Editora Oralituras

 

Derivado do latim, scribere, a palavra “escrever” significa o ato de sinalizar, de gravar. Trazendo isso para a literatura, vemos o poder de resistência que a sinalização de vivências, experiências e histórias pode evocar. Tornar poético, utilizar das ferramentas linguísticas para produzir inúmeras significações para um texto e ter a liberdade de expressar o “eu” e o “nós” em um produto literário, sem se fazer óbvio, é pegar a espada e partir para a guerra. Guerra essa em busca de ser ouvido, embora haja tantas esferas que possam tentar limitar essa escuta.

Um dos facilitadores para que essas sinalizações se tornem conhecidas é o editor e, consequentemente, a editora. Nesse sentido, quem tem obtido destaque é a editora Oralituras que, segundo a coordenadora editorial, Maitê Freitas, “surge com o compromisso de facilitar os caminhos da produção editorial e literária de mulheres negras e indígenas (cis e trans), sobretudo” (FREITAS, 2023, n.p). Se pensarmos que a primeira escritora negra a alcançar reconhecimento em nível nacional foi Ruth Guimarães, na década de 1940, e que Eliane Potiguara foi a primeira indígena a publicar um romance, isso na década de 1970, percebemos como são importantes iniciativas semelhantes à da Oralituras.

Mesmo hoje, com o fluxo mais corrente de obras escritas por minorias, percebe-se que o alcance de textos escritos por mulheres negras e indígenas ainda se mantém em uma escala bem inferior em espaços de legitimação. Um exemplo forte disso é quando vemos que uma escritora como Conceição Evaristo, com sua potência literária, ainda não seja membro da Academia Brasileira de Letras.

A falta de obras escritas por mulheres negras e indígenas em circulação, não significa que elas não estejam escrevendo. De cordo com Maitê Freitas “há histórias querendo ser lidas. Há palavras querendo ser escritas. Há vozes narrativas em busca de espaço físico (papel) e imaginário…” (FREITAS, 2023, n.p). E que bom sabermos que há quem se dedique a tais histórias que por muito tempo foram relegadas ao limbo.

Maitê Freitas, idealizadora do Oralituras, é jornalista, mestre em Estudos Culturais pela USP e doutoranda em Mudança Social e Participação Política. Por ser pesquisadora de narrativas autobiográficas e feminismo negro, a também produtora e gestora cultural age a partir de seus estudos para que as vozes de mulheres negras e de mulheres indígenas alcancem local de escuta, ou melhor, que essas vozes sejam grafadas e penetrem os olhos do público leitor. Além de tudo isso, Maitê também colabora e produz com o projeto Empoderadas. A respeito de sua iniciativa, ela revela: “a Oralituras nasce do desejo de possibilitar que mulheres negras e indígenas ocupem as prateleiras e reconstruam os imaginários narrativos ficcionais, acadêmicos, científicos, documentais, autobiográficos ou poéticos”. Questionada sobre a motivação para inaugurar a casa editorial, Maitê Freitas respondeu:

A Oralituras surgiu de um desejo de responder a um incomodo que tive quando percebi a hostilidade com a qual escritoras negras eram tratadas pelas editoras. Na ocasião, eu estava publicando a coleção Sambas Escritos e, na conversa com outras editoras, senti que havia hostilidade desmedida. Então, resolvi abrir uma editora que pudesse tratar a obra e autora com mais afeto, mais cuidado e experimentar trabalhar com uma equipe não-branca e construir uma expertise na produção editorial. Hoje em dia, entendo que (...) a Oralituras é um caminho que deseja facilitar e difundir, sem ter o compromisso centrado na venda de livros, mas na possibilidade de tornar o mais acessível possível as nossas produções. Fazendo livro com amor e muito respeito e beleza.(FREITAS, 2023, n.p)

 

A partir do depoimento da coordenadora editorial, pode-se perceber que o Oralituras funciona como um propagador da produção de autoria negra. Por uma experiência pessoal, na qual Maitê, como mulher negra, teve um tratamento hostil por parte de outras editoras, ela concebeu o Oralituras, para que dessa forma outras mulheres em condição semelhante à sua pudessem ter espaço de divulgação sem nenhum tipo de preconceito racial.

A Oralituras também possibilita o acesso a podcasts com escritoras negras, que discutem sobre o fazer literário e a divulgação da escrita dessas mulheres . Intitulado “Escritas em primeira pessoa”, a primeira temporada é apresentada pela jornalista Maitê Freitas e a poeta Carmen Faustino.

A editora fez sua estreia com o livro Inovação ancestral de mulheres negras: táticas e políticas do cotidiano (2019), organizado por Bianca Santana e prefaciado por Cidinha da Silva. Constitui-se de ensaios autobiográficos de 26 mulheres negras de regiões distintas do país. Os textos abordam as vivências em meio ao racismo e machismo e os enfrentamentos das mulheres negras a essas situações. Outra coletânea publicada pela Editora Oralituras é Escritas femininas em primeira pessoa (2020), que abarca mais 44 contos de mulheres negras e indígenas.

Além das obras literárias, a editora reúne também ensaios e artigos em suas publicações, como a obra Empoderadas narrativas incontidas do audiovisual brasileiro (2023), que, segundo a descrição presente no site, traz textos que “expressam a história de insistência, resistência, ausências e presenças das mulheres negras no cinema brasileiro” (ORALITURAS, s.d). No site da editora, é possível, também, encontrar ebook gratuitos.

Iniciativas assim possibilitam que a resistência se fortaleça e que as vozes de mulheres negras e indígenas alcancem espaço de notoriedade, seja através de textos poéticos, vestidos de figuras de linguagem para narrar a dor e a resiliência, seja por textos acadêmicos que evidenciam que essas mulheres estão tomando os seus lugares nas universidades.

Referências

FREITAS, Maitê. Verbetes. Mensagem recebida por <e-mail> em 22 de junho de 2023.

ORALITURAS. Página inicial. Disponível em: < https://oralituras.com.br>. Acesso em: 04 de set, de 2023.

Fontes de consulta

FREITAS, Maitê. Verbetes. Mensagem recebida por <e-mail> em 22 de junho de 2023.

ORALITURAS. Página inicial. Disponível em: < https://oralituras.com.br>. Acesso em: 04 de set, de 2023.

ORALITURASEDITORA. 2023. Instagram: @oralituraseditora. Disponível em: <https://www.instagram.com/oralituraseditora/>. Acesso em 04 de set. de 2023.

Links

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