Os lugares de memória na passada “Naquela Noite”,
da escritora guineense Odete Semedo

 

Wellington Marçal de Carvalho¹

 

RESUMO: O presente trabalho abordará o modo como Odete Semedo em seu texto literário, especificamente no conto “Naquela noite”, vale-se de estratégias que podem ser consideradas uma possível simbolização dos “lugares de memória”. Tais estratégias reforçam mecanismos de resistência e indicam formas de sobrevivência para atravessar períodos difíceis do conturbado espaço da Guiné-Bissau. A discussão que ora se inicia pretende referendar trecho do pensamento de Amílcar Cabral, o mais expressivo líder revolucionário do chão guineense, no qual se esclarece o sentido maior da luta de seu povo pela independência. A lúcida percepção de Cabral parece ser a mesma que se depreende do trabalho realizado por Semedo quando encena, em seu projeto literário, possibilidades de o povo guineense assumir, ainda que seja com grandes dificuldades, a condução do seu destino. As estratégias assumidas pela escritora configuram, pode-se afirmar, um projeto literário de feição politizada. Este trabalho, alimentado por essas reflexões, pode verticalizar a discussão focalizando a simbolização dos “lugares de memória” em texto de Semedo, ressaltando, na enunciação literária, sua performatividade enquanto balizador de resistência e insumo de sobrevivência para atravessar a dureza dos tempos atuais da Guiné-Bissau. Em “Naquela noite” ficou comprovada a destreza de Semedo em manejar a concomitância de tempos e espaços divergentes, assim como os restos de tradições ameaçadas de extinção pela aceleração da história.

PALAVRAS-CHAVE: Descolonização. Memória. Literatura guineense – crítica e interpretação.

Introdução

O presente trabalho abordará o modo como Odete Semedo, em seu texto literário, especificamente no conto “Naquela noite”, vale-se de estratégias que podem ser consideradas uma possível simbolização dos “lugares de memória”. Tais estratégias reforçam mecanismos de resistência e indicam formas de sobrevivência para atravessar períodos difíceis do conturbado espaço da Guiné-Bissau.1

Cumpre, primeiramente, apresentar informações gerais sobre a autora guineense e sua obra. Maria Odete da Costa Semedo nasceu em 7 de setembro de 1959, em Bissau, capital de Guiné-Bissau. Atuou como Ministra da Educação Nacional e Presidente da Comissão da UNESCO-Bissau e, também, como Ministra da Saúde Pública e Consultora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) para as áreas da Educação e Formação. É professora da Universidade Amílcar Cabral (UAC), instituição da qual já foi reitora. Coordena a coleção Kebur II e a Série Palavras de mulher, estudo biográfico de mulheres guineenses. Atualmente é Ministra de Administração Territorial e Gestão Eleitoral (ALVES; CARVALHO, 2020, p. 368). Em 1996, publicou o livro de poesia Entre o ser e o amar. Em 2000 publicou dois volumes de contos inspirados em histórias tradicionais, respectivamente, Sonéá: histórias e passadas que ouvi contar I e Djênia: histórias e passadas que ouvi contar II, pelo INEP. Em 2003, lançou a primeira edição do livro de poesia No fundo do canto. Em 2011 organizou, com a pesquisadora Margarida Calafate Ribeiro, o livro Literaturas da Guiné-Bissau: cantando os escritos da história. Ainda em 2011, publica, pela Editora Nandyala, o livro Guiné-Bissau: história, culturas, sociedades e literatura. Em 2016 publica, pelo INEP, o livro Os meus três amores: o diário de Carmen Maria de Araújo Pereira: uma visão de Odete Costa Semedo.

Especificamente nos dois volumes de narrativas curtas, Sonéá e Djênia, Semedo apresenta uma

Experiência literária que actualiza certo saber de uma “civilização em que o verbo oral funda a cosmogonia do Ser e da Vida”; tudo tecido numa obra que evidencia um compromisso produtivo entre a voz (da tradição) e a letra (o saber da modernidade). Isto é: um tecido textual em que se pode encontrar tanto o mero prazer da palavra literária e a aprendizagem cultural – textos que educam entretendo mas que também convocam o intelecto para assimilar ou contestar valores essenciais e universais que são por eles veiculados. (MATA, 2000, p. 9, grifos da autora)

Sonéá é composto das estórias “Os dois amigos”, “A morte do filho do régulo Niala”, “Sonéá”, “Kunfetu: stória da boa nova” e “Kriston Matchu”. Djênia, por seu turno, comporta as estórias “Aconteceu em Gã-Biafada”, “As peripécias do doutor Amison Na Bai”, “Djênia”, “Naquela noite” e “A lebre, o lobo, o menino, e o homem do pote”.

A quarta passada de Djênia, “Naquela noite”, objeto da presente reflexão, “explora o poder do sonho no quotidiano guineense” (IÉ, 2019, p. 169), e teve seu enredo bem sumarizado por Bispo:

Quarto conto do livro, se diferencia por completo das demais narrativas das duas obras em prosa, sendo o único enunciado em 1ª pessoa. Conta a experiência de uma noite de insônia, no decorrer da qual a narradora escreve uma carta à Rosa, amiga de Angola. Ao fim da escrita, é surpreendida por um barulho que a faz acordar. Ela tem o caderno por travesseiro e nenhuma carta à Rosa. (BISPO, 2005, p. 23)

A discussão que ora se inicia pretende referendar trecho do pensamento de Amílcar Cabral, o mais expressivo líder revolucionário do chão guineense, no qual se esclarece o sentido maior da luta de seu povo pela independência. Retoma-se trecho da reflexão da escritora e jurista caboverdiana, Vera Duarte, em que esquadrinha a acuidade do pensamento desse líder guineense:

Efectivamente, a genial intuição de que Cabral era dotado cedo lhe mostrou que a luta pela independência da Guiné e Cabo Verde [...] só seria possível com a mobilização de todas as camadas e segmentos da população. [...] Foi assim que, no programa do PAIGC [...] já se estabelecia em 1956 e sob a inspiração do pensamento de Cabral à igualdade dos cidadãos perante a lei sem distinção do sexo” e mais, que “os homens e as mulheres gozarão da mesma condição na família, no trabalho e nos assuntos públicos”. [...] Esta é sem dúvida a consagração mais arrojada do princípio da igualdade homem – mulher que, na altura e por muitos anos, se pôde obter na quase generalidade da cena africana, para não falarmos a nível mundial. [...] É que mais que a emancipação da mulher, Cabral pregou a promoção e a dignificação da mulher. (DUARTE, 2006, p. 169, 170, 171, grifos da autora)

A lúcida percepção de Cabral1 parece ser a mesma que se depreende do trabalho realizado por Semedo quando encena, em seu projeto literário, possibilidades de o povo guineense, sem distinção de sexo, assumir, ainda que seja com grandes dificuldades, a condução do seu destino. As estratégias assumidas pela escritora configuram um projeto literário de feição politizada. Talvez valha arriscar que a literatura semediana materializa e problematiza, na enunciação literária, “o sonho de Cabral, um grande africano, humanista e visionário que acalentou o sonho de construção de uma sociedade decente onde homens e mulheres fossem iguais, livres e dignos” (DUARTE, 2006, p. 175).1

Acredita-se na pertinência de se considerar que a escrita ardilosa de Semedo se processa pela assunção de elementos da modernidade que se mesclam a feições do universo da voz e dos gestos, às configurações da memória coletiva que sobrevivem, em suas narrativas, grafadas em letra e publicadas em forma de livro.

Encenar a memória da forma como o fez Semedo em “Naquela noite” acaba por se transformar em estratégia para trazer para um mesmo espaço elementos de temporalidades diversas e de acentuar vestígios de tradições que vão sendo engolidas pelo tempo acelerado. De certo modo, o conto articula elementos daquilo que Nora (1993, p. 8) considera como partes do processo de descolonização interior e Achugar percebe como temor de perda de memória provocada pelo “fantasma de um Alzheimer coletivo” (ACHUGAR, 2006, p. 168).

No caso de povos em vias de descolonização, o mais certo é que aqueles que optarem por enfrentar a imposição do esquecimento caminhem em oposição ao poder que se quer soberano, porque, como acentua Todorov: “Todo ato de reminiscência, mesmo o mais humilde, pôde ser assimilado à resistência antitotalitária: [...] a reconstituição do passado já era percebida como ato de oposição ao poder”. (2002, p. 140). É ainda Todorov quem alerta para o fato de que “o estatuto da memória nas sociedades democráticas não parece definitivamente garantido” (TODOROV, 2002, p. 141).

As várias dimensões nas quais a memória se faz motivação para a tessitura enunciativa de Semedo permitem repensar uma postura contundente dessa escritora para escavar o terreno das oralidades e reinscrevê-las no texto escrito. Este é o caminho escolhido pela escritora para não deixar desaparecer traços importantes de sua cultura. Tamanha engenhosidade não permitiria considerar, na criação literária de Semedo, notadamente nos seus contos, sustentáculos de “lugares de memória” (NORA, 1993, p. 13), tais como concebidos por Pierre Nora?

Para tentar responder essa questão, pensa-se ser fundamental retomar as oscilações de que fala o teórico francês sobre “guardar e perder” tão próprias do tempo presente (NORA, 1993, p. 7). Por isso, no presente ensaio, propõe-se recorrer ao conto “Naquela noite”, do livro Djênia, de Semedo, para deslindar as estratégias literárias ali encenadas.

A expressão “lugares de memória”, originalmente, foi usada por Pierre Nora para definir os sentidos de determinados espaços e/ou construções que, de acordo com o historiador, indicam, por sua própria existência, que não há mais memória espontânea.

A expressão configurou-se, desde sua apresentação por Nora, como um robusto operador teórico para uma gama de reflexões em vários campos do saber apesar de, como afirma Ricoeur (2007, p. 412), haver sido confiscado de certo modo pela “paixão de comemoração” que desconsiderou o âmago das posições defendidas pelo historiador francês. O conceito integra as pesquisas do cientista político francês que produziu

um dos empreendimentos mais influentes na história cultural dos últimos vinte anos, Les lieux de mémoire. Numa série de volumes majestosos, publicados entre 1984 e 1992, Nora solicitou e editou artigos de intelectuais franceses proeminentes que, em seu conjunto, constituem um inventário de conhecimento e conjecturas sobre a memória no contexto histórico francês [...], historiadores, jovens e maduros, encontraram no tema da memória, definido de várias maneiras, o conceito central organizador dos estudos em história, uma posição antes ocupada por noções de classe, raça e gênero. (WINTER, 2000, p. 67-68)

De acordo com Ricoeur o empreendimento de Nora acabou imiscuído “à exasperação suscitada pelo confisco do tema por parte da paixão de comemoração, contra o qual o autor pôde se erguer em nome da história nacional.” (2007, p. 412). É imperioso anotar, no presente ensaio, o fato de que nos três vastos volumes que Nora dedica aos “lugares de memória”, há exígua referência ao fato colonial.

Desde já este trabalho quer sugerir o funcionamento razoável de vertentes de memória em textos literários arquitetados por seus criadores como espaços de retomada de um passado e de feições da tradição. De algum modo, tais textos literários indicam romper com o deliberado soterramento de elementos próprios à constituição de núcleos sociais silenciados pelo movimento “de descolonização interior”, como acentua Nora (1993, p. 7).

Considere-se que os textos literários não têm a pretensão de replicar o passado, pois, obviamente, isso não seria possível. Tampouco a arte literária pretende ser um espelho do mundo. No entanto, a “literatura que se faz atenta aos vestígios e manifestações de culturas orais assume o gesto que legitima os ‘lugares de memória’ mas pode, também, povoá-los com os afetos que a leitura agencia” (FONSECA, 2005, p. 59; 2008, p. 88).

Nesse sentido, mostrar-se-á producente observar algumas estratégias com as quais Semedo põe em funcionamento a intenção de retomar elementos das tradições do povo guineense, investigando excertos do conto “Naquela noite”, que permitem acompanhar os mecanismos textuais com que a autora revisita o sabor e o ritmo de produções orais tão presentes em sua cultura.

Destreza no manejo do lembrar e esquecer

A noite de insônia, em sua aparente simplicidade, parece enunciar uma tomada de partido da escritora, como é bem próprio da criação literária semediana. É como se o fato nunca experienciado por aquela mulher, “que tantas vezes ouvira queixas de colegas e de pessoas amigas por terem tido insônia” (SEMEDO, 2000, p. 106), a reintegrasse em tecido social incomodado com algo de seu entorno, como a pseudoletargia de seu próprio povo e a dificuldade de demarcar seu espaço. Nora reflete sobre o processo de independência e descolonização dos chamados espaços periféricos assinalando que a independência das novas nações conduziu para a historicidade as sociedades já despertadas de seu sono etnológico pela violentação colonial. E pelo mesmo movimento de descolonização interior, todas as etnias, grupos, famílias, com forte bagagem de memória e fraca bagagem histórica. (NORA, 1993, p. 8)

No conto, seria plausível considerar então, o “dia com uma tremenda indisposição” (SEMEDO, 2000, p. 106) enfrentado pela narradora como o motivo para se pensar no processo de descolonização interior aludido por Nora. Não por acaso a personagem, numa visão sobre si mesma, expõe “o medo de as pessoas pensarem que [...] estava a ficar maluca” (SEMEDO, 2000, p. 106). Logo ela que sempre “ouvia as queixas [de insônia] com uma certa ironia [...] pois considerava impossível uma pessoa não dormir à noite, sobretudo estando deitada numa cama macia com boa coberta e um pano de pente aconchegante” (SEMEDO, 2000, p. 106).

É justamente nesse ponto que a arguta feição politizada da literatura de Semedo se manifesta incitando a que se considere a sua obra e especificamente essa passada na pauta das assertivas postas por Nora sobre os “lugares de memória”. Deliberadamente o conto enfatiza, no plano enunciativo, a relação entre os significantes constitutivos das expressões “cama macia”, “boa coberta” e “pano de pente aconchegante” (SEMEDO, 2000, p. 106) para ressaltar um caminho plausível para a sobrevivência da tradição em diálogo com elementos da modernidade. As tensões decorrentes dessa mistura são figurativamente expressas por detalhes alusivos à falta de sono e outros transtornos que acometem a personagem. Da simplicidade do enredo emergem indícios apenas aparentemente triviais com que se presentifica a mensagem encaminhada pela mão da escritora, o acordar para uma nova vida. Mesmo indisposta e sem alternativas, a estudante de psicologia vislumbra que uma noite bem dormida solucionaria o problema. Contudo:

Já na cama, voltou-me aquela sensação de tristeza e nostalgia, parecia que tinha uma dor inexplicável no peito; senti o coração apertado e não consegui dormir. Dei voltas e mais voltas na cama mas... nada! Deu-me a sensação de que a cama estava quente e com o calor que se fazia sentir, era no mínimo uma noite insuportável; ou será que só eu é que sentia aquela sensação? (SEMEDO, 2000, p. 106)

O tom intimista presente nessa primeira parte da passada, como se vem discutindo, poderia muito bem ser compreendido como uma síntese do que sente e vivencia uma enormidade de pessoas da sociedade da qual faz parte aquela mulher. Pessoas que talvez também estivessem “com problemas mas que nem por isso iam ao médico” (SEMEDO, 2000, p. 106) e que, sem saberem ao certo os motivos do que sentiam, atravessavam noites insuportáveis na esperança de “dormir como de costume e o dia seguinte seria um outro dia” (SEMEDO, 2000, p. 106).

A prudência sugere levar em consideração o contexto de produção da escrita de Semedo. O cenário político guineense é conturbado de forma tal que, não de propósito, rebateria em uma escrita que dialoga e questiona essa realidade. Uma escrita que revira a pretensa história oficial para construir, com recorrência à memória, outra possibilidade de ser/estar no mundo, deixando transparecer as dores dessa sociedade, e, principalmente, as dores daqueles que tiveram sua existência arremessada para as margens, para a periferia. Não parece ser esse o lugar de pertença da mulher com insônia do conto “Naquela noite”? Quem sabe pese sobre ela reconhecer que a modernidade, na qual sua vida se insere, afastou-a da memória viva de sua cultura e, talvez por isso, a noite mal dormida e infeliz seja o estopim para a crise de identidade que a faz “querer chorar” (SEMEDO, 2000, p. 106), querer “mesmo dar um grito enorme” (SEMEDO, 2000, p. 106).

A desolação dessa mulher parece ecoar o sentimento dos guineenses violentados pela colonização. E na hipótese de se projetar a passada para os tempos atuais daquele país, em que os sonhos que moveram as lutas pela independência quase se esfacelaram por completo, mais vozes se mesclariam à confusão da mulher que “não entendia por que é que as pessoas se apaixonam, e por que é que este sentimento pode desvanecer-se de repente ou tornar-se muito complicado” (SEMEDO, 2000, p. 107).

Considera-se, por isso, pertinente perceber esses indícios como manifestações do despertar do sono etnológico, para se usar os termos de Nora. Esse acordar que parece levá-la de encontro a “dúvidas que nessa noite se tornaram guilhotinas, não para uma morte súbita, mas para [a] torturar lentamente” (SEMEDO, 2000, p. 107). O choque que a faz pensar em “coisas tristes” (SEMEDO, 2000, p. 107) ampliar-se-ia, na própria percepção da personagem, para a coletividade:

Meu Deus, em que coisas fui pensar naquela noite? Pensei em muitas coisas mais... tive a impressão de ter estado a ver um filme em que eu e as pessoas com as quais convivo e me relaciono, no meu dia-a-dia, éramos os actores principais; mas pairava muita tristeza no ar, muita incerteza e muita desilusão. (SEMEDO, 2000, p. 107)

A atmosfera sombria, desencantada, turva, dada a conhecer pela mulher, clama por um refúgio, um socorro. O embate em que se encontram os que atravessam o “movimento de descolonização interior” (NORA, 1993, p. 8), desembocará no recurso à escrita como mecanismo de salvação. Esse seria um movimento de descolonização interior que acabaria por trazer à superfície do texto cacos de memórias. Para Nora “esse arrancar da memória sob o impulso conquistador e erradicador da história tem como que um efeito de revelação: a ruptura de um elo de identidade muito antigo, no fim daquilo que vivíamos como uma evidência: a adequação da história e da memória”.(1993, p. 8)

O saldo do processo de descolonização necessita alojar-se em algum dispositivo. Nesse ínterim, Nora chamaria a atenção para os lugares que a sociedade criou para alocar restos de memória apagados pela História. Esses seriam locais para ancorar a memória, devido ao fato de ela não mais habitar, costumeira e tradicionalmente, a espontaneidade das relações. Nos termos de Nora, “se habitássemos ainda nossa memória não teríamos necessidade de lhe consagrar lugares. Não haveria lugares porque não haveria memória transportada pela história” (1993, p. 8). O crítico uruguaio Hugo Achugar ecoa Nora a esse respeito:

O fantasma de um Alzheimer coletivo percorre o presente fim de século. Todas estão/estamos ou parecem/parecemos estar atemorizados por uma perda de memória. Todos estão, estamos, parecem, parecemos estar angustiados pela imposição do esquecimento. Ou, se não é o mesmo, é parecido. Todos parecem estar, estamos ou estão, preocupados por democratizar o passado, descentralizar a história ou descolonizar a memória. Pierre Nora diz que falamos tanto de memória porque resta muito pouco dela. (ACHUGAR, 2006, p. 168)

Essa transposição da memória pela história se delata a si mesma, pois deixa pistas do seu acontecer e, por fim, amplia ainda mais a impossibilidade de aproximação do núcleo da memória. Havendo “rastro, distância, mediação, não estamos mais dentro da verdadeira memória, mas dentro da história” (NORA, 1993, p. 9).

Na passada, o que permite à personagem “dissimular aqueles pensamentos tristes e monótonos” (SEMEDO, 2000, p. 107) é o recurso à memória, a qual, nos termos de Nora, presta-se a “repentinas revitalizações”. Vale apresentar excerto em que a personagem principal da estória encontra alternativa para a sensaboria vivida nesta noite de “tristeza e desolação” (SEMEDO, 2000, p. 107):

A tristeza era muita e a falta de sono maior ainda; então, levantei-me e fui até a sala, acendi o candeeiro e procurei uma caneta e um dos meus cadernos diários. Sentei-me. O que será que vou estudar? Não, não vou estudar, vou escrever qualquer coisa... Mas o quê? Não soube. Aí comecei a esfolhar o caderno, a reler alguns apontamentos. Após ter lido algumas páginas, comecei a sentir as pálpebras pesadas; sono não podia ser, porque estava sem sono, e continuei...? (SEMEDO, 2000, p. 107-108)

A enunciação parece asseverar a situação vivida por aquela mulher e, também, pelas pessoas de seu convívio social, pertencentes a sociedades que foram afastadas, pelo curso de uma história que lhes foi imposta, da memória viva que as constituía.

Em contraponto ao fenômeno provocado pela aceleração da história, Nora, de maneira perspicaz, traz o foco para a memória. Deve-se perceber que Nora compara tempos diferentes: o tempo da memória que é caracterizado pela memória espontânea, a memória passada de geração a geração, no calor da vivência e a História, que só pode valer-se de cacos do que não existe mais. Nesse sentido, a memória precisa ser entendida como uma manifestação da própria efervescência que é a vida em sociedade, inclusive constituída pela desnecessária explicação e objetificação de todas as coisas. Uma espécie de sagração da opacidade, da plasticidade inerente à interlocução entre os componentes do tecido social. Assim:

A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas revitalizações. (NORA, 1993, p. 9)

Aceitar o postulado de Nora ajuda a compreender, na passada de Semedo, a imbricação do que se poderia chamar de segunda parte da narrativa, ou, talvez, de uma narrativa encaixada na principal, cuja marcação estaria nas “pálpebras pesadas” (SEMEDO, 2000, p. 107) e reforçada nas reticências e no ponto de interrogação que fecham aquele parágrafo. Esses sinais levam a crer que a mulher adormece, ou, pelo menos, cochila e a enunciação adentra o universo onírico e participa ao leitor o que vai na mente da personagem nesses momentos. Tem-se ciência que, ao folhear o seu diário, ela encontra um bilhete de Rosa, uma angolana amiga de sua irmã. Ela toma para si a tarefa de lhe endereçar uma resposta, como retribuição à estrangeira que gostara tanto do país, segundo a qual, esta era “uma terra linda, pequena e limpa” (SEMEDO, 2000, p. 108).

Poder-se-ia pensar no bilhete como um metadispositivo utilizado para abrigar restos de memórias? Ou, ainda, como único meio possível para frear o curso alucinante da História e reposicionar os cacos das coisas que não mais existem? Se a resposta for positiva, a leitura do bilhete escrito à angolana Rosa, no sonho, materializa recurso narrativo utilizado por Semedo, uma vez que será no bilhete que se ressaltarão aspectos da manipulação levada a cabo por grupos sociais dominantes daquela sociedade.

Sem dúvida, diferentes segmentos de uma sociedade mantêm-se em permanente conflito para arbitrar o que será eleito para, em determinado momento histórico, ser ressaltado. As revitalizações repentinas, como pondera Nora, são plenas de intenção. Prevalecerá nesse jogo o agrupamento de maior cabedal de poder. Às outras parcelas sociais, independentemente de seu tamanho, restará conformar-se com o gesto de manipulação perene. Contudo os grupos que ainda habitam no calor da memória viva, forçoso é que estes acabem por encontrar artifícios para emergir das longas latências e, desse modo, evidenciar a contiguidade entre passado e presente. A memória, diz Nora, nutre-se de “lembranças vagas, telescópicas, globais ou flutuantes, particulares ou simbólicas, sensível a todas as transferências, cenas, censura ou projeções.”(1993, p. 9)

É pertinente ressaltar que Rosa, a angolana, é alguém “que viera numa excursão” (SEMEDO, 2000, p. 108), que estivera num “país que sempre [quisera] conhecer” (SEMEDO, 2000, p. 109), embora a visita tenha durado apenas uma semana. Sua avaliação de que aquela era “uma terra linda, pequena e limpa”, parece não coadunar-se com o sentimento da anfitriã, uma vez que esta “gostaria muito que o [o grupo de Rosa] ficasse por mais tempo, para podermos trocar mais experiências e conhecermo-nos melhor” (SEMEDO, 2000, p. 109, grifo nosso). Certamente existe algo que escapou ao olhar da visitante e que mereceria ser melhor partilhado, mas isso ficaria para outra oportunidade. Uma escrita que não se faz de graça possui, como uma das principais características, a habilidade em jogar o jogo entre o que lembrar e o que esquecer e, também, quando fazê-lo.

No conto, uma aparente filigrana, repleta de significado, pode ser percebida no trecho final do bilhete em que se dão a conhecer diferentes maneiras quanto à contemplação das coisas da natureza. Chama a atenção haver a comunhão do hábito, raro, de se apreciar o pôr do sol. Essa desaceleração, pelo menos nesse instante específico, une pessoas de países tão distantes e funciona como uma retomada das memórias. Isso pode ser visto no excerto: “Farei questão de te enviar um postal com a imagem do sol poente em S. Tomé. Sei que gostas, pois surpreendi-te, na tarde do dia em que fomos às Ilhas Bijagós, a apreciar o sol poente. Não te chamei, nem fiz barulho, para não quebrar o encanto” (SEMEDO, 2000, p. 110). O apreciar o pôr do sol, de certa maneira, parece estar retomando tempo e hábitos do passado que, no conto, são pincelados em expressões como “pano de pente” e na referência ao pôr do sol. Tais recursos podem ser pensados como indicadores de uma espacialização da memória que, de acordo com Nora, “se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto” (1993, p. 9). Talvez por isso seja possível compreender, no conto de Semedo, o despertar da mulher e seu desejo de que suas andanças no sonho pudessem ser, de fato, uma realidade a concretizar possibilidades de convívio e de restauração de hábitos como o de escrever cartas, de enviar postais e de apreciar o encanto do sol poente.

As inquietações da mulher se mostram bem mais atenuadas quando se acompanha seu momento de devaneio. Contudo, quando acorda é novamente tragada pela vida marcada, repita-se, pela “tristeza e desolação” (SEMEDO, 2000, p. 107). Eis a cena:

Sobressaltei-me com o barulho da porta. Afinal tinha conseguido vencer a insônia e adormecido, com o caderno aberto servindo-me de travesseiro. Abri o caderno à procura da carta que tinha escrito e... nada! Não havia carta nenhuma. Afinal tinha sido apenas um sonho. E ficou-me a sensação de que era uma carta bem bonita. Só que já não me lembro nem do conteúdo do bilhetinho. E a Rosa de Angola? Será que foi tudo um sonho? Que pena! Até já a imaginava bonita, apaixonada pela vida, sempre de bom humor. Altura mediana, cabelos fortes e longos, elegante...! Que bom seria, se fosse verdade! (SEMEDO, 2000, p. 110)

Palavras finais

Como o presente ensaio tentou demonstrar, o texto literário de Semedo materializa uma estratégica ação, poeticamente definida por Nora, “o deciframento do que somos à luz do que não somos mais” (1993, p. 20), a partir da voz do qualquer um, do rosto humano qualquer.

Na prosa guineense materializam-se sinais de uma escuta cuidadosa de memórias subterrâneas que emergem na encenação produzida pela literatura, distanciando-se de uma história atabalhoada, fortalecendo os receptáculos em que se abrigam os restos, os resíduos das memórias às quais os grupos ainda estariam intimamente ligados. Acompanhando os percursos da memória em textos das literaturas africanas de língua portuguesa, Fonseca salienta o esforço de registrar e arquivar o passado ou retomar os seus vestígios como motivação para a construção literária torna-se um procedimento indispensável para se formarem depósitos de recordações com a utilização de outros suportes que se fazem à revelia de museus, arquivos e exposições. A literatura, atenta aos rituais de memória que persistem em lugares ainda distantes dos circuitos das redes lançadas pela mundialização, pode, sem dúvida, ajudar a produzir outros sentidos para os “lugares de memória”. (FONSECA, 2005, p. 48; 2008, p. 75)

O primado da arte literária fica acentuado por essa capacidade de revirar os cacos e vestígios do passado, tomando-os como substância para a elaboração de cenas enunciativas em que a memória funcionaria como ancoradouro das tradições, ou pelo menos do que restou delas.

A decisão de se voltar para a análise de parte das narrativas de Semedo foi provocada, particularmente, pelas reflexões sobre os conceitos de memória e de “lugares de memória”. Esses conceitos permitiram esquadrinhar as configurações dos lugares físicos guardadores de memória e os seus significados no espaço ficcional. Pode-se sublinhar, também, o modo operacionalizado pela escritora para gerenciar os diálogos entre escrita literária e oralidade, bem como, sua relação com dados do passado histórico guineense.

Este trabalho, alimentado por essas reflexões, verticalizou a discussão focalizando a simbolização dos “lugares de memória” em texto de Semedo, ressaltando, na enunciação literária, sua performatividade enquanto balizador de resistência e insumo de sobrevivência para atravessar a dureza dos tempos atuais da Guiné-Bissau. Em “Naquela noite” ficou comprovada a destreza de Semedo em manejar a concomitância de tempos e espaços divergentes, assim como os restos de tradições ameaçadas de extinção pela aceleração da história.

Notas

Originalmente publicado em Revista Abril (Niterói), v.12, p.99 - 112, 2020.

2 O presente ensaio recorta e verticaliza uma reflexão iniciada em pesquisa mais vasta, cujos resultados formatam a tese de doutorado, defendida em 2017 na PUC Minas, sob orientação da Professora Dra. Maria Nazareth Soares Fonseca, intitulada “A relevante tarefa de forjar a guineidade”: a prosa de Odete Semedo e Abdulai Sila. Registra-se, ainda, que uma versão em língua inglesa do texto foi publicada no Journal of Social Sciences, Humanities and Research in Education (JOSSHE), v. 3, n. 1, em 30/06/2020.

3 De acordo com Eliseu José Pereura Ié, assim se deu o trágico assassinato de Cabral: “Já se aproxima quase meio século da sua morte. Cabral foi assassinado a tiros pelos próprios companheiros de luta, na noite de 20 de janeiro de 1973, aos 48 anos. Nessa noite, ele foi surpreendido por um grupo de homens armados. Mas, quem disparou o tiro, apagando toda a história e ambição de vida de Amílcar Cabral, foi Inocêncio Kani, um dos grandes nomes do PAIGC na época colonial. Amílcar Cabral, com a sua morte, deixou para trás o sonho de unir os dois países, um sonho de ver a independência dos homens acorrentados por cipaios. Sua morte continua a ser um mistério. Até hoje não foi revelado o nome do mandante. José Pedro Castanheira. José Pedro Castanheira, jornalista, de origem cabo-verdiana, insiste em se debruçar sobre o assunto no livro Quem matou Amílcar Cabral? De fato, quem matou Cabral matou todos os projetos que, com muita coragem, ele havia começado. Quem matou Cabral é cúmplice de todos os problemas e crises políticas e econômicas, das quais o país ainda não conseguiu se libertar.” (IÉ, 2019, p. 93).

4 Essa questão é tensionada em parte da dissertação de Karina Calado (2015, p. 75 e seguintes).

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¹Wellington Marçal de Carvalho é Pós-Doutorando em Estudos Literários na FALE/UFMG. Doutor e Mestre em Letras pela PUC Minas. Bibliotecário coordenador da Biblioteca da Escola de Veterinária UFMG. Integrante do Grupo de Estudo Estéticas Diaspóricas (GEED). Autor de: Aquele canto sem razão: espaço e espacialidades em contos de Guimarães Rosa, Luandino Vieira e Boaventura Cardoso (2014) e A defesa incansável da esperança: feições da guineidade na prosa de Odete Semedo e Abdulai Sila (2018). Coorganizador de Deslocamentos estéticos (2020). Integrante da Comissão editorial do literÁfricas. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.