Literatura negro-brasileira: Memória dos meus carvoeiros e No reino da carapinha,

de Fausto Antonio

 Paulo Sérgio de Proença*

 

Saem a lume, enfim, mais duas obras de Fausto Antonio. Criativamente editadas. Duas obras em um tomo: a quarta capa de um título passa a ser a primeira do outro (e vice-versa), em movimento que vai de fora para dentro, sugerindo convergência de temas e motivações literárias. Alusiva ao primeiro título, a capa tem ilustração de um baobá, em fundo verde; protegidas pelo tronco dessa árvore mítica, adultos dão as mãos a crianças e, iluminada, uma face negra: lábios carnudos e sedutores se insinuam, alimentados também por um nariz negro que aspira o ar de vida que jorra o baobá. A capa do segundo título, em fundo sépia, faz brotar uma volumosa e solene carapinha, sem defeito e sem vergonha, insinuando, também ela, uma sadia, imponente e orgulhosa feição negra.

O autor não é neófito na arte. Paulista de Campinas, já há mais de trinta anos a enxada do labor marca suas mãos e, nos sulcos desse terreno, produziu frutos nada desprezíveis, de variado tipo: romance, conto, novela, teatro, poesia, conto infanto-juvenil, crítica. Aqui vão alguns títulos: 1) Teatro: Arthur Bispo do Rosário, De que valem os portões, Rutília, Estamira, Patuá de palavras; 2) Poesia: Fala de pedra e pedra, Elegia de descalvado, Minotauro de fomes e labirinto; 3) Ficção: Exumos, Vaníssima senhora, Descalvado.

Fausto Antonio é paulista de Campinas; professor universitário (doutor em Teoria Literária e História da Literatura pela Unicamp e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira-UNILAB), destaca-se também por ser alentado ensaísta, gênero em que seus escritos não se furtam a tratar de temas caros e urgentes relacionados à condição negra em geral, no Brasil; nessa tarefa mostra ele o compromisso com a luta, motivada e sustentada pela contínua afirmação da negrura: movimento, afirmação e ideal de libertação efetiva do jugo da branquitude. Como educador, volta-se especialmente para discutir a reforma dos conteúdos escolares; para ele, deve haver urgente descolonização dos currículos e propostas educacionais afins para, com isso, haver igualmente a descolonização das mentes, defendendo que isso não pode ser feito sem o enquadramento no espaço (e no tempo), como arena de luta, no que segue Milton Santos.

Interessa-nos por ora não o ensaísta, mas o ficcionista, particularmente as duas obras aqui retratadas. Fausto Antonio tem escrito com regularidade nos Cadernos negros,

uma trincheira literária em que se refugiam autoras e autores de dilatado quilate, de quem passa longe a boa vontade das editoras (é que, no reino das cores, inclusive editoriais, polos opostos não se atraem); para elas e para eles as portas do mercado das letras impressas quase sempre se fecham1. Isso explica, em parte, a razão pela qual Fausto Antonio, apesar de mais de trinta anos dedicados à Literatura, ainda segue desconhecido do grande público, dívida mitigada pelo papel desempenhado pelos Cadernos negros. Nesse veículo, publica regularmente poesia e prosa.

A qualidade literária dos escritos do autor mereceu menção na coletânea Literatura brasileira e afrodescendência no Brasil (2011), organizada por Eduardo de Assis Duarte, professor da Universidade Federal de Minas Gerais; essa ousada e inédita antologia apresenta síntese crítica sobre cada autor e coube a Maria Beatriz Bastos analisar e apresentar a obra de Fausto Antonio, no terceiro volume (p. 293-302), dedicado à contemporaneidade. Bastos nota a ampla área de atuação do autor e as diferentes características que há entre a obra ensaística e a de ficção e conclui que ele “afirma, assim, sua opção por uma literatura que não seja ‘primariamente militante, em sentido panfletário’, mas que almeje ‘uma militância artística, que procure atingir a universalidade da condição humana’” (p. 293). Em excertos vários reproduzidos, pode-se perceber a sensibilidade literária do autor paulista.

Outro comentário crítico e exato foi oferecido pela professora Nelly Novaes Coelho, da Universidade de São Paulo, publicado na Revista de Letras da PUC de Campinas, em dezembro de 1996 e também no volume comemorativo dos vinte anos de prosa do autor. A Profa. Nelly Coelho reconhece na escrita de Fausto Antonio uma força significativa, cujo efeito é o desmoronamento de certezas, a partir do trato com palavras. Assim abre ela seu trabalho, reproduzindo trecho de Exumos:

Meu ofício é a palavra, o seu rito, a sua devoção nas pedras, sua mensagem verbal, sua dormência e substancialidade de barro onde vivo fustigando, pisando. Tanto que quando penso essa ideia é permeada pela palavra.

A profa. Nelly Coelho também produziu Escritores brasileiros do século XX: um testamento crítico. A obra não tem compromisso com a indicação e valorização de autores negros, como se percebe pelo título; contudo, ao listar 81 autores, dentre os quais muitos já consagrados pela crítica, inclui Fausto Antonio, o que é mais um abalizado testemunho da

qualidade de sua obra literária. O comentário da quarta capa registra este pertinente comentário:

Ao lado dos mais conhecidos (Amado, Graciliano, Rosa, Mário, Oswald, Ubaldo, Loyola...), aparecem nomes que a insensibilidade crítica (ou má-fé) e o desinteresse do “mercado” colocaram numa espécie de “limbo” [...] e outros que o desinformado (ou defraudado?) “público” precisa conhecer (Vicente Cecim, Olavo Pereira, Agrippino de Paula, Fausto Antonio [...]”.

Elemento adicional que atesta não só a qualidade, mas também o impacto da obra de Fausto Antonio é o interesse que começa a aparecer em pesquisas acadêmicas, o que é alvissareiro. Exemplo disso é o estudo “A representação da morte nos contos de Cadernos negros, v. 34”, de Miriam Alves, publicado pela revista A Cor das Letras, periódico dos Programas de Pós-Graduação do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana. Para Alves, a Morte, no conto “O escuro das palavras”, que ela considera belíssimo, é metáfora de recriação:

Enfim, este é um dos contos, entre os seis outros que tematizam a morte e o morrer publicados nos Cadernos Negros, volume 34, no qual a Morte não é relatada através de fatores de violência, extermínio, miséria, balas perdidas, punição divina e outros, é antes de tudo uma recuperação da concepção de culturas africanas onde a Morte é um elemento da vida e os que se foram não desaparecem, se tornam ancestrais.

“A representação da infância em ‘Memória dos meus carvoeiros” e “Meninos carvoeiros” é título da pesquisa que compara o trabalho de Fausto Antonio e um poema de Manuel Bandeira; produzido por Rafaella de Queiroz Mendes, sob orientação da Profa. Maria Carolina de Godoy (orientadora), ao amparo do projeto “Literatura afro-brasileira e sua divulgação em rede”, da Universidade Estadual de Londrina, a comparação entre as duas peças busca identificar contrastes e semelhanças a partir da representação da infância e relações com espaços de pobreza. Essa pesquisadora, em coautoria com sua orientadora, produziu também “Personagens negras e identidade em narrativas de Cadernos negros”, trabalho que analisa Memória dos meus carvoeiros.

No “Colóquio Africaméricas - Literaturas e Culturas”, promovido pela UNEB-Universidade do Estado da Bahia, Simone Rodrigues de Carvalho apresenta o estudo “A representação do corpo negro em Vaníssima Senhora, com a finalidade de apontar pistas para releitura do corpo negro, a partir de conotações positivas para a produção literária afro-brasileira.

Essas ocorrências indicam que a obra de Fausto Antonio, aos poucos, vai sendo estudada, divulgada e conhecida; isso ocorre não sem mérito literário de sua produção que,

afinal, tem algo a dizer e, no que tem a dizer, nos reconhecemos – essa, afinal, é a marca da grande literatura.

Chegamos a No reino da Carapinha; notamos que o autor nos projeta no reino encantado da ficção infanto-juvenil. Nessa aventura envolvente, os heróis são adolescentes negros para os quais há motivação onomástica no processo de identificá-los; todos os nomes são sonoramente africanos: Oubi, Kaya, Kaiodê, Masai, Dandara, Odara, Kamau, Luandê, Loane, Zuma, Kalunga. Não faltam outros ingredientes do gênero como palavras mágicas onomatopaicas que servem para transportar de um lugar para outro, para livrar de um perigo; a vovó, depositária da tradição do saber ancestral africano oralmente transmitido às crianças; aventuras, brincadeiras diversas, sobretudo com as formas das letras, sugerem uma espécie de simbiose lúdica com o mistério das palavras, construído pelas formas das letras que as compõem; nesse reino e em suas aventuras, não faltam adivinhações que suscitam a curiosidade dos heróis infanto-juvenis. Nossos heróis são desafiados a resolver charadas e mistérios e o fazem com inteligência e com habilidade no uso da palavra, cujo poder mágico sintetiza no corpo os mistérios da existência; na vila, “tudo se faz em círculos, as notícias correm pelas palavras, pelo corpo, pelas memórias e pela ancestralidade de cada um” (p. 15).

Essas palavras, de puro arrebatamento lúdico, carregam, da mesma forma, indiscutível filosofia teleológica, na qual se encharca de sentido o mergulho no escuro: “a vida nasce no escuro e voltaremos num incerto amanhã para o escuro, não devemos ter medo de onde viemos e para onde voltaremos. Todos então sorriram e cerraram bem firme os olhinhos para saborear o escuro” (p. 16-17).

A pele escura e a negritude passam a ser referência a partir da qual é feita a leitura do mundo, a chave hermenêutica que dá sentido ao modo negro de existir, conforme as cantorias da quizomba da festa de Sayomi:

Negros guerreiros
Jogavam caxangá
Tira bota
Deixa Zambelê ficar
Guerreiro com guerreira
Fazem zigue-zigue e zás.

Nossos heróis moram na Vila Valongo, o que é mais do que sonoridade motivada. Valongo é nome de um cais no Rio de Janeiro que serviu para comércio de escravos, por onde, acredita-se, passaram aproximadamente um milhão de africanos. A área foi recuperada recentemente graças a escavações arqueológicas autorizadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Ele figura no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o patrono da literatura afrodescendente no Brasil. Essa recuperação dialógica com nossa história é um item de força que move a trama, sustentada por inspiração ancestral. Valongo, agora, não é mais lugar para escravizados, mas para o reino mágico dos que recebem a sabedoria antepassada, pelos fios mágicos das carapinhas.

A Vila Valongo e o Reino da Carapinha se encontram num sonho que nunca acaba. A vovó Dona Doca instrui as crianças: “vocês terão, no Reino da Carapinha, de recuperar um livro muito antigo de histórias. Mas não é u livro escrito, é um livro falado” (p. 23-24). Nesse reino, por meio de palavras, sete crianças têm a missão de resolver doze enigmas, o que fazem com sucesso; afinal, a sabedoria está com as crianças: “o livro antigo nas cabecinhas de cada um deles [...] o livro falante estava aberto e as carapinhas serpenteavam novas e velhas histórias” (28). As carapinhas, vistas sob nova perspectiva, portam novos valores; pelos fios das carapinhas ocorre a ligação umbilical com nossa história e com nossos antepassados.

Em No reino da Carapinha Carlindo Fausto opera com êxito a fuga a modelos impingido por brancas de neve e bonecas Barbie, como se somente essa moldura pudesse ser idônea para captar os lances de puro arrebatamento prazeroso que não está na exclusividade da superfície dérmica. É possível – necessário! – ser criativo e alternativo à hegemonia do branqueamento que ainda impera em nosso país, reforçada na imprensa em geral e na produção literária de forma ainda predominante.

Vejamos agora Memória dos meus carvoeiros, romance que retrata a saga de uma família negra ampliada e os desafios do drama humano de existir no reino da branquitude. A memória é um gênero complexo, que costura dimensões diversas do processo de produção que inclui, dentre outros elementos, presenças (psicanalíticas?): sensações autônomas que nos seduzem e ganham o direito de nos (i)mobilizar; rendidos a elas, somos condenados a nos libertar por meio da escrita – memorial – que suscita associações e revivências: “tenho memória; logo, existo” (p. 19). O narrador, de forma oportuna, acrescenta que a lembrança tem também um discurso de subsolo (p. 45).

O texto tem paragrafação rarefeita, o que se combina com o gênero; afinal, é seguido o fluxo da memória; seletiva que é, não tem compromisso com a cronologia nem com a conexão de causa e efeito das peripécias narradas; tem outra gramática, a do sonho; tem outras motivações, as da reintegração simbólica dos elos perdidos que nos fazem vislumbrar o retorno ao infinito, o “retorno para nós mesmos”, como encerra o narrador o seu relato.

Além dessa característica estrutural, as conexões textuais são densas e, por isso, tensas, com associações que fogem ao lugar-comum e formam sínteses que têm amplitude

filosófica e ampliam possíveis sentidos ligados à coerência global da obra, como estas, para citarmos poucas, que se explicam em relação de complementaridade: “a negrura era um bem nosso, que a sociedade teimava em não aceitar” (p. 25); “a morte é um bem de cada um” (p. 26); “ruflar demiurgo dos tambores” (p. 31); “a pureza era uma transgressão de foro íntimo” (p. 34); “o beijo era a metáfora da criação e da vida” (p. 35); o amor merece esta reflexão: “como a vida e a morte, é um motor para todos os infortúnios e o é também para a libertação” (p. 83)2.

A abertura do livro relata o encontro de uma criança com a morte da avó; essa experiência, além da sensação de finitude, marca a percepção da transitoriedade da vida, da peregrinação, que passa a ser condição existencial; em moldura histórica, isso evoca o drama dos antepassados negros na diáspora africana.

Há diversos índices relativos à dimensão social: logo de início ficamos sabendo que a sala em que o corpo da vovó estava sendo velado era toda a casa; os patrões não tinham registrado os carvoeiros (para sonegar-lhes os direitos trabalhistas):

[...] as lembranças da minha mãe carvoeira, do meu tio Ernesto também carvoeiro e dos avôs sujos de carvão, queimados pelo fogo da lenha e pelas palavras interditas por um ditado mudo no papel, que fervilhava de ideias de vozes, de cores e de memórias que o dono da fazenda suprimia e marcava a ferro (p. 9).

A injustiça e desumanidade dos patrões não estava somente na supressão dos direitos; ia muito além disso, atingido as fronteiras da exploração infantil. Nesse reino maldito do lucro curtido em elevadas temperaturas, a infância de seres negros era cozida sem piedade e a dimensão lúdica própria dessa fase importante afogou-se em cinzas3. A infância do titio se passou assim, com o carrinho do trabalho se confundindo com o brinquedo:

[...] um carrinho que ele, entre homens, meio escondido, imaginava. Mas era a imaginação curta, no tempo de quem trabalha, interrompida por ordens que amassavam a senha lúdica de menino, que devia carregar a lenha e alimentar

a madeira recozida, o carvão que reduzia a infância e todas as letras [...]. Acordar cedo para carregar a lenha e adiar a infância, que existia só no sonho, com brincadeiras e anjos que enrolavam as fantasias que diariamente eram afogadas na fumaça e nas brasas que ardiam (p. 80).

Não só os patrões lesavam os negros; a polícia também. Além de ter seus direitos suprimidos, como acusa e lamenta, de forma consciente, Dona Lindinha: “Em São Paulo, os negros não podem andar juntos; a polícia leva preso” (p. 55).

Nessa saga da família, unida pela solidariedade ancestral, predomina o protagonismo de mulheres: “Eram elas, as mulheres da minha vida, que me aproximavam do Eterno” (p. 44). Eram elas, as portadoras de sabedoria, e para elas “a oralidade era o corpo, era tudo” (p. 15). Nesse grupo privilegiado, a mãe ocupa destaque: “Desde sempre mamãe era a referência segura e repositório dessa lenha matriarcal que queima no seio íntimo e nos corpos que lembram a madeira, o cheiro esfumaçando que nunca abandonara os meus” (43).

Há uma espécie de relação vital com os espaços em que o narrador convive com os seus carvoeiros e demais companheiros; esses lugares são dotados de vida e, por assim dizer, desempenham um papel não adjuvante nos plots que emolduram. Por exemplo: o narrador, na Rua da Abolição “conversava com os filhos da negrura, olhava atentamente os cortiços, a negrada conversando, os batuques que surgiam e outros encantamentos tingidos nos tecidos” (p. 17).

Nessa trama os heróis e heroínas são negros e negras, gente simples que tem em seus corpos e vidas as dimensões próprias de nossa humana natureza. O barbeiro Raul e sua atenção paterna com as crianças; Dona Leontina e a interpretação das Escrituras, nelas encontrando motivação para enfrentar os descaminhos de nossa peregrinação. Nardinho, que oferece pão com pinga em um baile: daí que “nem só de pão vive o homem”; desdobram-se disso momentos lúdicos no baile em que todos cantam “pão com pinga”: “No fundo, queríamos, os carvoeiros, o pão espiritual da origem” (p. 57). Darlene é revestida de grande dramaticidade romanesca em seus vínculos com o narrador. Começam com o episódio da forminha, acidental, que se projeta em uma continuidade existencial; na adolescência, a aproximação enamorada com beijos trocados prenhes de sonhos e, depois, o distanciamento não esperado: “A separação ela dizia, foi uma forma de cultivar algo eterno e intocável” (p. 69).

Elemento que concentra grande força dramática e inspiradora é a relação entre o trabalho com o carvão e o trabalho com as letras-palavras: “os olhos do titio tinham aprendido a ler o carvão queimado (p. 79); com a memória, pois a palavra lembrada é um carvão aceso;

com a palavra escrita: “escrever e bordar os sentimentos puíam as suas ideias e alargavam o tempo, a distância” (p.11).

A palavra escrita é importante e necessária; contudo, não se pode prescindir vivacidade constitutiva da palavra oral, que “[...] aquela voz negra de todos os tempos e capaz de encantar e, no encanto, revelar a sua própria essência, a perenidade dessa conversa iniciada e jamais encerrada. As palavras eram sementes. Sementes de uma Baobá, que se abria como um portal” (62).

A pena com que Fausto Antonio escreve a obra é um carvão; a tinta é o calor das chamas dos fornos em que as suas crianças carvoeiras trabalhavam; nessa representação memorial escrita, diz o narrador, “vou aos meus mais velhos e à percepção de uma linguagem idiossincrática, que me aproxima da plenitude de um encontro com o amor de carne e de fogo que se conjuga com o amor pelos meus, que é só pureza do fogo ancestral ardendo” (p. 78). Escrever, para ele, é um ato de amor.

Quem partilha dessa sina, quem tem a negritude no corpo cinzelada a carvão, fogo incandescente, emociona-se com essa narrativa cheia de vida, escrita com amor ardente, no sentido mais literal da expressão.

Referências

ALVES, M. A representação da morte nos contos de Cadernos Negros 34. In: A Cor das Letras. Universidade Estadual de Feira de Santana. v. 12, n. 1 (2011). Disponível em: http://periodicos.uefs.br/ojs/index.php/acordasletras/article/view/1492/1039.

ANTONIO, Fausto. Vinte anos de prosa. Campinas: Arte Literária, 2006.

COELHO, Nelly Novaes. Escritores brasileiros do século XX: um testamento crítico. Taubaté, SP: Letra Selvagem, 2013.

DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, 4 vol.

HONWANA, Luís Bernardo. As mãos dos pretos. Disponível em: http://docslide.com.br/documents/luis-bernardo-honwana-as-maos-dos-pretos.html.

MENDES, R. Q. A representação da infância em Memória dos meus carvoeiros” e “Meninos carvoeiros”. In: SILVA, J. S.; BRANDINI, L. T. (Orgs.). Anais Eletrônicos do IX Colóquio de Estudos Literários. Londrina (PR): UEL, 2011. Disponível em:
www.uel.br/eventos/.../Rafaella%20de%20Queiroz%20Mendes_texto%20completo.pd.

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 * Paulo Sérgio de Proença é Professor da área de Língua Portuguesa na UNILAB – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus dos Malês (BA). É autor, entre outros, de Sob o signo de Caim: Machado de Assis e a Bíblia (2015), O Diabo protagonista em Machado de Assis: dilemas da eterna contradição humana (2017) e de O protagonismo do Diabo em Machado de Assis (2018). Em 2019, concluiu estágio de Pós-doutorado junto ao Programa de Pós-graduação em Letras, Estudos Literários, da UFMG.


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