Racismo Estético: decolonizando mentes,
de Seu João Xavier
Gabriel Sousa*
Seu João Xavier, linguista e sociólogo, nos leva a uma reflexão profunda sobre como os padrões de beleza e estética que seguimos e admiramos foram historicamente construídos e estão diretamente ligados à manutenção de um sistema racista.
Ao analisar os conceitos estéticos eurocêntricos, o autor revela como a sociedade perpetua, consciente ou inconscientemente, uma visão limitada de beleza que desvaloriza as expressões culturais negras e indígenas. Através de uma abordagem crítica, são apresentados argumentos sobre a urgência de questionarmos as normas estéticas impostas pela colonização e refletirmos sobre como essas afetam nossa percepção do outro e de nós mesmos.
Com uma escrita acessível, mas bastante instigante, o livro não apenas desafia o leitor a repensar suas próprias noções de beleza, mas também a compreender como o racismo se manifesta nas sutilezas do cotidiano — nas representações visuais, na moda, nas artes e em diversas outras formas de expressão cultural.
Cada capítulo traz novas formas de entender como a estética é usada para moldar, incluir ou excluir, reafirmando que as discussões sobre raça e estética são inseparáveis no Brasil e no mundo. Nas palavras do autor: "A colonização não se limitou ao território e à economia. Ela também moldou a forma como nos vemos, como enxergamos o outro, e até como percebemos o que é belo.
Decolonizar a mente é libertar-se dessas correntes invisíveis. A estética colonial não celebra a diversidade, mas sim impõe um ideal que marginaliza o que é nativo, o que é negro, o que é indígena. Desconstruir esse padrão é um ato de resistência." Essa violência oculta a riqueza das culturas negras e indígenas; ao combatê-la, estamos reconfigurando nosso olhar e abrindo espaço para novas narrativas de beleza.
O livro aborda temas cruciais, como a relação entre estética e subjetividade, as influências da colonialidade na percepção da beleza e a urgência de uma reconfiguração de nosso olhar. Além disso, explora ainda a Teoria Racial Crítica e o Letramento Racial Crítico como fundamentos para as análises que ilustram como o racismo estético ocorre.
Com uma análise crítica que transita desde as artes, a arquitetura, a literatura, a música, a moda e a estética religiosa, a obra destaca como as questões raciais e estéticas estão interligadas, ressaltando a importância de promover uma cultura inclusiva e representativa.
Este livro é um convite à decolonização da mente, um chamado para reconhecer e valorizar a diversidade estética que vai além dos padrões convencionais, é um passo importante na luta contra o racismo que ofusca a diversidade e sufoca subjetividades.
Belo Horizonte, novembro de 2024.
Referência
XAVIER, Seu João. Racismo estético: descolonizando mentes. Belo Horizonte: Edição do autor, 2024.
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* Gabriel Sousa é Conselheiro Municipal de Cultura na cidade de Belo Horizonte e correspondente da Frente Negra Online e Fundador do Selo Akoma.