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Educação e Humanismo
Livro Ao Correr do Tempo - 2
Vida: 1934

A HORA INQUIETA QUE VIVEMOS

 
 

Trabalho lido em sessão da Academia dos Novos, em Belo Horizonte, a 20/02/1934. In: A ORDEM - CENTRO D. VITAL - Rio de Janeiro - junho - 1934. In: Ao correr do tempo 2 - Aulas e Conferências. Belo Horizonte: Editora O Lutador, 1990, p.82-91)

 

Maciel Monteiro celebrizou-se com um soneto: "Formosa qual pincel em tela fina..." Felix d'Arvers imortalizou-se por outro soneto: "Ma vie a son secret, mon âme a son mystère". E Francisco Andrieux (1759-1833) tornou-se conhecido pela poesia "Le meunier Sans-Souci".

É a história do moleiro que vivia em Potsdam, nos tempos de Frederico II, o Grande, filho do Rei-Sargento, amigo de Voltaire e conquistador da Silésia. Vivia aquele amigo do pão moendo seu trigo, vendendo sua farinha e tendo sua felicidade. Chamavam-lhe o "Sem-Cuidados".

Um dia, Frederico II mandou construir o palácio de "Sans-Souci, Potsdam" e precisou de desapropriar o fazedor de farinha. Sem-Cuidados não queria desfazer-se do que lhe pertencia. Foi levado à presença del rei.

O soberano instou com ele, prometeu, lisonjeou... inutilmente. Sem-Cuidados explicava:

"Sire, je ne peux pas vous vendre ma maison. Mon vieux pere y mourut. Mon fils y vient de naítre. C'est mon Potsdam à moi..." [1]

Então Frederico II, o filósofo, ameaçou-o de desapro priação sumária. Sem-Cuidados respondeu-lhe que isso não, porque havia juízes em Berlim.

"Vous... de prende mon moulin?

"Oui, si nous n'avions pas de juges à Berlin!" [2]

Nesta altura, Frederico II ficou admirado, sentiu-se grande com a resposta e ordenou que o homem voltasse à paz de seu moinho. Mas quem tal ordenou, diz Andrieux, havia sido também o conquistador violento da Silésia:

"Ce sont des jeux de prince:
On respecte un moulin, on vole une province!" [3]

Meu colega e amigo Juarez Brant chamou-me, um dia, a atenção para a diferença de tipo moral entre esse homem de Potsdam e o homem de hoje. Essa diferença é que vos quero focalizar, no estudo da hora inquieta que vivemos.

Reparai na firmeza do moleiro! Como está integrado na sua vida! É uma planta sadia, que ali cresceu, ali tem ambiente, ali forma um todo harmonioso com seu moinho.

O rei tenta-o de ofertas, mas ele recusa com segurança:

"Mon moulin est à moi
Tout aussi bien au moins que la Prusse est au roi." [4]

O soberano ameaça-o de esbulho, mas ele declara que apelará para a justiça de Berlim.

Imaginemos agora que fosse um moleiro de nossos dias... Acreditaria ele na justiça de Berlim? Estaria satisfeito no seu lugar? Resistiria ele às possibilidades, porventura elásticas, de uma oferta régia?

Muito provavelmente, não. Ao aceno de uma oportunidade, ao ensejo de uma mudança, ele atenderia sofregamente. E ainda estaria muito bem, se não se diminuísse um pouco, se não desgastasse, na transação, o próprio caráter...

Este é o grande sintoma da época: a intranqüilidade, a insatisfação, alimentada na profunda e coletiva dor que nos suplicia com um desequilíbrio de dias amargos e um pressentimento de tempos ameaçadores.

Mas onde a causa de tais males? Onde a causa da diferença entre o moleiro de Potsdam e algum moleiro de hoje?

A resposta poderia resumir-se numa afirmação: anarquia subjetiva do homem moderno.

Desde que ele aboliu, de dentro de si, qualquer governo, excluindo a regência de uns tantos princípios essenciais à conduta humana, começou ele o trabalho de nosso desequilíbrio.

Iniciado nos fins da Idade Média, esse licenciamento moral do homem progrediu, avolumou-se, ao longo dos séculos: avassalou o século dezenove, traduziu-se em prática no século vinte.

Pensando que se ia desimpedindo de amarras incômodas e inúteis, o homem estava preparando o enredamento, em que vive, instigado de seus instintos mal sopitos, açulado de suas ambições insatisfeitas, inquietado de seus inconformismos permanentes.

No seu último livro - Introdução ao direito moderno - Tristão de Athayde delineia a trajetória desta pseudolibertação. E fá-lo com aquela autoridade que lhe não podem negar nem mesmo os negadores do catolicismo, porque Tristão de Athayde é, sem contestação, o nosso mais profundo e largo sociólogo atual.

Foi no século treze que se começou a forjar esta filosofia que, muito mais tarde, iria desagrilhoar o Prometeu que agora morre de fome, por aí, nos pontos mais civilizados do globo.

Ao voluntarismo legal de Duns Scot (1274-1308) e ao nominalismo de Guilherme de Ockham (1298-1350) se filia nosso relativismo jurídico.

De Guilherme de Ockham até nossos dias vem longo o caminho, demarcado de nomes como Lutero (1483-1546), Spinosa (1632-1677), Hobbes (1588-1679), Rousseau (1712- 1778), Kant (1724-1804) e o pleno florescimento do século dezenove.

Rousseau influiu insistentemente nas teorias sociais modernas. Kant foi o homem que pregou o domínio absoluto da razão subjetiva. Note bem quanta responsabilidade não deverá caber a tal teoria, nos distúrbios e desgraças que nos advieram! É o licenciamento subjetivo, a anarquia de alma do homem século vinte.

Depois de Kant e Rousseau, o século dezenove, "ce stupide XIX e siècle". Durante ele é que a doutrina jurídica se derrama em teorias. É o idealismo jurídico de Schelling e Hegel. É a escolha histórica de Savigny, reduzindo a "história do direito à história do espírito nacional dos povos". É a escola positiva de Spencer e Ihering, reduzindo o direito a um "produto da evolução social da humanidade". É o negativismo jurídico de Fourier e Le Branc. É o economismo de Marx. Tudo se reduziu a direito. É o panteísmo jurídico de que fala Tristão de Athayde. É o materialismo jurídico, baseando o direito numa razão objetiva, absoluta e impessoal, que os alemães encarnaram no Estado...

E aqui estamos no comum da crise atual, crise humana, crise social, em que o Estado está precisando de todas as razões para vencer as massas descontroladas.

A nossa hora é a hora da força.

Os governos, ou são discricionários e absolutos, como na Rússia, na Itália, na Alemanha e nas infinitas ditaduras secundárias, por aí afora, ou tendem para a ditadura, como nos Estados Unidos, ou vivem em crises intermináveis, se são liberais, como na França e na Inglaterra.

São as massas das nações, difíceis de coagir.

"As massas avançam", exclamava Hegel, cheio de pressentimentos! E elas, agora, aí estão, desbalisadas, desregidas de princípios comuns superiores, sofredoras, instintivas, inquietas, oscilando, murmurando, engrossando, ameaçando tragar as instituições!

Imaginai-vos junto ao mar, numa hora silenciosa e perdida da noite. Numa hora de mar grosso. Ouvi, então, o escachôo infindo das ondas, quebrando-se nos rochedos. E pensai no vai-vem das vagas instáveis, irritadas.

A hora atual das nações civilizadas é uma hora de mar grosso. As multidões encapelam-se. Lembram-nos o que diz Horácio, no livro segundo das Epístolas, quando descreve o murmúrio pesado e profundo da populaça, no circo, interrompendo uma representação clássica, para exigir funâmbulos e saltimbancos: "Julgareis ouvir mugindo as florestas do monte Gárgano ou as ondas do mar Tirreno" - Garganum mugire putes nemus aut mare Tuscum.

Escutai bem e ouvireis. Ergue-se do seio das massas este mesmo murmúrio de floresta. Uma floresta humana de instintos, de ambições, de anseios imediatistas, de exigências também humanas, porque as massas sofrem!

Foi o século dezenove quem gerou os dois fatores maiores da situação de agora:

(a) o democratismo, que nos assolou com uma "invasão vertical de bárbaros", na expressão de Rathenau;

(b) a civilização mecânica, posta à disposição da incerta e móvel democracia.

A Revolução Francesa destruiu a sociedade rija, estanque, dos povos hierarquizados, para instalar, no lugar, a sociedade instável, misturada, multitudinária, de organização incerta, que nos trouxe aos nossos inquietos dias de sofrimento e anseio.

Há um trecho de Pitirim Sorokim (citado por T. de A), no livro Social Mobility, que extrema lucidamente as conseqüências da nossa mobilidade social.

A mobilidade social, diz ele, facilita a desmoralização, enfraquece a rigidez de hábitos socialmente necessários, solapa a ordem social, decresce a intimidade e intensidade dos laços sociais, diminui a intimidade nas relações com as coisas, pelo trabalho quotidiano, a fadiga da monotonia e o desejo de se libertar dela.

Na sociedade imóvel, a rigidez facilita a estabilidade. Cada indivíduo ocupa o próprio compartimento social, a posição predestinada a ele, antes do nascimento. Não procura trocá-la; não procura subir de qualquer jeito. Não teme ser ultrapassado.

Na sociedade móvel, o indivíduo não possui essa "psicologia da predestinação". É ambicioso. Procura subir. Teme ser ultrapassado. Não tem paciência nem alegria com a posição que ocupa. Se está embaixo, quer subir, se está em cima, quer subir mais ainda ou teme cair.

A vida, assim, é uma arrancada contra os obstáculos, não importando se isso leva ou não à desordem social.

Daí o aumento das tendências centrífugas, na sociedade atual. As lutas do indivíduo contra o indivíduo, dos grupos contra os grupos, as guerras, as revoluções, as desordens. É a história das sociedades modernas. Até aqui o autor de Social Mobility.

Ouvindo falar de "psicologia da predestinação", não vos lembrais, naturalmente, do moleiro de Potsdam? Ele ocupava calmamente o seu compartimento social. Não imaginaria que pudesse ser rei.

Ora, a teoria da igualdade, mal compreendida e mal praticada, faria achar a qualquer moleiro de hoje, que tem direito de ser rei. Em hipótese, muito bem. Mas ser rei exige umas tantas qualidades, supõe uns tantos deveres...

E aqui está um grande mal do homem moderno: só faz questão de seus direitos. Esqueceu-se de seus deveres. As obrigações que cumpre estão adstritas às necessidades vitais dele ou às imposições de normas inevitáveis. Sua consciência não se alarga em princípios mais altos e em ideais mais sublimes, como são os nobres imperativos de conceitos que eram antes atendidos, intimamente, pelo comum dos homens.

Relembremos a diferença entre direito e moral, muito apreciada pelos incipientes em ciências jurídicas, nos primeiros dias da Academia. Tudo que é direito é também moral, mas nem tudo que a moral manda, manda também o direito. O campo do direito é mais restrito. Se representarmos ambos por dois círculos, o círculo do direito, menor, ficará inscrito no círculo da moral, maior.

Ora, a moral é de origem religiosa, tem fundamentos transcendentes. Mas desde que o homem moderno se desligou, praticamente, de uma regência extraterrena, desligando-se de Deus, deixou também de sentir incômodos ou preocupações morais, a não ser aquelas que lhe são provocadas pela ameaça ou possibilidade de uma sanção social. Subjetivamente, dos dois círculos, ele aboliu o maior. A moral já não brota de dentro dele, completa, de uma fonte segura de convicções, mas sim lhe chega, externamente, de um conjunto de imposições sociais, que ele vai progressivamente destruindo.

Há no direito, ainda, aquela divisão clássica em direito subjetivo e direito objetivo: faculdade de fazer e obrigação de fazer, facultas agendi, norma agendi. A norma é imposta pelas leis, exteriores ao homem. Entretanto, para a faculdade de fazer, há normas impostas pela moral, interiores do homem... E esta é a parte monstruosamente prejudicada, na alma moderna. Abolindo uns tantos princípios altos, milenarmente apontados pelas filosofias e pelas religiões, o homem de agora rege-se pelo imediatismo de seus interesses, de suas paixões; pelas normas do instinto, em vez de normas da moral.

Praticamente, ele só atende à norma agendi, às leis objetivas, impostas pela força do Estado ou pela força da sociedade. Mesmo contra estas, porém, atua, intensa, na hora presente, a inquietação das massas.

Massas, massas... já alguém estará indagando o que há no espírito destas massas.

Tomemos um homem da multidão, um homem-massa e vamos a um laboratório de psicologia dissecar-lhe a alma. Vai falar, porém, não eu e sim José Ortega y Gasset, em A rebelião das massas.

Até o ano de 1800, diz o pensador espanhol, citando um dado estatístico de Werner Sombart, a Europa jamais conseguira elevar sua população acima de 180 milhões de habitantes. Mas, de 1800 até 1904, o índice atingiu 460 milhões! De sorte que, num século apenas, o aumento foi de 280 milhões!

Diante disso, a ascensão demográfica norte-americana é menos importante. Aliás, a América encheu-se com o transbordamento europeu.

Atentai bem nessa vertiginosidade. Durante cem anos, a Europa deitou sobre a história montões e montões de homens, num ritmo tão acelerado que não era fácil saturá-los da cultura tradicional. E as massas não puderam ser educadas, mal aprendendo a técnica da vida moderna. Receberam instrumentos para a vida intensa, mas não receberam a sensibilidade para os grandes deveres históricos. O homem-massa tem o orgulho e o poder dos meios modernos, mas não tem o espírito que tais meios requerem. Vendo todos os confortos que o rodeiam, pensa que tudo surgiu, naturalmente, para ele. Não se lembra dos esforços pacientes que o progresso exigiu da humanidade. Não sente a responsabilidade de um patrimônio que nada lhe custou, um patrimônio que ele encontrou "como encontramos o sol no alto, sem que o tenhamos sobre os ombros". Tem a possibilidade fácil de muitos desejos e como não o impede a delimitação, atira-se às expansões deles. Acha que viver é abandonar-se a si próprio, que nada "é peri goso, nada é impossível e ninguém é superior a ninguém".

É o homem suficiente. Nada exige de si. Tudo exige para si. Deita-se irrefreadamente ao gozo do conforto que a técnica lhe fornece. Não tem cultura, mas crê-se completo, capaz de opinar a respeito de tudo. Não admite regências que não sejam da própria impulsividade.

Não admite normas e é um bárbaro, porquanto barbaria é uma "ausência de normas". É, enfim, um primitivo, no meio de um mundo civilizado.

Eu vos pergunto se não compreendereis melhor a miséria social do momento, após um exame do desequilíbrio enorme que o século dezenove transmitiu ao século vinte, com esse homem não educado, subjetivamente anárquico, produzido em massa, e rodeado de uma civilização material fecundíssima, capaz de um conforto nem mesmo imaginado pelos antepassados.

O império romano findou por falta de técnica, diz Ortega y Gasset. Desenvolveu-se tanto que seria necessária "uma vasta convivência para a solução de certas urgências materiais que só a técnica podia encontrar". Involveu, retrocedeu, morreu.

Mas se então fracassou a técnica diante do homem, agora é o homem que fracassa diante da técnica, incapaz de emparelhar com o progresso da civilização.

Direis vós que, hoje, a vida é incomparavelmente mais civilizada, mais humana, mais liberal, mais rica de oportunidades, completamente viável para os homens íntegros, os homens virtuosos, os grandes homens, que ainda os há, bastantes, por toda a parte.

Eu vos responderei que nem tudo está perdido, graças a Deus. Mas boa parte da harmonia social ainda existente é mera aparência. No fundo, a moral social está inteiramente minada, solapada, porque lhe falta a alma dos princípios fortes e altos. Muita coisa é virtude do hábito; é efeito do impulso milenar de convicções desaparecidas. Como numa máquina de que se desligou a força propulsora, mas que ainda conserva, por algum tempo, o movimento, até que a inércia o paralise. Na máquina do esforço para o bem, o que está, agora, atuando, não é uma simples força de inércia, mas uma força de reação, com o sôfrego imediatista de nossos tempos.

Urna característica frisada no primitivo, rio bárbaro, é o culto da força. Por isso, as coletividades de hoje, as massas, agem pela força.

Tomai para exemplo a democracia norte-americana, a qual conseguiu levantar, na outra parte do continente, uma civilização espantosamente confortável, rica, próspera, exemplo e imitação de outras civilizações atuais. Ora, a civilização norte americana está eivada de falacidade. Tem, na sua composição química, alguns elementos que a envenenarão, assim que as reações combinadoras neutralizem a eficiência de outros elementos. E o mais perigoso deles é o culto da força.

Eu não teria autoridade para deitar semelhante afirmação. Lede, porém, análises da vida norte-americana, como a de Theodoro Dreiser, no seu livro recente - A América trágica - ou como a de Waldo Frank, no Redescobrimento da América, ou como a de André Siegfried, em Os Estados Unidos de Hoje...

"Afirmo, diz Theodoro Dreiser, que os negócios, na América, são e foram sempre regidos pela força. Denuncio todo o sistema como completamente incapaz de enfrentar as exigências presentes, como bárbaro demais para o nível atual da sociedade organizada."

"A Potência, diz Waldo Frank, é um deus para aquele que não admite nada fora de si. A Potência é aquilo por que uma unidade individual se impõe ao mundo exterior. Na economia da Potência, o que conta é a unidade individual; o que deve subsistir antes de tudo é esta unidade. Tudo o mais deve submeter-se ou desaparecer. A Potência é a expressão do animal, do selvam, do menino, de todo ser cuja consciência não se estende para além do domínio da vontade pessoal."

"O homem que admite o primado da Potência escraviza-se ao desejo pessoal. É vítima de sua tendência bárbara a reger o mundo."

"No regime da Potência, unicamente existe a Potência. Poderosos edifícios, poderosas máquinas de poderosos partidos, poderosos bancos, poderosas prisões e homens vazios."

Sabemos como o povo norte-americano é hígido e capaz; como tem reservas de espírito cooperador; como trabalha para se educar. Mas, na Norte-América, o que a democracia conseguiu, no seu mais intenso esplendor, foi simplesmente montar o "Sacro Império do Utilitarismo", segundo uma expressão de José Enrique Rodó.

O que até agora nos proporcionou a democracia, na sua "invasão vertical", foi isto: a inquietação. A inquietação trepidante em que vive o homem atual, provavelmente pequeno, insuficiente, deseducado, para uma civilização material maravilhosa, da qual ele não sabe aproveitar-se, dentro da qual ele se vê infeliz pela qual ele se bate desorientadamente e com a qual ele se acha comprimido, no regime da força, cujo culto ele criou.

Qual o remédio?

Não comportam os limites de meu trabalho a indicação de possíveis corretivos às desgraças dos tempos. Devem estes obter, no entanto, uma coisa simples de enunciar: a reeducação do homem; a reorganização subjetiva do indivíduo, animado de uma personalidade harmoniosa, governado por princípios de sentido sublime - como os eternos princípios que se ensinam na religião e na filosofia; um indivíduo que, desfascinado do liberalismo torto e desregrado de nosso romantismo político, seja capaz de uma cooperação orientada, medida e sábia, na construção de uma nova sociedade.

A nossa hora está cheia de bárbaros que querem aposentar o espírito; de utilitaristas que querem desacreditar o ideal. Ela está exigindo a revolução da inteligência. Aos jovens cabe esta revolução. A eles é que repito, terminando, as palavras de Rodó, na exortação de Ariel:

"Falo-vos convicto de que sois os predestinados a guiar os demais, nas lutas pelas causas do espírito. A perseverança do vosso esforço deve, pois, identificar-se, no vosso íntimo, com a certeza do triunfo: não fraquejeis ao pregar o evangelho da delicadeza aos citas, o evangelho da inteligência aos beócios, o evangelho do desinteresse aos fenícios!"

 

 

Copyright © 2004 by Alaíde Lisboa de Oliveira.

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