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José Lourenço e sua obra > Depoimentos

Euclides Marques Andrade

 
 

Sobre o livro Conceitos de Lingüística Fabular

 

 

"Já é tempo de o homem olhar mais para dentro de si, construindo, sobre o Sujeito, teorias tão úteis como as que tem sobre o Objeto."

A afirmação está em Conceitos de Lingüística Fabular, de José Lourenço de Oliveira (Tempo-Brasileiro, Rio, 1984, p. 133), e mostra o reflexionar constante que dá vida a este livro, aparecido agora.

Na mesma página, lê-se: "No meu tempo de catecismo, ensinava-se que a idade de razão vem com os sete anos. É admissível, portanto, que após deixar a espécie em longa infância, Deus haja mandado que o homem fosse aprender a lógica de Aristóteles. E o homem foi. Mas, daí por diante, absorvido no empenho de ordenar o mundo, foi esquecendo de se ordenar a si mesmo.” A lucidez do Autor não fica restrita apenas à Lingüística, como se vê.

A precisão vocabular com que Lourenço de Oliveira marca nuances sutis no falar e no viver do ser humano, chama logo a atenção do leitor.

O Autor não se molesta de empregar vocábulos de dicção difícil. Se, por um lado, isso dá articulação mais penosa ao estilo dele, por outro, faz compreender, que se ganha nessa transmissão vocabular, muito mais nítida.

Ele revigora algumas palavras, seguindo aquilo que está na Arte Poética, de Horácio, citado por Fénelon, em Lettre de I'Académie: "Dixeris egregie, notum si callida verbum red diderit junctura novum." Em Drummond, por exemplo, a gente vê sempre esse reflorescer vocabular.

Angela Vaz Leão, na entrada do livro, em bela página, destaca o estilo próprio do Professor Lourenço, muito dele mesmo; e o prazer de um reencontro com seu pensamento. E, noutro ponto: “Lembro-me de quando, pela primeira vez, ouvi falar em Saussure, foi pela sua boca, em aulas de Lingüística Latina. E as reservas que o senhor contrapunha a alguns conceitos e posições do Mestre Genebrino, reservas algumas vezes incompreendidas, eu as ouviria formular, muitos anos depois, as mesmas, por um dos mais completos lingüistas da atualidade, Roman Jacobson. Tal era o caráter pioneiro; tal era o nível avançado das suas investigações lingüísticas, Professor."

Este livro mostra o amor de uma pessoa pela palavra humana e, assim, pela criatura que essa palavra articula. Buscando sempre entendê-la e explicá-la, graças à convivência constante com ela e com as teorias a respeito, José Lourenço de Oliveira levanta, neste volume, uma obra de profunda e bem estruturada qualidade.

 

Euclides Marques Andrade
Estado de Minas, 21.03.1984

 

 

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