DADOS BIOGRÁFICOS

Nascido em Salvador, em 1979, Itamar Rangel Vieira Júnior é Graduado e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia. Sua ligação com o estado em que nasceu reflete de forma intensa em seu interesse acadêmico, como nos demonstra sua monografia intitulada A expansão de Salvador: a produção do espaço urbano em uma via metropolitana (2005) e sua dissertação de mestrado denominada A valorização imobiliária empreendida pelo Estado e mercado formal de imóveis em Salvador: analisando a avenida paralela (2007).

Na mesma instituição de ensino superior, concluiu também sua tese de doutorado, dessa vez na área de Estudos Étnicos e Africanos, com o nome de Trabalhar é tá na luta: vida, morada e movimento entre o povo Iuna (2017), pesquisa que se volta sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste brasileiro. Para além da literatura, atua como funcionário do INCRA - órgão federal voltado para a implantação da reforma agrária.

Estreia na literatura em 2012, com o livro de contos Dias, vencedor do XI Prêmio Projeto de Arte e Cultura (Bahia). Em 2017, lança o também premiado A oração do carrasco, finalista do Prêmio Jabuti do ano seguinte na categoria conto. Além disso, o livro conseguiu o segundo lugar no Prêmio Bunkyo de Literatura 2018 e foi vencedor do Prêmio Humberto de Campos da União Brasileira de Escritores (Seção Rio de Janeiro).

Já seu impactante romance Torto arado (2018) conquistou em Portugal o prestigioso Prêmio LeYa, concedido por unanimidade pelo modo como representa de forma sólida e realista o universo rural brasileiro. O enredo enfatiza trabalhadores sem-terra remanescentes do regime escravista, em especial as personagens femininas duplamente vítimas da violência que impera nos grotões mais afastados, realidade representada por meio de uma sensível e sofisticada escrita, como bem notaram os jurados do concurso em sua nota de justificativa:

O Prémio LeYa 2018 é atribuído ao romance “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, pela solidez da construção, o equilíbrio da narrativa e a forma como aborda o universo rural do Brasil, colocando ênfase nas figuras femininas, na sua liberdade e na violência exercida sobre o corpo num contexto dominado pela sociedade patriarcal. Sendo um romance que parte de uma realidade concreta, em que situações de opressão quer social quer do homem em relação à mulher, a narrativa encontra um plano alegórico, sem entrar num estilo barroco, que ganha contornos universais. Destaca-se a qualidade literária de uma escrita em que se reconhece plenamente o escritor. Todos estes motivos justificam a atribuição por unanimidade deste prémio.
(Disponível em: https://www.leya.com/pt/gca/areas-de-actividade/premio-leya/vencedor-2018/).

Situando a história em uma região remota e imaginária do nordeste brasileiro, Itamar Vieira Junior abrange problemáticas que envolvem proporções maiores ligadas tanto ao modo de funcionamento histórico e social do país quanto à complexa e intrincada rede de sentimentos e emoções intrínsecas ao ser humano. Em concomitância, temos um romance que fornece elementos para debate sobre as desigualdades e violências entre cidade e campo, as desigualdades de gênero, as formas de resistência das religiões de matriz africana e indígena, as permanências e continuidades da escravidão simbolizadas na relação de mando inviolável entre patrão/dono e trabalhador/agregado, assim como do tríplice espólio sobre o trabalhador: sua mão de obra, seu produto final e seu tempo. Somada a esses fatores há também na narrativa uma implícita, mas potente reflexão sobre os sentidos da posse de terra e de uma necessária reforma agrária no território nacional. Ao mesmo tempo, portanto, em que há um “Brasil profundo” sendo problematizado, somos convidados a sentir de maneira pungente o caótico estado emocional de personagens que, mesmo vivendo sobre constante tensão, manifestam complexos e contraditórios estados emocionais.


PUBLICAÇÕES

Obra Individual

Dias. Salvador: Caramurê Publicações, 2012. (contos).

A oração do carrasco. Itabuna-BA: Mondrongo, 2017. (contos).

Torto arado. Lisboa: LeYa, 2018; São Paulo: Todavia, 2019. (romance).

Doramar ou a odisseia: histórias. São Paulo: Todavia, 2021. (contos).

Salvar o fogo. São Paulo: Todavia, 2023. (romance).

Não Ficção

Do canto ao "canto": cidade e poesia em Caetano Veloso. In: Délio José Ferraz Pinheiro, Maria Auxiliadora da Silva. (Org.). Imagens da Cidade da Bahia: um diálogo entre a geografia e a arte. Salvador: EDUFBA, 2007, v. 1, p. 111-120.

Do Centro aos Centros: uma leitura das categorias analíticas do espaço: forma, função, estrutura e processo. In: Maria Auxiliadora da Silva; Rubens de Toledo Junior; Clímaco César Siqueira Dias. (Org.). Encontro com o Pensamento de Milton Santos. Salvador: Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, 2006, v. 1, p. 149-159

Quando a memória é patrimônio: expressões de territorialidade de comunidades quilombolas. In: Geografia em Questão (Online), v. 08, p. 01-163, 2015.

Expressões de territorialidade entre trabalhadores e quilombolas na Chapada Diamantina, Bahia. In: 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, 2014, Natal. Anais da 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, 2014.

A territorialidade como condição humana: a experiência de remanescentes de quilombos na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil.. In: IX Congreso Sociedades Rurales Latinoamericanas Diversidades, Contrastes y Alternativas, 2014, Cidade do México. IX Congreso Sociedades Rurales Latinoamericanas Diversidades, Contrastes y Alternativas. Cidade do México: ALASRU, 2014. v. 1.

Territorialidade e Etnicidade: Debates para a regularização fundiária de quilombos pelo Estado Brasileiro. In: Decimocuarto Encontro de Geógrafos da América Latina - Reencuentro de Saberes Territorialies Latinoamericanos, 2013, Lima, Peru. Anales del XIV Encontro de Geógrafos de América Latina 2013 Perú. Lima: Unión Geográfica Internacional - Comité Nacional Perú, 2013.

Memória, identidade e território: notas sobre a regularização fundiária de comunidade quilombolas na região Sul e Baixo Sul Baiano. In: VI Simpósio Internacional de Geografia Agrária - VII Simpósio Nacional de Geografia Agrária, 2013, João Pessoa. Anais do VI Simpósio Internacional de Geografia Agrária - VII Simpósio Nacional de Geografia Agrária. João Pessoa: UFPB, 2013. v. 1. p. 1-17.

A Produção do Espaço Urbano em uma Via Metropolitana: Aspectos da Configuração Espacial de Salvador - Brasil. In: X Encontro de Geógrafos da América Latina, 2005, São Paulo. Por uma Geografia Latino Americana: Do Labirinto da Solidão ao Espaço da Solidariedade.. São Paulo: EDUSP, 2005. v. 1. p. 16260-16271.

Discurso verde: produzindo espaço, vendendo paisagem.. In: Seminário do Laboratório de Estudos Ambientais e Gestão do Território, 2005, Salvador. Cadernos do Leaget, 2005.

A Produção do Espaço Urbano na Avenida Paralela: Aspectos da Configuração Espacial da Expansão de Salvador. In: VII Semana de Mobilização Científica, 2004, Salvador. VII Semana de Mobilização Científica. Salvador: UCSal, 2004. v. 1.


TEXTOS


CRÍTICA


FONTES DE CONSULTA

CANDIA, Luciene; CABRAL, Rayssa D. M. (Orgs.). Torto arado: perspectivas críticas. Catu-BA: Bordô-Grená, 2022. (E-book).


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