O mar, o rio e a maternidade na poesia de Alda Lara1

Sávio Roberto Fonseca de Freitas (UFPB)*

Resumo

O objetivo deste artigo é desenvolver uma análise da poesia de Alda Lara, mostrando como as metáforas do mar, do rio e da maternidade corroboram como o trânsito poético da escrita de autoria feminina em consonância com o movimento da angolanidade mesmo que em territórios de ubiquidade, uma vez que Angola e Portugal funcionam como espaço de reflexão da referida escritora angolana.

Palavras-chave: Poesia, Angolanidade, Escrita de Autoria Feminina.

Abstract

The aim of this article is to develop an analysis of Alda Lara's poetry, showing how the metaphors of the sea, the river and motherhood corroborate how the poetic transit of writing by women in line with the movement of angolanity even in ubiquitous territories, since Angola and Portugal act as a space for reflection by the referred Angolan writer.

Keywords: Poetry, Angolanity, Writing by Female Authors.

Primeiras colocações 

Escrever sobre a poesia de Alda Lara é também se aventurar nas trilhas poéticas propostas por esta escritora angolana que faz do exercício poético uma forma de tornar vivo todo um saudosismo militante que se organiza por meio de palavras construídas sob uma forma de territorialização poética de uma Angola que se descobre por meio de uma voz política posicionada no lugar da mulher:

Na sua poesia, a mulher é sempre sujeito ou figura poética e na tematização do homem oprimido, Alda Lara concentra na mulher as direcções do sonho de libertação nos anos 50-60. E o sonho é portador de extrema esperança, mas e aí reside a diferença com a maior parte da poesia dos seus contemporâneos, nutrindo-se de ideais intemporais e universais como justiça, fraternidade/solidariedade, amor e paz, vão além da construção da nação... A força desse sonho percorre a sua poesia, em cuja enunciação discursiva não há espaço para as contradições e as aspirações de sentir individual. (MATA, 2001, p.109-110).2

Como coloca Inocência Mata (2001, p. 109) na poesia de Alda Lara “ a mulher é sempre um sujeito”, ou seja, em sua poesia a voz poética ativamente assume um protagonismo feminino conciliado com temas que recorrem aos dilemas das mulheres. Em direção a este posicionamento o mar, o rio e a maternidade se colocam como temas em que Alda Lara poetiza o contrato de maternidade com uma áfrica angolana. Um contrato de filiação e solidariedade que se gesta por águas metaforizadas pelo mar e pelo rio.

Nossa análise se concentra em três poemas presentes na antologia intitulada Poemas (1984)3: a saber: Abandono, Apelo e Maternidade, poemas que compõem o Livro Primeiro da referida antologia. Esta antologia é póstuma e foi editada pela primeira vez em 1966 e depois em 1984, quando a esta antologia foram acrescentados cinco poemas inéditos. Esta antologia foi organizada pelo marido e também escritor Orlando Albuquerque que, ao contrário de nós leitores, possuiu um contato laboratorial com Alda Lara. Laboratorial no sentido de acompanhar o processo de escrita de Alda Lara e viver o dilema de não saber o que realmente publicar. Fato feliz é que angústia de Orlando Albuquerque se rende à generosidade de publicar todos os poemas e deixar que a crítica se encarregue de ler julgar. Estas informações estão disponíveis em um acanhado prefácio intitulado sabiamente Explicação necessária, publicado na antologia Poemas (1984).

Do mar como percurso... 

Para iniciarmos nossa análise sobre o exercício poético de Alda Lara, escolhemos o poema Abandono (LARA, 1984, p. 11): 

Não ices as velas, marinheiro!
Não vires o leme!
Não lutes sequer...
(Para quê, lutar?)
Deixa-te ir, como o mar,
ao sabor
das marés de um dia...
como corpo a rescender
a maresia...
o olhar embriagado de luz
e a alma,
embrulhada em algas,
a flutuar...
Deixa-te ir!...
 

E se a tormenta te quebra
os mastros,
e te esfarrapar
as velas,
e não parar
de rugir,
não grites!
Não tenhas medo!...
Nas noites-segredo do mundo,
verás como é belo,
dormir tão vestido
de vento e luar...
Deixa-te ir marinheiro!
Deixa-te ir como o mar...
Sereno e perdido
na paz
sem recurso
do mar....
 

Este poema inicia o Livro Primeiro da antologia.  A voz poética de Alda Lara se personifica na conduta do marinheiro, figura que vive o dilema de conviver com as instabilidades marítimas. O mar se torna a grande testemunha das insatisfações da  inconsciência do que estar por vir. O poema possui duas estrofes como se fosse a metaforização das direções que os olhos de um marinheiro focaliza, principalmente no que diz respeito à vontade natural dos mares. Como afirma Chevalier e Gheerbrant (2006, p.592)4 o mar é:

O símbolo da dinâmica da vida. Tudo sai do mar e retorna a ele: lugar dos nascimentos, das transformações, e dos renascimentos. Águas em movimento, o mar simboliza o estado transitório entre as possibilidades ainda informes as realidades configuradas, uma situação de ambivalência, que é a da incerteza, de dúvida, de indecisão, e que pode concluir bem ou mal. Vem daí que o mar é ao mesmo tempo a imagem da vida e da morte. (CHEVALIER;GHEERBRANT: 2006, p.592).

 

Na certeza de que o mar é que move o trânsito poético neste poema5. Percebe-se logo na primeira estrofe que o eu-poético é refém da vontade do mar: Não ices as velas, marinheiro!/Não vires o leme!?/ Não lutes sequer/ (Para quê, lutar?)/ Deixa-te ir, como o mar... A navegação aqui retoma um dilema poético reconhecidamente pessoano: “Navegar é preciso”, uma navegação que se faz pelas sensações das palavras que aqui se organizam pelo balanço do mar. A repetição anafórica “ Deixa-te ir”, construída foneticamente pela coliteração /t/ e /d/ confirmando no poema o som do balanço, reproduz possivelmente um diálogo poético de vozes insatisfeitas pelas insuficientes respostas dadas pela dúvida, deixando o corpo naufragar com os  sabores do mar: ao sabor das marés de um dia.../de um corpo a rescender/ a maresia.../o olhar embriagado de luz/ e alma,/ embrulhada em algas,/ a flutuar.../ Deixa-te ir!... A sinestesia desgastante da maresia da um tom insalubre neste poema que nos remete a um mergulho interior,  ao lugar do surgimento ou do nascimento como quer Chevalier e Gheerbrant (2006, p.592) em sua proposição simbólica relativa ao mar. O marinheiro nos conduz a uma viagem sem destino onde a ordem é movida por fluxos (in) conscientes de uma voz poética que o manda seguir. O poema mostra um amadurecimento literário de Alda Lara encontrado em poucos poetas que a circulam dentro de sua temporalidade, como por exemplo o Ernesto Lara Filho, seu irmão; e o consagrado Agostinho Neto, ambos poetas angolanos que fazem de sua poesia uma forma peculiar de se descobrir Angola.

Mas ainda ao gosto pessoano6, vemos que a insalubridade marítima é mais uma  recorrência que Alda Lara faz ao poeta português Fernando Pessoa, precisamente  em seu poema Mar Português (PESSOA: 1985, p.159) : Ó mar salgado, quanto do teu sal/ são lágrimas de Portugal! A sensação insalubridade associada à dor é vista ainda na primeira estrofe do poema Abandono, quando o eu-poético se utiliza de termos como: corpo a rescender a maresia, olhar embriagado de luz, alma embrulhada em algas. Oportuno é lembrar que este poema inicia a coletânea, ou seja, a primeira poesia que abre as portas das representações mais secretas de Alda Lara, que de tantos trânsitos provocados pela sua carreira na Medicina, usou a palavra com um curativo para as dores da alma que mesmo embrulhada no sabor inóspito das algas flutua sob o fluxo da poesia.

Na segunda estrofe do poema em análise, percebe-se que eu-poético conduz o marinheiro, tal como o barqueiro Caronte, para uma viagem ao ad infinitum. Mas uma vez, vemos que a poesia pessoana se faz presente nos versos de Alda Lara. Quando eu-poético pessoano diz “Valeu a pena? Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena.” (PESSOA: 1985, p.159), considera-se que alma é uma parte que habita o corpo humano e o move para lugares só possíveis em estados de poesia. Nos versos “ E se a tormenta te quebra/ os mastros,/ e te esfarrapar as velas/ e não parar/ de rugir,/ não grites! Não tenhas medo!... fica configurada a metáfora das tempestades interiores que desterretorializam a alma flutuante ensaiada na primeira estrofe, o eu-poético assume a função de farol neste instante metapoético da palavra que dos versos citados trilham os caminhos que devemos seguir para que de algum possamos começar uma viagem sob a ordem poética de Alda Lara: uma poesia que se constrói em função de várias instabilidades sensoriais: Nas noites-segredo do mundo,/ Verás como é belo,/ dormir tão vestido/ de vento e luar.../ Deixa-te ir marinheiro!/ Deixa-te ir como o mar.../ Sereno e perdido/ na paz/ sem recurso/ do mar... Segue o marinheiro, tal qual nós leitores deste poema, uma viagem para mundo de introspecção densamente marítima, refém de chaves poéticas jogadas ao mar: único interlocutor e testemunha deste canto poético de Alda Lara.

Do rio como corrente... 

Seguindo o fluxo das águas, nossa análise sobre o exercício poético de Alda Lara mergulha agora em correntes fluviais, para esta empreitada escolhemos uma embarcação em forma de poema, cujo o título é  Apelo (LARA, 1984, p. 21):

 

Na outra margem do rio,
(e eu vejo-a!)
há campos verdes de esperança,
abandonados ao calor de um sol eterno...
Na outra margem do rio,
onde não chega o inverno,
há campos ondulantes de searas maduras,
para os pobres matarem nelas
todas as fomes do mundo...
Na outra margem,
tudo se começa de novo
e não há dias passados
que amargurem os desgraçados...
Não há dinheiro,
E os homens dão-se as mãos,
que pelo dia inteiro
ouvi as canções que os seus lábios entoaram...
 

Nem raivas mal contidas,...
nem agonias perdidas,
nem dor...
que na outra margem do rio,
há Amor...
...................................................................
E entre mim, e a outra margem,
esta terrível viagem.
Este rio caudaloso, imundo,
sujo de todos os calhaus,
que nele vomitou o mundo...
Entre mim e a outra margem,
o rio...
 

Ah! barqueiro...
Por que tardas?
Não vês que faz frio?...
Espero, mas desfaleço...
Não tardes mais barqueiro
Não tardes!...
Que é tão longe ainda
a outra margem do rio...}
 

Propondo-nos mais um mergulho instrospectivo, o poesia de Alda Lara, através do poema acima, traz um rio criado a partir de  uma perspectiva simbólica de passagem da vida para a morte, como pontua Chevalier e Gheerbrant (2006, p.780).

O simbolismo do rio e do fluir de suas águas é, ao mesmo tempo, o da possibilidade universal e o da fluidez das formas, o da morte e da renovação. O curso das águas é a corrente da vida e da morte. Em relação ao rio, pode-se considerar: a descida da corrente em direção ao oceano, o remontar do curso das águas, ou a travessia de uma margem à outra. (CHEVALIER; GHEERBRANT: 2006, p.780)

No poema Apelo, o eu-poético situa-se hipoteticamente na margem de um rio sugerindo o domínio da focalização das duas margens: a da voz poética e a do outro lado do rio. O rio fica entre as duas focalizações, o que justifica as três estrofes do poema. Um dado importante a se observar, é que todos os poemas da coletânea possuem título. Esta estratégia estética de Alda Lara sugere um caminho possível de unidade temática que pode funcionar como chave interpretativa provisória para os poemas. Este recurso é comum à  escrita de autoria feminina em países africanos de língua portuguesa, uma vez que observamos este mesmo exercício em poemas de Noémia de Sousa, Alda Espírito Santo, Paula Tavares, Amália Dalomba, para citar alguns nomes.

O rio é colocado no poema em uma perspectiva heráclitica que sugere muitos mergulhos, sendo cada um com uma sinestesia discrepante. Vamos considerar a sugestão simbólica de Chevalier e Gheerbrant (2006, p.780) no que diz respeito “a travessia de uma margem à outra”. Na primeira estrofe, ou seja, o lado primeiro da margem, o eu-poético vislumbra um lado oposto ao que se encontra, onde “há campos verdes de esperança/ abandonados ao calor de um sol eterno”. Esta passagem nos rememora o poema Confiança de Agostinho Neto[7] que se inicia da seguinte forma: O oceano separou-me de mim/  enquanto me fui esquecendo nos séculos/ e eis-me presente/ reunindo em mim o espaço /condensando o tempo (NETO: 1974, p. 67). Alda Lara recorre ao mesmo exercício poético de Agostinho Neto no que se refere à instrospecção movida pelas águas, sendo no poema Apelo o rio o elemento líquido que movimenta as sensações espaciais desta voz poética que se dividida entre a vida e a morte: sensação muito comum aos poetas que fizeram de sua poesia um locus de reflexão e resistência frente a uma colonização que os foi distanciando das raízes mais profundas de sua territorialidade.

Da primeira margem proposta pelo eu-poético, a mensagem de esperança se enumera na primeira estrofe por meio dos versos: há campos ondulantes de searas maduras,/ para os pobres matarem nelas/ todas as fomes do mundo/... tudo se começa de novo/ e já não há dias passados/ que amargurem os desgraçados.../ Não há dinheiro,/ E os homens dão- se as mãos... Desta margem, como afirma o eu-poético ( e eu vejo-a!) impera o mergulho da esperança, da prosperidade, da bonança, da humanidade, da solidariedade, do amor, da fraternidade.  O poema sugere uma mensagem que valoriza os ideais de movimento que ficou conhecido como Vamos Descobrir Angola. Movimento liderado por intelectuais angolanos que propunham a libertação nacional em todas as esferas possíveis em relação à colonização portuguesa. Nesse sentido, a travessia de uma margem para outra é extremamente sugestiva e inteligente.

A terceira estrofe do poema em análise traz um recurso estético bem diferenciado. A estrofe está dividida por uma linha pontilhada que sugestivamente representa o fluxo do rio no âmbito da leitura do poema. Enquanto de uma margem se vê a esperança, do outra o eu-poético mostra a travessia da morte: E entre mim, e a outra margem,/ esta terrível viagem./ Este rio caudaloso, imundo,/ sujo de todos os calhaus,/ que nele vomitou o mundo.../ Entre mim e a outra margem,/ o rio...A imagem aqui se mostra bem discrepante em relação à sugerida pela primeira estrofe, ficando claro que fluxo das margens caminham em direções bem diferentes. De um lado a esperança e do outro a descrença e a insatisfação em relação ao mundo que se personifica em termos como caudaloso, imundo, sujo. O barqueiro surge assim como o Caronte para levar este eu-poético para margem amena, para o outro lado do rio, onde “há Amor...”.

Neste poema, notamos que o rio é um objeto de representação que faz eu-poético transitar e movimentar suas sensações sob os fluxos de margens que se separam pela discrepância dos desejos imaginários da existência. O barqueiro é a personificação da poesia que salva o eu-poético da angústia reticente do entre-lugar proposto por ele mesmo.

Da maternidade como metapoema...

Seguindo o fluxo dos trânsitos marítimos e fluviais propostos pelos poemas anteriores, caminhemos para a gestação empoderada da palavra através do poema Maternidade (LARA: 1984, p.39):

Dentro de mim,
é que trago
a voz que se não cala,
e a força
que não mais se apaga
 

Dentro de mim
é que o caudal-anseio alaga,
e correndo
há-de rir, de mar em mar,
levar
a fim da terra,
um sinal de infinito...
 

Dentro mim,
Do meu sangue nutrida,
e sustentada,
é que a voz não é soluço
mas grito! 

Dentro de mim,
eco de paz ou de alerta,
dentro de mim,
é que a eternidade é certa.
 

O poema Maternidade é composto de quatro estrofes. São quadras de fácil memorização, um registro do trabalho oral tão valorizado pela escrita africana de um modo geral, A maternidade aqui funciona como metáfora para a gestação da palavra e do empoderamento feminino. No que diz respeito à gestação da palavra, podemos colocar que este poema é categorizado esteticamente como um metapoema no sentido deixar claro o processo de criação literária de Alda Lara. Na primeira estrofe, percebe-se duas palavras que remetem ao seu projeto literário: voz e força. A voz representa o modus operandi de seu discurso. Os versos de Alda Lara primam por uma escrita que valoriza a transição do patrimônio oral para o escrito, o que justifica o uso de anáforas, interjeições, assonâncias, aliterações, coliterações, ou seja, recursos estéticos que dão muita sonoridade ao texto. A força, por sua vez, representa o plano ideológico em que sua poesia se enquadra. Na coletânea Poemas(1984), vamos encontrar muitos textos que se voltam para militância de raça, classe e gênero. Há muitos poemas que trazem a figura da mulher em estado de transgressão, como por exemplo o poema Romance, As belas meninas pardas, Confissão, para citar alguns.

Na segunda estrofe, a palavra mar mais uma vez aparece e se configura como uma recorrência metafórica para os trânsitos estéticos e ideológicos pelos quais perpassam a poesia de Alda Lara. As águas em seu estado natural consagram a escrita angolana, fato que observado na produção literário de outras personalidades angolanas, o que comprova que Alda Lara territorializa a sua literatura, mantendo o diálogo com os contemporâneos de sua terra. Na terceira estrofe, a palavra grito vem mostrar mais uma vez vem mostrar o contrato de Alda Lara com a militante oralidade do movimento Vamos Descobrir Angola. Na quarta estrofe, o verso “eco de paz e de alerta” comprova que a poesia de Alda Lara é uma ferramenta poética de luta em prol da estabilidade nacional de sua terra. A paz e o alerta  são palavras que fortalecem a ideia de que a literatura angolana da década de 50 do século XX em nenhum momento baixou a guarda para as imposições coloniais. A palavra sempre foi a maior arma.

No que se volta para o empoderamento feminino, o poema Maternidade em nenhum momento trai a voz poética de Alda Lara no sentido de marcar a gestação de uma escrita de autoria feminina. Os versos “força que não mais apaga”, na primeira estrofe; ‘um sinal do infinito”, na segunda estrofe; “ a voz não é soluço, mas grito!”, na terceira estrofe; e “a eternidade é certa”, na quarta, em harmonia anafórica com a repetição “Dentro de mim”, marcam a presença da maternidade empoderada pelo feminino que nasce para uma eterna imortalidade que se mantém viva por meio da literatura. Maternar a poesia é a forma mais nobre e empoderada que Alda Lara encontrou para marcar o seu território no universo da escrita de autoria feminina em Angola.

Últimas considerações

Dos trânsitos poéticos propostos por Alda Lara, fica aqui de forma muito acanhada uma leitura que pode vir a crescer e fortalecer a tão carente fortuna crítica desta escritora angolana que, através de sua poesia, contribui para o âmbito da Literatura Angolana com versos introspectivos que dialogam desde o fórum íntimo ao mais coletivo debate político de uma militância nacionalista ainda necessária para intelectualidade angolana. O mar, o rio e a maternidade são percursos poéticos labirínticos instigantes por nunca secarem o fluxo do desejo de cada vez mais descobrir interpretações possíveis na impossibilidade inesgotável dos náufragos sempre reféns da poesia. Há muito de Angola nos versos de Alda Lara, precisamos ainda descobrir as angolas que estão em seus versos que se reverberam na poesia de outras escritoras angolanas contemporâneas. Alda Lara é uma mulher que representa o trânsito da literatura percursora de autoria feminina em Angola. Ainda há o que descobrir em sua poesia.

Referências:

CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Allain. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2006.

LARA, Alda. Poemas. Porto: Vertente, 1984.

MATA, Inocência. Literatura Angolana: Silêncios e Falas de Uma Voz Inquieta. Lisboa: Mar Além, 2001/Luanda: Kilombelombe, 2001

PEREIRA, Érica Antunes. De missangas e catanas: construção social do sujeito feminino em poemas angolanos, caboverdianos, moçambicanos e sãotomenses (análises das obras de Alda Espírito Santo, Alda Lara, Conceição Lima, Noémia de Sousa, Paula Tavares e Vera Duarte. Tese de Doutorado: USP, São Paulo, 2010.

____________________. Secreta encruzilhada: duas vozes femininas que (se) (trans)formam (n)a poesia angolana. Revista Scripta: PUC Minas, 2009, v.13, n.25, p.127-144.

PASSOS, Joana. Alda Lara: figura fundadora da poesia angolana. Humanidades: Novos Paradigmas de conhecimento e da Investigação, Minho, 2013.

PESSOA, Fernando. Poemas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

SILVA, Fabio Mario; SILVA, Paulo Geovane e. Um canto triste de versos de maresia. Uma leitura da poética de Alda Lara. In: Interfacis, Belo Horizonte: FACISA, v.4, n.1, 2018, pp 20-34.

Notas

[1] Texto publicado na Revista Ecos da UNEMAT. Segue o link da publicação:

https://periodicos.unemat.br/index.php/ecos/article/view/5113#:~:text=Resumo%3A%20O%20objetivo%20deste%20artigo,uma%20vez%20que%20Angola%20e

[2] MATA, Inocência. Literatura Angolana: Silêncios e Falas de Uma Voz Inquieta. Lisboa: Mar Além, 2001/Luanda: Kilombelombe, 2001. Para aprofundar a leitura sobre a poesia feminina e sua relação com a África, recomendo a leitura dos três textos que seguem: PEREIRA, Érica Antunes. De missangas e catanas: construção social do sujeito feminino em poemas angolanos, caboverdianos, moçambicanos e sãotomenses (análises das obras de Alda Espírito Santo, Alda Lara, Conceição Lima, Noémia de Sousa, Paula Tavares e Vera Duarte. Tese de Doutorado: USP, São Paulo, 2010. ____________________. Secreta encruzilhada: duas vozes femininas que (se) (trans)formam (n)a poesia angolana. Revista Scripta: PUC Minas, 2009, v.13, n.25, p.127-144. PASSOS, Joana. Alda Lara: figura fundadora da poesia angolana. Humanidades: Novos Paradigmas de conhecimento e da Investigação, Minho, 2013.

[3] LARA, Alda. Poemas. Porto: Vertente, 1984.

[4] CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Allain. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2006.

[5] Ainda sobre a relação da poesia de Alda Lara com o mar em seu estado melancólico recomendo a leitura: SILVA, Fabio Mario; SILVA, Paulo Geovane e. Um canto triste de versos de maresia. Uma leitura da poética de Alda Lara. In: Interfacis, Belo Horizonte: FACISA, v.4, n.1, 2018, pp 20-34.

[6] PESSOA, Fernando. Poemas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. (Seleção e Introdução de Cleonice Berardinelli). Ainda sobre a influência da obra de Fernando Pessoa, é importante a análise presente em: SILVA, Fabio Mario da. Quem vê olha e quem olha sente: Alda Lara e a poética das sensações. In: Literatura e intersecções de Gênero. UESPI, Teresina, 2018. Neste artigo o pesquisador Fabio Mario apresenta por meio da análise do poema Abandono o diálogo que a poética de Alda Lara estabelece com o fazer poético do heterônimo pessoano Alberto Caeiro.

[7] O poema Confiança se encontra na seguinte referência: NETO, Agostinho. Sagrada Esperança. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1974.

[*] Professor de Literaturas de Língua Portuguesa no Departamento de Letras da UFPB (Campus IV-Mamanguape) e no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPB (Campus I -João Pessoa).

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