Poesia para brincar, letra e verso para degustar

Marcos Alexandre*

Ler a poesia e a prosa poética de Marcos Fabrício Lopes da Silva é sempre um prazer e foi um privilégio receber o convite do autor para discorrer estas breves linhas sobre o seu novo livro, Aberto pra gente brincar de balanço, cujas letras e textualidades nos levam para lugares, sensações e reflexões bem distintas. Os versos de Marcos Fabrício são cheios de encantamentos de ordem diversa, uma letra rápida, “improvisada” – no melhor sentido da palavra – fazendo a sua textualidade flertar com as linguagens do rap e do slam, nos propiciando bom humor, identificação e reflexão.

Seu novo trabalho nos fala de tudo: amor, cotidianidades, desejo, ideologias políticas, jogo (de futebol e linguístico), morte, paisagens urbanas, polícia, sexo, vida, sem deixar de colocar no jogo a sua própria escrita: “poesia engavetada prosa estragada”. Preciso destacar, fazer menção e ratificar o fato de que lendo os seus textos não há como deixar de observar o lugar de seu discurso, que também se constitui a partir de uma enunciação afrocentrada, que revisita os lugares de representação dos negros, dando resposta, por meio de um “eu lírico” inquieto, a discursos segregadores que ainda estão vigentes, como podemos observar em “A COR DE MINHA PELE”.

O autor joga, insinua, seduz, vaticina, ironiza, estabiliza e desestabiliza com suas palavras cheias de discursos pulsantes, que se constituem como versos cortantes-imprevisíveis-sensíveis, pílulas críticas de palavras e sonoridades, pílulas linguísticas repletas de iconografias, versos e frases rápidas que brincam e jogam com os sentidos, textos e traços que buscam ressignificar e trazer à tona os [seus] afetos e sentimentos, tessituras poéticas e prosaicas que vasculham, por meio de um eu lírico questionador e que destila doses de ironia afiladas e bem antenado com o tempo de produção de seu discurso, os cotidianos de muitos sujeitos e identidades, fazendo de sua voz autoral, vozes coletivas, muitas vezes, expressas a partir de seus versos-aforismos...

Aberto pra gente brincar de balanço nos apresenta textos primorosos fazendo de sua “brincadeira de escrita”, algo leve, mas sempre muito sério. Não há como não se envolver de alguma forma com as palavras do autor em cada texto que nos vai sendo apresentado, merecendo um olhar mais atento, obviamente ao meu olhar crítico e interessado na sua obra como um todo, “QUAL É A MÚSICA?”, “OUVIRAM?” “O QUE É O AMOR?”, “TINDER”, “APOCALIPSE NOW”, “SONETO INTERESSEIRO”, “BRASÍLIA”.

Ler Marcos Fabrício, sem dúvidas, é um deleite para todo leitor[a] sedento de poesia, reflexão e, sobretudo, prazer, diversão e digressão, essa como possibilidade de alcançar outros espaços recônditos das palavras, como sugere o autor em:

                quero xangôlizar no teu bemquerer
                quero exúmorar no teu cafuné
                quero iemanjá no teu florescer
                quero ogun toque de ileaê

                quero oxumaré de tantas alegrias
                quero omulu vitória da conquista
                quero iansã vento ventania
                quero brisa de oyá no meu oriki

Marcos Fabrício nos deixa seus versos para serem “degustados” sem parcimônia, e só nos resta aceitar o seu convite e brincarmos no balanço de sua poesia. Saboreiem cada verso...

Nova Iorque,

Maio, 2017.


Referência

SILVA, Marcos Fabrício Lopes da. Aberto pra gente brincar de balanço. Recanto das Emas, DF: Edição Independente, 2017.

 

* Marcos Antônio Alexandre é Doutor em Literatura Comparada pela UFMG e professor da Faculdade de Letras desta Instituição. Pesquisador do CNPq e organizador, entre outros, de Representações performáticas brasileiras: teorias, práticas e suas interfaces (Mazza, 2007). É ainda autor de O teatro negro em perspectiva: dramaturgia e cena negra no Brasil e em Cuba (Malê, 2017).

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