Rio de Janeiro: De Machado de Assis e de Éle Semog. Quando o olhar geográfico é preenchido por contos e poéticas.

Geny Ferreira Guimarães1

Não é que eu

Seja racista...

Mas existe uma

História

Que só os NEGROS

Sabem contar

... Que poucos podem

Entender.

(Éle Semog)

 

Resumo:

Este trabalho representa uma reflexão sobre o encontro da Geografia com a Literatura e vice-versa. Os instrumentos dos estudos geográficos sempre foram mapas, aliados a dados estatísticos econômicos, questões políticas, aspectos naturais, características culturais e sociais dos lugares, dentre outras temáticas mais específicas e/ou locais. Cada vez mais se percebe, nos estudos geográficos, que a produção literária também pode ser um grande instrumento para entender a dinâmica dos lugares. Este trabalho apresenta como as produções literárias de Machado de Assis do século XIX e a do contemporâneo Éle Semog no século XX e XXI podem unir a Geografia e a Literatura, tendo como base inspiradora a cidade do Rio de Janeiro. Descortinando racismos, descrevendo questões étnicas, urbanas e de gênero de forma incisiva, assim são as palavras poéticas de Semog ou a forma sutil da descrição indignada e contrária às atitudes cruéis escravocratas percebidas na obra de Machado. De qualquer forma o palco é o Rio de Janeiro e o espaço geográfico, o carioca. Não se pretende traçar uma comparação entre Machado e Semog, tarefa impossível. Mas, apenas mostrar que pode existir uma confluência em seus pensamentos e percepções sobre a cidade do Rio de Janeiro por conta de suas heranças africanas e identidades culturais, apesar de épocas diferentes.

Palavras-chave: Identidade Cultural – Rio de Janeiro – Afrodescendente

 

Apresentação

Geografia e Literatura!! Talvez seja possível dizer que essas duas áreas do conhecimento se entrecruzam e geram alguns instrumentos para se pensar e construir trajetórias, tanto no pensamento geográfico através da produção literária quanto na produção literária ao utilizar o olhar geográfico para se materializar. Desta relação é gerado o olhar geográfico-literário. Os lugares possuem uma geo-história e suas literaturas estarão repletas de características e elementos, tanto históricos quanto geográficos sendo impossível dissociá-los. E os vários assuntos que formam os aspectos geográficos (paisagem, trabalho, relações humanas, identidades culturais etc.) e históricos dos lugares estão presentes na poética, pois “... o ato poético é um elemento de conhecimento do real.” (GLISSANT, 2005, p 31)

Este trabalho está dividido em quatro partes e pretende mostrar a cidade do Rio de Janeiro percebida através de algumas obras de Machado de Assis e de Éle Semog. A primeira parte descreve um pouco da relação entre Geografia e Literatura em “Um caminho apresentado por duas áreas do conhecimento”. Em “A produção literária afro-descendente inspirada pela sua identidade cultural” se encontram algumas conceituações e características da Literatura Afrodescendente. Na terceira parte, o objetivo central é dialogar com alguns contos de Machado de Assis e algumas poesias de Éle Semog dentro do contexto geográfico do Rio de Janeiro afrodescendente denominado “De Machado a Semog: Rio que te quero Rio...”. Finaliza-se o trabalho com algumas conclusões finais.

 

Um caminho apresentado por duas áreas do conhecimento.

 

Atualmente, não é mais possível explicar um espaço geográfico utilizando apenas as ciências naturais (para explicar as dinâmicas da natureza), as ciências sociais (para explicar os fenômenos econômicos e políticos), bases matemáticas e estatísticas (Geografia Quantitativa) que moldam a sociedade. Para alguns, a Literatura pode até ser considerada algo entre a arte ou uma forma de se expressar através das palavras (com a produção de textos), talvez até um pouco de lazer com a poética, romances, contos etc. Mas, a Literatura nunca foi neutra e tão pouco esteve apenas associada à ficção. A Literatura, assim como todas as outras ciências sociais, revela uma leitura do mundo e da realidade, dos acontecimentos, de contextos sociais, e através das produções ou obras literárias é possível se deparar com amplas descrições e análises de lugares e de movimentos de grupos sociais.

A literatura, em qualquer de suas formas, seja cordel, poesia, narrativas, entre outras, tem a capacidade de despertar interesse, abrir horizontes, temperar a imaginação, desenvolver a dramatização, melhorar a escrita e a oralidade, facilitar as correlações temáticas e espaciais e ainda permite trabalhar diversos valores que vem se perdendo na sociedade moderna, assim como dita os temas transversais, tudo isso aliado à realidade do aluno, seu espaço, seu meio, seu chão. (CUNHA, 2009, p.4)

Tanto em trabalhos didáticos nas escolas quanto em estudos acadêmicos é possível um paralelo entre a ciência geográfica e a ciência literária. E as correlações temáticas e espaciais são as mais variadas. Com relação à temática citadina (no livro A Cidade2), a geógrafa Ana Fani A. Carlos define a cidade como um amontoado de construções, mas também estabelece uma reflexão entre o ser humano e a natureza, assim como do ser humano consigo mesmo em seu cotidiano ou no que a autora diz ser uma “vivência urbana”. A geógrafa menciona que a poesia “... traz uma contribuição importante para se pensar a cidade”, principalmente a poética que “surge na cidade” e facilita a “... percepção das dificuldades vividas nas grandes cidades: a vida, a cidade, a percepção e a sensibilidade que a experiência e o cotidiano nos centros urbanos provocam”.(CARLOS, 2008, p. 13).

Percebe-se que autora se refere a uma cidade moderna, de grande porte e industrial. Mas, este pensamento se aplica a diferentes momentos históricos e outros tipos de cidades. Inclusive para a cidade do Rio de Janeiro se percebe este cotidiano, tanto a de meados do século XIX retratada em alguns contos de Machado de Assis quanto o Rio de finais do século XX e início de XXI encontradas em algumas obras poéticas de Éle Semog. Ambas as visões trazem de forma explícita uma “vivência urbana” destes autores por serem produções literárias que surgem e citam a cidade com sua característica principal que é a de suas identidades culturais.

Sendo assim a cidade se constitui como um elo entre a Geografia e a Literatura.

 

A produção literária afrodescendente inspirada pela sua identidade cultural

 

Todo ramo da literatura possui suas especificidades que são oriundas de seus grupos sociais e de suas características e/ou origens culturais; do tipo de narrativa; do tempo e contexto histórico, enfim, uma gama de elementos forma um texto.

Certas características em um texto afrodescendente o faz existir como tal. E, não necessariamente a origem étnico-cultural da pessoa que o escreve pode ser considerada o único sinal para que o mesmo seja um texto afrodescendente. Contudo, a essência da identidade cultural do escritor influência diretamente em sua obra e a forma como é desenvolvido o texto, além dos elementos que se encontram em uma obra.

Algumas produções literárias apresentam uma “discussão da afrodescendência como uma das principais formas de questionamento, na sociedade contemporânea, que envolve a participação direta de afrodescendentes nos mais diferentes setores sociais do Estado”. (SILVA, 2008, p.1). Na literatura este questionamento é percebido em muitos autores, o que não é para menos diante de toda mazela social sofrida por este grupo. Representa uma forma de resistência e combate ao atual racismo, questionamentos e redução das condições socioeconômicas desiguais dos indivíduos afrodescendentes brasileiros e tentativas de rupturas com estigmas produzidos socialmente pela trajetória do passado colonial escravista e todas as suas formas de violência. Somado a isto, uma valorização da origem cultural da herança africana que tanto foi e ainda é subjugada, mas principalmente uma luta contra o sistema racista que foi implantado e acreditado ser sutil na sociedade brasileira. Todos estes exemplos são temáticas constantes, sem deixar de dizer da condição da mulher negra, que sobre este tema as próprias mulheres se encarregam de enfatizar e muito bem em seus trabalhos literários.

Muitas vezes este tipo de literatura representa questionamentos sociais, o que não a diminui em nada diante do que se classifica como textos literários de qualidade. O que ainda falta é um olhar social de respeito e leituras realizadas por um número maior de indivíduos de todo o acervo que já se constitui como literatura afrodescendente.

Silva (2008) descreve características das obras de José Severo D´acelino, escritor sergipano, que podem ser percebidas nas obras de vários outros autores afrodescendentes.

“A poesia escrita por D'Acelino bem como os artigos publicados e os projetos educacionais coordenados pelo escritor refletem uma preocupação constante em educar os sergipanos na direção de uma cultura produzida para marcar a importância da literatura afro-brasileira como um lugar de expressão significativo que problematiza as hierarquias sociais construídas, as relações de poder disseminadas socialmente, a formação de identidades, o combate ao preconceito e a discriminação racial e de gênero e ainda, a valorização da autoestima como principal ponto de partida na luta contra a formulação de estereótipos”.(SILVA, 2008, p.1)

Outro exemplo é Édouard Glissant, intelectual martinicano, cuja “escrita ─ de grande densidade poética ─ está sendo conscientemente ancorada na espessura antropológica e na singularidade histórica do lugar de onde o intelectual, o poeta, o escritor e o artista emitem a sua voz, o seu canto.” (ROCHA, in: GLISSANT, 2005, p.10). Ou seja, a obra deste autor é baseada nas vivências e percepções que possui do seu povo martinicano que ele estende aos antilhanos em geral e quiçá toda a América. Inserida nesta perspectiva é que são analisadas algumas obras de Machado de Assis e Éle Semog neste trabalho, dentro de uma visão a qual, historicamente, ambos revelam um lugar através de suas obras. O lugar: a cidade do Rio de Janeiro.

Voltando a Glissant (2005, p.10), este autor:

“... discute as forças centrípetas das culturas antilhanas e das Américas marcadas pelo Tráfico de africanos, pelo sistema de plantação e a escravidão, forças que considera determinantes no processo de constituição da identidade cultural de uma grande parte dos povos da América colonizada pela Europa, e marcada pela presença africana.”

Contudo, a herança africana que forma a identidade cultural não pode ser vista de maneira isolada e como único elemento formador desta identidade. Esta afirmação se dá pelo fato de existir uma relação entre as culturas e/ou do “contato entre as culturas, as línguas e as civilizações, na contemporaneidade.” (GLISSANT, 2005, p. 10).

“... as culturas não são, mas estão dentro do processo da Relação, e a função exploratória das artes e das literaturas coloca-se como urgente e necessária no árduo trabalho de fazer emergir a complexidade e a heterogeneidade de cada cultura específica em Relação dentro da Totalidade-Terra, tendo em vista pensar os caminhos possíveis para a preservação da diversidade dentro da confluência das culturas.” (GLISSANT, 2005, p. 11)

A identidade cultural dos afrodescendentes e o que se produz em obras artísticas e literárias são remetidas a pontos de encontro comuns que são os de suas origens culturais, de valorizações socioculturais, de questionamentos das questões e/ou problemáticas socioeconômicas resultantes do processo de diáspora, colonização e escravização, principalmente na América.

Mesmo que Machado de Assis e Éle Semog não tenham tido a intenção, parte de suas obras se encaixa dentro dessa perspectiva de análise de Glissant (2005) e pode ser percebida como produções literárias sobre um lugar cultural cujas relações são estabelecidas por um grupo com uma determinada identidade cultural em seu contexto social. Utilizando as próprias categorias de Glissant (2005, p.19-21; p.71-73) sobre as culturas atávicas e compósitas, a primeira sendo o princípio ou a Gênese e a segunda aquela que se junta a outras. Na cidade do Rio de Janeiro, com a diáspora africana, se formou uma cultura compósita assim como ocorreu no Caribe com o seu processo de crioulização. Por isso, tanto no Brasil quanto no Caribe ocorreu uma inferiorização dos componentes culturais africanos e negros durante o processo de relação entre culturas e de formação destas culturas compósitas.

De Machado a Semog: Rio que te quero Rio...

Machado de Assis, carioca da gema, ou melhor, Joaquim Maria Machado de Assis, filho de um afrodescendente com uma portuguesa, viveu no Rio de Janeiro de 1839 a 1908. Teve a sua vivência no Rio de Janeiro e de forma espetacular. Assim como João do Rio3, Machado viveu a cidade em todas as suas nuances e circulando de um lado a outro. Nascido livre, no Livramento, livremente lia, escrevia, analisava, criticava, observava tudo que se passava ao seu redor e com todas as amizades que fez pode entender muito do que acontecia em termos políticos e econômicos na cidade, e assim participava do seu jeito: escrevendo.

Suas obras foram influenciadas pelo contexto social que vivia e Machado teve o privilégio de ter convivido e ser contemporâneo de muitos outros escritos, poetas e personalidades da história da cidade e do Brasil, como: João do Rio, Araripe Junior, Euclides da Cunha, Silvio Romero, Rui Barbosa, José Veríssimo, Luiz Gama, entre outros.

Como escrever era a sua vida, o que fez com grande vocação, além de escrever ficções também manifestava em seus contos e versos suas percepções e opiniões sobre a cidade, contexto social, relações e problemáticas ao seu redor. Principalmente com relação a lugares da cidade do Rio de Janeiro, à relações políticas e da escravatura. Transformava os seus pensamentos em palavras de forma sutil, “[a]pesar de não assumir de público sua condição de afrodescendente, nem adotar uma postura militante ou sectária, Machado de Assis encontra sempre meios para se posicionar contra a escravidão.” (DUARTE, 2007, p. 47). Por se tratar de um momento e contexto social muito difícil, desde cedo aprendeu a agir de forma diplomática, caso contrário, não teria conseguido circular em tantos ambientes considerados de elite.

“À trajetória do cidadão agrega-se o sucesso do escritor perante um público que, em sua grande maioria, estava longe de situar-se entre as classes populares. Desse modo, sua biografia mostra a ascensão de um afrodescendente, vindo das margens da estrutura social, para se aproximar da elite de seu tempo: imprensa, literatura, máquina governamental. Alguns desafetos atacaram esse “aburguesamento”, que, para eles, corresponderia à assunção das práticas sociais e literárias dominantes. Afirmou-se, inclusive, que o uso de barba e bigode, quase obrigatório entre os homens de seu tempo, teria como objetivo o disfarce dos traços negróides. Isto sem falar dos polêmicos retoques para clarear a pele nos estúdios dos fotógrafos da época. Tais lugares-comuns, somados à ausência de um herói negro em seus romances, fundamentam em grande medida a tese do propalado absenteísmo machadiano quanto à escravidão e às relações interétnicas existentes no Brasil do século XIX.” (DUARTE, 2007, p.8-9)

 

Durante muito tempo a sociedade não percebeu em suas entrelinhas e sutilidade a sua veia afrodescendente, sua identidade cultural próxima de sua herança africana. Talvez, seja possível afirmar tal indagação utilizando um poema de Semog:

“Ponto Histórico

Não é que eu / Seja racista... / Mas existem certas / Coisas / Que só os NEGROS / Entendem. / Existe um tipo de amor / Que só os NEGROS / Possuem, / Existe uma marca no / Peito / Que só nos NEGROS / Se vê, / Existe um sol / Cansativo / Que só os NEGROS / Resistem. / Não é que eu / Seja racista... / Mas existe uma / História / Que só os NEGROS / Sabem contar... / Que poucos podem / Entender.” (SEMOG, in Cadernos Negros, n. 9)

Era bastante comum que as leituras de Machado de Assis fossem feitas pela elite brasileira (finais de século XIX e início do século XX) devido ao seu grau de erudição e ao fato de que boa parte dos brasileiros, os que não faziam parte da elite, era analfabeta. A percepção da obra de Machado foi construída de acordo com esta classe social e “... antes de tudo, uma leitura e, como tal, uma construção, fruto do processo de recepção literária, e sujeita a contestações inúmeras.” (DUARTE, 2007, p. 9). Ainda para este autor, aos leitores que sintetizaram uma leitura equivocada de Machado, também é possível acrescentar que lhes faltaram, utilizando e repetindo uma frase do poema Ponto Histórico, de Semog, a “história que só os negros sabem contar... e que poucos podem entender.”

Além disso, se percebe na obra de Machado de Assis, principalmente em alguns contos, a sua predileção em descrever espaços da cidade do Rio de Janeiro, principalmente espaços populares, subúrbios, interiores, os morros e, coincidentemente, áreas da cidade por onde cresceu. Em algumas de suas obras se encontram bons exemplos e verdadeiras aulas de geografia da cidade do Rio de Janeiro com suas descrições das relações cotidianas do carioca, da paisagem, mas também das características sociais de lugares da cidade. Por exemplo, em Conto de escola no qual todo o movimento da personagem está em torno dos morros da região portuária, do bairro da Saúde e Gambôa, proximidades do mercado de escravizados, valongo, cemitério e porto dos desembarques de pretos novos:

 

Pequena África Carioca4

“A escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia ─ uma segunda-feira, do mês de maio ─ deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar amanhã. Hesitava entre o Morro de São Diego e o Campo de San´tana, que não era então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito, alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou Campo? Tal era o problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola. Aqui vai a razão.” (ASSIS, 2002, p. 34)

Neste trecho, o autor vai descrevendo uma área da cidade, mas talvez pela sua história sangrenta (por ter sido um mercado de escravizados), ou memórias que este possa ter de sua infância órfã, não se tornava o melhor lugar para se estar, ao menos na escola ele poderia esquecer o que poderia o incomodar. Ao mesmo tempo, esta área representava um local da cidade afastado das decisões políticas, área de pobres, descendentes de escravizados, mestiços, pouca ou nenhuma melhoria urbana, área dita insalubre pelas autoridades cariocas mais se parecendo com o que chamavam de campo. Naquela época, todos os lugares que se localizavam afastados ou fora do centro administrativo do Rio de Janeiro era considerado campo (zona rural ou sertão) ou área pantanosa. Característica que começa a mudar no século XIX, com o crescimento da cidade e o campo se tornando mais distante do centro. Machado de Assis assiste e convive com tais mudanças de uma cidade em expansão, mas ainda com pouca clareza de suas categorias espaciais, pouca infraestrutura. Mesmo assim, com algumas áreas definidas pela administração da cidade como sendo áreas impróprias e que no início do século XX se encarregam de criar projetos pra desocupá-las. Como foi o caso do Morro do Castelo (com seu desmonte) e área da Saúde (parte da Pequena África que com a campanha da Vacina e isolamento espacial a partir da ausência de melhorias na área se tornou pouco acolhedora). E, para Machado de Assis, um ser urbano, o campo só representaria descanso ou atraso. Para Gilberto Freyre (1982) esta dubiedade poderia estar relacionada ao que denominava “rurbano”, local entre o campo e a cidade, ou para estudos mais recentes, local ambíguo ou ruralidade.

“... o Rio era uma cidade apertada, limitada pelos Morros do Castelo, de São Bento, de Santo Antônio e da Conceição. Ocupava, entretanto, um chão duramente conquistado à natureza, através de um processo de dissecamento de brejos e mangues que já durava mais de três séculos. Além dos morros havia apenas alguns tentáculos, que se dirigiam aos “sertões” do sul, do oeste e do norte.

Era também uma cidade em que a maioria da população era escrava. Quase que uma cidade de mercadorias. Poucos eram os trabalhadores livres, e reduzidíssima a elite administradora/militar/mercantil que lhe dirigia política e economicamente. A falta de meios de transporte coletivo e as necessidades de defesa faziam com que todos morassem relativamente próximos uns aos outros, a elite local diferenciando-se do restante da população mais pela forma ─ aparência de suas residências do que pela localização das mesmas.” (ABREU, 1997, p. 35).

Abreu (1997), no trecho acima, o autor descreve muito bem o perfil do Rio de Janeiro que só passou por mudanças significativas com a chegada da Família Real e depois com as grandes reformas urbanas.

Por meio de seus textos, Machado de Assis deixa transparecer e torna central alguns lugares da cidade, consequência de suas andanças pelo espaço carioca. Em o "Jogo do Bicho" (1904), conto sobre Camilo, um rapaz que ocupava um dos arsenais do Rio de Janeiro (Marinha ou Guerra), pobre e solteiro, que ao passar um Natal no subúrbio do Rio, no Rocha, com amigos, conhece a sua futura esposa (se casam em 3 meses). Passam a somar ou dividir a pobreza, pois “[n]enhum tinha nada, ele, apenas o emprego, ela as mãos e a pernas para cuidar da casa toda, que era pequena, e ajuda a preta velha que a criou e acompanhou sem ordenado.” (ROCHA, 2008, p. 167). Suas diversões eram a Ópera da Rua do Ouvidor, ou passeios pela Tijuca, às vezes Petrópolis. O fato é que o conto vai relatar o hábito ou vício no qual Camilo é acometido pelo jogo do bicho (ora ganha, ora perde), atividade carioca, do cotidiano da cidade. Atividade que surge no subúrbio e se espalha pela cidade, com todas as suas contradições e contravenções, ilicitudes que lhe atribuem e que perduram até os dias de hoje. Mas, que gera uma verdadeira cartografia retratada em muitos estudos geográficos cariocas envolvendo a política (inclusive políticas públicas), economia, cultura popular e até crimes (quiçá nacionais e internacionais). Contudo, desde que surge e até hoje, sua grande maioria de seguidores ou apostadores são os pobres e suburbanos cariocas. Qual o perfil dessa gente?

Em "Pai Contra Mãe" (1906), Machado retrata o fim de alguns ofícios, aparelhos e instituições com o final da escravidão. O ofício mais descrito por ele e que muito movimentava a cidade era o do Capitão do Mato, assim como os funileiros (de ferros que se aplicavam no rosto e pescoço dos escravizados fujões). Neste conto tem-se o Valongo e ruas da cidade sendo descritos com suas funções sociais da época. Mesmo que não seja explícito no texto. Mas, locais que deixam de existir com o fim da escravidão. Assim como várias ruas da cidade que eram conhecidas por conta de seus pelourinhos (como no caso da Rua e Largo da Carioca). Contudo, o oficio que mais perdeu com o fim da escravidão foi o caçador de escravizados fugidos (que ao serem recuperados eram punidos e muitas vezes açoitados nos pelourinhos da cidade). Também ruas, como Rua do Parto, Rua da Ajuda, e por quê? O texto se desenrola em função de fugas de escravos e de um menino órfão. Essas ruas tinham como função social abrigar casas de recolhimento e roda. Normalmente as casas de recolhimento abrigavam meninas órfãs e mulheres abandonadas pelo marido ou despejadas de seus senhores; as rodas abrigavam todo e qualquer tipo de órfão. Em grande maioria; essas mulheres e órfãos eram escravizados, descendentes de africanos ou mulheres brancas acusadas de adultério. Fatos importantes e corriqueiros da organização socioespacial da cidade do Rio de Janeiro.

Já em algumas obras de Semog, a visão urbana de marginalização do negro na sociedade carioca é bem forte. Poeta e militante negro5, Semog vai desenvolver uma postura de questionamento social mais expressiva do que Machado, até porque vive em um momento de maior abertura, mesmo que a violência e injustiças étnico-raciais sejam ainda muito grandes. Mas, nada se compara ao período de plena escravização do africano e seus descendentes.

Semog estende sua crítica aos guetos de várias partes da cidade que enclausuram o afrodescendente. Que não estão representados apenas pelos morros, comunidades e favelas, mas pela própria forma de viver dessas pessoas que é negligenciada por políticas públicas que melhorem suas condições de vida (lazer e trabalho) e suas circulações na cidade. A crítica de que a segregação na cidade é imposta pelas péssimas condições de manutenção dos lugares e de desrespeito às pessoas. Tal fato tendo como exemplos alguns bairros e meios de transportes da cidade que majoritariamente são ocupados e utilizados por afrodescendentes se encontrarem em estados de conservação tão deploráveis que nem com poesia é possível torná-los mais aprazíveis. No poema abaixo, isto é bem claro.

“Outras Notícias

Não vou às rimas como esses poetas / que salivam por qualquer osso. /Rimar Ipanema com morena / é moleza, / quero ver combinar prosaicamente / flor do campo com Vigário Geral, / ternura com Carandiru, / ou menina carinhosa / trem pra Japeri. / Não sou desses poetas / que se arribam, se arrumam em coquetéis / e se esquecem do seu povo lá fora.”

(in: Cadernos Negros: os Melhores Poemas, 1998, p.58)

 

Outra paisagem carioca muito expressiva, mas que passa despercebida se refere aos momentos e horários da conhecida sopa. Prática que se espalhou por toda a cidade sendo oferecidas para a população de rua, normalmente patrocinadas por projetos sociais desenvolvidos por organizações não governamentais (ONGs). Mais uma vez, a segregação social atuando, se não são todos pretos, negros e afrodescendentes, são quase todos que fazem fila e que seu estado de ser e de viver já foi tão depauperado pela pobreza, autoestima baixa, vícios, miséria, que são comparados a seres inanimados: a pedras, pelos olhos de muitos que passam e não enxergam, são como as pilastras dos arcos? E assim, a Lapa de Madame Satã e da boemia se transforma em pedras..., em pobreza e em tristeza.

“Fila de pedras

Na Lapa, bem embaixo dos Arcos, / pelas onze da manhã / começa a se formar / uma fila de pedras. / São trazidas e colocadas / por trapos e garrafas de aguardente, / que carregam gentes / com o coração da minha cor. / Pelas duas da tarde / a fila de pedras se transforma / em fila de pedras, tralhas e gentes / e o meu coração de gente, / já não é da minha cor. / É todo de tralhas e pedras e trapos e aguardente... / Não sou mais observador, / sou a fila, sou a dor, / sou a disputa, sou a desdita / que não houve / entre classes sociais. / Perto das quatro horas, / quatro e meia, / na fila de pedras, / só tem gente / ... cabisbaixa, mas é gente. / É quando chegam umas freiras, / vestidas de branco e azul e turbantes, / e com calmos semblantes, / distribuem uns papeizinhos / que valem a janta, a sopa / e a fila de pedra, toda feliz, / se dispersa pela Avenida Mem de Sá. / Eu me sinto rocha e abismo.” (SEMOG, 2010, p. 62)

E, ainda pela Lapa e por suas calçadas...

“Nas calçadas da Lapa

Tem dias que olho / os negros espalhados /pelas calçadas da Lapa / (Sou eu? Sou eu?) / bêbados, fétidos, / com os culhões vazando /pelas calças rasgadas... / (ai de ti Zumbi! Ai de ti Zumbi!). / E ficam ali alheios de toda a guerra / e ficam ali alheios de toda a cor / com suas mulheres negras, amulatadas / amamentando filhos negros, amulatados, / com os olhos minguados assim, / e os seios sujos e flácidos / e a moeda, a caridade / o olhar dos brancos / o meu olhar sem dor sem fúria. / A cachaça, os restos de tudo. / (Sou eu! sou eu!) / Tem dias que não consigo / levantar da calçada / para ir numa reunião / dessas entidades negras... / e nas vezes que vou, / não vou todo. / Metade de mim fica lá, / nas calçadas da Lapa. / Mas é nas entidades negras, / no movimento negro, / que sinto um sopro, uma fé, uma proteção. / Eles escrevem documentos e mais documentos para os partidos, / para o presidente, até para o exterior. / Sinto que sou um elo / e é possível ser negro / só não consigo escapar das calçadas da Lapa. / Valei-me de ti Zumbi, valei-me.” (SEMOG, 1997, p. 132-133)

Apesar da dor e da “cor da demanda” encontrada na Lapa, Semog considera este lugar sua própria albumina ao dizer: “Eu amo a Lapa e seus mistérios / como um jogador de sinuca / ama a bola da vez. (...) a Lapa é minha, / com a sua exuberância de tudo, / em Geraldo Pereira, Carmem Miranda, / Madame Satã, Vera, Zuzu e Glorinha. (SEMOG, 1997, p. 119).

Partindo da Lapa para outro cenário da paisagem carioca e mais uma vez é a pobreza que assola o negro. Uma pobreza que foi construída socialmente mesmo que diante de uma história que é sua, como a formação e construção desta cidade, como a de patrimônios construídos por seus pares. O Passeio Público, todo construído por mãos escravizadas e obras de um dos mais importantes escultores afrodescendentes do século XVII, o mestre Valentim. Mas o par é com a pobreza e não com a riqueza de sua história contada a céu aberto, mas despercebida pela ignorância de desconhecer seu próprio passado. Este poema é uma descrição do que é vivido por tantas crianças negras que nascem e morrem na rua. Desconhecem o que significa uma cama, uma mesa, um banho em um banheiro, um quintal. Alguns sobrevivem se tornam adultos, continuam na rua e renovam o ciclo de moradores de rua. Um poema-denúncia, assim como outros poemas de Semog.

“Destinatário

Esse moleque forjado em pé, / no bucólico Passeio Público, / aos pés de uma escultura / de mestre Valentim, / veio dum gozo apressado, / curra de amor por dois iguais, / entre beijos de jujuba e amendoim. / Nem ao menos estava igualado / entre o aborto e o descaso, / no bucho da mãe foi afogado / tomou banho de buchinha, / foi até estiletado, mas nasceu. / Nasceu bolado, / aloprado / e ainda assim sorriu / com a cor da pele inteira. /Viveu subnutrido, subservido, / subtraído, subdetudo e embora fosse / não se soube subversivo. / Salvou-se com o colostro / e todo aquele subamor / com gosto de tiner, / maconha e bala de coco. / Cresceu por ali mesmo, / ouvindo tiro de polícia, / esculacho de malandro, / rapa fora de comerciantes / e moças de seguranças. / Assim, num repente, se fez / pivete marrento, cabuloso, / e sem saber já pilotava uma magrela / e também a nau da dor... / Ferido, ferido, perdeu, perdeu / a mãe com três facadas, / duas delas nos pulmões, / quis encarar bicho solto / mas levou uns bofetões. / Agora está moço feito, / tem doze conflitos com a lei, / foi esse o jeito que teve / pra poder dar o seu jeito / em tudo que a vida fez. / E olhando assim ninguém diz, / o moleque já quebrou mais de seis.” (SEMOG, p. 65, 2010)

De um Rio de Janeiro, de um período colonial, cidade porto de chegada de africanos escravizados e questionados por Machado de Assis. Do passado até os dias atuais, o que se tornou quase imutável foi este estado de miséria e pobreza, de segregação, de insalubridades e de falta de políticas públicas sérias de mudança de um grupo social tão numeroso (que sempre o foi). Pessoas que foram escravizadas, depois seus descendentes mantidos na marginalidade e que em certos momentos se sentem sem pertencimento e até expulsos de sua própria cidade, mais ainda, expulsos da cidade que seus ancestrais construíram, sem direito a heranças. Ou talvez, a única herança seja a criação social imposta de marginalidade e pobreza. Algo bem retratado no poema a seguir.

“Voltando de Gramacho pela Linha Vermelha

A cidade cresceu ao meu redor / e agora me devora pra fora, / como acontece com um botão / na casa de uma camisa. / Mas sou um negro insurreto, / que não se dobra aos infernos / que me oferecem. / Estou cercado por deveres, / obrigações, tensões urbanas / e municipalistas, / que sufocam a minha lógica tribal. / Mesmo vivendo isto, / com essas coisas tão naturais / não consigo ser cidadão. / Às vezes me respingam / manchas de sangue, noutras, / multas, e impostos, e juros, / e crianças mortas. / Muitas crianças mortas / na lama dessa democracia. / Enchentes, roubos, gente cão, / e filhos aspirados por essa / ideologia global. / Ainda assim, dia desses, / peguei um por do sol com uma lua tão linda, / ali pelos lados da ponte Rio Niterói, / que até Deus se assombrou / com a emoção que expressei, / só com esse restinho de gente guardado dentro de mim, / que não sabia que estar viva. / Eu sou um desses homens / que cuida da casa, das crianças e da mulher. / Já sei me libertar, só não preciso saber / para que ser livre.” (SEMOG, p. 70, 2010)

Finalizando:

 

“Carioca do Rio

Tudo começou em janeiro / que adentrando a baía, / exato num dia primeiro, / um português navegante / disse tão deslumbrado: / vejam é o Rio de Janeiro!. /

(...)

Não acabou pois tem povo, / Capoeira, congada e rosário, / tem gente com gente firme / com seu próprio imaginário, / inclusive com os rebolados / das negras, mestiças, dançantes, / daqueles bem assanhados, / que saudando o menino Jesus / saíam nos ranchos de reis / e com as ancas provocantes / enfureciam a sinhá branca / enlouqueciam o português. /

(...)

Mas é nesse Rio de Janeiro, / a cara do Brasil inteiro, / que ferve a luz de vida/ que torna tudo encantado. / E por mais que não se queira, / mesmo com o racismo / e suas razões de desdita, / o povo se faz ruptura, se faz luta / e renasce nas próprias premissas. /

(...)

É esse Rio de Janeiro, / a cara do Brasil inteiro, / fervendo cheiro de vida / que torna tudo encantado, / e por mais que não se queira, / sempre surge uma maneira, / para viver toda a fissura / e de mandar algum recado.” (SEMOG, 2010, p. 93-100)

 

 

Feições, pessoas e momentos do Rio de Janeiro que aparecem de forma tão impactante nas palavras de Semog, os mesmos já haviam sido retratado antes, de alguma maneira, por Machado de Assis. O vício, drogas e pobreza que existe em O Jogo do Bicho retorna em Destinatário, Fila de Pedras, Nas calçadas da Lapa, e da mesma maneira: destruindo a vida em família. Assim como, o subúrbio de O Jogo do Bicho retorna em Outras notícias. Se existe um panorama da cidade e descrição de lugares cariocas em Conto de escola, se nota algo parecido em Voltando de Gramacho pela Linha Vermelha.

O único inconveniente encontrado nisto tudo é saber que se alguns dos elementos da paisagem carioca de Machado de Assis retornam em Éle Semog, e de forma tão forte, significa que o problema não foi resolvido, talvez até mesmo ampliado pelo fato de que não estamos mais no século XIX! “É nesse Rio de Janeiro, / a cara do Brasil inteiro, / que ferve a luz de vida / que torna tudo encantado.” (SEMOG, 2010, p. 99).

Enfim, uma breve viagem por lugares e espaços cariocas através de Machado de Assis e Éle Semog.

 

Considerações finais

Assim, se encerra este trabalho que pretendeu ser mais uma tentativa de reflexão sobre a geografia dos pensamentos e as palavras dos lugares expressos por meio de uma perspectiva da herança africana que existe no Brasil, seja nos patrimônios que foram deixados historicamente e que são encontrados espalhados pelos lugares (reconhecidos ou não pela sociedade) ou como marcas de memória. Contudo, uma herança africana ainda viva e presente.

Em ambos autores, a cidade do Rio de Janeiro é descrita a partir de suas percepções afrodescendentes com as devidas proporções e diferenças, tanto de época como de postura social. Viveram em momentos e em contextos sociais diferentes, ou seja, na cidade própria da geração de cada um. Mesmo assim é possível juntá-los neste trabalho e perceber características da cidade do Rio de Janeiro ao ler alguns contos de Machado de Assis é como se pudesse voltar no tempo, em finais do século XIX, já na poesia de Éle Semog é o Rio de meados do século XX e início de XXI. Ou seja, temos nesta comparação a ruptura de momentos singulares, mas a continuidade temporal e contextual. Ou seja, esses autores estão ligados por sua herança africana, pela Geografia e pela Literatura.

Referências

ABREU, Maurício de A. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO. 1997.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A Cidade. São Paulo: Contexto. 8. ed., 2008.

COSTA, Pedro Pereira da Silva. A vida dos grandes brasileiros: Machado de Assis. São Paulo: Editora Três. 2001.

CUNHA, Alecsandra Santos da. Literatura, poesia e as diversas linguagens da Geografia. In: X ENPEG/Porto Alegre. 18p. 2009. Trabalho Completo. Disponível em: <http://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/GT/GT5/tc5%20(64).pdf> Acesso em: 23/02/2011.

DUARTE, Eduardo de Assis. (Org.) Machado de Assis afro-descendente. Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Pallas/Crisálida. 2. ed., 2007.

FREYRE, Gilberto. Rurbanização: que é? Recife: Editora Massangana/Fundação Joaquim Nabuco, 1982.

GLISSANT, Édouard. Introdução a uma poética da diversidade. Juiz de Fora: Editora UFJF. 2005.

MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica. 3. ed., 2009.

RIO, João do. A Alma encantadora das ruas. Niterói: Imprensa Oficial. 2007.

ROCHA, João Cezar de Castro. Contos de Machado de Assis: Política e Escravidão. Rio de Janeiro: Record. v.5, 2008.

SEMOG, Éle. Tudo que está solto. Rio de Janeiro: Letra Capital. 2010.

__________. A cor da demanda. Rio de Janeiro: Letra Capital.1997.

SILVA, Rosemere Ferreira da. Severo D'Acelino e a produção textual afro-brasileira. Revista África e Africanidades. 2008. mai., n. 1, Ano 1. 13p. Disponível em:<http://www.africaeafricanidades.com/documentos/Severo_%20DAcelino_e_a_producao_literaria_afro-brasileiradoc.pdf> acesso em 06/05/2011.

1 Professora de Geografia; MSc em Ciências Sociais (UFRRJ); Bacharel e Licenciada em Geografia (UFF); Especialização em Relações Internacionais (UCAM); Gestão Ambiental (UERJ) e História, Cultura e Literatura Africana (UCB, finalizando monografia).

 

2 Neste livro, publicado em 2008, 8ª edição, (primeira em 1992), pela editora Contexto, para além de sua própria definição, a autora acrescenta a sua definição de cidade, como um espaço urbano através de: sua paisagem, uso do solo, valorização espacial, perspectiva histórica, mas também como um campo de lutas. Por isso, são descritas algumas relações humanas que ali se desenvolvem.

3 João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, sob o pseudônimo de João do Rio, viveu de 1881 a 1921. Foi jornalista, cronista, tradutor e teatrólogo ficou conhecido como o repórter que “... conduziu à crônica de sua época, com sagacidade, ironia, fino espírito crítico e uma inegável simpatia pela massa anônima. (...) Em plena belle époque era preciso civilizar o Rio. Nessa onda de civilização urbanística é que João do Rio sai em busca da rua, ao ver o que está acontecendo, quem nelas está, quem está em qual rua, o que expressa cada uma delas, da elegante a mais miserável.” (Rio, João do . A alma encantadora das ruas. Niterói: Imprensa Oficial. 2007.)

 

4 Região de grande concentração de africanos e seus descendentes no século XVIII, XIX e início do XX que abrangia, aproximadamente, o que hoje na cidade do Rio de Janeiro está representada pelos bairros da Saúde; Gambôa; Morros da Providência; Pinto e Santo Cristo; Central do Brasil; Campo de Santana; Praça Onze e Cidade Nova.

5 Luiz Carlos Amaral Gomes, nascido em Nova Iguaçu, um Administrador de Empresas que sabe administrar muito bem a poética negra de um afrodescendente que escreve o que vê, o que todos vêem, mas que muitos fingem não enxergar. “O racismo que denuncia não é um elemento figurativo. Está na pele segregada, na boca amordaçada, na obrigatoriedade da perfeição, na consistência de que tudo à direita serve à esquerda e vice-versa (“para comprovar, tente ser negro e ser tudo”).” (ZARVOS, Prefácio, in: SEMOG, E. A Cor da Demanda, 1997, p. 8)

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