Sérgio Bianchi, leitor de Machado De Assis:

diálogos entre o cinema e a literatura *

 

 

Elisângela Aparecida Lopes1

 

 

Nos contos do Machado de Assis, a gente vê que as coisas não são exatamente como foram ensinadas para a gente.

Sérgio Bianchi, cineasta

 

 

ABSTRACT

 

This presentation is part of a dissertation thesis which aims is to analyze Machado de Assis’ narrator point of view concerning slavery as well as the relationship between masters and slaves. This essay aims to highlight the dialogue between Machado de Assis works and the movie Quanto vale ou é por quilo? by Sérgio Bianchi. The moviemaker has made a free adaptation to the short story ‘Pai contra mãe’ which contains contemporary scenes that send the reader to the writer’s texts. Therefore, the slavery ideology appears in the movie under different masks: racism, exploitation of human poverty and misery, consumerism.

Esta comunicação é fruto de um longo trabalho de pesquisa que venho realizando desde os tempos de graduação em Letras e que, depois de algumas leituras e reflexões, acabou tomando proporções maiores, passando a se configurar como objeto de estudo ao qual me dedico no curso de Pós-Graduação em Estudos Literários. A dissertação de mestrado em andamento tem como objetivo analisar o posicionamento de Machado de Assis diante das questões relativas à escravidão, bem como analisar a relação entre senhores e escravos na sua obra.

Diante de algumas leituras de textos críticos da obra de um de nossos maiores escritores, pude notar como, ainda hoje, apesar dos esforços em contrário, o discurso que acusa o escritor de ter adotado uma postura absenteísta diante dos fatos políticos e do contexto social do século XIX ainda se faz ecoar... 2 Por outro lado, muitos são aqueles que se detiveram em mostrar o contrário, trazendo à tona a crítica machadiana às questões político-sociais dos oitocentos. 3

A crítica de Machado às questões de seu tempo e, principalmente, ao mecanismo e à ideologia escravocrata estão presentes ao longo de sua vasta produção. O texto que serve de mote a esta comunicação é, certamente, o mais contundente deles. Diante disso, faço aqui uma inversão: apresento a vocês parte de um dos capítulos de minha dissertação.

A certa altura da pesquisa, encontrei-me num impasse: era necessário reduzir o corpus ficcional e as subtemáticas eleitas a fim de tornar o trabalho exeqüível, sendo assim, o conto “Pai contra Mãe” deixou de fazer parte dos textos selecionados. Porém, após um primeiro contato com o filme Quanto vale ou é por quilo?, do cineasta paranaense, radicado em São Paulo, Sérgio Bianchi, ficou quase impossível deixar de fora aquele que se configura como um dos textos mais impactantes do nosso escritor.4

Publicado no volume Relíquias de Casa Velha, em 1906, livro feito de “relíquias, lembranças de um dia ou de outro, de tristeza que se passou, da felicidade que se perdeu” (MACHADO DE ASSIS, 1997, 658.), o conto também é marcado pelas lembranças de um narrador disposto a contá-las tempos depois, como podemos perceber no início da narrativa: “a escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício” (1997, 659). A esses tempos de escravidão, marcados, sobretudo, pela manutenção do direito de propriedade de alguém sobre outrem e pela necessidade de sobrevivência, seremos levados através da voz narrativa. Um contexto de luta de todos contra todos, marcado pela exploração do homem pelo homem, segundo nos demonstra a teoria do Humanitismo, expressa no livro Quincas Borba, e que se configura como chave para a interpretação da sociedade na narrativa de Machado de Assis.

O conto se inicia com a descrição de um dos instrumentos de tortura utilizados durante a escravidão: a máscara de folha-de-flandres – aparelho ligado a um certo ofício, qual seja, a manutenção da instituição escravocrata. O conto narra a história de Cândido Neves, um rapaz que diante da dificuldade de encontrar um emprego que lhe garanta o sustento de sua família, composta por sua jovem esposa, Clara, pela tia desta, Mônica, e por um filho que estava sendo gerado, opta por se tornar capitão-do-mato. Antes, havia tentado atuar no comércio, mas “a obrigação de servir, porém, de atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho”, trabalhou como fiel de um cartório e também como entalhador, “mas querendo aprender depressa, aprendeu mal” (1997, 660), e estes trabalhos foram deixados logo depois de serem obtidos. Sem dinheiro e vivendo de favor, vê na captura de escravos fugidos uma fonte de renda.

A certa altura da narrativa, vivendo de favor na casa de uma conhecida e na iminência de entregar o filho recém-nascido à roda dos enjeitados, o personagem parte à procura de Arminda, uma escrava que havia fugido da posse de seu senhor. A mesma é capturada e devolvida ao seu proprietário, o que rende a ele uma boa soma em dinheiro, garantindo-lhe o direito de permanecer com seu filho perto de si.

As descrições iniciais da narrativa de Machado de Assis foram transportadas para a tela, nas primeiras cenas do filme de Bianchi. Acompanhada pela narração do conto, vemos personagens negros presos à máscara e ao tronco, sendo um deles a própria Arminda.

No conto, depois da descrição dos referidos aparelhos da escravidão, o narrador, em tom imperativo, revela: “mas não cuidemos de máscaras” (1997, 659). Entendo a passagem citada como um operador de leitura do texto, uma vez que o narrador parece desejar que o máscaras que encobriam o verdadeiro funcionamento da sociedade oitocentista seja deixado de lado a fim de mostrar as mazelas e crueldades do sistema escravista que retrata. Neste sentido, as máscaras sociais são deixadas à margem dando lugar à lógica de dominação, pautada pela manutenção da propriedade e pela política do favor. Cada um em seu lugar, parte em busca daquilo que lhe falta: Arminda deseja proporcionar a liberdade que não tem ao filho que traz no ventre, enquanto Candinho objetiva adquirir uma renda que lhe garanta poder manter o filho perto de si. E nesse contexto, trava-se a luta do pai contra a mãe.

O filme de Bianchi é tido como uma livre adaptação do conto machadiano, pois é a partir deste texto que o cineasta vai nos apresentar uma faceta da sociedade atual. Entendo “Pai contra mãe” como roteiro do filme, uma vez que é este texto o fio condutor capaz de relacionar os dois momentos históricos retratados: o passado escravocrata e o presente marcado por uma outra forma de dominação. Além disso, os personagens do conto estão representados no filme: Cândido Neves, Clara, Tia Mônica e o bebê representam a família pobre do século XX, moradora da periferia, enquanto Arminda – a única personagem capaz de relacionar o passado e o presente – vê-se enganada e silenciada pelo poder das ONGs que se beneficiam da miséria alheia.

O filme é composto por cenas relacionadas à escravidão que, segundo consta, foram retiradas do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e retratam muito bem a lógica das relações sociais dos oitocentos. A estas se alternam cenas do cotidiano atual, representativas da lógica capitalista, da exploração midiática da pobreza, do desemprego, da miséria, do medo e da violência.

Iremos aqui nos deter, principalmente, aos flashes que remontam ao passado escravocrata a fim de demonstrar como a leitura machadiana do século XIX, feita através de um olhar extremamente crítico e irônico, condiz com a realidade da época, uma vez que estes flashes, no filme, baseiam-se em fatos reais, e com a leitura dos dias atuais feita por Bianchi.

A primeira cena leva-nos a 13 de outubro de 1799, quando uma expedição de capitães-do-mato captura escravos na zona rural do Rio de Janeiro e toma posse de um dos cativos de dona Joana – uma negra alforriada – que havia comprado para si alguns escravos que pudessem ajudá-la na manutenção de sua pequena propriedade. Diante da lapidação do seu patrimônio, ela forma uma comitiva, parte em direção à casa do mandante da expedição e o chama de “branco ladrão”. É presa, acusada de racismo, sendo sua fiança estabelecida em 15 mil réis.

O que nos chamou a atenção aqui é o fato de esta negra alforriada ter comprado para si escravos que a servissem. A aproximação é notória com o personagem Prudêncio, do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, que, quando jovem, servia de cavalo ao “menino-diabo” Brás Cubas, que o chicoteava a fim de que o cativo “cavalgasse” com mais ligeireza pela propriedade da família. Anos depois, a Prudêncio é concedida a liberdade. Um certo dia, Brás Cubas vê uma aglomeração em plena praça pública:

 

Parei, olhei... justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio, – o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.

- É, sim, nhonhô.

- Fez-te alguma coisa?

- É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá em baixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.

- Está bom, perdoa-lhe, disse eu.

- Pois não, nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!

(Memórias Póstumas de Brás Cubas, cap. LXVIII.)

 

A conclusão a que chega o personagem após presenciar a cena é que “Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas – transmitindo-as a outro (...) comprou um escravo e ia pagando, com alto juro as quantias que de mim recebera” (Idem). Podemos perceber pelo desfecho do capítulo mencionado como essa lógica da dominação de alguém sobre outrem é transmitida da classe senhorial aos escravos. Nos dizeres de Faoro:

 

A liberdade, casada à emancipação econômica, fez de Prudêncio um homem responsável para com a instituição, adotando-a, nas suas normas e valores, interiormente. Deu-lhe, também, o meio de cobrar no degrau inferior, o funcionamento da ordem social, cuja base é a hierarquia (1974: 338).

Sendo assim, Prudêncio, enquanto homem livre, encontrou uma forma de exercer a vingança.

Em entrevista à Revista Época, quando interrogado a respeito da personagem liberta que havia comprado para si alguns escravos, Bianchi responde: “ela faz o jogo do sistema”.5 Da mesma forma, Prudêncio também.

Nos dizeres do narrador machadiano, no conto em questão, “a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco e alguma vez o cruel”. Em Quanto vale ou é por quilo?, fica explícito que esta tentativa de ordenação social, realizada pelas ONGs, através do amparo social, ou “filantropia artificial”,6 como aponta Machado de Assis, tem como objetivo o lucro. Ao retratar a exploração da miséria e dos miseráveis feita pelo Terceiro Setor, Bianchi promove reflexões a respeito de uma nova configuração da exploração do homem pelo homem.

De volta ao filme, Candinho vê-se pressionado para conseguir um emprego e aceita assassinar dois jovens a mando de um pequeno comerciante. Os dois jovens são executados em um lote vago. Ele é agora um remake do capitão-do-mato, do período escravocrata.

A cena seguinte é composta de acordo com a narrativa de “Pai contra mãe”: Arminda é capturada pelo capitão-do-mato, cujo ofício era manter “a lei e a propriedade, por isso tinha uma nobreza própria” e cuja função era “pôr ordem na desordem”.

De volta ao século XX, Candinho é contratado para matar Arminda, pois esta havia denunciado na imprensa o roubo do dinheiro público – o famoso caixa dois – realizado pela ONG Stiner, Empreendimentos Assistenciais. Cândido Neves, personagem do filme, aborda Arminda quando esta entra em casa, a joga no chão e ela, em estado de choque, em silêncio, não consegue suplicar pela sua vida. Ele executa Arminda, grávida, com dois tiros no peito. Depois, volta para casa e dá a “boa nova” à família: havia conseguido um emprego, na ONG mencionada. O trabalho novo era advindo de uma troca de favores, uma possível retribuição ao serviço que havia realizado: silenciar a voz daquela que denunciava o esquema por detrás da filantropia de fachada, não mais com a máscara de folha-de-flandres, mas com a morte.

Além deste final, bastante fiel ao texto machadiano, Bianchi nos apresenta um outro fim para o filme. Nele, Arminda se rende à lógica da luta de todos contra todos e propõe a Candinho que eles dividam entre si o dinheiro advindo de recursos não contabilizados pela Stiner, e que formem uma Central de seqüestros, a fim de redistribuir a renda concentrada na mão de poucos.

Em várias passagens de sua obra, o Machado de Assis tece críticas à situação em que se encontrariam os escravos após ser concedida a eles a liberdade. Sem dinheiro, sem pão e sem trabalho, estariam entregues à lógica cruel da luta pela sobrevivência. Não é à toa que Pancrácio, personagem da crônica de 19/051888, prefere permanecer na casa do seu senhor, em troca de pequeno ordenado, depois de receber em mão a sua carta de alforria. E mesmo livre, continua a aceitar os petelecos deferidos pelo “nhonhô”, que os explica: “sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos” (MACHADO DE ASSIS, 1990, 63).

As críticas de Machado de Assis à instituição escravagista estão presentes ao longo de sua obra, a fim de sistematizá-las é preciso catar “o mínimo e o escondido” das coisas. A visão além de seu tempo permitiu ao escritor vislumbrar a pobreza e a miséria a que estariam submetidos os escravos libertos sem nenhum tipo de aparato social. Nos dizeres de Faoro: “somente ele, isolado na multidão que aclama, ousou manifestar a inanidade do 13 de maio. Livre o escravo, estará na rua, sem emprego, ou receberá do senhor a esmola do salário, em troca de igual trabalho, com as antigas pancadas e injúrias” (1974, 327). Já nos dizeres de Chalhoub, ao analisar a referida crônica, se o liberto continua dependente e incapaz de gerir a si mesmo, “a abolição torna-se um não-fato do ponto de vista das relações sociais” (1990, 95).

O filme de Sérgio Bianchi pode ser entendido como uma releitura do conto machadiano capaz de estabelecer um diálogo entre e o passado e o presente brasileiros. Além disso, a produção cinematográfica põe em cena os efeitos da liberdade, tal como foi concedida, na medida em que os personagens, assim como Cândido Neves, encontram-se submetidos a uma nova lógica de dominação: dos ricos sobre os pobres, que vem a substituir a anterior, marcada pelo poder de mando da oligarquia sobre os escravizados. O filme revela, nas palavras de um dos seus personagens, que a única liberdade de que goza a população brasileira é a liberdade de consumir, demonstrando que lógica de consumo seria uma nova forma de escravidão daqueles que se encontram na base da pirâmide social. Tinha razão o narrador machadiano quando, ironicamente, proferiu: “a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco e alguma vez o cruel” (1997, 659).

 

Referências:

BIANCHI, Sérgio. (2005). Entrevista concedida a Ana Aranha e Cléber Eduardo.

Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT961935-1655,00.html. Acesso em 06 de set. de 2006.

CHALHOUB, Sidney. (1990) Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras.

FAORO, Raimundo. (1974) Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio. São Paulo: Companhia Nacional.

MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. (1997) Pai contra Mãe. In: _____. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar.

_______. Memórias Póstumas de Brás Cubas (1997). In: _____. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar.

_______. Crônica de 19 de maio de 1999. In: GLEDSON, John. (Org.) (1990) Bons dias! São Paulo: HUCITEC.

MORICONI, Ítalo (Org.) (2000) Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva.

QUANTO VALE ou é por quilo? Direção: Sérgio Bianchi. Rio de Janeiro: Agravo Produções Ciematográficas, Riofilme, 2005. 1 DVD (104 minutos).

 

1* Artigo publicado originalmente ANAIS DO SETA – Seminário de Teses em Andamento, Número 1, 2007. Campinhas, SP, 2007. Disponível também em: http://www.iel.unicamp.br/seer/seta/ojs/viewarticle.php?id=50&layout=abstract , último acesso em 18/04/2011

 

 Mestranda em Teoria da Literatura do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários, da Faculdade de Letras da UFMG. Bolsista da Capes.

2 Podemos citar, dentre outros estudiosos que fizeram coro ao discurso que acusava o escritor de absenteísmo, os seguintes: PEREIRA, Lúcia Miguel. Machado de Assis – estudo crítico e biográfico. São Paulo: Nacional, 1936; quanto à suposta indiferença do escritor em relação às questões relacionadas ao escravo; cf. LOBO, Luiza. Crítica sem juízo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1993; PROENÇA FILHO, Domício. O negro e a literatura brasileira. Boletim Bibliográfico Biblioteca Mário de Andrade, v. 49, n ¼, jan./ dez. 1998.

3

 Dentre outros: BROCA, Brito. Machado de Assis e a política e outros estudos. Rio de Janeiro: Simões, 1957; GLEDSON, John. Machado de Assis: ficção e história. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

4

 Vale ressaltar aqui que não é por acaso que o referido conto abre a antologia Os cem melhores contos brasileiros do século, organizada por Ítalo Moriconi, na parte intitulada “De 1900 aos anos 30: memórias de ferro, desejos de tarlatana”. Provavelmente por ser o texto um retrato dos aspectos sociais e ideológicos que marcaram o século XIX e cujos resquícios ainda podem ser percebidos na atualidade.

5 Disponível em http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT961935-1655,00.html.

6

 Em vários textos do escritor há uma crítica à atitude filantrópica que tem como objetivo a promoção individual, os holofotes da fama, ou, até mesmo, o interesse econômico. Um deles é a crônica de 15 de junho de 1877, em que o autor faz referência à Bíblia, através da metáfora da mão direita e da mão esquerda, para dizer que a verdadeira caridade deve permanecer anônima. Em outra crônica, de 23 de novembro de 1885, no qual critica o Fundo de Emancipação dos cativos, Machado faz uso da diferença entre “filantropia real” e “filantropia artificial”.

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