A gramática plural de Patraquim1

Gustavo Henrique Rückert*

 

Inicio estas reflexões com um provocativo conceito de língua apresentado pelo historiador indiano Dipesh Chakrabarty (1992, p. 22) em A pós colonialidade e o artifício da história: “uma língua é um dialeto respaldado por um exército”. Nesse sentido, a diferença entre os conceitos de língua e dialeto é menos científica que política. A partir dessa constatação, é possível refletir: quem define quais são as línguas (normas) e quais são seus dialetos (variantes ou desvios da norma)? A poética definição de Chakrabarty revela que, para o estabelecimento das línguas a partir do projeto de Estado-Nação moderno, é necessário, antes de mais nada, um projeto de homogeneização, ou seja, de apagamento das diferenças.

No que diz respeito a Moçambique, há de se considerar um território com uma vasta história de heterogeneidade linguística. Mesmo que boa parte das línguas locais esteja relacionada ao tronco linguístico bantu, é importante considerar a imensa pluralidade dessas línguas: são 41 no país.1 Oficialmente, a essas línguas, soma-se o português e a língua de sinais. No entanto, para além das 43 línguas oficiais, é possível pensar na influência de outros idiomas.

Cinco séculos antes da chegada de Vasco da Gama em Moçambique, já havia um intenso fluxo comercial, político e migratório de povos de origem árabe no local. Portanto, desde dez séculos há uma importante influência deste outro grupo linguístico na oralidade e na escrita moçambicanas (cujo nome, inclusive, é de origem árabe). Historicamente, povos oriundos da Índia também apresentaram constantes migrações para o território moçambicano, estando suas línguas presentes, de maneira reduzida, no cotidiano por meio de mantras e outras formas orais.

Isso sem mencionar a influência das línguas inglesa e francesa, presentes em países vizinhos com intenso fluxo cultural e migratório.

Pensar Moçambique é, portanto, pensar em uma realidade linguística plural, híbrida e dinâmica. É essa mobilidade de línguas e culturas que o projeto colonial buscou homogeneizar em torno da língua portuguesa. Daí a importância da reflexão de Chakrabarty, a qual alinha língua e política, para nos revelar as estratégias de dominação, silenciamento ou apagamento de sujeitos subalternos do ponto de vista do poder imposto pela metrópole e de sua hegemonia cultural. Atualmente, apenas 3% da população moçambicana é falante de português como língua materna, estando a maioria concentrada nas áreas urbanas (Cf. LOPES, 2006, p. 37). Ou seja, é necessário considerarmos que a política centralizadora do colonialismo marginalizou a maior parte das populações locais em suas formas de estruturar linguisticamente o mundo.

Escrever em Moçambique, portanto, é assumir uma posição frente a este paradoxo: um dos países com maior diversidade linguística é, ao mesmo tempo, um dos países onde a diferença linguística foi mais atacada ao longo de sua história.

Tendo essa complexidade com que lidar, a poesia moçambicana adotou diferentes caminhos. Nesse sentido, pode-se falar em duas principais vertentes poéticas do país: uma mais telúrica, a qual evidencia a forte relação entre os sujeitos, principalmente negros, e a terra local por meio da tradição; outra mais deslizante, baseada nos fluxos marítimos e no contato entre as culturas bantu, portuguesa e orientais. A pesquisadora Ana Mafalda Leite chamou a atenção para a importância dos elementos essenciais nessas duas linhagens, estando a primeira relacionada ao fogo e à terra; e a segunda, à água e ao ar:

A poesia moçambicana tem vindo a produzir configurações diversificadas da ideia de nação, em que os elementos, como a água e o ar, a terra e o fogo, se revelam fundamentais para a constituição de imagens evocadoras e simbolizadoras de conceitos, em expansão, como os de casa-pátria-líquida, e de casa-pátria-aérea, coadjuvantes das imagens, mais óbvias e terrestres, do tellus, por vezes enseivado, de um tônus nativista. (LEITE, 2012, p. 297)

A poética da terra e do fogo teve especial importância na luta anticolonial ao evidenciar o corpo negro em sua territorialidade, situado no espaço ancestral africano, como materialidade da resistência ao colonialismo. Por meio de nomes como Noémia de Souza e, principalmente, José Craveirinha, essa linhagem poética tornou-se símbolo nacional sob o projeto de nação da FRELIMO.

Luís Carlos Patraquim, jornalista moçambicano refugiado na Suécia durante a Guerra de Independência, inicia sua produção poética na década de 1980, após ter retornado ao país. Com a recente independência, a FRELIMO torna-se partido único e dá andamento a seu projeto de nação. A pluralidade torna-se então um obstáculo à moçambicanidade pretendida, passando a ser combatida. De acordo com o próprio poeta,

O primeiro fato pós-25 de junho é a proclamação não só da independência, mas do Partido/Estado como sujeito em que se diluem todas as outras identidades, memórias, interesses, e mesmo a produção autônoma ou sua continuação, de simbologias próprias. (PATRAQUIM, 2019, p. 52)

Dessa forma, o projeto poético de Patraquim volta-se ao resgate dessas identidades, memórias e interesses os quais passam a ser subalternos no projeto nacional moçambicano. Em suas palavras, concebe o poema como o concebe Helberto Helder, como uma “clandestinidade na ditadura do mundo” (Ibid). Isso só seria possível ao investir naquilo que chama de uma “gramática plural” (Ibid.). Essa gramática contra-hegemônica estaria em uma tradição poética outra, pautada pelos fluxos linguísticos e culturais tão característicos da história moçambicana – e já havia sido evidenciada nos versos de nomes como Campos de Oliveira, Reinaldo Ferreira, Virgílio de Lemos, Rui Knopfli, Glória de Sant’anna, entre outros. Trata-se de uma poética da água e do ar, utilizando os termos de Mafalda Leite, a qual encontrou no Oceano Índico seu símbolo principal. Para a pesquisadora (2018, p. 115), trata-se de uma “constelação poética de matriz particular, que exprime a saga do desencontro de várias civilizações, a bantu, a europeia, a árabe, a javanesa, a indiana”.

Em oposição à territorialidade, ao telurismo e à tradição que prevalecem na terra, o Oceano Índico, com seus intensos fluxos culturais, é reivindicado como imagem de uma cultura moçambicana que extrapola mesmo Moçambique, na confluência dos elementos culturais das civilizações que se misturam às suas águas. Assim, o negro dá lugar ao mestiço, a terra dá lugar ao mar, o território ao deslocamento, a fixidez ao fluxo, o tradicional ao moderno.

Patraquim insere-se, portanto, em uma poética do Índico a fim de lutar contra a homogeneidade, sendo esta a grande “ditadura do mundo”. Os próprios títulos de suas obras já demonstram sua indicidade, ressaltando elementos do universo marítimo e/ou transitórios, fugazes, migrantes: Monção, Inadiável viagem, Vinte e tal novas formulações e uma elegia carnívora, Mariscando luas, Lindeburgo blues, Um cão na margem, entre outros.

O osso côncavo”, um dos mais conhecidos poemas de sua autoria, evidencia os aspectos índicos mencionados anteriormente ao utilizar a metáfora do osso para definir a linguagem como elemento de confluência o qual escapa às formas geométricas:

à Ivone Ralha

 

Ó ímpeto do Espírito,
radícula que o vento despenteia e o músculo imprime
travejado por dentro!

 

Ó longilínea dilatação do tempo,
barca oblonga onde nascem os rios, lentos,
adornando seu plasma na noite!

 

Da tua anca de água negra, das cavernas
soltas  no dorso do abismo,
é que te escarvo, osso côncavo,
a fauce rilhando de te lancetar a carne inútil,
o gume da estraçalhada língua, o sibilante enigma,
a curva suspensa e a sombra eléctrica,
ó força, ó inominado!

 

E de te ver!

 

Nem linha elíptica, tu a combinatória do que persiste
no desvão das palavras, quando ingénuas convocam
a eternidade, e nem trave rectilínea ou frontispício,
ou ensanguentada testa de fauno,
tu que só aceitas o esterno e o ilíaco
e a lava que se derrama dos pulmões furiosos;

 

E concebeste o indizível! Como dizer o que há no vazio
em riste dessa curvatura, oscilante eco sem memória
de ventre onde nem a águia se atreve ao vôo
e a serpente se desenrola até à evaginação de si?

 

Não te nomeio. Caminho. E o plano se inclina, grave,
ondulantemente terrível. Névoa ou pele ou pano,
já às raízes se contraem e pulsam, odoríferas, húmidas,
um enxamear de deuses espargindo a poeira;

 

E tu, intacto, flutuante onde ninguém te disse
e a palavra se acoita, espasmódica,
fetal. Seu silêncio enformando-o, ao osso,
côncavo.
(PATRAQUIM, 2008, p. 153-154)

O osso cuja imagem serve para a reflexão autorreferencial não é um osso retilíneo, e sim um osso côncavo. Assim, a poesia faz-se “combinatória do que persiste no desvão das palavras”, imprevisível, inominável, imparável em seu caminho, como vento, rio, lava, névoa ou outras imagens fluidas utilizadas no poema. Essa mesma ausência de caminhos definidos encontra-se no próprio uso da linguagem pelo poeta, que por meio da combinação de elementos imagéticos inusitados, da musicalidade irregular, porém pulsante, alternando entre a violência e o erotismo, também apresenta um lirismo líquido. De acordo com Ana Mafalda Leite (2008, p. 169), “a sintaxe [em Patraquim] parece entrar em delírio, como que expõe uma língua autopsiada, desmembrada, num monólogo, em que se torna óbvia a agressividade lexical”.

Essa língua autopsiada ou desmembrada apresenta ao longo de sua obra fragmentos das mais distintas tradições e culturas, de Rimbaud a Craveirinha, de Eliot a Arménio Vieira, de Whitman a Drummond, de Maiakovski a Borges. Nesse sentido, um símbolo recorrente em sua poética (assim como em outros poetas do Índico) é a Ilha de Moçambique. A ilha apresenta uma posição singular no espaço nacional moçambicano, pois está dentro do país ao mesmo tempo em que está fora. É o espaço cujo nome deu nome a toda nação, ao mesmo tempo em que é o espaço mais estrangeiro da nação. É onde convergem historicamente distintas culturas índicas, trazidas e levadas pelas águas do mar. Daí sua importância, como ressalta Leite (2018, p. 115), enquanto espaço de negociação identitária:

A cenografia pós-colonial, ou o topos de que a Ilha, e as ilhas do Índico, são emblema e representação, mostram que há uma tentativa de partilha e de conciliação de universos textuais (oral/escrito), culturais e simbólicos diferentes, em que a polifonia, a arte combinatória e a relação em ponte, união e desunião, são reveladoras de uma rica e dramática interacção cultural.

Essa interação cultural polifônica, combinatória e relacional, a partir da insularidade, é visível em diversos poemas da obra de Patraquim. Contudo, em Outra mesma ilha (2008, p. 138-139), é tematizada de maneira mais explícita:

Para o Eduardo White e o Mia Couto

 

Era em ti que o nome dormia e te inventaram
Pé ante-verso chegados pelo chuá nocturno das palmeiras
E a tesão do beijo demoníaco;
E pela máscara, mais do que a pachacha histórica, ó Rui,
anti-lírico envergonhado, agitando, ao de leve
a terra desolada on the rocks;
Era pelo som e a lívida melancolia esparramada
Em séculos de foda, o corpo deitado e o incansável mar
Amarante sempre erecto, lambendo-o, ao cunus dadivoso
Por uma aguada de viajante e putanheiro; impaludados de livros
E da poeira do continente; as tribos que já nos sobravam
Da pele e nós nhocas e sem escamas e incolores;

Ou não era, Jorge, pelo Luís Zarolho, e que cena a tua
A imaginá-lo cagando-se sobre as rochas, de costas para
A fortaleza tão de nome santo e sofrido?
E pelo Zé, com a palavra macúti a entrelaçar farfalhantes
Mini-saias para as tombazanas do bairro, lá mais abaixo
Onde um centro pulsante e húmido era a entrada
Para o labirinto da Ilha;
Era por ele, esse próspero Caliban a assenhorar-se do seu reino
E abri-lhe as pernas até ao coiso, sem a liturgia dos poetas
Que o regam com sumo dos frutos túrgidos, aquecidos
Ao sol da espera e um Virgílio na pastoral da distância;
Ou não era, Orlando discreto e infurioso, Alberto de diásporas e perfumes
Soltos?
E por Muaziza, a secreta, com seu sangue lustral
Ainda regando de sinais o canto onde o silêncio começa
E uma lua, cíclica e inútil, eriça a púbis do teu delírio, Eduardo,
Quando se contorcem as radículas das palmeiras
E um sura de séculos entontece o perfil leproso das casas?
Ou não era por ti, Muhípiti, e pelo outro nome,
Que nem é preciso dizer e trazemos nos bolsos
Como um templo incendiado?

A dedicatória do poema, a White e a Couto, demonstra sua inserção em uma tradição poética da ilha. Se os dois homenageados são contemporâneos de Patraquim que também levam o imaginário da ilha para seus textos, há a referência a Rui Knopfli, o qual na geração anterior consagrou o espaço em A ilha de Próspero. Assim, a confluência de águas revela-se também confluência de tempos, e com estes de memórias, memórias bantu, árabes, portuguesas, indianas. Ao falar sobre o Oceano Índico enquanto espaço literário, no prefácio de Índicos indícios, o escritor João Paulo Borges Coelho (2005, p. 9) chama a atenção para a imensidão não só marítima, mas “de histórias que têm alimentado no imaginário do presente e ao longo do tanto tempo que passou”.

Daí o título ressaltar que a ilha é outra e mesma. Na subversão temporal proposta pelo poema, imagens do passado e do presente são recuperadas e deslocadas para serem colocadas lado a lado, resultando em um sentido plural para o espaço. As imagens evocadas passam por Ariosto, Shakespeare, Camões, mas também Craveirinha, White e Couto, nomeiam as rochas em inglês ao mesmo passo em que trazem a tradição local das máscaras, definem a ilha como de Próspero e também como Muhípiti. Francisco Noa (2017) considera que em Patraquim o lugar-ilha surge como um centro irradiador da própria poesia. Acrescentamos que é centro irradiador de uma poesia de tensionamento, subversiva, a qual invoca diferentes tradições para não se fixar a nenhuma, mantendo-se em movimento como as águas índicas.

Se é por meio da linguagem que compreendemos e representamos a realidade, a pluralidade linguística só tende a ampliar o nosso mundo. No reverso, os exércitos (impérios, estados, gramáticas) buscam diminuir nossa liberdade de falar, pensar, conceber. No episódio bíblico de Babel, a pluralidade linguística é um castigo. Para João de Barros, segundo gramático da língua portuguesa, a língua portuguesa seria a dádiva da empreitada colonial2. Na contramão de tudo isso, os poetas se apropriam de uma língua para enunciá-la de maneira própria, peculiar, mais livre. Dessa forma, afastando-se dos exércitos, enunciam novas maneiras de interpretar a realidade.

Daí a importância fundamental de um Patraquim, que em meio a um projeto nacionalista pós-independência, traz-nos novos mundos em português, um português que não é aquele da colonização, mas um português patraquínico, que carrega sua alquimia peculiar ao dialogar com o português de Ferreira, de Lemos e de Knopfli, mas também com o português de um Craveirinha e de uma Noémia, ou ainda com o francês de um Rimbaud e o inglês de um Eliot, um árabe do corão e o sânscrito de chacras de mantras. Trata-se de um português com uma sintaxe delirante e fluida, que lembra o ritmo das águas índicas, um português coloquial e repleto de referências literárias, que lembra as máscaras tradicionais moçambicanas, como a máscara Nyau, do Tete, mas também as metrópoles urbanas e o blues espalhado pelos lamentos nos subúrbios do mundo.

É como se tudo isso integrasse as águas que correm para o oceano, como na belíssima “Elegia do Nilo” (2008, p. 161-162), que não à toa evoca o tradicional rio do Egito, país também tradicional do lado leste do continente africano, para em suas águas fazer correr os mais variados elementos culturais:

à Odete e ao Amioto

 

Azul e branco e o deus crocodilo na margem
Diante das ruínas de Karnak,
como sobes, visto daqui, das águas obscuras 
Onde Ogum verteu suas lágrimas e cantou
O sulco vindouro, persistente e duro caminhante
De sul para norte sobre as areias, rasgando a volúvel pele
Dos deuses.

 

Reis e templos, em tuas margens ordenaram o mundo
Entre cada ciclo solar, suspensos do fim;
E louvo a cidade dos que partiram, o fluxo da pedra
que ainda sustém a geometria do eterno
emergindo da tua indiferença; Tu, que escondes os gatos
imóveis e os sabes para sempre espíritos soltos, eriçados; e te deleitas,
vendo-os na ronda dos desenhos enigmáticos, anichando-se junto aos
Sarcófagos que extrapolam de Ti, como se o teu leito derramado
Tivesse soerguido, da solidão granular, o perfil oblongo
Da cabeça de Nefertiti e Te espojasses na beleza efémera 
Dos esponsais da Carne;

 

Ó matéria perecível que as ânforas guardam, aguardam,
Nós que perdemos o divino selo das libações inaugurais e salmodiamos,
No medo litúrgico da palavra esquecida, o simulacro do Livro
E a salvação dos mortos; 
O que subia deles, extirpadas as vísceras, iluminados pelo ouro e a água
De que eras a substância!

 

Desceram as noites e o desmundo bebeu nas tuas margens
Enquanto Tu cantavas e era de ti o canto
Moldando a forma, lacerando as cidades e erguendo-as,
Com nossos pés descalços sobre a erva, acocorados
E breves, uma inscrição de sangue diluindo-se
Até ao mar.

Patraquim rasga a volúvel fronteira da pele do poema, compondo uma rede de referências para além dos limites entre Ocidente e Oriente, Europa e África, modernidade e tradição – como nas águas do seu Nilo por onde correm desde lágrimas de Ogum a seus versos modernos, passando, é claro, pelas referências mitológicas do Egito Antigo. Seus versos, líquidos, como sangue inscrito no rio, correm em direção ao mar. E, se a linguagem formula a nossa compreensão da realidade, para conhecer o mundo é preciso navegar para além das fronteiras, permitir-se o fluxo violento e belo, imprevisível e rítmico, que só as correntes marítimas do oceano são capazes de proporcionar.

Nesse sentido, a apropriação da língua portuguesa em formulação índica por Patraquim é capaz de nos libertar das fronteiras, dos exércitos, das gramáticas, das polícias do sentido, para assim nos permitir a liberdade do desejo, do delírio, do sonho, da navegação, do significante, do mar, da poesia. Essa liberdade líquida de dizer a partir de uma gramática plural é a clandestinidade que Patraquim escreve na ditadura do mundo, revelado a partir de versos-rios, inscritos nas margens de suas veias, que correm em direção ao Mar Índico.

Notas

1 Texto originalmente publicado como capítulo do livro organizado por Sávio Roberto Freitas e Vanessa Riambau Pinheiro, intitulado Dos percursos pelas Áfricas: a literatura de Moçambique (João Pessoa: Editora UFPB, 2020, p. 118-131).

2 De acordo com o linguista Armando Jorge Lopes (2015), Moçambique é um país com elevada diversidade linguística média. Tal classificação dá-se em relação ao percentual de falantes de uma língua majoritária. Quanto menor esse percentual, maior diversidade. No caso, o Emakhuwa representa 25% da população total.

3 “As ármas e padrões portugueses, póstos em África e em Ásia, e em tantas mil ilhas fóra da repartiçám das três pártes da térra, materiáes sam, e póde-âs o tempo gastár, péro nam gastará doutrina, costumes, linguágem, que os portugueses néstas térras leixárem” (João de Barros em sua em justificativa à sua Grammatica da Língua Portuguesa, de 1540).

Referências

CHAKRABARTY, Dipesh. Postcoloniality and the artifice of History: who speaks for "Indian" pasts? In: Representations, No. 37, Winter, 1992.

COELHO, João Paulo Borges. Índicos indícios I: Setentrião. Lisboa: Editorial Caminho, 2005.

LOPES, Armando Jorge. Políticas linguísticas: terra de ninguém, terra de todos. Notas a partir de um posto de observação moçambicano. In.: MARTINS, José de Lemos. Lusofonia e interculturalidade: promessa e travessia. Vila Nova de Famalicão: Edições Húmus, 2015.

______. Reflexões sobre a situação linguística de Moçambique. In: CHAVES, Rita; MACEDO, Tânia (orgs.). Marcas da diferença: as literaturas africanas de língua portuguesa. São Paulo: Alameda, 2006.

LEITE, Ana Mafalda. A poesia de Luís Carlos Patraquim. In.: PATRAQUIM, Luís Carlos. O osso côncavo e outros poemas. São Paulo: Escrituras, 2008.

______. Outras cenografias: as ilhas como lugar de negociação identitária na literatura moçambicana. In.: ______. Cenografias pós-coloniais & estudos sobre literatura moçambicana. Lisboa: Edições Colibri, 2018.

______. Poéticas do imaginário elemental na poesia moçambicana – entre mar... e céu. In.: ______. Oralidades & escritas pós-coloniais: estudos sobre literaturas africanas. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2013.

NOA, Francisco. Uns e outros na literatura moçambicana. São Paulo: Kapulana, 2017.

PATRAQUIM, Luís Carlos. Moçambique: do cinema à literatura – sequências de um filme em progressão. In.: SECCO, Carmen Tindó; LEITE, Ana Mafalda; PATRAQUIM, Luís Carlos. CineGrafias moçambicanas: memórias & crônicas & ensaios. São Paulo: Kapulana, 2019.

______. O osso côncavo e outros poemas. São Paulo: Escrituras, 2008.

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* Gustavo Henrique Rückert é Professor Adjunto de Literaturas em Língua Portuguesa na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde atua nos cursos de Graduação em Letras e Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas. É vice-presidente (2019-2022) da Associação Internacional de Estudos Literários e Culturais Africanos (AFROLIC). É vice-coordenador do Grupo de Estudos em Literatura, Arte e Cultura (UFVJM/CNPq).  Seu principal interesse de pesquisa envolve as relações entre literaturas contemporâneas de língua portuguesa e pós-colonialismo.

 

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