A literatura da Guiné-Bissau1

 

Lílian Paula Serra e Deus*

Wellington Marçal de Carvalho**

 

Estamos conscientes de que a literatura guineense teve uma aparição tardia,

[...], porém, ela está a florescer junto com seus autores.

Nesse sentido, ela é rica, ela é forte, ela é expressiva.

Eliseu José Pereira Ié

2019

 

 

Na Guiné-Bissau o olhar para a terra, mediado pela literatura, se deu de maneira peculiar; não pôde contar com a mesma força de movimentos político-literários como houve em Cabo-Verde (Claridade-1936/1960), em Angola (Movimento dos Novos intelectuais de Angola (MNIA)), cujo lema era Vamos descobrir Angola-1948/1952), e em Moçambique (Msaho, 1952), em que ainda no período colonial houve reivindicações importantes acerca das latentes demandas de cada um desses espaços com relação à literatura. No caso da Guiné-Bissau, a ausência de escolas - a primeira escola oficial de Bolama foi fundada somente em 1933 - impediu a criação de embriões de movimentos literários, tal como aconteceu em Angola, Moçambique e Cabo Verde. Outro fator que explica a tardia produção literária em Guiné-Bissau é a Lei do Indigenato (1954), que impedia a participação dos nativos na escola, além de suprimir-lhes diversos outros direitos.

Como sabido, a independência de Guiné-Bissau deu-se através da luta armada contra o regime colonial, liderada pelo Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e de Cabo-Verde (PAIGC) estendendo-se por dez anos, desde seu início em 1963. Há, em 1973 a declaração unilateral de independência, em virtude do não reconhecimento de Portugal, que virá somente um ano depois, 1974. No entanto, ainda que tenha havido o despertar para uma literatura pautada nos valores, tradições e demandas da cultura guineense, através de movimentos literários, há na formação da literatura guineense publicações que corroboram o despontar da literatura no que tange ao ideal de consciência nacional.

A escritora Bissau-guineense Odete Semedo (2010), ao fazer análise do surgimento da literatura guineense, ancora-se na teoria de Candido (2000), pautando-se, sobretudo, nas premissas que estabelecem diferenças entre a ideia de sistema literário e manifestações literárias. Segundo Antonio Candido (2000), a literatura de um país deve ser entendida como um sistema integrado, em que há a formação de uma continuidade literária, por conseguinte, de uma tradição. Já as manifestações literárias, são individuais ou concernentes a pequenos grupos, em que não há a formação de um sistema que possa se perfazer em uma tradição, constituindo-se, assim, em manifestações esparsas, escritos, por vezes relevantes, embora avulsos, o que segundo Candido, não pode ser tomado como literatura enquanto sistema.

Baseando-se nas postulações de Candido (2000), Odete Semedo direciona o seu olhar para a historiografia literária bissau-guineense elencando períodos, como por exemplo, a década de 50, do século XX, em que se evidencia a existência de textos poéticos atribuídos a autores guineenses, embora essas publicações, sob o olhar de Semedo, atendendo aos pressupostos de Candido, não configurassem um sistema literário. Nesse sentido, têm cariz de manifestações isoladas, não constituindo unidade enquanto corpo literário nacional. Nas palavras de Semedo (2010):

E em termos de existência de uma unidade e/ou de estilo, a Guiné-Bissau, infelizmente, não contava, na época, com um grupo de intelectuais que pudessem dedicar-se à escrita; tampouco contava com instituições interessadas em subsidiar o nascimento de um corpo literário nacional, aliás, não fazia parte dos interesses do governo colonial a criação de uma massa crítica nacional, formada por nativos. (SEMEDO, 2010, p. 30).

Manuel Ferreira confere o nascimento da literatura guineense em língua portuguesa ao surgimento da antologia poética Mantenhas para quem luta! (1977). Ferreira sublinha que:

[...] os fundamentos irrecusáveis de uma literatura africana de expressão portuguesa vão definir-se com precisão, deste modo: a) _em Cabo Verde a partir da revista Claridade (1936-1960); b)_em S. Tomé e Príncipe com o livro de poemas Ilha de Nome Santo (1943), Francisco José Tenreiro; c)_em Angola com a revista Mensagem (1951-1952); d) _em Moçambique com a revista Msaho (1952); e)_ na Guiné-Bissau com a antologia Mantenhas para quem luta! (1977). (FERREIRA, 1977, p. 34).

O título da antologia se vale do termo “mantenhas”, expressão crioula que significa saudações. Logo, Saudações para quem luta, título dado em homenagem aos libertadores do país. O prefácio do livro abarca a temática da obra: “arma de combate, ferramenta de construção”. Mantenhas para quem luta foi editado logo após a independência, pelo Conselho Nacional de Cultura, reunindo poesias de um grupo de jovens identificados com o movimento de libertação nacional, que ficaram conhecidos como "os meninos da hora do Pindjiguiti”, em alusão ao porto de Bissau onde houve, em três de agosto de 1959, uma revolta de marinheiros que reivindicavam melhores condições de trabalho e, por isso, foram brutalmente massacrados pela polícia colonial. Esse momento, conhecido por Massacre de Pindjiguiti transformou-se em ponto crucial para o desencadear da luta armada na Guiné Bissau que resultou na independência desse país juntamente a Cabo Verde, embora proclamadas em datas diferentes.2

 

A antologia em questão contempla poemas de quatorze autores, a saber: Agnelo Augusto Regalla; Antônio Cabral; Antônio Sérgio Maria Davyes; Antônio Soares Lopes Junior (Tony Tcheca); Armando Salvaterra; Carlos Alberto Alves de Almada; Helder Proença; Jorge Ampa; José Carlos Schwarz; José Pedro Sequeira; Justino Nunes Monteiro; Hagib Farid; Noberto Tavares, Tomás Soares Paquete. A capa da coletânea é assinada pelo artista plástico José Barros. A antologia, que anuncia no título a ideia de saudação aos que lutam, abarca quarenta e oito poemas vinculados à temática de exaltação nacionalista e anticolonial.

O prefácio3, assinado por Hélder Proença, Tony Tcheka e José Carlos Schwarz, acentua o caráter estético-político da publicação:

Movidos pela necessidade premente de manter as nossas terras sob a sua completa dominação, os colonialistas portugueses levaram a cabo uma política de agressão contra os valores culturais africanos. A chamada “assimilação progressiva das populações indígenas” materializou-se na criação de elementos subalternos, integrados na máquina administrativa do sistema, sobretudo, no clima generalizado de obscurantismo. Imersos nessa situação de miséria sociocultural éramos frágeis arbustos desenraizados, arrastando-nos servis a todos os ventos do oriente...Mas o movimento de libertação nacional, o PAIGC, conduzindo a luta armada, como a manifestação mais brilhante da cultura do nosso povo, liquidou as bases do projeto nacionalista. Nós, então meninos da hora do Pindjiguiti, galvanizados pelas vitórias guerrilheiras e em sintonia com os da luta, procuramos exprimir também nos nossos poemas, as aspirações do nosso povo à sua liberdade criadora. Hoje, somos jovens trabalhadores no campo da poesia: esta não se define para nós, em termos puramente estéticos. A forma destinando-se a garantir a eficácia da obra, a fazê-la atingir os objetivos visados, impõe-se como elemento manifestamente importante, mas o que lhe determina a qualidade é a função, pelo valor social que possa representar. Se é verdade que esta poesia se escreve atualmente em crioulo e português, cabe-nos a tarefa da sua fixação nas línguas nacionais, enquanto depositárias dos verdadeiros valores africanos. Arma de combate, ferramenta de construção, ela forja-se no quotidiano árduo mas exaltante da nação emergente, contribuição modesta ao patrimônio da humanidade por uma revolução cultural. Este trabalho que ora apresentamos aos leitores, entendemos que seja um encorajamento a outros jovens cujas produções não devem acabar “no fundo das gavetas” e uma contribuição militante a todo um processo de desenvolvimento cultural que decorre no nosso país. Assim, “Mantenhas para quem luta”. (1977, p. 7).

Para além da questão política, o prefácio contempla a importante discussão que permeia as publicações de obras inseridas em contextos culturais plurilíngues. Embora a língua portuguesa tenha predominado quase que exclusivamente até a década de 1980 na literatura guineense, nos últimos tempos, diversos autores têm-se confrontado com a questão de em que língua publicar suas obras. Alguns autores guineenses como Nelson Medina e Flaviano Mindela dos Santos optaram por publicar apenas em crioulo guineense. Já outros, como Odete Semedo, Tony Tcheca e Félix Sigá publicaram as suas obras simultaneamente em crioulo e português.

É sabido que na Guiné-Bissau, a língua portuguesa é a língua oficial, mas está longe de ser a língua veicular. A língua mais falada no país é o crioulo guineense, que coexiste com a língua portuguesa e as mais de vinte línguas orais africanas, que constituem a língua materna das muitas etnias que formam a Guiné-Bissau. Apenas 12% da população guineense têm domínio sobre a língua portuguesa, portanto, como já mencionado, o português não se constitui como língua de comunicação nacional, cabendo esse papel ao crioulo. É o que afirma Semedo (2003), no artigo A língua e os nomes na Guiné-Bissau:

Na Guiné-Bissau, tal como em muitos países de África, as línguas são muitas porque os grupos étnicos são vários, possuindo cada um a sua língua. Porém, no caso específico do meu país, para além das línguas usadas por cada um dos grupos étnicos, existe uma língua franca falada por cerca de 70 por cento da população de todo o país, o crioulo de base portuguesa, e uma língua oficial utilizada na administração e no ensino, o português, dominado por cerca de 12 por cento da população guineense. (SEMEDO, 2003).

O crioulo guineense (Kriol) é de base portuguesa. Surgiu do contato do português com as línguas africanas, facilitando a comunicação não só entre os próprios africanos, mas também entre os europeus e os africanos. Assim, o crioulo permite aos guineenses conviver com a diversidade linguística de cada região. Como se sabe, coabitam no país várias línguas orais africanas, já que suas fronteiras geográficas não correspondem exatamente às fronteiras étnicas e linguísticas.

Por esse motivo, o teatro e o cinema na Guiné-Bissau são encenados em guineense. É também em crioulo guineense que o imaginário da tradição oral é contado. As músicas populares, as canções das mandjuandadi4, os cantos guerreiros da luta armada de libertação, foram ou são veiculados por meio do crioulo guineense. O guineense é, como já acentuado, a língua de unidade nacional.

Por que então a maioria dos escritores opta por publicar seus textos na língua portuguesa, já que ela, apesar de oficial, está longe de ser a língua de unidade nacional?

São vários os fatores que se imbricam para explicar essa questão. Primeiramente, há os fatores mercadológicos: publicar apenas em crioulo guineense restringiria o alcance das obras a um determinado público, ou seja, àquele que tem acesso e domínio do crioulo de Guiné-Bissau. Outro fator que justificaria o uso da língua portuguesa seria a questão de como enxergar a língua portuguesa nos países em que ela foi introduzida pelo colonizador. Seria ela ainda apenas a língua do colonizador? Acredita-se que a resposta seja não. Inicialmente, quando uma língua é introduzida impositivamente em outra cultura, por meio da colonização, ela enlaça a tensão, o embate entre culturas e repercute a repulsa do colonizado para com o colonizador.

A língua portuguesa, ao entrar em contato com as culturas africanas, passa por um processo de transformação que fará com que, ao ser assumida como língua oficial, não seja mais simplesmente o idioma do colonizador. No caso bissau-guineense (como nos demais países africanos que adotam a língua portuguesa como oficial), o português que se fala não é mais o mesmo que saiu de Portugal e não possui a mesma carga de repulsa que o permeava no período colonial. A relação com a língua não é mais a mesma, ela passa a ser uma segunda ou terceira possibilidade de comunicação para a população do país do qual faz parte, quando nesse país ela coexiste com línguas nativas.

Um fator que pode explicar tanto o processo de africanização da língua portuguesa, quanto a intenção de escrever a literatura em crioulo guineense estaria no fato, assumido por alguns escritores, de que alguns traços culturais só podem ser verdadeiramente expressos pela língua materna: ou pelo crioulo, ou pelas línguas da afetividade, as línguas étnicas. Por outro lado, a propagação dessas culturas pelo mundo indica ser melhor que isso seja feito por meio da língua de maior amplitude, nesse caso, a portuguesa.

Quando um escritor guineense decide publicar suas obras em português e crioulo, independentemente da razão específica que o motiva, ele enfatiza a ideia de que são, no mínimo, duas as línguas que perfazem a sua cultura, além de sinalizar para a ideia de multiculturalismo.

Como pontuado anteriormente, questão da maior relevância quando se estuda a formação do sistema literário guineense diz respeito à difícil tarefa de se eleger em qual língua escrever a literatura. Trabalhos no campo da teoria da literatura, da crítica literária e, principalmente, dos próprios escritores têm sido produzidos para dar conta dessa reflexão e, considera-se oportuno retomar a reverberação dessa questão em celebérrimo poema de Odete Semedo, intitulado “Em que língua escrever”, publicado em português e crioulo no volume de poemas Entre o ser e o amar, de 19965:

Em que língua escrever


Em que língua escrever
As declarações de amor?
Em que língua escrever
As histórias que ouvi contar?

Em que língua escrever
Contando os feitos das mulheres
E dos homens do meu chão?
Como falar dos velhos
Das passadas e cantigas?
Falarei em crioulo?
Falarei em crioulo!
Mas que sinais deixar
Aos netos deste século?

Ou terei que falar
Nesta língua lusa
E eu sem ate nem musa
Mas assim terei palavras para deixar
Aos herdeiros do nosso século
Em crioulo gritarei
A minha mensagem
Que de boca em boca
Fará a sua viagem

Deixarei o recado
Num pergaminho
Nesta língua lusa
Que mal entendo

No caminho da vida
Os netos e herdeiros
Saberão quem fomos (SEMEDO, 1996, p. 11, 13).

Em resposta a uma questão posta pelas pesquisadoras brasileiras Vera Lúcia da Silva Sales e Maria do Socorro Vieira Coelho, Odete Semedo, em 10 de março de 2010, ressalta sua visão sobre a literatura do seu país e o modo como os escritores a utilizam:

Na Guiné-Bissau, a literatura é muito nova e foi quase sempre uma escrita de intervenção. Quando não foi de contestação, ela foi de sentimento, de uma lírica sentimental, mas sempre impregnada de uma mensagem. Nós utilizamos muito o escrever como um lugar de expressar o nacionalismo, a nossa história. Isso aconteceu com vários países africanos. (SEMEDO, 2011, p. 198).6

São ainda exíguos os estudos, na crítica literária, que tomaram como campo de reflexão a literatura guineense. Valida esse diagnóstico o parecer da professora da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, Moema Parente Augel: “Em relação à Guiné-Bissau, nem no campo da historiografia, nem no da crítica ou da teoria literária existem muitas obras, o que corresponde à pouca produção e à ainda mais débil recepção dessa literatura” (AUGEL, 2007, p. 99). Todavia, a referida pesquisadora vê nesse quadro motivação suficiente para justificar pesquisas que tenham esses construtos ficcionais como objeto de análise.7

Em obra de fundamental relevância para qualquer discussão que tenha como foco a literatura guineense, intitulada O desafio do escombro: nação, identidades e pós-colonialismo na literatura da Guiné-Bissau, Moema Augel, em considerações finais de um dos capítulos da obra referida, salienta: “Termino este capítulo, que tem a finalidade de uma revisão crítica do conhecimento, tanto de estudos como de demais referências sobre a literatura guineense, repetindo minha preocupação e a lástima sobre o silêncio que em geral paira em torno da literatura desse país (e não só da literatura)” (AUGEL, 2007, p. 122).

Se sobre-existe uma acentuada descrença em relação à ficção gestada por escritores africanos, mesmo aqueles de maior circulação mundial e já, de alguma maneira, integrantes de um cânone, imagine-se quão calamitoso é o cenário quando o foco se direciona à literatura da Guiné-Bissau, objeto do presente texto. Couto e Embaló corroboram esse panorama:

A despeito de ser uma das primeiras regiões da África, e do mundo, a que os portugueses chegaram na arrancada marítima que recebeu o nome de Grandes Navegações, a antiga Costa da Guiné, a Guiné Portuguesa ou a atual Guiné-Bissau é um dos países menos conhecidos entre todos que resultaram dessa aventura. Esse desconhecimento existe em todos os níveis, não só no linguístico-cultural, mas também no nível político. (COUTO; EMBALÓ, 2010, p. 15).

A teórica Inocência Mata, mas não somente ela, chama a atenção para uma conclusão esdrúxula originada do esforço em se consolidar o silêncio sobre a literatura guineense. Segundo Mata (1995, p. 356), “se comparada a outras literaturas africanas de língua portuguesa, a literatura guineense é tardia e escassa. Contudo, tal surgimento tardio, que razões de ordem histórica e sóciocultural explicam, não justifica o apodo de “inexistente””.8 De acordo com Secco (2011, p. 25), “as letras guineenses [...] apresentaram um desenvolvimento tardio. A literatura oral (estórias, adivinhas, provérbios), as crenças e os mitos pertencentes às tradições locais é que constituíram o arcabouço cultural da Guiné-Bissau”. Por fatores históricos e sociais “a Guiné-Bissau desenvolveu um crioulo de base portuguesa, já que foi uma colônia de comércio; logo, não havia interesse de Portugal no desenvolvimento de uma educação consistente que visasse ao crescimento dessa colônia” (BISPO, 2005, p. 16). Hamilton (2000, p. 187), considera o fato de a Guiné-Bissau ter tido o seu “verdadeiro movimento literário” retardado, em comparação com as demais ex-colônias. Augel endossa esse diagnóstico acerca da exiguidade da produção literária guineense, antes da década de 1930: “Ao lado da abundante produção literária dos outros países africanos de expressão portuguesa, sobretudo de Cabo Verde e de Angola, são muito poucos os nomes a que se faz referência quando se aborda o tema da literatura guineense” (AUGEL, 1994, p. 116).

Ainda sobre as questões ressaltadas pelos críticos e teóricos referidos anteriormente, Semedo pontua,

nesta linha, e respeitante à literatura guineense, é pertinente asseverar que, embora tenham existido poetas que ainda na década de 1950 já escreviam seus textos, poemas nomeadamente, esses não passavam de escritos avulsos. E em termos de existência de uma unidade temática e/ou de estilo, a Guiné-Bissau, infelizmente, não contava, na época, com um grupo de intelectuais que pudessem dedicar-se à escrita; tampouco contava com instituições interessadas em subsidiar o nascimento de um corpo literário nacional, aliás, não fazia parte dos interesses do governo colonial a criação de uma massa crítica nacional, isto é, formada por nativos. (SEMEDO, 2010, p. 30).

Semedo ressalta, em trabalho realizado para recolha de produções específicas das culturas locais da Guiné-Bissau, a tentativa de se registrarem, pela escrita, manifestações próprias ao universo das oralidades:

A tradição e a oratura guineenses devem muito ao Cônego Marcelino Marques de Barros, pioneiro da recolha e divulgação de contos, poemas e canções em várias línguas locais. Esses trabalhos foram divulgados ainda em 1882, como o Guiné Portuguesa ou breve notícia sobre os usos, costumes e línguas da Guiné, divulgado na Revista da BSG (Boletim da Sociedade de Geografia) em 1882. [...] Benjamim Pinto Bull, na sua obra O crioulo da Guiné-Bissau, filosofia e sabedoria, traz à tona as diversas manifestações da oratura guineense; manifestações essas expressas na língua guineense, denominada crioulo guineense. Pinto Bull retoma os trabalhos do Cônego Marques de Barros, explora os contos tradicionais, sua tipologia, categorizando-os. (SEMEDO, 2011, p. 61).

Couto e Embaló ecoam a vertente que considera ser complicado, mas não menos importante, falar em literatura guineense. Para esses pesquisadores

quando se trata do assunto, em geral se pensa na literatura que é produzida em português (literatura em português), como mostram não só as poucas obras escritas principalmente por estrangeiros durante o período colonial, mas também o que se publicou depois da independência. A esmagadora maioria da produção está nessa língua. No entanto, há algum tipo de literatura em pelo menos mais duas línguas. A primeira é a literatura em crioulo, que consta de narrativas orais tradicionais (storias), provérbios, adivinhas e outras manifestações da oratura ou oralitura. (COUTO; EMBALÓ, 2010, p. 60).9

Mesmo não sendo uma produção ficcional de lavra autenticamente guineense, ainda assim seria razoável, apenas a título de registro, mencionar a literatura publicada no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa:

O Boletim Cultural tem publicado páginas de ficção de múltiplos interesses, assinadas por Fausto Duarte, Fernando Rogado Quintino, Alexandre Barbosa, Maria Rosa, Luís Ledo Pontes, Fernando Barragão, James Pinto Bull, António Carreira, Amadeu Nogueira, Artur Martins Meireles, António Cunha Taborda, João Eleutério Conduto, Egídio Álvaro, Francisco Valoura e A. Gomes Pereira. (REMA, 1971, p. 57).

A literatura da Guiné-Bissau, como um sistema literário, pode ser rotulada como jovem, devido a suas particularidades históricas e sociais, carregando, conforme explicita Augel, um propósito audacioso:

o desejo e até uma proposta bem clara, se bem que não explícita, de seus escritores escreverem para um público guineense, sem preocupações com o público estrangeiro, embora se articulem em português, o que não impede o uso sem conta de expressões e de referências ao universo especificamente guineense. (AUGEL, 1998, p. 434).

É importante destacar alguns dos momentos mais significativos da literatura da Guiné-Bissau sobretudo para endossar a posição de Mata quando questiona “o apodo de inexistente” conferido a essa literatura. Russell Hamilton considera movimentos literários importantes no curso da produção poética guineense:

o primeiro movimento literário na história deste enclave pequeno na costa ocidental da África, com um pouco menos de 1.160.000 habitantes, arrancou depois da independência. Mantenhas para quem luta! (1977) e Antologia dos jovens poetas (1978), dois volumes que iniciam este movimento literário com poemas de reivindicação cultural, protesto social e combatividade, quase todos compostos durante os tempos coloniais, embora previamente inéditos ou publicados no exílio. [...] Logo depois da independência, uma revelação inesperada foi a descoberta de poemas escritos por Amílcar Cabral (1924-73), o insigne estadista africano e arquiteto da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde. A publicação, em 1991, da Antologia poética da Guiné-Bissau, um volume que reúne poemas tanto dos mais velhos como dos mais jovens, representa um indicador no caminho da evolução da poesia guineense pós-colonial. (HAMILTON, 2000, p. 195).

O escritor e pesquisador guineense Eliseu Ié, em sua dissertação de mestrado, defendida na UFRJ, em 2019, amplia a discussão proposta por Russel Hamilton ao registrar publicações que seguem a trilha aberta pela antologia Mantenhas para quem luta (1977):

Notamos que, depois dessa publicação, houve um grande interesse dos poetas no exercício literário do país. Já no ano seguinte, em 1978, Francisco Conduto de Pina publicou uma coletânea de poemas, intitulada Garandesa di no Tchon – A grandeza do nosso chão / As belezas da nossa terra. Essa obra foi considerada a primeira obra literária individual, após a independência do país, como vimos anteriormente. No mesmo ano, foi publicado Momentos primeiros da construção, uma antologia poética que contou com 35 poemas e registrou 12 autores participantes.

Vale a pena dizer que nessa coletânea temos a voz poética de Mariana Marques Ribeiro, hoje, pouco conhecida no mundo literário lusófono e pouco lembrada quando se fala de escritoras guineenses. Ela é única voz feminina desse projeto literário que resplandeceu, na nossa literatura, nos anos 70. Depois dessas duas obras importantes acima referidas, houve uma sucessão de obras antológicas, como Os continuadores da revolução e a recordação do passado recente, antologia publicada em 1979; Antologia poética da Guiné-Bissau, de 1991; O Eco do pranto: a criança na moderna poesia guineense, de 1992, organizada pelo António Soares Lopes Júnior, conhecido no mundo literário como Tony Tcheka. Essa coletânea reuniu grandes vozes poéticas da época até aos dias de hoje, entre eles: Agnello Regalla, Conduto de Pina, Hélder Proença, Vasco Cabral, Mariana Marques Ribeiro, Jorge Cabral e Pascoal D' Artagnan Aurigemma. (IÉ, 2019, p. 30).

Segundo Augel (1999, p. 25), devem ser consideradas obras de escritores isolados como Carlos Semedo ( Poemas, 1963), Francisco Conduto de Pina (Garandessa di nô tchon (Grandeza de nossa terra), 1978), Vasco Cabral (A luta é a minha primavera, 1981), Hélder Proença (Não posso adiar a palavra, 1982) que engrossam o elenco da produção literária escrita, da Guiné-Bissau, no pós-independência até 1990.

O uso instrumentalizado da palavra poética empenhada em conscientizar o guineense é, pois, uma das vertentes do que pode ser considerado um sistema literário em evolução. Já na década de 1990, oficialmente decretado o fim do regime colonial, apresenta-se um despontar de grande significado para o campo literário da Guiné, principalmente, por ser fruto de uma escritora. Nas palavras de Russel Hamilton:

A década de 90 certamente se destacará na história da expressão cultural pós-colonial como um período de acontecimentos sem precedência no evoluir da literatura da Guiné-Bissau. Em 1993, Domingas Samy emergiu como a primeira mulher guineense com uma obra publicada quando saiu o seu A escola. Aliás, esta coleção de contos também se qualifica como a primeira obra de prosa de ficção guineense do pós-independência. (HAMILTON, 2000, p. 196).

Os meses iniciais de 1994 são marcados por três acontecimentos culturais notáveis na capital, Bissau. Segundo Augel (1994, p. 125), são eles: “a criação de uma revista cultural, Tcholona – Revista de letras, artes e cultura, o surgimento da primeira casa editorial privada da Guiné-Bissau, Ku Si Mon Editora e o lançamento do primeiro romance do país, Eterna paixão, da autoria de Abdulai Sila.” Augel avalia com otimismo os tempos finais do século passado, no campo das artes literárias em Guiné-Bissau:

É a partir do início desta última década do milênio que se pode afirmar que, no campo das letras, sol na iardi na Guiné-Bissau. Essa expressão tipicamente guineense é um provérbio que denota otimismo e espírito construtivo: aproveita-se o sol que está brilhando para se aquecer. Depois de tão longo período de estagnação, graças a uma série de circunstâncias favoráveis, as oportunidades estão sendo aproveitadas, potencializando-se as iniciativas para a consecução do projeto literário guineense. (AUGEL, 1999, p. 28).

O Sol na iardi guineense permite o encampamento de estratégias para continuar a levar adiante as medidas que vão colocar, no circuito convencional, os frutos do labor estético, no campo das letras do país. Ao fim, esse contributo, aos poucos, atenuará a força do apodo de inexistente, invocado por alguns críticos para esclarecer o sistema literário da Guiné-Bissau. Como acentua Augel, a tarefa do escritor guineense é instigante, pois, ao se dirigir

a seu público, à gente do seu país, deve dar-se conta de uma dura constatação: o alto nível de analfabetismo ou semi-analfabetismo e o fato de estar exprimindo-se num idioma estrangeiro reduzem extremamente o alcance da sua empreitada. O livro ainda é artigo de luxo na Guiné-Bissau, e isso tanto devido à sua raridade, como ao seu custo, não se tendo conseguido impor num contexto em que ainda predomina a oralidade. (AUGEL, 1998, p. 21).

O cerzimento das considerações feitas até aqui sobre a história da literatura da Guiné-Bissau encontra linha e agulha na periodização elaborada por Hildo Honório do Couto e Filomena Embaló, que sugerem a seguinte demarcação de fases e períodos dessa literatura:

1) A fase anterior a 1945, com “autores marcados pelo cunho colonial”, ou seja, Fausto Duarte (1903-1955), Juvenal Cabral, Fernando Pais Figueiredo, Maria Archer, Fernanda de Castro, João Augusto da Silva, Cónego Marcelino Marques de Barros. 2) O período entre 1945 e 1970, com “uma poesia de combate”: Vasco Cabral, António Baticã Ferreira e Amílcar Cabral. 3) Anos 1970 a final dos anos 1980, com “uma literatura exclusivamente poética: da poesia de combate à poesia intimista”. Sobressaem-se Agnelo Regalla, António Soares Lopes (Tony Tcheca), José Carlos Schwarz, Hélder Proença, Félix Siga, Francisco Conduto de Pina, Pascoal D’ArtagnanAurigemma. 4) Da década de 1990 em diante, com “uma poesia mais intimista”: Helder Proença, Tony Tcheca, Félix Siga, Carlos Vieira, Odete Semedo. 5) “Finalmente a prosa!”: Domingas Samy, Abdulai Sila. Poderíamos acrescentar Filinto Barros, Filomena Embaló, Carlos Edmilson Vieira e Waldir Araújo e Carlos Lopes, entre outros. A despeito disso, resolvemos dividir cronologicamente as literaturas na Guiné-Bissau da perspectiva da história política do país. Certamente não é a melhor divisão, mas é a única que nos pareceu apresentar algum fio condutor, mesmo porque essa literatura é bastante engajada politicamente. Assim sendo, podemos estabelecer os seguintes períodos: 1) Período colonial (“literatura colonial”), (+1594-1962); 2) Período da luta pela independência (1962-1973); 3) Período pós-independência (1973 aos dias de hoje). (COUTO; EMBALÓ, 2010, p. 62-63).

Independentemente do estágio da audiência, pelo mundo, do que se produz no campo da literatura da Guiné-Bissau, o que se constata é um interesse cada vez mais significativo por parte da crítica literária em fazer dessa literatura objeto de reflexão.

O breve histórico sobre publicações, eventos e questões importantes sobre a literatura da Guiné-Bissau pretendeu demonstrar uma incursão com feições historiográficas no sistema literário guineense. Obviamente não foram mencionados todos os textos literários gestados em Guiné-Bissau, a despeito da pesquisa e compilação das informações encontradas na vasta bibliografia aqui retomada. Nessa pesquisa, de imensurável valor foi a consulta à recente pesquisa de mestrado, já utilizada em outras partes da presente discussão, empreendida pelo escritor e intelectual guineense, Eliseu José Pereira Ié, conhecido por Eliseu Banori, defendida em 2019. Entre as várias contribuições da pesquisa intitulada Pequena longa viagem da literatura guineense, sob orientação da Professora Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva e coorientação da Professora Moema Parente Augel, ressalta-se a enumeração, em ordem cronológica, das obras literárias de lavra guineense. Cumpre dizer, nesse breve panorama do sistema literário guineense, o quão valioso é o trabalho de Eliseu Ié, uma vez que o pesquisador guineense identifica e lista, cuidadosamente, a produção literária publicada até o ano de 2020 e, ao fazê-lo, torna-se fonte de consulta obrigatória para a audiência interessada em avizinhar-se do que se produz em Literatura naquele país.

Amparados por Ié (2019, p. 200 e seguintes), podem ser listadas obras importantes na consideração de momentos significativos da literatura guineense: Em 1900, Litteratura dos negros. Contos, cantigas e parábolas, de Marcelino Marques de Barros. Em 1952, o primeiro conto guineense publicado, por James Pinto Bull, intitulado “Amor e trabalho”. Em 1963 Poemas, de Carlos Semedo. Em 1973, Poilão, caderno de poesia, coletânea com poetas de diferentes países, dentre eles os guineenses Atanásio Miranda, António Baticã Ferreira, Pascoal D’Artagnan Aurigemma e Tavares Moreira. Em 1977, a antologia Mantenhas para quem luta, já mencionada.

Em 1978 Garandesa di no tchon, de Francisco Conduto de Pina. Além da antologia poética Momentos primeiros da construção. Antologia de jovens poetas, integrada por Aristides Gomes, Tony Tcheka, Hélder Proença, José Carlos, Justino Monteiro (Justen), Nagib Said, Armando Salvaterra, Djibril Baldé, Huco, Nelson Medina, Serifo Mané e Mariana Marques Ribeiro. Em 1979, três obras: a antologia poética organizada por Mário de Andrade Os continuadores da revolução e a recordação de passado recente, integrada pelos poetas Bacar Cassamá, Valentin Bondy, Jorge Siuna Guad, Luís Carlos, Manuel Nassum, Malam Gomes, Bubacar Baldé, Mussá Correia, Alberto Tambá, Djibril Seidy, Said Siad Mané, Malam Mané, Malam Seidy, Alberto Faradai, Abdú Cassamá, Braima Biai, Romana Dias, Agostinho Lopes, Armando Indanhy, Jorge N’Haga, Daniel Mendes, N’Hamo Sambu e Linda Pereira; N’sta li, n’sta la, de Teresa Montenegro e Carlos Moraes e, desses mesmos autores, Jumbai. Storias do que se passou em Bolama – e outros locais.

Em 1981, Vasco Cabral publica o livro de poemas A luta é a minha primavera. Em 1982, Hélder Magno Proensa lança Não posso adiar a palavra, livro de poemas. Em 1987, o poeta Carlos Alberto Pires da Silva lança O longo caminho. É publicada , em 1990, a Antologia poética da Guiné-Bissau de que participam: Amílcar Cabral, Vasco Cabral, Hélder Proença, Agnelo Regalla, António Soares Lopes Júnior, José Carlos Schwarz, Pascola D’Artagnan Aurigemma, Francisco Conduto de Pina, Carlos Alberto Alves de Almada, Jorge Cabral, Félix Sigá, Domingas Samy e Eunice Borges. Em 1992, Tony Tcheka organiza a Antologia poética. O eco do pranto: a criança na moderna poesia guineense, reunindo os poetas Agnelo Augusto Regalla, António Soares Lopes, Conduto de Pina, Félix Sigá, Hélder Proença, Jorge Cabral, Mariana Ribeiro, Pascoal D’Artagnan Aurigemma e Vasco Cabral. Em 1993 Manuel da Costa publica A nossa mudança e A força de vontade, Domingas Samy lança A escola e Adul Carimo Só, publiciza Tâli.

Em 1994, Abdulai Sila publica o primeiro romance guineense, Eterna paixão. E, por seu turno, Pascoal D’Artagnan Aurigemma lança o livro de poemas Amor e esperança. Em 1995, Abdulai Sila publica A última tragédia e Teresa Montenegro e Carlos Moraes lançam Uori. Storias de lama e philosophia.

Do ano de 1996 são as obras: Um novo amanhecer, de Julião Soares Sousa, Mufunesa padi sabura, de Adul Carimo Só e, pela coleção Kebur, Kebur. Barkafon di poesia na kriol, apenas com poemas em língua crioula, dos poetas Atchutchi, Djibril Balde, Ernesto Dabó, Nelson Medina, Huco Monteiro, Dulce Neves, Respício Nuno, Conduto de Pina, Armando Salvaterra, José Carlos Schwartz, Odete Semedo, Félix Sigá, Tony Tcheka; Noites de insônia na terra adormecida, de Tony Tcheka; Entre o ser e o amar, de Maria Odete Costa Semedo; Arqueólogo da calçada, de Félix Sigá e Djarama e outros poemas, de Pascoal D’Artagnan Aurigemma.

No ano de 1997, são lançadas as obras: Ora de kanta tchiga, de José Carlos Schwarz, Mistida de Abdulai Sila, Kikia matcho, de Filinto de Barros, O silêncio de gaivotas de Francisco Conduto de Pina, Corte geral. Deambulações no surrealismo guineense, de Carlos Lopes. No ano seguinte publicam-se Os marinheiros de solidão de Jorge Cabral, A nova poesia da Guiné-Bissau de Moema Parente Augel e, de Carlos Edmilson Vieira, Cabaz de amores. Nos anos 2000 Odete Semedo publica Sonéá. Histórias e passadas que ouvi contar I e Djênia. Histórias e passadas que ouvi contar II. No mesmo ano Carlos Edmilson Vieira publica N’Nori.

Em 2001, vêm a público as obras: Olhar de mulher, de Manuel da Costa, Stera de tchur de Rui Jorge Semedo, Guiné, de Mussa Turé e, de Atchô Express, o livro Falso plaquê. Já em 2002 são dados a publicar os livros: O passaporte de Armindo Gregório Ferreira, Os testemulhos de Mbera de Média Sepa Maria Ié Có, Esperança é a última a morrer de Emílio Lima e Sol na mansi de Nelson Medina. Testemunhos de ontem de Silvano Gomes e No fundo do canto de Odete Semedo são publicados em 2003. De 2004 pertencem: Chuvas de lágrimas de Tino João Miralho, Em nome de absurdo de Inácio Valentim e a coletânea de contos intitulada Contos do mar sem fim, da qual participam os guineenses Olonkó, Julie Agossa Djomantin, Andrea Fernandes e Uri Sissé. No ano seguinte são publicadas: Pensar de um sonho de Onésimo Feguerreiro, O pensador do canapé de Inácio Valentim, Palavras da alma de Inácio Gomes Semedo e As chaves do progresso de Plínio Gomes dos Reis Borges.

O ano de 2006 registra a publicação de Mundo kebur de Silvano Gomes, Fogo fácil de Marinho de Pina e Kali e a cabaça de Ramiro Naka. Em 2007 são lançados os livros: A última tragédia de Abdulai Sila, As orações de Mansata de Abdulai Sila, N’tchanga de José Alberto do Rosário, A minha flor de acácia rubra de Carlos Pires da Silva, Retrato de Rui Jorge Semedo, Estado da alma de Tomás Soares Paquete e A mão direita do diabo de Plínio Gomes dos Reis Borges. As obras Guiné sabura que dói de Tony Tcheka, Admirável diamante bruto de Waldir Araújo, Bendita loucura de Saliatú da Costa e Estátua perdida de Raúl Mendes são publicadas no ano de 2008. No ano seguinte dá-se a conhecer No canto lúgubre da verdade de Édison Ferreira, Não me canso de esperar de Roberto Sousa Cordeiro e César Inácio Vieira, Caderno de poesias de Jorge Otinta e Djassira do bairro de Missira de João de Barros.

2010 traz a lume as seguintes obras: Notas tortas nas folhas soltas e Infinito: conto e poesia, ambas de Emílio Lima, No compasso do primeiro passo de André Luís Mendes, Palavras suspensas de Francisco Conduto de Pina, Noites das lágrimas em África de Marcelo Aratum, Adormecer de um sonho de Carlos Edmilson Vieira e, por fim, Traços no tempo: primeira antologia poética juvenil da Guiné-Bissau, da qual participam Adão Quadé, André Mendes, António Costa, Armando Lona, Danilson Correia, Danso Yalá, Emílio Lima, Filomena Correia, Flaviano Mindela, Gabriel Yé, Gina Có, Irina Ramos, Jacinto Mango, Jaime Nhaté, Lourenço da Silva, Mamadu Baldé, Marcos Djú, Maurício Mané, Mussá Saní, Rui N’faca, Sinhote Có, Vitorino Indeque e Omarildo Silva.

Em 2011 são publicados os livros Na flor de ser de Emílio Lima, Em busca do espaço verde de Eliseu Banori, Entre a roseira e a pólvora de Saliatú da Costa, IMF no palácio do governador de Hildovil Silva e Iramã Sadjo e Mar misto de Ernesto Dabó. De 2012 são as publicações: O vento ainda sopra de Eliseu Banori, Insana rebeldia de Edson Pereira Incopté, L’ultime combat pour um amour anonyme de Lourenço da Silva, Anjo do mal de Plínio Gomes dos Reis Borges e Finhani o vagabundo apaixonado de Emílio Lima.

O ano de 2013 é data de publicação das obras: Krensa pertan pitu. Maradura di kerensas, Tanamu fenhi na republika di kafumban e Kunfentu na bankulé. Kantigas di speransa, sendo as três obras de Huco Monteiro, O colo. Ragaz de Caetano Imbó, Polon malgos de Seravat Amil, Dois tiros e uma gargalhada de Abdulai Sila, Dor e esperança de Vasco de Barros, Recados de paz: antologia poética para paz na Guiné-Bissau, As lágrimas de uma mulher: os culpados de Marcelo Aratum, O retonro dos “gans” de Fernando Perdigão, Retratos de mulher de Antonieta Rosa Gomes, Rosas da liberdade e Maré branca em Bulínia, ambos de Manuel da Costa. Ema vem todos os anos de Abdulai Sila e Memórias fascinantes: relatos que traduzem o silêncio de Eliseu Banori são do ano de 2014.

Em 2015, foram publicadas as obras: As almas em agonia de Eliseu Banori, Desesperança no chão de medo e dor de Tony Tcheka, M’Bim o feiticeiro de Abdelaziz dos Reis Vera Cruz e Sem poemas de Inácio Semedo. Já em 2016 Abdulai Sila publica Memórias somânticas. No ano seguinte Eliseu Banori publica Cantar de galo, Geraldo Martins lança Mil pedaços de amor e Amadu Dafé, por sua vez, traz a público Magarias.

Os títulos publicados em 2018 foram: Kangalutas de Abdulai Sila, Pérola roubada de Né Vaz (Vanessa Margarida Buté Vaz), Olonko de Ernesto Dabó e Escritos no silêncio de Carlos Vaz. O ano de 2020 dá a conhecer as seguintes publicações: A história que a minha mãe não me contou e outras histórias da Guiné-Bissau de Eliseu Banori, Nação afétéré de Lagartixa Okonhoko Npasmado (André Mendes) e Quando os cravos vermelhos cruzaram o Geba de Tony Tcheka.

No que tange à formação do projeto literário guineense Fonseca (2008) sublinha as perspectivas contraditórias sobre o despontar da literatura da Guiné-Bissau, evidenciando que não é ponto pacífico a informação de que a literatura guineense tenha como marco inicial a publicação da obra individual Poemas, de Carlos

Semedo, em 1963, como defendido por Augel. Em se tratando de publicações individuais, Fonseca (2008) destaca que o estudioso Manuel Ferreira, no prefácio do volume I da antologia No reino do Caliban, considera Antonio Batican Ferreira “a primeira e correta representação guineense” (Ferreira, 1997, p. 70). A discordância entre Augel e Ferreira parte de perspectivas que abarcam as relações estabelecidas entre os autores e a terra, Guiné-Bissau. Como ressalta Fonseca (2008), ao trazer as postulações contraditórias de Ferreira e Augel:

Considere-se que Antonio Batican Ferreira viveu a maior parte de sua vida fora de seu país natal, embora tenha voltado à Guiné com frequência. Tendo começado a escrever poemas aos dezessete anos, o fez em língua francesa e, só mais tarde, é que o fará em língua portuguesa. Desses fatos comprovados, decorre a consideração de Augel quando atribuiu a Carlos Semedo a autoria da primeira obra literária verdadeiramente guineense.

(FONSECA, 2008, p. 48-49)

Ao trazer para as discussões a premissa de sistema literário, proposta por Candido, Semedo, de certa forma, apazigua, momentaneamente, essas questões acerca da autoria, embora não as encerre. Semedo, ao perscrutar o percurso historiográfico da literatura guineense, não considera as manifestações esparsas ou isoladas, ancorando-se na ideia de sistema, de continuidade literária. Entende-se, pois, que as questões relativas ao pertencimento, alteridade/identidade são espaços de tensão e negociação que a todo momento serão repisados. Salienta-se que o percurso historiográfico aqui proposto não encerra essas questões.

Importa ressaltar também que para além da questão da autoria outras questões relevantes vão ganhando destaque à medida que essa literatura vem se fortalecendo, a partir de publicações que dão corpo ao sistema literário guineense: se no passado não houve na antologia Mantenhas para quem luta (1977), por exemplo, nenhum poema de autoria feminina, o que esbarra em configurações estruturais da sociedade guineense, ao longo dos anos a autoria feminina vem disputando e angariando espaços no campo literário guineense, como o fez no passado Domingas Samy, autora do primeiro livro de ficção da Guiné-Bissau. Nesse sentido, o cenário literário guineense abarca um espaço em constante crescimento em que agenciamentos, tensionamentos e negociações se fazem presentes e são salutares para que o sistema literário espraie cada vez mais a ideia de heterogeneidade e não se feche no vazio que caracteriza discursos que se pretendem homogêneos.

Notas

1 Agradecemos à Professora Maria Nazareth Soares Fonseca pelas horas agradáveis de partilha de conhecimentos sobre a literatura guineense que tornaram a feitura deste texto uma experiência maravilhosa e inesquecível!

2 Guiné-Bissau proclamou a sua independência em 24 de setembro 1973. A data da independência de Cabo Verde é 5 de julho de 1975.

3 De acordo com informações extraídas do livro Literaturas africanas de língua portuguesa: percursos da memória e outros trânsitos, da Professora Maria Nazareth Soares Fonseca, o prefácio da antologia Mantenhas para quem luta (1977), foi assinado por Hélder Proença, Tony Tcheka e José Carlos Schwarz (FONSECA, 2008, p. 49).

3 As cantigas de ditu ou mandjuandadi, esclarece Odete Semedo, são textos em geral muito breves, cantados quase sempre por mulheres, muitas vezes improvisados, presentes em certas ocasiões específicas (...). Chama-se cantiga de ditu porque geralmente se trata de uma resposta a alguma situação; é composta, por exemplo, quando se vê necessidade de acabar com algum desentendimento ou contenda. Uma terceira pessoa interfere em versos com intenção apaziguadora (e é então denominada canção de harmonia), ou para retratar uma ofensa ou intriga domésticas (ora kubu obi paalgin), ou ainda para chamar a atenção de uma situação desestabilizadora, tanto a nível familiar, conjugal ou relativo ao clima entre colegas de trabalho. Odete Semedo aproxima certas canções de ditu às cantigas de escárnio ou de maldizer, dada a semelhança com essas cantigas medievais. Essas canções são muitas vezes cantadas - e dançadas - em reuniões de mandjuandadi, que são agrupamentos de indivíduos de ambos os sexos, da mesma faixa etária, de uma determinada etnia, mandjacos ou balantas, por exemplo, com uma estrutura social específica e hierarquizada, que promovem a tradição da etnia e se confraternizam em festas e encontros sociais. (AUGEL, 1998, p. 40). Para informações mais detalhadas sobre essas cantigas e suas relações com a literatura guineense ver a tese de doutorado de Odete Semedo, orientada pela Professora Maria Nazareth Soares Fonseca, no Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Minas, defendida em 2010.

4 SEMEDO, Odete Costa. Entre o ser e o amar. Bissau: INEP, 1996. 108 p. (Kebur, n. 3). Alguns dos poemas desse livro são escritos em português e em crioulo.

5 O pesquisador José Eduardo Bessa da Costa Leite, em tese defendida em 2014, sob orientação do Professor Pires Laranjeira, também aborda essa questão: “Essa literatura possui, desde o seu começo, uma função didática, informativa e formativa que procurou, através das tradições e culturas, resgatar a identidade nacional. A literatura guineense está muito enraizada em referências históricas e na expressão das vozes plurais das várias etnias, que povoam este pequeno território” (LEITE, 2014).

6 Contudo, vale registrar a relevância de trabalhos que discutem aspectos da história do sistema literário guineense, tais como os desenvolvidos por: Augel (1994, 1998), Bispo (2005, 2013), Couto; Embaló (2010), Fonseca (2008), Gérard (1970, 1980), Hamilton (2000), Ié (2019), Leite (2014), Mata (1995) e Semedo (2007, 2010, 2011), sem prejuízo de outros estudos.

7 São interessantes, a esse respeito, as reflexões de Albert Gérard: “E o homem branco, em sua pretensão sem par, gosta de entreter a noção lisonjeira de que ele foi o primeiro e único educador da África negra; de que o continente negro foi povoado por tribos selvagens iletradas até que os salvadores ocidentais chegaram; que a alfabetização e as habilidades de escrita, em particular, foram importados primeiro por seus esforços altruístas como parte de sua missão de civilização” (GÉRARD, 1981, p. 147).

8 José Eduardo Bessa da Costa Leite, em tese defendida em 2014, enumera autores e obras “escritas principalmente por estrangeiros durante o período colonial” (COUTO; EMBALÓ, 2010, p. 60), “nomeadamente, Landerset Simões (Babel Negra: Etnografia, Arte e Cultura dos Indígenas da Guiné, 1935), Afonso Correia (Bacomé Sambú: Romance de Costumes Guineenses, 1931), Julião Quintinha (África Misteriosa, 1928; Oiro Africano, 1929; A Derrocada do Império Vátua e Mouzinho de Albuquerque, 1930; Terras do Sol e da Febre, 1932; Novela Africana, 1933), Maria Cecília de Castro (Dois Contos do Ciclo do Lobo da Guiné Portuguesa, 1965), Viriato Augusto Tadeu (Contos do Caramô: Lendas e Fábulas Mandingas da Guiné Portuguesa, 1945), António Carreira (Contos e historietas mandingas, 1946; O Céu, Deus e a Terra, 1947), Manuel Belchior (Contos Mandingas, 1969), Amadeu Nogueira (Báná Sirabanda, 1947; Conto Cassanga, 1947), A. Cunha Taborda (Contos Felupes, 1947), Alexandre Barbosa (Guinéus: Contos, Narrativas, Crónicas, Vida dos Mancanhas, 1962), Fernando Rodrigues Barragão (Contos no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, 1948, 1949, 1951, 1954), João Eleutério Conduto (Contos da tradição oral bijagó, no BCGP, 1955), Armor Pires Mota (Cidade Perdida, 1961; Baga-Baga. Poemas da Guiné, 1967; Guiné Sol e Sangue: Contos e Narrativas, 1968; Tarrafo, Diário de guerra, Contos e Narrativas, 1965), Amândio César (Antologia: Contos Portugueses do Ultramar, 1969; Novos Parágrafos de Literatura Ultramarina, 1971; Em chão Papel na Terra da Guiné, 1967), Francisco Valoura (Guiné: Paraíso Verde, 1973), José Maria Pintassilgo (Manga de ronco no chão, 1972), Luís Ribas (Selvagens e civilizados, s.d.), Óscar Ruas (Samba Lagarto, o encantador de crocodilos, 1935), Norberto Lopes (Terra ardente. Narrativas da Guiné, 1947), Augusto Cruzeiro de Cértima (Recolha de poemas – Trópico de Câncer, 1949), Jorge Silveira Machado (Frente dois. Poemas, 1969), Álvaro Guerra (O disfarce, 1969; A lebre, 1969; O tempo em Uane, 1969), José do Valle de Figueiredo (Poemavra, 1970), João de Matos e Silva (Tempo de mar ausente, 1972), João Alves das Neves (Poetas e contistas africanos, 1963), entre outros” (LEITE, 2014, p. 74).

9 Da fortuna crítica que teve como objeto obras literárias guineenses citam-se, sem prejuízo de outras contribuições, os trabalhos realizados por: Amancio (2010), Augel (1994, 2007), Barth (2021), Bispo (2010 e 2013), Calado (2015, 2016), Carvalho (2017, 2020), Deus (2012), Dutra (2010, 2011), Ferreira (2011), Fonseca (1997, 1999, 2008, 2015), Frascina (2014), Laranjeira (2011), Leite (2014), Mata (1995), Meller (2007), Neumann (2017), Padilha (2011), Queiroz (2012), Salvadori (2009), Secco (2011), Semedo (2010, 2011), Ribeiro e Semedo (2011), Trajano Filho (1993) e Valandro (2011).

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*Lílian Paula Serra e Deus é Professora Adjunta no Instituto de Humanidades e Letras da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira – UNILAB, Campus Malês, Bahia. Doutora e Mestre em Letras pela PUC Minas. É autora de A palavra em preto e branco (2017, poesia), e de Não é preciso ter útero para ser mulher (2020, contos) e participante da Série Cadernos Negros, números 42 e 43. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

**Wellington Marçal de Carvalho é Pós-Doutorando em Estudos Literários na FALE/UFMG. Doutor e Mestre em Letras pela PUC Minas. Bibliotecário coordenador da Biblioteca da Escola de Veterinária UFMG. Integrante do Grupo de Estudo Estéticas Diaspóricas (GEED). Autor de: Aquele canto sem razão: espaço e espacialidades em contos de Guimarães Rosa, Luandino Vieira e Boaventura Cardoso (2014) e A defesa incansável da esperança: feições da guineidade na prosa de Odete Semedo e Abdulai Sila (2018). Coorganizador de Deslocamentos estéticos (2020). Integrante da Comissão editorial do literÁfricas. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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