Colorindo a história: a literatura infantil afro-brasileira de Heloisa Pires de Lima

Marina Luiza Horta

 

Um pouco mais de África para a criança e adolescente brasileiros é o que propõe a escritora gaúcha Heloisa Pires Lima nos seus livros Histórias da Preta (2002) e O espelho dourado (2003), publicados pela Companhia das Letrinhas e Editora Peirópolis, respectivamente. Através de “contadores de histórias” a psicóloga e cientista social traz para o universo infantil uma paisagem colorida do continente africano.

A literatura desempenha um importante papel não só na formação crítica-leitora da criança, mas funciona também como um elemento influenciador do caráter. Sobre a significância da leitura na juventude, conclui o psicológico infantil e um dos maiores estudiosos sobre a influência dos contos de Fadas na formação da criança, Bruno Bettelheim, em sua obra A psicanálise dos contos de fadas (1976):

 

Para regular os problemas psicológicos do crescimento (superar as decepções narcísicas, os dilemas edipianos, as rivalidades fraternas; ser capaz de renunciar às dependências da infância; afirmar sua personalidade, tomar consciência de seu próprio valor e de suas obrigações morais), a criança tem necessidade de compreender o que se passa em seu ser consciente, para fazer face igualmente ao que se passa em seu inconsciente(...) (BETTELHEIM, 1976, citado por CARVALHO, 1982, p. 180).

 

A partir do trecho citado, percebe-se que, além da função recreativa, o livro nas mãos de uma criança pode ser fundamental para o seu desenvolvimento intelectual e psicológico, fazendo com que reconheça a si próprio nas obras. Esse reconhecimento só é possível quando a literatura expressa para o pequeno leitor algum ponto de ligação com o mundo que o cerca e com o qual ele possa identificar-se.

Histórias da Preta é um convite que Heloisa Pires faz a todos os interessados para compreender melhor como o continente africano está presente em nosso país. Essa apresentação da África para o público infanto-juvenil quebra estereótipos enraizados em nossa cultura, devido ao desconhecimento, e contribui com a promoção da igualdade étnico-racial, que vai muito além do ambiente escolar.

Preta, nossa contadora de estórias, começa o livro com uma pergunta típica da curiosidade infantil.

 

– Vó, quem inventou a cor das pessoas?

Isso eu perguntei porque havia aprendido que uns são amarelos, outros brancos e outros vermelhos. Ela disse:

– Eu só repondo se tu me disser quem inventou o nome da cor das pessoas.

Eu fiquei lá, pensando e chupando uva, e ela continuou plantando suas sementes (LIMA, 2002, p. 12).

 

É com essa indagação que começa a jornada da protagonista em busca de uma resposta que a ajudasse a descobrir “quantas sementes carrega dentro de si” (LIMA, 2002. p. 13).

Sempre ao lado da menina está a personagem Lia, que é tão protagonista quanto Preta. A amiga, que carrega consigo uma das conjugações do verbo “ler”, representa na obra uma função metalinguística. É ela quem apresenta o mundo dos livros, ou seja, Lia é a figuração da própria leitura. É através dela que se abre um horizonte rico em histórias e onde habitam os povos que dividem ancestralidade com Preta.

A primeira coisa que ensina Lia – representação figurada da leitura – é que o conceito de etnia está deturpado em nossa sociedade. Assim, é preciso recuperar a idéia desta palavra, usada pelos gregos para denominar aqueles povos que não pertenciam à cidade, os estrangeiros. Ela deve ser encarada como significado de que existem sociedades diferentes e não inferiores. É aproveitando-se dessas diferenças que a autora escreve as riquezas culturais africanas.

Já no primeiro capítulo da jornada, a narradora nos lembra um outro personagem muito importante na disseminação de estórias, o griot – sábio que na tradição africana guarda consigo os conhecimentos ancestrais da comunidade. Como guardião da memória coletiva ele tem a responsabilidade de fazer perpetuar de geração em geração as crenças do seu povo. E a primeira memória trazida pelos griots em Histórias da Preta são os mitos cosmogônicos que cada etnia africana acredita ser a explicação da criação do universo.

Para Bárbara Carvalho (1982, p. 24), o mito em obras infantis apresenta um papel de “fixação de valores paradigmáticos na busca de padrões de comportamento”. Ele é mais um elemento formador da cultura, é o que Freud chama de “patrimônio coletivo inconsciente do psiquismo popular”. Assim, o mito guarda uma memória comum, que possui extrema relevância para ilustrar a tradição, oral ou narrativa, trazida com os griots. 1

É no mundo do mito que se insere também O espelho dourado. O griot aparece nessa obra como o pescador, figura que habita o imaginário popular como aquele que cria ou conta histórias. No caso, o nosso pescador acompanha nas águas dos rios africanos o universo que se criou em torno dos mesmos. Mais uma vez a autora promove o colorido da África, representando a diversidade como uma das características do continente onde a grande maioria da população é negra, mas não são todos iguais.

 

Feito serpentes, os rios passeiam pelos continentes. E alguns, muito coloridos, existem sobre a África. Sobre eles, um barco mais colorido ainda. E dentro dele um pescador. As correntes fluem na terra igual ao sangue nas artérias que trazem, a energia vital. O Pescador descansa à beira da fonte e, às vezes, pesca uma história, que é um jeito de se alimentar com as idéias do lugar. (LIMA, 2003, p. 7)

 

Jogada a rede, o pescador traz para o texto uma crença achanti de que

 

(...)os mortos habitam um mundo que é a imagem espalhada do mundo dos vivos. Por isso, os antepassados não estão exatamente mortos, mas, sim invisíveis. O país do lado de lá é igual ao do lado de cá. A diferença é que em um deles não se consegue acender fogueira. (LIMA, 2003, p. 09)

 

É através da metáfora do espelho que se dá o contato dos vivos com seus ancestrais. O diálogo com o passado restaura aspectos culturais importantes, formadores da sociedade, como foi dito anteriormente sobre o mito.

A teoria do espelho lacaniana (1966), lida aqui superficialmente, ajuda a compreender melhor a importância de estar “refletido”. Segundo o psicanalista, o espelho funcionaria como um meio de autorreconhecimento. Assim, a criança se identifica com um sujeito “Eu”, quando percebe que a imagem refletida virtualmente representa a sua realidade, ou seja, a imagem e a criança são uma só coisa. O que para um adulto pode parecer banal, na criança, dos seis aos dezoito meses, esse reconhecimento é essencial para definir o “eu” como uma “forma”. Do lado extremo do reconhecimento está a esquizofrenia de não se identificar na imagem produzida.

Ao levar essa teoria para a literatura, infere-se que o espelho na obra de Heloisa significa uma imagem com a cultura africana, especialmente de etnia achanti, na qual a criança afrodescendente identifica-se como um sujeito que divide um passado com esse povo, o que se torna possível, mais uma vez, através do “coletivo inconsciente” mitológico.

É no rio Niger que Nyame, a princesa do reino medieval de Gana, lamenta para sua avó, invisível no mundo dos vivos2, a saudade daquele que seria seu marido, um jovem guerreiro. Essa personagem traz em seu nome a evocação de uma figura mítica, representa a deusa Akan figurada em um corpo de fogo que teria originado o universo. Novamente, a escritora, assim como em Histórias da Preta, vale-se de um mito africano que sugere possíveis explicações para a nossa origem.

Distraída à margem do rio, Nyame é capturada por estrangeiros que a aprisionam. Presa, a jovem princesa seria uma armadilha para que esses estrangeiros pudessem manter como cativo o bravo guerreiro. Mas, valente, o achanti não se deixa capturar e, “guiado pelos ancestrais”, encontra a amada, com quem mais tarde iria se casar.

A autora não deixa dúvidas sobre o que realmente pretendia dizer através da lenda. Do mesmo modo que Nyame foi aprisionada, milhões de africanos também o foram. O processo teve início no XVI quando vários reinos africanos reuniram-se através de alianças políticas.

 

Essa memória é importante, pois nunca se fala dela ao se construírem referências sobre a África. É muito mais fácil encontrarmos nos livros de nossa biblioteca a idéia repetitiva de que “os negros vendiam os próprios negros”. De um lado, ela isenta todos os atuantes não-africanos da responsabilidade pela estrutura escravista e, de outro, induz à conclusão de que os próprios africanos negros são os culpados (e únicos) pela tragédia da escravidão. A manutenção dessa lógica deve ser, ao menos, problematizada e não simplesmente naturalizada. (LIMA, 2003, p. 28).

 

A escritora retoma o tema escravidão em Histórias da Preta, em um capítulo que recebe o nome de “O roubo do tesouro”. O tesouro é uma metáfora que mescla os animais, a paisagem e o povo africano (o que foi roubado). De maneira didática, a narrativa traça um mapa do Brasil mostrando as principais regiões em que certas etnias foram desembarcando por aqui.

É assim que Preta denuncia para o seu pequeno leitor que muitas crianças africanas foram separadas de suas famílias e trazidas para uma terra que lhes era desconhecida.

 

Os navios saíam abarrotados da África, cheios de pessoas que eram compradas ali e vendidas em outro lugar.

Durante a travessia, alguns dos apanhados conseguiam se jogar no mar; era preferível escolher morrer a viver escravizado. Outros eram atirados do navio, porque tinham ficado doentes. Até de tristeza eles morriam – uma tristeza chamada banzo, que era a falta que sentiam de sua terra, de sua casa. Depois do desembarque, alguns comiam terra até morrer, e muitos morreram de tanto trabalhar. Era só lutar para não serem escravizados, era só resistir que morriam de apanhar de chicote e outros instrumentos piores (LIMA, 2002, p. 41, grifo da autora).

 

Essa citação nos mostra duas ideias. Uma primeira está ligada a estética da obra e a outra com o enredo. Heloisa opta por utilizar uma linguagem combinada com palavras tipicamente africanas como banzo. Não só nessa passagem, mas em todo o texto a criança tem contanto com um vocabulário caro à cultura da África (por exemplo: zulu, griot). A linguagem, segundo Eduardo de Assis Duarte,

 

é, sem dúvida, um dos fatores instituintes da diferença cultural no texto literário. Assim, a afro-brasilidade tornar-se-á visível já a partir de uma discursividade que ressalta ritmos, entonações, opções vocabulares e, mesmo, toda uma semântica própria, empenhada muitas vezes num trabalho de ressignificação que contraria sentidos hegemônicos na língua (DUARTE, 2008, p. 16).

 

As ilustrações de Laurabeatriz desenham em torno do escrito personagens (como o capoeirista, a pintura nos corpos, a dança), objetos e natureza rodeada de animais que se confundem com as histórias contadas e reafirmam a visão colorida e viva da cultura presente no continente africano.

O segundo ponto pode ser relacionado com a vontade de inversão de valores. A imagem no negro cativo, tão trabalhada nos livros de história, contrapõe-se com a da resistência. Essa outra visão, diferente da caricatura criada, é idealizada no menino Estevão. Fugido e filho de escravos mortos, a criança é criada por uma amiga de sua mãe. Livre e corajoso, traçava sempre seu caminho passando pelas ruas onde o mercado do tráfico negreiro era grande. O medo dava lugar a pensamentos revolucionários de libertação para todos os que ali estavam acorrentados. As idéias fervilhavam na cabeça do garoto capoeirista que, além da valentia, era um dos melhores alunos da escola. Mas a história alerta que “nem todos os menino negros viveram como Estevão. Escravizados ou livres, porém, todos lidaram com enredos para ampliar seu espaço de vida, cerceados pela sociedade violenta.” (LIMA, 2002, p. 48).

Mesmo com a sociedade racista que os rodeava, outras figuras importantes como Estevão são lembradas na obra – Machado de Assis, Aleijadinho, Teodoro Sampaio, Cruz e Sousa, Luciana de Abreu e o marinheiro, líder da Revolta da Chibata, João Cândido.

Ressaltar a genialidade desses afrodescendentes e criar um personagem herói contribui para uma imagem positiva – lembrando a relação literatura e espelho, dita anteriormente – de semelhança entre a criança e os nomes citados. Assim, Lima quebra com a ideia preconceituosa – vinda do sistema escravocrata que perdurou até o século XIX, e ainda é o discurso de algumas pessoas – , de que o negro no passado de nosso país apenas ocupou o espaço de escravo ou ainda de que são inferiores aos demais. Essa reversão de valores é um operador que auxilia na promoção étnico social, melhorando a autoestima e projeção da criança negra.

O candomblé também merece um capítulo na obra de Heloisa e pelo menos um parágrafo nesse texto. Contado de uma forma lúdica, enfatizando suas origens, cerimônias e divindades, indica ao leitor que é uma religião que merece tanto respeito quanto as outras. Preta nos fala da importância dos orixás e da criação do mundo pelo deus Odudua e dos homens através do barro trabalhado nas mãos de Obatalá.

A formação do universo pelos orixás, e o candomblé em si, parecem ser esquecidos pelos professores, que muitas vezes não veem com bons olhos as religiões africanas. O resultado dessa intolerância reflete na educação de seus alunos que, por desconhecimento, discriminam a religião e seus seguidores. O problema se torna ainda mais grave se pensarmos que a maioria das escolas brasileiras, quando ligadas a alguma religião, restringem-se ao catolicismo e protestantismo.

Tão invisível quanto os do “mundo dos mortos” é o negro na literatura infantil e na maioria do livros didáticos. Desse modo, Preta indaga-se por que só aprendeu na escola a enxergar o negro no “retrato de um homem amarrado, a calça abaixada, apanhando em um tronco”. (LIMA, 2002, p. 53)

 

 

(...) na prática são invisíveis: é como se nem existissem.

E nas historinhas infantis, então? O único personagem de que me lembro é o Gato Félix, que é um gato preto. Nunca encontrei personagens negros fazendo papel principal num enredo de amor ou numa aventura. Nas poucas histórias em que eles ganham destaque, são pobres e tristes, na melhor das hipóteses (LIMA, 2002, p. 53).

 

Ao contrário do que não se vê, a protagonista de Heloisa Pires Lima é negra, curiosa por saber a “origem africana que está na cara e também no coração” (ibidem, p.13).

Além de todos os aspectos destacados, fala-se ainda na preocupação da obra em afirmar as diferenças entre os povos em uma mesma sociedade. No lugar do discurso que procura homogeneizar a cultura brasileira e torná-la una, diluindo assim as diversidades, traz à tona uma sociedade heterogênea, formada, assim como a África, de várias etnias. Expondo as divergências, Lima nos leva a concluir que seu raciocínio está na contramão da crença na democracia racial.

Ainda expondo os vários tipos de discriminação, a autora e lembra que não só alguns livros didáticos representam uma visão negativa do negro, mas também o dicionário é uma ferramenta que termina por colaborar com o preconceito. Consultando o dicionário Aurélio, a escritora encontra os seguintes significados para a palavra negro – “sujo”, “encardido”, “triste”, “maldito” (LIMA, 2002, p.54). É importante, portanto, repensar os significados e conceitos que se dá às palavras. Mais do que isso, se esses sentidos são aplicados à palavra é porque de algum modo é assim que está refletido na sociedade. Então, além de questionar sobre a maneira como está escrito no dicionário, deve-se prestar mais atenção no uso que fazemos das palavras.

Através da memória coletiva de Preta e das histórias do pescador é possível travar a seguinte discussão sobre a obra de Heloisa Pires Lima – a autora faz um movimento de diáspora às avessas. Para resgatar a diversidade cultural étnica (o colorido africano), o texto vale-se da memória coletiva que sem tem de uma África una e, para desmitificar essa mesma ideia, leva ao leitor um conhecimento mais profundo do continente, formado de dezenas de países que se distanciam entre si.

Assim a ancestralidade comum, montada através da vinda dos negros para o Brasil, e dos mitos é repartida nas diversas etnias. Primeiro é necessário aproveitar o que já está consolidado no imaginário popular para, só depois, romper com conceitos estabelecidos e integrar contextos históricos que ficaram à margem canônica por muitos anos.

A criança afrodescendente brasileira só poderá “acender a fogueira” a partir do momento em que se enxergar como parte formadora da sociedade, não como vítima, mas como colaboradora. Tão importante como denunciar a discriminação é apresentar ao universo infantil motivos para se interessarem e valorizarem as culturas africanas. Heloisa Pires faz isso recordando os mitos, ressaltando belezas e diversidade. A valorização contribui para que a criança possa se identificar com a literatura e através dela dilacerar estereótipos que foram construídos para ela e não por ela.

Apesar da lei n° 10. 639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece segundo o artigo 26-A

 

Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

 

Nota-se que a produção infantil afro-brasileira ainda é muito tímida e com pouca visibilidade no mercado editorial se comparada à literatura infantil brasileira tradicional. Segundo pesquisa realizada por Eliane Debus, que mapeia a produção da literatura infantil com a temática étnico-racial, a editora Companhia das Letrinhas, por exemplo, no ano de 2005, em seu catálogo de 332 títulos, apenas 13 traziam a presença do personagem negro.

O número alarmante que se repetia em outras editoras consultadas é reflexo do descaso e marginalidade com que não só o mercado editorial, mas também a sociedade como um todo, trata as questões étnico-raciais. Essa falta de representação da criança negra colabora com o desaparecimento da diversidade cultural e com o branqueamento. Desconhecendo parte de sua história na infância e não encontrando nela aspectos de semelhança, o futuro adulto terá, certamente, problemas com a sua afirmação como sujeito. Olhar-se-á ao espelho e não saberá reconhecer naquela imagem refletida o que ali é realmente seu, sendo assim a identidade estará perdida.

Referências:

BRASIL. Lei n° 10. 639/2003, de 09 de janeiro de 2003. Altera a lei n° 9. 394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-brasileira” e dá outras providências. Base da Legislação Federal do Brasil. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm >. Acesso em: 28 mai. 2010.

CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. A Literatura Infantil: visão crítica e histórica. 2. ed. São Paulo: Edart, 1982.

DEBUS, Eliane Santana Dias. A Literatura Infantil contemporânea e a temática étnico-racial: mapeando a produção. Disponível em: < http://www.alb.com.br/ >. Acesso em: 28 mai. 2010.

DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura afro-brasileira: um conceito em construção. In: Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea: Relações Raciais. Brasília, n 31, p.11-23, janeiro/junho, 2008.

______. Literatura e Afrodescendência. In: Literatura, Política, Identidades: ensaios. Belo Horizonte: FALE/UFMG, p.113-130, 2005

LACAN, Jacques. Le stade du miroir comme formateur de la fonction du Je, in Écrits. Paris: Ed. du Seuil, 1966.

LIMA, Heloisa Pires. Histórias da Preta. 3. ed. São Paulo: Companhia das letrinhas, 1998. Ilustrações de Laurabeatriz.

______. O espelho dourado. São Paulo: Peirópolis, 2003. Ilustrações de Taisa Borges.

LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro, 2004.

 

1De acordo com a Enciclopédia brasileira da diáspora africana elaborada por Nei Lopes, o griot é um “termo do vocabulário franco-africano, criado na época colonial, para designar o narrador, cantor, cronista e genealogista que, pela tradição oral, transmite a história de personagens e famílias importantes às quais, em geral, está a serviço. Presente sobretudo na África Ocidental, notadamente onde se desenvolveram os faustosos impérios medievais africanos (Gana, Mali, Songai, etc.), recebe denominações variadas: digeli ou diali, entre os Bambaras e Mandingas; guésséré, entre os Saracolés; mambabé entre os Peúles; aouloulé, entre os Tucalores; e guéwel, entre os Uolofes” (LOPES, 2004, p. 310).

2Os dois mundos representados pela lenda são denominados em iorubá por aiê e orum. Na concepção dada por Nei Lopes o aiê, ou àiyé, “designa o mundo visível, dos vivos, em oposição à orum” (LOPES, 2004, p.43). Este, por sua vez, seria “na mitologia iorubana, compartimento do universo onde moram as divindades, em oposição ao aiê, o mundo físico, terreno, material. Segundo Pierre Verger, ao contrário do que normalmente se pretende para os iorubás, o orum não estaria situado no céu, mas debaixo da terra. Essa ideia poderia comprovar-se nas oferendas dos orixás, quando o sangue dos sacrifícios, dentro da tradição mais ortodoxa, é derramado em um buraco cavado no chão, ao pé do assentamento, e os olhares se voltam para ele e não para o alto”(LOPES, 2004, p. 500)

 

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