Conceição Evaristo: circuitos transnacionais, entrelaçamentos diaspóricos1 

Stelamaris Coser* 

Minha mãe trazia, serenamente em si, água correntezas.
Por isso, prantos e prantos a enfeitar o seu rosto.
(Olhos d’água)

 

A escritora Conceição Evaristo vem alcançando respeito e visibilidade no âmbito acadêmico brasileiro, somando-se a isso a crescente circulação de suas obras no cenário internacional. Quando fala e escreve sobre a condição dos afro-brasileiros, ela afirma o propósito de recriar e registrar a sua história e o seu legado cultural e descrever a experiência contemporânea, em prosa e verso. Impressiona a fluidez com que transita entre gêneros literários, a poesia, a prosa curta, o romance e o ensaio, assim como a desenvoltura de seu discurso em suas muitas apresentações e entrevistas. Além da importância de sua voz para o país, Conceição Evaristo integra a diáspora africana nas Américas de forma determinada e dinâmica, dialogando diretamente sobre a literatura de autoria feminina e negra no cenário continental e internacional, fazendo uso dos espaços e recursos que se abrem na contemporaneidade. Em processo subjacente, expandem-se as pesquisas e publicações que abordam sua obra em contexto transnacional e as análises comparativas que ressaltam entrelaçamentos diaspóricos.

No espaço acadêmico brasileiro, observam-se cursos, seminários, projetos de pesquisa, um grande número de artigos publicados, edições especiais de revistas, dissertações e teses que abordam sua trajetória e obras. No Seminário Nacional e Internacional Mulher & Literatura de 2015 em Caxias do Sul, por exemplo, a programação mostrava diversas apresentações tratando da escritora, como ocorreu também em anos anteriores. No país como um todo, pesquisadores têm produzido trabalhos significativos não só sobre Evaristo, como sobre a literatura e a cultura afro-brasileira de um modo geral. Um exemplo marcante é a antologia crítica Literatura e afrodescendência no Brasil, organizada e divulgada com grande empenho por Eduardo de Assis Duarte (2011, reimpressa em 2014). Dividida em 4 volumes, respectivamente identificados como “Precursores”, “Consolidação”, “Contemporaneidade” e “História, teoria, polêmica”, a antologia mostra a vida e obra de Evaristo comentadas por Eduardo Assis com Maria Consuelo Cunha Campos no volume II, e um depoimento da escritora no volume IV.

No Brasil do século XXI, a consciência e o interesse pela diáspora africana se faz notar na temática de seminários, encontros e publicações, como se pode ver, por exemplo, com o lançamento da Enciclopédia brasileira da diáspora africana por Nei Lopes em 2004 e a III Conferência Internacional da Diáspora Africana, realizada no Rio de Janeiro em outubro de 2005, entre outros eventos (BERTOL, 2005, p. 1). Conceição Evaristo participou como palestrante na mesa “Literatura Negra – Nossas letras e vozes”, e foi a autora homenageada no IV Latinidades (Festival da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha) em 2013, em Brasília.
 

1. Circuitos transnacionais

A própria escritora destaca o reconhecimento de pesquisadores estrangeiros e os encontros e publicações que acontecem no exterior desde a década de 1990, uma recepção que precedeu e se mostrou mais positiva do que a encontrada por ela no Brasil (EVARISTO, 2011, v. 4, p. 109). De fato, sua voz tem-se feito sentir de muitas maneiras para além de nossas fronteiras, onde a atração exercida por sua escrita emocionada, que consegue conjugar realidades sofridas com sentimento e lirismo, alimenta o interesse de leitores por novas letras e histórias. Seu trabalho foi traduzido e incluído primeiramente em antologias na Alemanha sobre literatura afro-brasileira (Schwarze Prosa, 1988, e Schwarze Poesie, 1993).2 Seus poemas foram também traduzidos para o inglês e apresentados, junto a outras 16 autoras afro-brasileiras, no livro bilíngue Enfim Nós/Finally Us: Contemporary Black Brazilian Women Writers, já bastante conhecido, editado por Miriam Alves e Carolyn Richardson Durham (Estados Unidos, 1994). Durham publicou também o artigo “The beat of a diferente drum: Resistance in contemporary poetry by African-Brazilian women” (1995). Conceição participou da coleção Moving beyond boundaries: International dimension of black women’s writing, organizada por Carole Boyce Davies e Molara Ogundipe (London, 1995). Em 1995 e depois em 2008 ela é focalizada na Callaloo, revista dedicada à diáspora africana, como também no artigo de Celeste Dolores Mann, “The search for identity in Afro-Brazilian women’s writing” (1995) e na antologia Fourteen female voices from Brazil, organizada por Elzbieta Skoka (2002). Sua ficção curta entra na coletânea Women Righting: Afro-Brazilian Women's Short Fiction, organizada por Miriam Alves e Maria Helena Lima (2004). Além destes, muitos outros trabalhos têm sido apresentados e publicados no exterior sobre Conceição Evaristo e outras escritoras afro-brasileiras.

Por outro lado, em se tratando de pesquisa e da crítica literária, observa-se hoje um maior acesso e a inclusão de pesquisadores brasileiros em periódicos e coletâneas estrangeiras; o compartilhamento e a colaboração em projetos ou grupos de pesquisas transnacionais; e a maior facilidade de circulação de nossos artigos, notícias, ideias e eventos através de recursos da Internet, entre outros aspectos que se poderia mencionar. Ficando restrita aos primeiros anos deste século XXI e sem intenção de compor uma lista exaustiva, menciono a seguir alguns exemplos da circulação crítica da obra de Conceição Evaristo por meio de trabalhos de pesquisadores brasileiros inseridos no cenário internacional.

Em 2004, Heloisa Toller Gomes, Gizelda Melo do Nascimento e Leda Maria Martins assinam o capítulo “Black presence in Brazilian literature: From the Colonial period to the 20th Century” na enciclopédia sobre Literary Cultures of Latin America, publicada pela Universidade de Oxford. Como indica o título do artigo, as três professoras alinhavam um panorama da presença negra nas letras brasileiras, desde a época colonial até o século XX. Nesse trabalho a poética de Conceição Evaristo é destacada dentro da produção do coletivo Quilombhoje e da publicação já solidificada dos Cadernos Negros.

No ano de 2008, Ana Beatriz Gonçalves publicava o artigo “Black, Woman, Poor: The Many Identities of Conceição Evaristo” no periódico online Vanderbilt E-Journal of Luso-Hispanic Studies, abordando a representação na poesia da mulher brasileira, negra e pobre. Em 2009, um trabalho meu intitulado “Dores negras, culturas híbridas: Conceição Evaristo e Gayl Jones” foi traduzido para o francês e publicado na revista online Plural/Pluriel, da Université Paris-Ouest, dedicada às culturas em língua portuguesa. Dois anos mais tarde saiu uma versão reformulada e em português desse texto no livro Literatura, história, etnicidade e educação: Estudos nos contextos afro-brasileiro, africano e da diáspora africana (2011), organizado por Denise Almeida Silva e Conceição Evaristo.

Ainda em 2011, Maria Aparecida Salgueiro publicou ”Literature, Written Art and Historical Commitment: From Cadernos to Conceição Evaristo” na coletânea organizada pelo professor afro-estadunidense Antonio D. Tillis e dedicada aos estudos da cultura afro-brasileira contemporânea. Intitulada (Re) Considering Blackness in Contemporary Afro-Brazilian (Con) Texts: A Cultural Studies Approach, a obra de Tillis congrega diversos pesquisadores brasileiros que se destacam nessa área.

Uma entrevista concedida por Conceição Evaristo a Claudia Maria Fernandes Correa e Irineia Lina Cesario é publicada em 2012, em inglês, com o título “An Afro- Brazilian Griot: An Interview with Conceição Evaristo”, através da Research Online, um repositório de artigos e recursos de livre acesso vinculado à universidade australiana de Wollongong. Há pelo menos uma dissertação de mestrado sobre Evaristo defendida na Inglaterra, a de Lílian Lopes, The contemporary Afro-Female Identity in The United States and Brazil: comparative analysis between Toni Morrison’s Sula and Conceição Evaristo’s Ponciá Vicêncio, na Universidade de Sussex, 2006.

Nos Estados Unidos, na programação do 72nd Annual Conference da SCMLA (South Central Modern Language Association), acontecendo em novembro de 2015 na Vanderbilt University, em Nashville, Tennessee, consta um trabalho comparativo de duas importantes escritoras contemporâneas em retomadas ficcionais da escravidão. Apresentado por Danielle de Luna e Silva (UFPB), “Representations of Slavery in Ponciá Vicêncio, by Conceicão Evaristo and Um Defeito de Cor, by Ana Maria Gonçalves” insere-se na Mesa-redonda “Luso-Afro-Brazilian Language and Literature”.

No Brasil, em meio a blogs voltados para um público internacional, destacam- se os produzidos em língua inglesa e direcionados especificamente para a mulher negra. O Black Women of Brazil, por exemplo, se autodescreve como um “site dedicated to Brazilian women of African descent”. Ali a obra de Evaristo foi comentada no artigo “Conceição Evaristo: Literature and Black Consciousness – One of the country’s most important black writers that most Brazilians have never heard of”, onde a autora é associada a Carolina de Jesus e descrita como uma das escritoras negras mais proeminentes no campo literário brasileiro atual (ARAÚJO, 2013).3 Em 2014, ao celebrar o centenário do nascimento da escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), outro artigo no mesmo blog denuncia a exclusão continuada de mulheres negras da literatura brasileira. Traduzo o título: “No centenário de Carolina de Jesus, a ausência de mulheres negras na literatura revela um modo distorcido de representar a sociedade” (MACIEL, 2014). A distorção aponta para o preconceito e o racismo existentes em todas as esferas sociais. Uma nota acrescenta que “o universo da literatura é mais uma área em que os afro-brasileiros, particularmente as mulheres, são praticamente invisíveis”.4 Um exemplo disso, como declara o artigo, é a dificuldade de se encontrar algo escrito por ou sobre escritores afro-brasileiros nas grandes redes de livrarias como Saraiva, FNAC e Livraria Cultura.

Para a visibilidade e divulgação da obra de Conceição Evaristo, é da maior importância o seu próprio blog, Nossa Escrevivência, construído com charme e colorido a partir de Maricá, Rio de Janeiro, onde vive a escritora, e desenvolvido por Patricia Custódio. A página principal é dividida em “Acontecências”, “Andanças”, com chamadas criativas que incluem desde o “Zum-zum crítico” até um “Ponto de encontro”. Abrindo espaço para notícias relevantes sobre a política, a literatura e a cultura negra, o blog publica fotos e comentários sobre as frequentes atuações presenciais e publicações de caráter literário ou crítico da escritora. Tem-se, por exemplo, a informação e uma foto de Conceição Evaristo junto com Ana Maria Gonçalves (autora do romance Um defeito de cor) na Tulane University, em New Orleans, em 2007. O blog também cria laços com escritoras negras de outros países, divulgando, por exemplo, fatos (como a morte da renomada Maya Angelou, em 2014), e destaques alcançados por novos nomes (como Taiye Selasi e Chimamanda Ngozi Adichie, também em 2014).5

À medida que circula a obra de Conceição Evaristo, a escritora tem-se deslocado também, em pessoa, para participar de eventos em países estrangeiros. Segundo informa o site Nossa Escrevivência, Evaristo foi palestrante em conferências na Áustria, em Moçambique, África do Sul e Senegal, abordando a literatura afro-brasileira. Em 2000, foi palestrante na 7th International Caribbean Women Writers and Scholars, em Porto Rico; em 2012, foi escritora residente na Middlebury Language Schools, nos Estados Unidos; em 2013, participou em São Tomé e Príncipe das comemorações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Em junho de 2013, falou sobre Insubmissas lágrimas de mulheres em Nova York, a convite da Brazilian Endowment for the Arts (B.E.A.).

Em 2015, Conceição se apresentou na Inglaterra dentro do Seminário “Other Voices in Brazilian Literature”, patrocinado pelo Centro de Pesquisa nas Humanidades da Universidade de Oxford (TORCH: The Oxford Research Centre In The Humanities). Sua palestra aconteceu dia 31 de março no King’s College de Londres e foi divulgada entre os eventos destacados no site da instituição, com a chamada: “Conceição Evaristo and the Racial and Sexist Question”. Interligando Evaristo a raça e gênero, o anúncio ressaltou a relevância de obras de autores brasileiros não canônicos para o debate contemporâneo sobre o papel que a literatura pode exercer, tanto na manutenção, quanto no questionamento da exclusão social. Cito um trecho da apresentação feita em inglês, em tradução livre:

No Brasil, a maioria dos escritores é do sexo masculino, branca, heterossexual, e pertence à classe média urbana, de acordo com dados fornecidos pela pesquisa de âmbito nacional Retratos da Leitura no Brasil (2012). Os leitores são também predominantemente classe média. Uma questão importante é, então, até que ponto a literatura brasileira reflete a variedade e multiplicidade de experiências das pessoas que vivem no Brasil.6

Esse quadro geral elitista e nada inclusivo se baseia em ampla pesquisa coordenada pelo Instituto Pró-Livro desde 2001, abarcando as regiões metropolitanas e capitais dos estados brasileiros.7 Chega a conclusões semelhantes a pesquisa desenvolvida pela professora Regina Dalcastagnè de 1990 a 2004 e publicada com o título Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Corrobora a homogeneidade da cena literária brasileira com a alta predominância de homens brancos classe média, oriundos dos centros do poder, Rio ou São Paulo, e que atuam em “espaços já privilegiados de produção de discurso: os meios jornalístico e acadêmico” (LOBO, 2012). Em entrevista, Dalcastagnè (2008) observa que, em nossa literatura, permanece “a invisibilidade de grupos sociais inteiros e o silenciamento de inúmeras perspectivas sociais”.

O já citado seminário no King’s College, que ocorreu em 2015 em Londres, foi organizado por Claire Williams (professora em St. Peter’s, Oxford) e Rosane Carneiro Ramos (doutoranda no King’s College), contando com uma plateia entusiasmada vinda de várias instituições londrinas e de outras cidades inglesas. O convite feito a Conceição Evaristo se relacionou à participação da escritora no Salon du Livre 2015, que aconteceu de 20 a 23 de março em Paris. Tendo o Brasil como convidado de honra, o cartaz principal do Salon anunciava, em português, ser este “um país cheio de vozes”. Dentre os 48 escritores brasileiros oficialmente convidados incluíam-se Davi Kopenawa, descrito como porta-voz e xamã yanomami; Daniel Munduruku, um dos maiores autores indígenas do Brasil; e Conceição Evaristo, apontada como uma das representantes mais importantes da literatura

afro-brasileira.8 Circula, em francês, uma entrevista concedida por ela a Nicolas Quirion, em março de 2015. O título anuncia o seu nome, seu ofício e o seu maior desejo, que é a visibilidade para a mulher negra: “Conceição Evaristo, écrivaine: “Ce que je souhaite, c’est une visibilité pour les femmes noires” (2015).

Em paralelo às apresentações e publicações no exterior, das quais cito apenas alguns exemplos, o trabalho de Conceição se dissemina também graças ao melhor acesso a publicações brasileiras e às traduções que se fazem mais frequentes. O romance Ponciá Vicêncio (2003) foi publicado em inglês nos Estados Unidos no ano de 2007, com o mesmo nome original e em tradução de Paloma Martinez Cruz. Em 2015, foi publicado em francês com o título L'histoire de Ponciá pela editora Anacaona, em tradução de Patrick Schmidt. Aguarda-se para breve a publicação de Ponciá em espanhol, no México.

2. Entrelaçamentos diaspóricos

A importância de Conceição Evaristo na afirmação e difusão da literatura de autoria feminina e negra se evidencia, assim, nos cenários nacional e internacional. Nesse contexto de olhares e fronteiras cruzadas, ampliam-se as relações percebidas por pesquisadores e críticos literários entre os escritos de Evaristo e os de outras escritoras, tanto do Brasil e de países africanos de língua portuguesa, quanto da diáspora negra nas Américas. No Brasil, há inúmeros trabalhos apresentados em eventos acadêmicos, artigos, dissertações e teses com esse tipo de abordagem comparativa. De novo destaco apenas alguns exemplos, cujo eixo parece ser a ligação entre os escritos e temas de autores e autoras negras, sem pretender mapear homogeneidades de estilo, heranças culturais ou experiências de vida.9 Maria Aparecida Salgueiro publicou sua tese de doutorado com o título Escritoras negras contemporâneas: estudo de narrativas, Estados Unidos e Brasil (2004), onde aborda Conceição Evaristo e Alice Walker. Em 2009, Roland Walter publicou o livro Afro-América: Diálogos Literários na Diáspora Negra das Américas, que analisa uma série de escritores afrodescendentes, homens e mulheres oriundos de partes das Américas: Evaristo e outros do Brasil estão entre vários escritores do continente como, por exemplo, Toni Morrison (Estados Unidos), Patrick Chamoiseau e Jamaica Kincaid (Caribe) e Dionne Brand (Trinidad-Tobago/Canadá). Em 2012, o n. 3 da revista Aletria traz o artigo “Poesia, diáspora e migração: quatro vozes femininas”, de Prisca Agustoni de Almeida Pereira, que coloca em diálogo poetas afrodescendente das Américas e examina novos deslocamentos e diásporas: Conceição Evaristo, Lucille Clifton (EUA), Dionne Brand e Marie-Célie Agnant (Haiti/Canadá).

Em 2008, na UERJ, Heloisa do Nascimento defendeu a tese de doutorado Com quantos retalhos se faz um quilt? Costurando a narrativa de três escritoras negras contemporâneas, onde alinhava referências à brasileira Evaristo, à norte-americana Toni Morrison e à moçambicana Paulina Chiziane. Em 2009, na USP, Rosa Maria Laquimia de Souza defendeu a tese Similaridades e diferenças: o negro nos Estados Unidos da América e no Brasil segundo Alice Walker e Conceição Evaristo. A doutoranda Fernanda Felisberto da Silva, por sua vez, defendeu Escrevivências na diáspora – escritoras negras, produção editorial e suas escolhas afetivas; uma leitura de Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Maya Angelou e Zora Neale Hurston (UERJ, 2011). Em 2013, Irineia Lina Cesario defendeu Ventos do Apocalipse, de Paulina Chiziane, e Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo: laços africanos em vivências femininas (USP). A aproximação entre Evaristo, a moçambicana Chiziane e a norte-americana Alice Walker ocorre também na tese de doutorado de minha orientanda Jacqueline Laranja Leal Marcelino, na UFES, com o título Mulheres Negras: artes, ofícios e identidades, com defesa prevista para 2016. As viagens de autoras e livros cruzando fronteiras fazem com que se aproximem também os críticos e as abordagens que se ocupam da literatura, as histórias que interligam pontos da diáspora africana, as experiências de ontem e de hoje ao longo das Américas e de um lado e de outro do Atlântico.

As obras de Conceição Evaristo se caracterizam pela ênfase na história, na memória e experiências de pessoas e comunidades afro-brasileiras em Minas ou no Rio de Janeiro, no sudeste do Brasil. Os focos principais incidem sobre a vivência da mulher negra e pobre, com as sombras e ecos da escravidão pairando sobre o presente do país. Sobre o lugar que ocupa no mundo – e a partir de onde fala –, Evaristo já declarou em entrevista que sua escrita se faz com base numa identidade feminina e negra, ou seja, em sua “condição étnica e de gênero, ainda acrescida de outras marcas identitárias”, o que lhe direciona o olhar e molda o ponto de vista narrativo (apud PEREIRA, 2007, p. 285). Seus dados biográficos podem remeter a outros traços que se repetem em depoimentos pessoais e em suas ficções, muitas vezes fundidos: a pobreza material no interior de Minas Gerais, os referentes culturais e econômicos, os laços familiares e afetivos. A essas influências iniciais se somam a mudança para o Rio de Janeiro, o casamento, a maternidade, a viuvez, e os problemas das periferias metropolitanas, com a desagregação social e a continuada pobreza.

O desejo de voz e de afirmação da mulher negra se evidenciou em diversas escritoras que solidificaram a marca de gênero, cultura e raça na ficção produzida nos Estados Unidos nos anos 1970 e 80. Um aspecto que caracteriza e interliga as falas e escritos de Conceição Evaristo, Toni Morrison, Paule Marshall, Alice Walker e Carolina Maria de Jesus, por exemplo, é o profundo laço com os ancestrais e os familiares. Essa ligação visceral e as histórias ouvidas em família surgem reinventadas em personagens e tramas, mas também são o próprio motor que impulsiona e dá forma à escrita.

O primeiro romance que escrevi nasceu de uma frase que escutei de minha mãe”, disse Evaristo (apud PRATES, 2010). Em outro momento, reitera a influência de sua mãe em sua inspiração literária: “Da grafia-desenho de Minha Mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita” (título de texto-depoimento publicado em 2007). Regina Delcastagné destaca a memória dos ancestrais em Diário de Bitita, da brasileira Carolina M. de Jesus, que “conta de sua infância cheia de sonhos, da sua mãe e do avô, o belo e sábio ex-escravo filho de cabindas, de quem ela guarda os conselhos e as histórias” (2015). Nos Estados Unidos, Alice Walker (1984) louvou a beleza e a arte das colchas de retalhos e dos jardins de mães e avós negras, fontes de força e inspiração, fazendo lembrar o trabalho no barro e as cantigas que ressoam nas páginas de Ponciá Vicêncio, de Evaristo. Paule Marshall aprendeu sobre a diáspora africana e a resistência do povo negro ouvindo histórias e conversas entre sua mãe e as tias, na cozinha da casa simples (MARSHALL, 1984, p. 197). De forma semelhante, Conceição afirma: “a gênese de minha escrita está no acúmulo de tudo que ouvi desde a infância. O acúmulo das palavras, das histórias que habitavam em nossa casa e adjacências”, até as conversas e os chamados alegres ou tristes das vizinhas (EVARISTO, 2005). Para Toni Morrison, os antepassados da família e as raízes africanas constituem o seu DNA, sua educação, sua cultura e seu escudo protetor (MORRISON, 1987, p. 137).

Se a memória das raízes familiares e culturais fortalece e ampara, as sombras, violências e dores da escravidão também impulsionam a escrita de Ponciá e de outros textos de Evaristo, como também ocorre em Corregidora, de Gayl Jones; Amada e Canção de Solomon, romances de Toni Morrison; e na ficção de Paule Marshall. Os traumas que marcam a mulher negra na infância, adolescência e idade adulta, a violência, o estupro e o abandono são dramaticamente denunciados nos relatos pungentes de Insubmissas lágrimas de mulheres e de Olhos d’água, de Conceição Evaristo, assim como em obras de Gayl Jones, Morrison, e Walker. Nos bairros, vilas e comunidades focalizadas pelas diversas autoras, entrelaçam-se a pobreza, a marginalidade social, deslocamentos e perdas, com questões específicas de raça e gênero. A literatura das escritoras da diáspora negra vai muito além do eu para abarcar as experiências, os tempos e espaços coletivos.

O lugar da margem é com frequência atribuído à escritora mulher e negra no contexto das literaturas nacionais. Ao abordar a sociedade brasileira, Regina Dalcastagné (2008, p. 87) afirma que “A literatura contemporânea reflete, nas suas ausências, talvez ainda mais do que naquilo que expressa, algumas das características centrais da sociedade”. Este é o caso da marginalização e inferiorização das pessoas negras, que “séculos de racismo estrutural afastam dos espaços de poder e de produção de discurso”. Ainda segundo Dalcastagnè, no mesmo local, o mesmo desequilíbrio ocorre na literatura, onde “são poucos os autores negros e poucas, também, as personagens”.

Mesmo assim, a esperança e a magia estão presentes na literatura e resistem na força ancestral e no sonho da liberdade que permite voar, como em Toni Morrison e em Gayl Jones, ou na renovação da vida que se afirma em “Ayoluwa, a alegria do nosso povo”, narrativa que encerra Olhos d’água. Cito deste texto: “Sempre inventamos a nossa sobrevivência. [...] E quando a dor vem encostar-se a nós, enquanto um olho chora, o outro espia o tempo procurando a solução” (EVARISTO, 2014, p. 114). Na evocação de memórias, ao narrar vidas e histórias negras, ao reivindicar e denunciar, Conceição Evaristo parece falar coletivamente pelas escritoras negras quando se afasta da intenção de divertir a plateia ou relaxar os senhores. “A nossa escrevivência não pode ser lida como histórias para ‘ninar os da casa grande’ e sim para incomodá-los em seus sonos injustos” (2005). No mês de novembro de 2015, quando se comemora no Brasil o Dia da Consciência Negra, as histórias contadas por Evaristo foram oficialmente reconhecidas em sua beleza e sua importância nacional. A coletânea Olhos d’água alcançou o terceiro lugar entre os vencedores do prestigiado prêmio Jabuti, na categoria Contos e Crônicas. No dia 18, como escritora e ativista negra, sua presença e voz mais uma vez pressionaram por justiça e igualdade na Marcha das Mulheres Negras, em Brasília.

Que sua força e seu dom da palavra continuem a reverberar e contagiar pensamentos e sentidos pelo Brasil e pelo mundo afora.*

Referências

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1 Versão anterior deste trabalho foi apresentada no VII Congresso Internacional e XVI Seminário Nacional “Mulher e Literatura”, em Caxias do Sul, RS, 14-16 de setembro 2015, com o título “Conceição Evaristo e a literatura da diáspora negra”, integrando a mesa-redonda “A participação da mulher na literatura brasileira nos últimos 150 anos”.

2 Cf. <http://www.amazon.de/Schwarze-Poesie-Afrobrasilianische-Gegenwart-Portugiesisch- ebook/dp/B00DY8K5H8>.

 3 Em nota explicando “quem somos”, Black Women of Brazil se define como “a photographic and informational blog featuring a diverse array of Brazilian Women of African descent” que, no intuito de provocar discussões que priorizem a questão racial, busca informar as pessoas de língua inglesa sobre a história e as experiências dos afrodescendentes no Brasil, particularmente das mulheres negras. “As much of the English speaking world is not familiar with the history of African descendants in Brazil, it also features news, essays, reports and interviews spanning an array of topics including race, racism, hair, affirmative action, police brutality, etc. intended to give a more complete view of the experiences of black women in particular and black people in general in Brazil with a goal of provoking discussion through the lens of race” (ARAUJO, 2013).

4 No mesmo site: “In the centennial of Carolina de Jesus, absence of black women in literature reveals a distorted way of representing society”[…] “The world of literature is yet another area in which Afro-Brazilians, particularly Afro-Brazilian women are nearly invisible”.

5 Há também um blog que leva o nome da escritora, o Coletivo Feminista Conceição Evaristo, que é proposto por alunas de Letras e dedicado a questões feministas. Disponível em: <http://coletivoconceicaoevaristo.blogspot.com.br/>. Acesso em: 11 set. 2015.

6 “In Brazil, the majority of writers are male, white, heterosexual, middle-class and urban, according to data provided by the national research Retratos da Leitura no Brasil (2012). Their readership is also predominantly middle class. An important issue, therefore, is the extent to which Brazilian literature reflects the range and multitude of experiences of people living in Brazil.

7 Levantamentosfeitos em 2001, 2007 e 2011. Sobre o último: <http://www.cultura.gov.br/documents/10883/38605/Retratos-da-leitura-no-Brasil.pdf/8524bcf0-d7b4-4d16-bc42-b90edac8104c>.

8 Outras escritoras convidadas para o Salon de 2015 foram: Adriana Lisboa, Adriana Lunardi, Ana Miranda, Ana Maria Machado, Ana Paula Maia, Angela Lago, Betty Milan, Betty Mindlin, Carola Saavedra (n. Chile), Fernanda Torres, Lu Menezes, Marina Colasanti, Nélida Piñon, Paloma Vidal (n. Argentina), Patricia Melo e Tatiana Salem Levy. Entre os muitos autores homens, está o poeta e músico negro Ricardo Aleixo (SALON 2015).

9 Em abordagens comparativas que enfocam apenas autoras brasileiras, a escrita de Conceição Evaristo surge com frequência relacionada com Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves (2006), A cor da ternura, de Geni Guimarães (1989), Quarto de despejo: Diário de uma Favelada, e Diário de Bitita, de Carolina de Jesus (1960 e 1986), a obra de Esmeralda Ribeiro, ou, ainda, Maria Firmina dos Reis.

  * Stelamaris Coser é doutora em Estudos Americanos pela University of Minnesota e professora aposentada da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, onde atua como docente no Programa de Pós-graduação em Letras, na linha de Literatura e Expressões da Alteridade.