerum.

Mihi dolet etiam intime
si implicuit ovis crispulos
de lana floccos vepribus;
aut vestem eucharisticam
tanto candore nitidam
in pulvere dedecorat.

A latebris in latebras
in dies eam quaeritans
nonnunquam signum video
in rosei gutta sanguinis
at fugit e vestigio
quasi quae non me nosceret.

Eo longius tamen abeo
ut eam tegam liliis
canis meis simillimis;
et eius sitim relevem
in fontis aqua limpidi
admixtis meis lacrimis;
et eam feram umeris
quo vita plene vivitur;
et ita pastor moriar
sed ove salva in stabulo.

 

Henriqueta Lisboa José Lourenço de Oliveira

 

Copyright © 2004 by Alaíde Lisboa de Oliveira.

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