A literatura de Cabo Verde

Roberta Maria Ferreira Alvesi

Êss’ Pais
Bem conchê ess Mindelo pequinino
Bem conchê sabura di nôs terra
Bem conchê ess paraiso di cretcheu
Qui nôs poeta cantá co amôr
Na sês verso imortal criôl
Quem ca conchê Mindelo
Ca conchê Cabo-Verde
Bem disfrutá morabeza
Dêss povo franco sem igual
Li nô ca tem riqueza
Nô ca tem ôro nô ca tem diamante
Ma nô tem ess paz di Deus
Qui na mundo ca tem
E êss clima sabe qui Deus dóne
Bem conchê êss pais.

Armando Zeferino Soares

 

Um país insular

Na letra crioula da morna de Zeferino Soares, imortalizada na voz de Cesária Évora, somos convidados a conhecer Cabo Verde, desde o pequenino Mindelo, ao sabor da terra, um paraíso amado, aquele que os poetas cantam com amor. O convite se estende ao povo, sua cultura e literatura. É esse o convite que fazemos: “Ca conchê Cabo-Verde”. Oficialmente a República de Cabo Verde é um arquipélago e país insular no Oceano Atlântico central, consistindo em dez ilhas vulcânicas com uma área de terra combinada de cerca de 4.033 quilômetros quadrados (1.557 sq mi). As ilhas de Cabo Verde fazem parte da ecorregião da Macaronésia, juntamente com os Açores, as Ilhas Canárias, a Madeira e as Ilhas Selvagens.

O arquipélago ficou desabitado até ao século XV, quando exploradores portugueses descobriram e colonizaram as ilhas, estabelecendo assim o primeiro povoamento europeu nos trópicos. Porque as ilhas de Cabo Verde estavam idealmente localizadas para desempenhar um papel no comércio de escravos do Atlântico, tornou-se economicamente próspero durante os séculos XVI e XVII, atraindo mercadores, corsários e piratas. Declinou economicamente no século XIX devido à supressão do comércio de escravos no Atlântico, e muitos de seus habitantes emigraram durante esse período. No entanto, Cabo Verde recuperou-se economicamente de forma gradual, tornando-se um importante centro comercial e um ponto de escala útil ao longo das principais rotas de navegação. Em 1951, Cabo Verde foi incorporado como departamento ultramarino de Portugal, mas os seus habitantes continuaram a fazer campanha pela independência, que alcançaram em 1975.

Desde o início da década de 1990, Cabo Verde tem sido uma democracia representativa estável e continua a ser um dos países mais desenvolvidos e democráticos de África. Na falta de recursos naturais, sua economia em desenvolvimento é principalmente orientada para os serviços, com um foco crescente no turismo e no investimento estrangeiro. Sua população de cerca de 550.000 (em meados de 2019) é maioritariamente de herança mista africana e europeia, e predominantemente católica romana, refletindo o legado do domínio português. Uma comunidade considerável da diáspora cabo-verdiana existe em todo o mundo, especialmente nos Estados Unidos e em Portugal. Cabo Verde é um estado membro da União Africana. Essa introdução histórica, a nosso ver necessária, estabelece ranhuras diretas na forma de ser e ver o mundo de um cabo-verdiano e esse peculiar jeito insular de ser reverbera diretamente em sua literatura.

A literatura Cabo-verdiana

Como nos demais países africanos que foram colonizados por Portugal, a língua oficial é o português utilizada em livros, jornais, televisão e rádio. Embora a constituição nacional exija medidas de paridade entre a língua portuguesa, a língua herdada do colonizador, e a língua materna, o crioulo cabo-verdiano, utilizada por quase todos os habitantes do país e que ganhou mais prestígio a partir da independência país, essa paridade ainda não foi conseguida.

O crioulo cabo-verdiano ou Kriolu é um continuum de dialeto de um crioulo baseado no português. Existe uma literatura substancial em crioulo, especialmente no crioulo de Santiago e no crioulo de São Vicente. As diferenças entre as línguas dentro das ilhas têm sido um grande obstáculo no caminho de padronização da língua. Algumas pessoas têm defendido o desenvolvimento de dois padrões: um norte (Barlavento), centrado no crioulo de São Vicente, e um sul (Sotavento), centrado no crioulo de Santiago. Manuel Veiga, PhD, linguista e Ministro da Cultura de Cabo Verde, é o principal defensor da oficialização e normalização da Kriolu.

De uma maneira bem generalizada, quando pesquisamos sobre a literatura em Cabo Verde é comum encontrarmos a confirmação de que essa literatura é uma das mais ricas da África Lusófona, repleta de poetas famosos como Paulino Vieira, Manuel de Novas, Sergio Frusoni, Eugénio Tavares e B. Léza e Armênio Vieira que embora tenha produzido em prosa é mais reconhecido como poeta. Destacam-se também os prosadores como Baltasar Lopes da Silva, António Aurélio Gonçalves, Manuel Lopes, Orlanda Amarílis, Henrique Teixeira de Sousa, Felisberto Vieira Lopes (Kaoberdiano Dambará)[1], Dina Salústio, Germano Almeida e vários outros.

Muitos críticos e estudiosos consideram a literatura de Cabo Verde como uma das mais importantes da África Ocidental, sendo também uma das mais produtivas dentre as literaturas africanas escritas em língua portuguesa. Embora a maioria das obras literárias seja escrita em português, há livros escritos em crioulo cabo-verdiano, francês e, nomeadamente, inglês. Sendo conhecida em todo o mundo através da escrita de vários nomes de destaque, é constituída de uma diversidade imensa, tanto na oralidade, como na literatura escrita. Tem-se notícia de textos literários cultivados por cabo-verdianos, em livros e periódicos, desde o século XIX, ainda que não se pudesse afirmar a existência de uma literatura cabo-verdiana.

Pretendemos nesse texto construir um panorama da literatura cabo-verdiana ressaltando pontos e autores que são de grande importância na construção dessa manifestação cultural chamada literatura. Sabemos que, ao iluminarmos alguns pontos, outros ficarão de alguma forma na sombra. Por esse motivo, convidamos a buscar, a partir dessa nossa contribuição, outros autores, outras autoras dessa literatura tão cativante quanto instigante e potente.

A maior parte dos analistas literários tende a dividir a trajetória literária cabo-verdiana em três grandes períodos: Fase pré-Claridosa (onde estariam os Nativistas e outros), compreendendo o  final dos anos  de oitocentos, marcada, no contexto das ilhas, pela ideia difundida da venda das colônias, o que representou o culminar da falta de interesse e abandono secular por parte da metrópole; a Claridosa (em torno da Revista Claridade, publicada em 1936) compreendendo o  início dos anos trinta do século XX e caracterizada, no contexto sócio-cultural, pela  decadência do Porto Grande, situado no Mindelo, ilha de São Vicente, em consequência de uma crise mundial e o estabelecimento do Estado Novo português;  a Pós Claridosa (de 1960 até nossa contemporaneidade), abrangendo o final da década de  1950, com o surgimento do Partido Africano da Independência da Guine e de Cabo Verde (PAIGC), aliada à crise do regime Salazarista.

A visão cronológica da literatura de Cabo Verde e sua divisão em períodos que giram em trono da revista Claridade é criticada pelo poeta e crítico Filinto Elísio. É importante compreender os motivos que enriquecem o ponto de vista desse escritor que é também ensaísta e editor:

Não sendo apologista de classificar a Literatura Cabo-verdiana pelo viés cronológico, nem acreditando haver suficiente virtude que a literatura em Cabo Verde esteja estratificada em três grandes períodos – pré-Claridoso, Claridoso e Pós Claridoso -, quero crer que há outras e múltiplas formas de olhar esta produção literária que, há mais de dois séculos, tem vindo a marcar o seu espaço no contexto da lusofonia e que, desde a Independência Nacional, há pouco mais de trinta e seis anos, se densifica por produções mais modernistas e mais «aggiornadas» com as letras de recorte universalista. (ELÍSIO, 2011).

Sabemos que, ao falarmos sobre a periodização da literatura de uma determinada nação, precisamos ter, acima de tudo, a consciência de que essa literatura apresenta peculiaridades distintas em diferentes momentos. Ao assumirmos, com perdas e ganhos, um viés panorâmico da Literatura cabo-verdiana objetivamos não excluir outras percepções e nem considerar que a nossa proposta seja o único critério para se compreenderem os diferentes momentos da literatura do arquipélago. Como se verá, ao longo do texto, apresentamos uma postura mais flexível que procura considerar autores e textos inseridos em momentos distintos, que não se fecham em si mesmos. Por isso, sempre que possível, serão consideradas as relações que estabelecem com outros espaços e momentos. 

O nativismo

O primeiro registro literário de Cabo Verde deu-se no século XVI com obras de autoria de André Álvares de Almada que escreveu, em 1594, a obra Tratados dos rios da Guiné, anais da expansão portuguesa sobre a zona situada entre o Senegal e a Serra Leoa. Até 1890 a literatura cabo-verdiana raramente era impressa, somente com os “poemas de mornas” de Eugénio Tavares, escritos em crioulo da ilha Brava, esse cenário começou a tomar outros contornos.

Vários são os estudos que abordam a literatura cabo-verdiana a partir dos Nativistas, entre o fim do século XIX e o começo do século XX. Difundido a partir do Brasil, o nativismo desempenhou um papel fundamental na luta de resistência dos cabo-verdianos contra a opressão colonial portuguesa desde o início do século XIX.

O nativismo começaria por traduzir-se na emergência e no desenvolvimento de movimentos separatistas defensores da ruptura com Portugal e da união das ilhas ao Brasil, no sentido da constituição de uma União Brasílica com o novo império sul-americano (Guimarães, 2002, pp. 57-76). Somente  na última década do século XIX, depois do não sucesso de  diversas tentativas separatistas pró-brasileiras ocorridas durante a sua primeira metade, é que o nativismo cabo-verdiano adquiriria fôlego e maturidade suficientes para desenvolver uma resistência séria ao reforço da dominação colonial portuguesa que então se fazia sentir, quando Portugal se veria compelido a assegurar o domínio real dos territórios africanos cuja posse reivindicava em função das suas necessidades de expansão, ambição fortemente refreada pela imposição do princípio da ocupação territorial efetiva, que viria a ser adotado sob proposta das grandes potências imperialistas europeias pela já referida Conferência de Berlim (GUIMARÃES, 2012, pp.18- 20, 348, 355).

Contudo, é com a publicação do romance O escravo (1856), de José Evaristo de Almeida, que se acredita ter o marco inicial da ficção cabo-verdiana. Um texto fundador que denuncia precocemente as iniquidades do sistema escravagista e sugere, com bastante nitidez, a identidade cabo-verdiana em formação. O enredo descreve as tensões e os conflitos de uma sociedade em transformação, através de uma intriga em torno do amor impossível entre um escravo negro e a sua senhora mestiça, desenhado nos moldes do Romantismo. O Escravo contextualiza o momento no qual a trama está inserida, incorporando, na intriga, um acontecimento histórico: uma das duas sublevações de 1835, o levante militar fomentado por oficiais portugueses da facção absolutista. A imagem do branco, do colono europeu, fica assim seriamente comprometida, em contraste com a candura heroica do par que protagoniza o romance.

Ainda sobre o tema da relação da literatura (escrita em português, língua oficial e internacional em Cabo Verde) com as tradições orais (veiculadas em língua cabo-verdiana ou crioulo), lembramos que destacados escritores cabo-verdianos desde os chamados nativistas (especialmente Eugénio Tavares e Pedro Cardoso), estabeleceram as bases para a escrita bilíngue dos textos literários (em português e em crioulo cabo-verdiano), para o estudo do folclore e para a transposição para a linguagem literária culta das manifestações orais populares expressas em crioulo. A identidade cabo-verdiana começa a manifestar-se na literatura no final do século XIX e se acentua com o nascimento da chamada literatura “moderna” cabo-verdiana, com a geração da revista Claridade, nos anos trinta do século XX.

Eugénio de Paula Tavares (1867-1930), jornalista, escritor e poeta, um autodidata possuidor de um carácter impoluto, um orador fluente de raros recursos. É sempre referido como um dos mais importantes marcos da cultura cabo-verdiana sendo responsável pela valorização e utilização do crioulo na sua atividade literária e musical. Durante três década, Eugénio Tavares vai dominar o panorama cultural do arquipélago, publicando poesia, ficção e ensaios, contribuindo ainda para o mundo da música com letras e pautas.

O periódico A Alvorada e a Voz de Cabo Verde, criado por Eugênio Tavares, ocupa lugar de destaque pelo seu valor histórico. A Alvorada, de 1900, é um dos primeiros jornais em língua portuguesa publicado por Eugénio Tavares, em New Bedford, Estados Unidos da América. Nesse jornal, Eugénio revela o seu sonho de autonomia para Cabo Verde, sonho esse que virou realidade 75 anos depois com a declaração da independência para a Nação Cabo-verdiana. Já em 1911, A Voz de Cabo Verde, por ele editada, é um órgão de comunicação que traz a público as intenções da recém proclamada República Portuguesa, no campo da justiça, da fraternidade e do progresso.

Compositor de "mornas"2 repletas de sonoridade e conteúdo, com temas cujo teor principal são o Amor, a Ilha, o Mar, a Mulher, o Emigrante, a Partida. Por ser nativo da Ilha Brava, a terra em que os homens se casam com o mar, como no poema de Pierre Loti, a dulcíssima estância da saudade, mercê da vida aventureira e trágica do seu povo, a morna de Tavares também fixou os olhos no mar e no espaço azul, adquirindo essa linha sentimental, essa doçura harmoniosa que caracteriza as canções brevenses. Elevou-se de riso a pranto, e terminou, amorosamente, pelo portuguesíssimo diapasão da saudade.

Outro considerado nativista, Pedro Monteiro Cardoso (1890-1942) nasceu na Ilha do Fogo. Foi professor do ensino primário e jornalista que defendia os interesses sociais, políticos e econômicos de Cabo Verde. Dirigiu o jornal Manduco e colaborou na Voz de Cabo Verde onde publicou cerca de 33 crónicas de intervenção cívica e política publicadas em 37 números do jornal.

Pedro Cardoso criou e alimentou polêmicas sobre os mais diversos assuntos, da arborização, da estiagem e da fome, ao analfabetismo e à instrução pública, passando pelas questões do Nativismo, da Raça Negra e da autonomia da província, sempre em defesa dos interesses dos filhos das ilhas. Pedro Cardoso assumiu-se como socialista/comunista, tendo sido um ardente defensor do continente negro e da dignificação do homem africano, usando nos seus escritos o pseudónimo “Afro”.

O século XIX e o início do século XX, em Cabo Verde foi um período marcado pelo início do debate acerca da identidade da Nação e pelo nascimento de uma geração de intelectuais cabo-verdianos, os denominados nativistas que tinham como preocupação central defender o nativo do arquipélago, fundamentada num ousado projeto nacional. É um período marcado por diferentes gerações de intelectuais cabo-verdianos: nativistas, regionalistas e nacionalistas, que por suas particularidades histórica e política delineiam o projeto nacional referido. É um importante momento em que a comunidade cabo-verdiana contou com uma elite intelectual como mediadora entre a sociedade civil e o sistema político colonial português.

Os claridosos

Antes da publicação da Claridade, é importante destacar marcos literários e culturais que, no interior do arquipélago, influenciaram direta ou indiretamente o surgimento da revista. Dentre esses, destaca-se o representado por três vultos das letras e da cultura tradicional cabo-verdianas, a saber: Eugénio Tavares, da Ilha Brava, Pedro Cardoso, da Ilha do Fogo e José Lopes, da Ilha de São Nicolau – a conhecida geração "pré-claridosa", posteriormente denominada geração romântico-clássica. São autores que delinearam a valorização do homem ilhéu e da sua língua, o crioulo cabo-verdiano; é também importante a publicação do livro de poemas de António Pedro, Diário (1929) bem como o surgimento do livro de Jorge Barbosa, Arquipélago (1935), que abriu as portas para o exercício de uma literatura cabo-verdiana vista como moderna ao se impor como renovação de modelos e tendências  da poesia cabo-verdiana.

Para poderem dar conta da penosa situação de Cabo Verde, pensaram, primeiramente, em um jornal, porém, por questões econômicas, optaram pelo lançamento de uma revista. Claridade, inspirado pelo livro Clarté de Henri Barbusse constituiu um ‘farol’ que projetou uma luz rejuvenescedora, intensa e duradoura sobre Cabo Verde, no despertar de uma literatura realista e moderna.

Uma das referências brasileiras em estudos sobre Cabo Verde, a professora e pesquisadora Simone Caputo Gomes, em seu artigo “Cabo Verde e as pérolas do Atlântico: literatura como meio de resgate e preservação do patrimônio cultural” considera a presença, entre os claridosos, da literatura modernista brasileira, quando ressalta serem os fundadores do movimento e revista

[...] leitores dos nossos modernistas e encantados pela independência política e cultural brasileira, os claridosos fundadores (Manuel Lopes, Baltasar Lopes-Osvaldo Alcântara e Jorge Barbosa) tomam para si o mote da Semana de Arte Moderna de vinte e dois: representar a “arlequinal” raça brasileira (no caso, representar o mundo que o mulato cabo-verdiano criou, como ressalta Gabriel Mariano ), dar visibilidade às identidades que compõem o mosaico cultural, representar a fala do povo no discurso literário culto, democratizar a literatura e as artes. A construção de uma “identidade nacional” em Cabo Verde afirmava-se assim, nos anos trinta, à luz do espelho brasileiro, numa relação de afastamento e diferenciação do cânone português. (GOMES, 2011)

Podemos destacar o quanto a trajetória literária cabo-verdiana, a partir do século XX, delineia ligações fortes com a brasileira. Segundo Semedo, a literatura brasileira dinamiza o surgimento duma genuína literatura cabo-verdiana” (SEMEDO, 2001:254). Talvez possamos inferir que uma das principais razões para isso se deva ao fato de que tal afinidade permitem aos cabo-verdianos refletirem sobre si mesmos a partir da identificação com outros processos culturais e literários. Um exemplo desse diálogo é a força que o poema de Manuel Bandeira “Vou- me embora pra Pasárgada” teve entre os claridosos motivando, inclusive, a criação de um tema /feição literária da literatura cabo-verdiana designada “pasargadismo, que, de certo modo, agrega feições do evasionismo que relê o terralongismo. Esse movimento é visto por Fonseca quando registra que  

As diferentes releituras do poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira, por exemplo, inscrevem na África portuguesa a renovação pretendida pela literatura que se fazia no Brasil. Assim, os poemas em que Pasárgada é celebrada em contextos africanos passam a consagrar uma tradição “alheia” que, ao mesmo tempo torna-se de todos os falantes de língua portuguesa. (FONSECA 2003)  

“Pasárgada” surge como uma releitura de Canaã, uma sugestão de evasão para um “mundo ideal” no qual desilusões e angústias da realidade possam ser esquecidas.  o diálogo se encaixou perfeitamente com a vontade de expansão lírica e física celebrada pelos claridosos. Dessa maneira, esse lugar idealizado, que já foi saudada por Baudelaire e Bandeira, é acolhido pelos claridosos, principalmente por seu tom evasionista.

Dos claridosos fundadores, quem mais exaltou explicitamente a cidade fictícia de Manuel Bandeira foi Osvaldo Alcântara, pseudônimo de Baltasar Lopes.  Poeticamente Alcântara utilizou-se da imagem de Pasárgada, criada por Manuel Bandeira, para levantar discussões políticas e sociais envolvidas com o arquipélago que iam além da simples “fuga do problema” de que ele e seu grupo foram acusados. Vale ressaltar que os poemas de Alcântara se mostram mais políticos e sociais, já que por vezes seus sujeitos líricos são, em muitos momentos, “subversivos” ou “foras da lei”.

Manuel Lopes, um dos fundadores da revista Claridade, quando questionado a respeito da relação existente entre alguns ideais do Modernismo brasileiro na escrita dos principais integrantes do grupo Claridade, declara que tal diálogo entre os intelectuais brasileiros e os caboverdianos podem ser percebidos através do termo “ressonância”. Essas reverberações podem ser percebidas a partir do prefácio da edição fac-símile da revista Claridade, edição organizada e prefaciada por ele em celebração do cinquentenário da revista, Manuel Lopes afirma: “Com respeito a essa aceitação do exemplo brasileiro entre 63 os cabo-verdianos, usei em tempos o termo ‘ressonância’ para melhor explicar a influência sofrida por alguns ‘claridosos’” (LOPES, M. apud FERREIRA, 1986, p. XXI).

A importância crucial de textos modernistas brasileiros é ponto determinante no processo de busca e construção da cabo-verdianidade literária. Vale ressaltar que essa importância não deve ser entendida como uma descaracterização da originalidade da literatura produzida no arquipélago a partir da década de 30. Essa presença da literatura modernista brasileira, em Cabo Verde, junto a outros elementos exógenos, alia-se aos fatores “di terra” e ajudam a fortalecer a base das reflexões que ampararam as temáticas desenvolvidas, posteriormente pelos claridosos. Destaca-se, nesse sentido, a colaboração de alguns escritores portugueses como Augusto Casimiro, António Pedro e José Osório de Oliveira que viveram em Cabo Verde, nos fins de 1920 e início da década seguinte. Destaca-se, também, a influência da revista portuguesa Presença, publicada em Coimbra, 1927, que defendia a criação de uma literatura mais viva, livre, oposta ao academismo e ao jornalismo rotineiro, primando pela crítica. Dentre esses elementos exógenos, reiterem-se as reverberações da literatura moderna brasileira e do realismo nordestino.

O marco mais importante dessa fase da literatura de Cabo Verde é a criação da revista Claridade: Revista de artes e letras (1936-1966 – nove números publicados). Nos anos de 1936 e 1937, os três primeiros números resultaram da autoria quase exclusiva dos seus fundadores, enquanto os trabalhos dos restantes sete números saídos entre 1947 e 1966 estiveram a cargo de Baltazar Lopes da Silva. O primeiro número da Claridade estampa, na primeira página apresentou textos poéticos da tradição oral, em língua crioula - "lantuna & 2 motivos de finaçom (batuques da Ilha de Santiago)". O segundo contou com a morna "Vénus" do são vicentino Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido por B.Léza, além de outros aspetos culturais e literários das ilhas. Os números restantes, sempre privilegiando a língua cabo-verdiana, destacaram o folclore poético da Ilha de Santiago - a "finaçom" e o "batucu”; as cantigas de Ana Procópio, da Ilha do Fogo, ou o folclore novelístico da Ilha de São Nicolau e da Ilha de Santo Antão. Foram também divulgados estudos etnográficos sobre a "Tabanca", da Ilha de Santiago e as "Bandeiras" da Ilha do Fogo, para além de estudos sociológicos sobre a estrutura social do Fogo e as especificidades da população das outras ilhas.

Para além dos fundadores, convém mencionar duas outras personalidades que participaram ativamente da Claridade; o pintor e crítico Jaime de Figueiredo e o escritor João Lopes desde a fase inicial. Ao longo da existência da Claridade, colaboraram outros escritores, dando um valioso contributo bilingue não só para o desenvolvimento do projeto como também para o enriquecimento da literatura moderna cabo-verdiana. Foram eles, Pedro Corsino de Azevedo e José Osório de Oliveira, nos primeiros números; Henrique Teixeira de Sousa, Félix Monteiro, Nuno de Miranda, Abílio Duarte, Arnaldo França, Luís Romano de Madeira Melo, Tomás Martins, Virgílio Pires, Onésimo Silveira, Francisco Xavier da Cruz, Corsino Fortes, Artur Augusto, Sérgio Frusoni e Virgílio de Melo, entre outros, nos demais números publicados.

Do ponto de vista literário, marca também o início de uma fase de contemporaneidade estética e linguística, superando o conflito entre o Romantismo de matriz portuguesa, dominante durante o século XIX, e o novo Realismo. Do ponto de vista político e ideológico, procurava afastar definitivamente os escritores cabo-verdianos do cânone português, refletindo a consciência coletiva cabo-verdiana chamando a atenção para elementos da cultura cabo-verdiana sufocados pelo colonialismo português.

Na trilha ideológica dos neorrealistas portugueses, o Movimento Claridade assumiu, no arquipélago, a causa do povo cabo-verdiano na sua luta pela afirmação de uma identidade cultural autônoma baseada na criação da "cabo-verdianidade" e na análise das preocupantes condições socioeconómicas e políticas das Ilhas formadoras do país. Partindo de pontos importantes, as reflexões que surgiam no periódico preocupavam-se com a relação indivíduo/sociedade a partir das diferenças internas de que são compostos o todo étnico que representa um povo; buscava eliminar os equívocos e preconceitos oriundos do exotismo; uma interpretação particular do eterno dilema: ir e ficar, suas causas e consequências, o amor à terra e a necessidade de estar ausente dela.

Os fundadores da Claridade "fincaram os pés na terra," de acordo com o seu célebre conteúdo temático, para a execução do seu plano de trabalho. No entanto, teriam que proceder de uma forma muito discreta, devido ao regime de censura colonial existente sob a vigilância constante e aterrorizada da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), temida pelo seu método de tortura, nomeadamente atrás das grades do presídio político do Campo do Tarrafal, na Ilha de Santiago.

O propósito de imersão da literatura na cultura cabo-verdiana que iluminou a intelectualidade do país desde antes do surgimento de Claridade pode ser verificada nas obras primas lançadas pelos escritores "claridosos", que marcaram a literatura cabo-verdiana, como: Arquipélago (1935), Jorge Barbosa, Chiquinho (1947), de Baltazar Lopes, Chuva Braba (1956) e Os Flagelados do Vento Leste (1960), de Manuel Lopes. Do mesmo modo, a revista lançou sementes literárias que germinariam em outras importantes publicações cabo-verdianas, tais como, Certeza (1944), Suplemento Cultural (1958), Raízes (1977) e Ponto & Vírgula (1983), em que se se destacaram os escritores Gabriel Mariano, Ovídio Martins, Aguinaldo Fonseca, Terêncio Anahory, Yolanda Morazzo, Leão Lopes e Germano de Almeida.

Os não claridosos

Mais uma vez Filinto Elísio, com quem este texto também dialoga, ajuda a reconhecer um viés literário a que ele chama de “não claridoso” que se afirmará, na literatura cabo-verdiana, a partir de caminhos e inquietudes de seu tempo, sem ter “a Claridosidade como seu eixo central”. O poeta e crítico considera, nesse sentido, o seu próprio fazer literário como uma prática que se distancia não somente da Claridade, mas também do cânone e, por isso, não almeja seguir as “influências” deixadas pelos que o antecederam, muitas delas, como ele afirma no texto que se segue, estarão presentes na literatura de Cabo Verde, “até os anos setenta do século XX”:  

[...] uma literatura que não se pontifica como pós Claridosa, mas que é assumidamente não Claridosa, isto é que não tem a Claridosidade como seu eixo central e muito menos seu fio condutor. Aliás, esta não é apartada daquela, em sua correlação, mas, fazendo jus a alguma identidade, o dom de não ter mote, nem modo claridosos, não se policiando pelos cânones nem dos precoces nativistas, parnasianos e românticos, nem dos realistas, neo-realistas e nacionalistas que compõem as várias gerações que trocam testemunhos na brilhante estafeta do fazer literário até os anos setenta do século XX. (ELÍSIO, 2002)

É importante entender que as preocupações e temáticas se metamorfoseam, provocando reverberações e ressignificações de tendências que procuraram representar a resistência dos cabo-verdianos contra opressões (ideológicas, climáticas e sociais). Essas diversas tendências abriram caminho para a preocupação pontual de “fincar os pés na terra”, mesmo se abdicando de referências explicitamente políticas, sobretudo aquelas relacionadas à esquerda, concentrando-se na recuperação das tradições do arquipélago, sem sinalizar uma ruptura nativista.

Publicações Cabo-verdianas

Nos estudos das tendências que formam o percurso sobre a Literatura cabo-verdiana, é importante referir-se a publicações importantes que surgem sobre temáticas ressaltadas pelo “ficar o pé na terra”. Ecoando as vozes da Claridade, em 1941, é lançada Ambiente, coletânea de poemas de Jorge Barbosa. Antonio Nunes publica Poemas de longe (1945) e Manuel Lopes, Poemas de quem ficou (1949), seguidos do romance fundador Chiquinho (1947) de Baltasar Lopes, Caderno de um ilhéu (1956) de Jorge Barbosa e de Manuel Lopes 'primeiro romance, Chuva Braba (1956).

No entanto são os periódicos que delineiam fortemente a literatura cabo-verdiana, sobretudo no viés não-claridoso. Comecemos com Revista Certeza, de 1944, destacada pela profunda preocupação com a perspectiva social. Os autores que constituem a Geração Certeza marcam uma diferença no modo de fazer literatura, encarando problemáticas como a focalização do grande problema do isolamento das ilhas com relação ao exterior e mesmo o existente entre as ilhas, que, pela falta de comunicação fácil e rápida, impedia que a informação e o conhecimento passassem de ilha para ilha, e das ilhas para o resto do mundo. Um espaço para a denúncia e o lamento de outras situações que, consequentemente, abatem aquela terra: a falta de trabalho, a sequente prostituição, a resignação de uma opressão colonial, por falta de gente e forças para lutar, o mar circundante, que monotonamente persiste em rodeá-los. Sem deixar de lado características bem marcantes no jeito cabo-verdiano de ser, tais como a religiosidade, uma fé desmedida e uma crença incontornável em um dia melhor. A proposta da revista Certeza valoriza sobremaneira a terra-mãe, o chão cabo-verdiano, incentivando a luta contra as adversidades existentes e conscientizando o povo a optar por ficar e não partir, construindo o caminho da independência.

Em 1958, surge o Suplemento Cultural, muito identificado por uma verdadeira postura de revolta, embora apenas um número tenha vindo a público, pois o segundo foi impedido de chegar às bancas pela censura colonial da época. Os apoiadores e escritores desse suplemento questionavam, politicamente, as verdadeiras causas/razões da realidade instalada no arquipélago, apelando, assim, à revolta. Assumem uma atitude radicalmente diferente em relação às publicações anteriores. Apesar de irem buscar a maturidade literária com os autores da Claridade (1936) e a maturidade político-social com os autores da Certeza (1944), os autores do Suplemento Cultural apresentam-se como aqueles que recusam os favores específicos ao sistema colonial e apostam na valorização da coletividade cabo-verdiana. Buscava-se fazer da arte literária uma projeção intencionalmente combativa sobre a problemática do ilhéu, consciencializando o homem cabo-verdiano de que é parte integrante do processo histórico geral que o envolve.

Com o Suplemento Cultural, delineia-se uma nova noção de cabo-verdianismo que não despreza o credo "negritudinista" que, desde a hipótese considerada por Gabriel Mariano em breve artigo de 1958 até o virulento e famoso ensaio de Onésimo Silveira, “Consciencialização na literatura cabo-verdiana” (1963), causou uma verdadeira polêmica em torno da aceitação silenciosa do patriarcado da Claridade e de escritos e temas dos pais fundadores de uma crítica mítica. O Suplemento Cultural do Boletim Oficial do Governo da Província de Cabo-verde incluiu, além do escritor Gabriel Mariano, outros como Ovídio Martins, Aguinaldo Fonseca, Terêncio Anahory e Yolanda Morazzo.

A revista Raízes provém de um projeto do especialista em literatura cabo-verdiana, Arnaldo França, publicada entre janeiro de 1977 e junho de 1984 (com vinte e um números publicados na poesia, ficção, história e ensaio) com uma rigorosa seleção de textos e autores. Raízes publica quase exclusivamente autores renomados como Baltasar Lopes, António Aurélio Gonçalves, Corsino Fortes, Félix Monteiro, João Varela, Ovídio Martins, Oswaldo Osório, Arménio Vieira, Tacalhe, Mario Fonseca, Vera Duarte, Jorge Carlos Fonseca, António Carreira. Raízes parece ser o primeiro periódico pós-independência. É fruto de um grupo de intelectuais que quiseram expressar a voz autêntica dos criadores cabo-verdianos contemporâneos. Os assuntos da revista não se limitam apenas à literatura, mas abrem-se à cultura em geral, em particular aos aspectos históricos do arquipélago. Uma revista de altíssima qualidade, com um conteúdo rico e evocativo, por fazer parte do património insubstituível da cultura cabo-verdiana. O periódico foi também um manancial de diferentes colaboradores, nomeadamente o angolano Mário de Andrade, o brasileiro Clodomir Monteiro, o guineense Hélder Proença e alguns cabo-verdianos. Devido ao seu carácter oficial, da mesma maneira que o Caderno Folha de Letras do Jornal Voz di Povo, a sua duração foi efêmera, ao contrário da revista Ponto & Vírgula que, assumindo um desígnio independente, instaurou uma maior liberdade de expressão e abriu caminho para uma maior afirmação cultural no arquipélago.

Na década de 1960 até a década de 1980, o universalismo assumido, em particular por João Vário, quando, no PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), que já havia assumido, desde 1963, a luta armada de libertação nacional, surge, em Cabo Verde, a frente literária para a intimidade, abstração e cosmopolitismo, muito antes que em outros países africanos de língua portuguesa.  Podemos datar a viragem deste período em 1966, com a impressão, em Coimbra, da colecção de poemas Exemplo geral, de João Vário (aliás João Manuel Varela), que, no entanto, segundo alguns, teria tido pouco efeito.

Partindo de uma fase de contestação, comum aos novos países ingressos na descolonização, para se afirmar gradativamente como um tempo real de consolidação do sistema político e da instituição literária, temos o início desta fase delineado pela publicação da Ponto&vírgula, revista de intercâmbio cultural (1983-1987), editada por Germano de Almeida, Leão Lopes e Rui Figueredo. Revista bimestral que segue, voluntariamente, a Claridade e a Certeza, pretendendo responder à necessidade de expressão cultural do momento. Desde o primeiro número, os três jovens realizadores conseguem convencer escritores de grande prestígio como Baltazar Lopes, o "pai espiritual" da literatura cabo-verdiana, Antônio Aurélio Gonçalves, ilustre mestre da palavra, assim como Oswaldo Osório e Luís Romano, a produzirem textos para compor os dezessete números publicados.

Em 15 de abril de 1991, foi fundado no Mindelo, o Jornal Artiletra nome composto das expressões em português "arte e letra"), um jornal/revista literário bimestral de Cabo Verde. Esse periódico publica artigos, ensaios e ficção literária (incluindo poesia) de proeminentes escritores caboverdianos, cobrindo tópicos que incluem cultura caboverdiana, educação e ciências. Seus criadores, Félix Monteiro e Francisco Lopes da Silva procuraram, com a criação do jornal, preencher um vazio existente na mídia cabo-verdiana na área cultural. Com o passar do tempo a vertente educacional da linha editorial ganhou mais força com a colaboração da atual diretora Laríssa Rodrigues. O periódico sempre procurou trabalhar apenas com a vertente “positivista” da informação e com a valorização de ideias. A maioria dos conteúdos são produzidos através da contribuição de diversas personalidades do meio cultural dentro de Cabo Verde e na Diáspora.

A produção literária cabo-verdiana de autoria Feminina

Em África, a situação da mulher escritora não diverge da apresentada na maioria dos espaços literários. Para Mata & Padilha (2007, p. 13), tal exclusão se repete em todos os sistemas literários nos quais há nitidamente a prevalência de vozes masculinas, porque “os textos como produtos simbólicos e como „documentos do imaginário ‟, [...] submetem-se aos mesmos aparatos de dominação impostos pelas ideologias hegemônicas”.

Apesar de ter sido de uma mulher, a primeira publicação literária cabo-verdiana, no Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro (Lisboa, 1851-1932) no ano de 1854, no cenário cabo-verdiano da literatura é comum ouvirmos dizer que a participação feminina foi acanhada e esparsa, e, se pesquisarmos nas antologias que foram publicadas durante anos, elas, em sua maioria são verdadeiramente esquecidas. Embora assinalem uma profícua produção literária e jornalística no arquipélago caboverdiano, as primeiras décadas do século XX não registram mulheres com atividades literárias. Apenas ao final dos anos de 1950, mais precisamente em 1958, sublinham-se os nomes de Sílvia Crato Monteiro e Yolanda Morazzo no Suplemento Cultural, que se seguiu à revista Claridade.  

Analisar e levantar a produção que conhecemos como escritura literária de autoria feminina em Cabo Verde, supõe compreender em que solo sociocultural as iniciativas se fundamentam. Segundo Simone Caputo Gomes, em seu artigo “Literatura e trajetória social das Mulheres em Cabo Verde: A escritura de autoria feminina ou um outro olhar sobre o arquipélago” (2013), a mulher “é força atuante no resgate e na preservação do patrimônio cultural do Arquipélago.” Além de ser a força que ara a terra, é a transmissora da língua nacional e das práticas culturais transmitidas de geração em geração, seja no artesanato (rendas, bordados, cestos, artefatos de barro), seja na medicina tradicional (curandeirismo, parteiras, com seu cachimbo, remédios caseiros, rezas e estórias), ou no fabrico do sabão de purgueira e na culinária com função identitária.  Segundo Gomes, as mulheres cabo-verdianas são responsáveis pela

[...] manutenção da tradição oral dos contos fantásticos da boca di tardi, dos coros femininos que atuam nas cerimônias fúnebres e nas guisas (comunicação da morte), da morna, do batuque, das finason e cantigas de trabalho entoados (e muitas vezes compostos) pelas cantadeiras tradicionais consagram, enfim, a mulher crioula como guardiã da memória e grande transmissora da cultura. (GOMES, 2013)

Por esse motivo, o olhar feminino sobre a realidade cabo-verdiana merece destaque, seja expresso através dos textos poéticos de Vera Duarte, na prosa de Orlanda Amarilis, Fátima Bettencourt e Dina Salústio ou em textos das pioneiras caboverdianas.Textos que acompanham a escritura literária através de fatos experienciados e retirados cuidadosamente da realidade insular. A escritura literária de autoria feminina, segundo Simone Caputo Gomes, inicia-se com a já destacada

Antónia Gertrudes Pusich3 (S. Nicolau, 1805-1883), referida por Manuel Ferreira como um dos primeiros autores africanos lusófonos a publicar e alcançar prestígio nos meios literários, começa a compor a galeria de escritoras que vai mudar o “rosto” do cânone cabo-verdiano, marcadamente masculino. Dentre elas, podemos citar, com produção poética: Maria Luísa de Sena Barcelos4 (ou africana) e Gertrudes Ferreira Lima (Humilde Camponesa)5 são poetas que com ela participam no Almanach de Lembranças Luso-brasileiro (1851-1932). Sílvia Crato Monteiro6 e Yolanda Morazzo7 (1928) vão dando maior visibilidade à produção feminina, com sua colaboração no Suplemento Cultural. (GOMES, 2013)

Podemos verificar a partir das palavras de Gomes que as poetas acima elencadas são praticamente desconhecidas da crítica, como se fossem mulheres invisíveis, merecedoras um olhar mais atento e profundo de seus textos e de sua participação efetiva na formação da Literatura Cabo-verdiana.

Ainda de acordo com Simone Caputo Gomes (2010), em continuidade à tarefa de construir o discurso poético feminino em Cabo Verde, algumas autoras divulgaram seus versos na revista Mujer (organizada pela OMCV – Organização das Mulheres CaboVerdianas), em antologias como Canto Liberto (1981) e Mirabilis: de veias ao sol (1991), ou em livro individual, a saber: Alice Wahnon Ferro, Alícia Borges, Ana Júlia Monteiro de Macedo Sança, Arcília Barreto, Dina Salústio, Eleana Lima, Lara Araújo ou Madalena Tavares, Lídia do Rosário, Luísa Chantre, MG‟Nela – Helena Regina R. M. Teófilo, Manuela Fonseca, Margarida Moreira, Maria Guilhermina, Maria José da Cunha, Maria Lídia do Rosário, Nely, Paula Martins e Vera Duarte. No que diz respeito à prosa, destacam-se nomes como: Maria Helena Spencer, Orlanda Amarílis, Ivone Aída Fernandes Ramos, Leopoldina Barreto, Maria Margarida Mascarenhas, Fátima Bettencourt, Dina Salústio, Haydeia Avelino Pires, Sara Almeida, Ondina Ferreira (Pseudônimo Camila Mont-Rond) e Vera Duarte.

No artigo “A poesia feminina cabo-verdiana vive: Resistindo à persistência de um cânone de perspectiva masculina”, Gomes ressalta a pouca presença de textos literários de autoria feminina, nas antologias publicadas. Segundo a pesquisadora, apesar de saber que ao montarmos uma antologia o olhar, a escolha e recolha tenham um cunho subjetivo, isso não poderia impedir de apresentar alguns nomes de intensa qualidade na literatura cabo-verdiana. A pesquisadora declara que  

[...] desde a década de 1990 e, sobretudo, nesta virada para a segunda década do século XXI, obras de autoria feminina têm se destacado no panorama nacional e internacional, obtendo prêmios e visibilidade considerável em eventos, festivais e outros dispositivos legitimadores no campo literário. Vale, também por isso, relembrar alguns dados históricos dessa trajetória ascendente, que não repete o movimento de retração quanto à presença feminina observado nas duas antologias mais recentes. (GOMES, 2019)

Em razão da crítica de Gomes, fizemos questão de traçar um caminho histórico para delinear vozes femininas de extrema importância para a literatura cabo-verdiana.  Nesse percurso, contemporaneamente, surgem novos nomes femininos nas letras cabo-verdianas, em diferentes gêneros textuais como conto, romance, poesia e literatura infanto-juvenil. A título de exemplo, merecem ser referidas Artemisa Ferreira, Carlota de Barros, Carmelinda Gonçalves, Chissana Magalhães e Eileen Almeida Barbosa.

Não podemos deixar de citar autoras como Bernardina R. Alves, Inestefânia Nogueira, Leopoldina Barreto, Madalena Brito Neves, Maria Helena Sato, Margarida Fontes, algumas com produção bilíngue. E no tocante a produção em Kriolu, temos Analina Rocha, Amália Faustino, Arlete Alana, Clenira Varela, Edmeia Semedo, Francisca Gomes, Indira Monteiro, Sabina Miranda e Zany Cabral, além de Misá (pintora e poeta, com livro publicado, D’amor i di sintimento, 2007).

Como pode ser percebido desse apanhado histórico em muito enriquecido pela pesquisa de Simone Caputo Gomes, a “invisibilidade” da escrita de autoria feminina merece, por sua qualidade e valores, ser alvo de pesquisas e divulgação. 

Autores Contemporâneos em destaque

Ao tratarmos da ficção narrativa contemporânea, sempre temos nosso olhar voltado aos textos que marcaram a iniciação da produção narrativa e que transformaram os paradigmas da conceção literária de Cabo Verde. Um deles é o romance Chiquinho (1947), de Baltasar Lopes da Silva, de cunho autobiográfico, em que o autor delineia a sua vivência na ilha de São Nicolau, na aldeia de Caleijão, e, posteriormente, em São Vicente, onde vai prosseguir os seus estudos liceais. Uma fonte de denúncia da situação de penúria extrema por que passava o povo cabo-verdiano, do abandono a que estava destinado, da seca prolongada que devastava a terra, dos animais e da própria vida das pessoas. Da mesma maneira, outra narrativa que merece realce é Os Flagelados do Vento Leste (1960), de Manuel Lopes, que, igualmente, traz à cena o problema da seca vivida na ilha de Santo Antão e o drama humano que dela advém.

Importa ressaltar que o gênero textual privilegiado em Cabo Verde, até segunda metade dos anos trinta do século XX, foi a poesia. No tocante à prosa, além dos romances destacados no parágrafo anterior, ressaltamos algumas narrativas cabo-verdianas publicadas, pós Claridade, na Antologia da Ficção Caboverdiana Contemporânea, em 1960. Essa antologia resulta de recolha de um conjunto de contos que, de certo modo, marcam a transição para a moderna literatura cabo-verdiana, integrando autores como António Aurélio Gonçalves, com os contos “Pródiga” e “O Enterro de Nhâ Candinha Sena”; Baltazar Lopes, com “Parafuso”, “Dona Mana”, “Balanguinho” e “Muminha Vai para a Escola”; Francisco Lopes com “Chuva de Agosto” e “O Ourives”; Gabriel Mariano com “O Intruso” e “O Rapaz Doente”; Henrique Teixeira de Sousa com “Dragão e Eu”; Jorge Barbosa com “Conversa Interrompida” e “5 Vidas num Escritório”; Manuel Lopes com “O Galo Cantou na Baía”; “No Terreiro do Bruxo Baxenxe”, “Ao Desamparinho” e “A Chuva”; Pedro Duarte, com “Migração”; e Virgílio Avelino Pires com “A Herança”, “Peregrina” e “O Órfão”.

A prosa cabo-verdiana contemporânea apresenta textos que rompem com as temáticas tradicionais e marcam um ponto de ressignificação na produção literária do país. Assim, convivendo com uma realidade marcada pela interferência de questões “globais”, os escritores refletem sobre problemáticas que decorrem de preocupações da sociedade atual, introduzindo, inclusive, questões éticas. Algumas obras compõem a inovação na literatura cabo-verdiana, e, dentre elas, podem ser consideradas quatro romances cabo-verdianos contemporâneos, publicados a partir de 1989: O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo (1989), de Germano Almeida; Lágrimas de Bronze (1991), de Danny Spínola; O Eleito do Sol (1992), de Arménio Vieira; e A Louca de Serrano (1998), de Dina Salústio.

Consideramos O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo, de Germano Almeida, um ponto importante de recondução da produção narrativa cabo-verdiana. Apesar do olhar crítico endereçado a um mundo atual, através da sociedade mindelense, as problemáticas encenadas pelo romance assumem perspectivas mais amplas. Um vasto leque de preocupações, de ordem moral e ética, constitui objeto de questionamento textual, como a responsabilidade de participação cívica, a intolerância, a criminalidade, a hipocrisia, os preconceitos sociais, as carências sociais, a humildade, a gratidão, conseguindo, desta forma, ultrapassar as temáticas habituais da seca, da fome, da insularidade, do terralongismo e do colonialismo. 

No texto de Danny Spínola, Lágrimas de bronze, deparamo-nos com um diálogo entre a realidade e o sonho, sendo que esse tem um poder libertador das amarras sociais a que estão subordinadas. A personagem devaneia persistentemente, recordando os seus encontros amorosos, os problemas enfrentados por sua exposição antipolítica e as bebedeiras utilizadas como válvulas de escape para aliviar os dissabores da vida.

Em O Eleito do Sol, Arménio Vieira, traz à cena preocupações atuais, que abrem reflexões sobre o autoritarismo, o abuso do poder, a tortura, o preconceito social, a desigualdade social, o baixo nível cultural dos membros que detém o poder, a valorização da sabedoria e da escrita, entre outras. Conforme afirma Inocência Mata a narrativa: “começa por estilhaçar a cabo-verdianidade “tradicional”, feita de marcas de insularidade geográfica, ambiental, sociocultural, ideológica e psicológica” (MATA, 2009), uma narrativa que materializa a singularidade desse romance cabo-verdiano. 

O primeiro romance de autoria feminina publicado em Cabo Verde, A Louca de Serrano, de Dina Salústio, recorre a retratos de várias mulheres cujas existências são permeadas pela presença intermitente do desconforto causado pela pobreza, pela solidão e abandono. A aldeia ficcional retratada no romance, configura-se como zona de contato entre os espaços, culturas e discursos, a partir dos relatos de vida de seus habitantes e daqueles que por lá circulam.  Tudo isso refletido na narrativa que, alternando entre o cômico e o trágico, nos impede, muitas vezes, de separar o real da ficção, fantasia e a loucura.

A terra que visitamos, enlevados pelos versos da morna, com os quais iniciamos este texto, motiva, ainda, indagar sobre o que precisa ser destacado, nos vários campos abertos pelo fazer literário. Filinto Elísio nos ajuda a considerar o que aconteceu, na literatura de Cabo Verde, sobretudo a partir da década de 1980: 

E o que acontece depois do Movimento Pró Cultura, nova primavera literária cabo-verdiana, liderada em meados dos anos 80, do século passado, por José Luís Hopffer Almada? Ainda sem estudos consequentes (tanto da academia, como da fortuna crítica), deste Movimento de maior respaldo cultural no período pós Independência, dele resultam alguns dos poetas cabo-verdianos do momento, tais como o próprio Hopffer Almada, Daniel Spinola, Jorge Carlos Fonseca, Filinto Elísio, Mário Lúcio, Valentinous Velhinho, José Vicente Lopes, António de Névada e José Luís Tavares, entre os mais conhecidos. (ELISIO, 2011)

Outra característica da literatura cabo-verdiana fica destacada pela quantidade de obras publicadas no domínio infanto-juvenil, nos últimos anos. Essa produção é assinada por autoras como Dina Salústio, Luísa Queirós, Isabel Ferreira Fátima Bettencourt, Marilene Pereira, Leopoldina Barreto, Hermínia Currado e Misé Costa e outras.

Acreditamos que possamos encerrar este apanhado sobre a literatura cabo-verdiana, ainda que muito exista para ser destacado, pesquisado, e, principalmente, apreciado. Esperamos que este texto possa ter instigado a conhecer um pouco da literatura cabo-verdiana, cujo panorama tentamos delinear. O poeta e ensaísta José Luiz Hopffer Almada percorre em texto publicado em 2011, os caminhos da identidade do país, delineados pela literatura, nos diversos gêneros cultivados por ela. Vale a pena rever o que Almada considera, quase a finalizar o texto:  

Parecem-nos pois cada vez mais acrescidos os desafios aos poetas e demais escritores caboverdianos, inseridos que estão numa ambiência complexa em que são extremamente pregnantes e tendencialmente esmagadoras as solicitações identitárias veiculadas e corporizadas pelo telurismo, de invenção claridosa e recriação nova-largadista, neo-claridosa ou outra de outro teor mais contemporâneo, a par e/ou em contraponto das experimentações, também no domínio literário, de (auto) recriação diaspórica e cosmopolita da sua matriz insular bem como da tentação, sempre livremente assumida, de diluição e dispersão nas águas (des)identitárias e supostamente universalizantes que banham as nossas almas e as suas diferentes máscaras, desde sempre insuladas, e, por isso mesmo, muito propensas ao sonho das evasão para além, e a despeito, da ilha-prisão, dos seus muros reais e imaginados, e da sua ininterrupta sublimação em trilhos de liberdade . (ALMADA, 2011)

Nessa infinita luta entre amores e desafios, a literatura cabo-verdiana se constrói e é, permanentemente, (re)construída. Poeticamente, delineia a arte da escrita, do compromisso e do prazer de decodificar dores, sabores, dissabores e amores em pura poesia e em forte literatura.

O percurso iniciado por uma morna se encerra com um poema de Filinto Elísio:

                      Promessa

Jamais deixarei morrer cá dentro o viés
que transforma esta amargura em poesia.
O grito que me teima, mas que tu guardas
no instante dos sentidos, saberá sempre
em mim como um sopro de vida.
E, se não vou à noite como que vai a maresia,
começaras tu a dissipar a neblina
nos horizontes dos caminhos por andar.
É-nos pouco o tempo, mas naveguemos
Numa alegria sem demora. Diante do mundo,
algo mais do que essa enseada de águas
mansas, não quererá a eternidade sem parte
do abalo ou do desvario. Simplicidade apenas,
de remanso com que as horas são batidas
monocórdicas no relógio. E todos os fados
são universos de cada transeunte.
(ELISIO, 2009)

 

Notas

[1] Vieira Lopes/Kaoberdiano Dambará é uma personali­dade marcante, única da literatura e da advocacia cabo-verdiana. Assina com o pseudônimo poético revolucionário, escritas em fases marcantes da sua vida: Noti (1964), fase de euforia e de engajamento na luta pela independência; e A saída da Crise não é pelo Anteprojecto da Constituição (1980), fase de desencanto e de combate ao regime de partido único instaurado no país com a independência. (BRITO-SEMEDO,2020)  

[2] A Morna é um gênero de música nostálgica, cantada e dançada aos pares em ritmo lento ou moderado, ao som de instrumentos de corda (violão, violino, viola e cavaquinho), típica de Cabo Verde. Originária da Ilha da Boavista, passando depois às outras ilhas, adaptando-se e tomando a feição de cada povo em sua expressão artística. (BRITO,2019)

[3] Dramaturga, conferencista e poeta cabo-verdiana. Teve uma educação refinada, administrada por seu pai, António Pusich, que lhe ensinou as línguas francesa, inglesa, italiana e música. Colaborou, literária e politicamente, em diferentes jornais e revistas literárias lisboetas e participou ativamente em conferências e sessões públicas sobre temas da época. Foi a primeira mulher fundadora, diretora, proprietária, jornalista e redatora de jornais, atividade muito invulgar nessa época para uma mulher, pois escreveu sempre em seu próprio nome (e não com pseudônimo, como era o caso de outras mulheres), uma produção vasta contabilizando artigos, romances, peças teatrais, poesia, música. Disponível em: http://www.lirecapvert.org/antonia-gertrudes-pusich1805-1883.html.

[4] A data de nascimento da poeta é imprecisa, sabemos apenas que foi na Ilha Brava e seu falecimento em 1893. Considerada a primeira poetisa cabo-verdiana, mantém o pensamento comum pela participação no periódico Almanach de lembranças luso-brasileiro no qual aparentemente publicou vários textos sob o pseudônimo de "Africana" de 1883 a 1890, mas ainda mais por ter sido um dos “mentores” do escritor Eugénio Tavares, iniciando-o na poesia. Disponível em: < http://www.lirecapvert.org/maria-luisa-de-sena-barcelosalias-lafricana-1893.html>

[5] Humilde Camponeza ou Obscura Paulense, como muitos autores do primeiro período da literatura cabo-verdiana, quase nada se sabe sobre a vida de Gertrude Ferreira Lima. A maior parte da informação provém do anúncio de Nuno Catharino Cardoso publicado no seu livro Poetisas portuguesas. Só sabemos que Gertrude Ferreira Lima nasceu na ilha de Santo Antão, no Vale do Paul, que estudou no Colégio das Ursulinas de Coimbra, em Portugal, e que posteriormente, escreve de poesia, provavelmente residindo em Lisboa. Disponível em: http://www.lirecapvert.org/gertrude-ferreira-limaalias-humilde-camponeza-ou-obscura-paulense-1915.html#A7Gjn5ZU

[6] Poucas informações são obtidas sobre a poeta. Segundo a pesquisadora Simone Caputo Gomes: “[...]pode-se verificar que as poetas acima elencadas são praticamente desconhecidas da crítica, mulheres invisíveis em seu labor, que merecem uma pesquisa aprofundada da significação de seus textos e de suas intervenções na formação da Literatura Cabo-verdiana e na constituição de seu cânone. Na geração do Suplemento Cultural, Sílvia Crato Monteiro também não é referida pela crítica, apenas Yolanda Morazzo.” Disponível em : https://revistas.ufrj.br/index.php/mulemba/article/view/31265/17912 

[7] (1927 - 2009) Yolanda Morazzo Lopes da Silva Cruz Ferreira, ou Yolanda Morazzo. Contribuiu para várias críticas cabo-verdianas, angolanas e portuguesas, tendo em 1976 publicado uma primeira colecção de poesia: Cântico de ferro: poesia de intervenção. Trinta anos depois, apareceu uma segunda coleção intitulada Poesia completa 1954-2004.  Embora o sua produção seja pequena em quantidade a escritora goza de grande notoriedade, em particular por ser uma das raras poetisas do período pré-independência. Disponível em: http://www.lirecapvert.org/yolanda-morazzo1927-2009.html#SNJFy6Wi.

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[i] Roberta Maria Ferreira Alves é professora da Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM. Doutora em Letras – Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC Minas, com Estágio Pós-doutoral também em Literaturas de Língua Portuguesa pela mesma Instituição. Coordenadora do Grupo de Estudo Estéticas Diaspóricas (GEED). Coorganizadora com Wellington Marçal de Carvalho do livro: Deslocamentos Estéticos (2020) e integrante da Comissão editorial do literÁfricas.

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