“12. Ah se eu pudesse
me perpetuar num verso
que me dispusesse
assim tal como sou;
me dariam tanto
se ao entender o desse,
que de pasmo espanto,
surpresa de tanto amor,
me derramariam um verso.
Só, e apenas um:
o quanto bastava
pra efígie pedra
de multidão olhada
de qualquer lugar-cidade,
país ou vila-aldeia,
dizer-me eternas coisas
de um louvor eterno.
E todos de mim saberiam,
inda que nada soubessem...
mas eu mudo tanto
que verso algum daria,
viu Maria, para perpetuar
a dor que em amor transformo
e informo.
Ou jamais cantava
ou jamais sorria,
caso então pudesse
me perpetuar num verso.”

(Prosoema, texto 12)