Despertando os seis sentidos: no embalo literário de Fausto Antonio

 Fernanda Rodrigues de Figueiredo*


Publicados em 2017, os livros Memórias de meus carvoeiros e No reino da carapinha, da COLEÇÃO DIÁLOGOS INTEMPESTIVOS, Edições UFC, são viagens literárias para o público. A edição é engenhosa e desperta todos os sentidos dos leitores, diversão e emoção garantidas.

Carlindo Fausto Antonio é autor, entre outros, do romance Exumos, das peças teatrais Arthur Bispo do Rosário, o Rei e De que valem os portões, bem como das coletâneas Vinte Anos de Prosa e Vinte Anos de Poesia. Além disso, é presença marcante na série Cadernos Negros, sendo também autor de uma tese de doutorado sobre o Quilombhoje Literatura e as coletâneas lançadas pelo grupo em formato de autoedição.

Com duas obras em uma, Fausto Antônio apresenta narrativas construídas para cativar o público infantojuvenil.  Lançando mão de universos diferentes, em Memórias dos meus Carvoeiros e No reino da Carapinha o autor entrelaça os fios que se tecem em ambas: identidade negra, tradição oral, cultura afro-brasileira e análise crítica da sociedade .

Em Memórias dos meus Carvoeiros, o texto é conduzido pela voz narrativa do menino que conta a saga de sua família. Impactado pela morte da avó, que podemos considerar uma Griotte, o garoto resgata a missão tornando-se agora o Griot, guardião das estórias, que apresenta elementos da memória ancestral construindo um relato emocionante e reflexivo. O livro é uma excelente pedida para a garotada, por sua linguagem acessível, enredo interessante e emocionante, em que a recuperação da memória convive com os desafios do presente, marcados pelas heranças da submissão.

No reino da Carapinha é uma opção muito atrativa para o público, principalmente se adaptado em sessões de contação de histórias. O enredo utiliza um cenário mítico. Baseado em atmosfera mitológica, aborda questões da cultura afro de um modo brincante. As obras contam com apresentação curiosa e lúdica como um jogo de cartas com duas faces.

Os desenhos das capas instigam a curiosidade do leitor e desmistificam a ideia do senso comum de livro estático. Com sua dupla face, este parece ter sido criado para brincar, tanto por sua apresentação externa quanto por seu conteúdo.  No reino da Carapinha brinca com onomatopeias, batuques, sonoridades das palavras enredando o leitor no balanço melódico saboroso. As canções, nomes de personagens e espaço fazem parte dessa folia sonora que lança o leitor a participar e interagir com o texto.

Ambas as composições são frutos da árvore Baóbá, retratada na capa do primeiro livro, cantando histórias afro para abrirem nossos seis sentidos.

 

Belo Horizonte, março de 2018.

Referências

ANTÔNIO, Fausto. No reino da carapinha. Fortaleza: Edições UFC, 2017.

ANTÔNIO, Fausto. Memórias dos meus carvoeiros. Fortaleza: Edições UFC, 2017.


* Fernanda Rodrigues de Figueiredo é Mestre em Letras, Estudos Literários, pela UFMG, professora da rede pública de Ensino e coautora de Literatura afro-brasileira – abordagens na sala de aula (2014).

 

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